O catolicismo chegou ao Japão com toda a força no século XVI quando os europeus estavam navegando pelo globo e os portugueses - porque foram principalmente eles - colocaram os olhos no arquipélago e viram a possibilidade de incluí-lo em seu poderoso império. Se aproveitando da guerra civil que assolava o país, os europeus trouxeram armas de fogo e sua fé, apoiaram um grande senhor contra o outro e lucravam muito com isso. Havia deslumbramento pela cultura do país e grandes esperanças dos missionários jesuítas. Muita gente se converteu.
Daí, veio o fim da guerra civil e o Shogunato Tokugawa (1603-1868) expulsou os estrangeiros, franceses, ingleses e mesmo espanhóis saíram antes de serem postos para fora, mas os portugueses, seus padres, especialmente, resistiram. As autoridades japonesas não tiveram piedade, ser cristão era motivo para pena de morte e muitos cristãos permaneceram escondidos (Kakure Kirishitan), praticando sua fé em segredo. Caso fossem descobertos, eram convidados a renegar sua fé pisando na imagem de Cristo ou da Virgem Maria (Fumi-e), ou serem mortos de forma cruel (*sim, muito cruel*). A condenação só foi suspensa já na Era Meiji.
É preciso dizer, claro, que os cristãos não se deixaram matar simplesmente, a maioria eram camponeses, gente comum, mas havia daimios convertidos ao catolicismo e eles resistiram, daí, a revolta de Shimabara (1638-39).[1] Havia muita insatisfação, também, com aumento de impostos e confisco de direitos, como o uso de armas de fogo. Enfim, contando com a ajuda dos holandeses, que eram cristãos, também, diga-se de passagem, o shogunato reprimiu a revolta. Foram milhares de mortos, a maioria, reitero, cristãos. O Shogunato percebia bem o perigo que Portugal e Espanha representavam no momento, mas as vítimas foram em sua maioria japonesas, pessoas comuns que só queriam cultura em paz.
O filme de Scorsese, Silêncio (Silence), é baseado no livro do japonês de mesmo nome Chinmoku (沈黙) é baseado em fatos reais e conta a história de dois jesuítas portugueses, o jovem Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield ) que chega ao Japão nesses tempos perigosos em busca do padre Cristóvão Ferreira (Liam Neeson), um veterano sobre quem corria boato de que havia apostatado da fé. Segundo a Wikipedia, o filme é um sonho antigo de Scorsese e há tentativa de produzi-lo desde os anos 1990. Houve uma adaptação japonesa do romance para o cinema em 1971.
Segundo as estimativas do governo Meiji, em 1873 havia 30 mil cripto-cristãos no Japão, isto é, pessoas que seguiram cultuando em segredo por gerações. O filme de Scorsese quer dar voz aos que tiveram que se manter em silêncio. Espero que seja um filme emocionante. O mesmo ocorreu com judeus em terras portuguesas. Recomendo o documentário A Estrela Oculta do Sertão, que trata sobre isso. O link para assistir no Youtube é este aqui.
[1] Há um anime hentai dos anos 1990 que trata dessa revolta. É um negócio muito louco mesmo, mas ouvi falar a primeira vez desses cristãos japoneses em tempos de perseguição nesse anime mesmo. Depois, tive uma colega de mestrado que trabalhou com as cartas de jesuítas portugueses no Japão. Daí, aprendi mais um pouco, antes de ir pesquisar sobre o assunto eu mesma. Enfim, há vários animes que tratam da revolta, inclusive fora de contexto, exemplo disso, é a terceira temporada de Rurouni Kenshin (るろうに剣心 ).
1 pessoas comentaram:
Se não me engano, há alguns episódios do anime de Rurouni Kenshin que falam alguma coisa sobre esse acontecimento. Acho que foi naquela fase de episódios sem relação com o manga, depois da Saga de Kyoto.
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