quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Comentando mais uma vez Liberdade Liberdade antes que a novela termine

De mocinha guerreira à "donzela em perigo".
Liberdade Liberdade termina hoje.  Estou escrevendo este texto, porque a posteriori não adianta comentar isso.  Não vi nenhum capítulo da semana passada, isso quer dizer que não vi a chegada de Otto, não vi nem a morte de Branca, nem a execução de Ega e Alexandra, tampouco o aprisionamento de Joaquina depois de casada.  Estou fora de casa e não tive como assistir on line os capítulos, minha internet é miserável e eu acabo dormindo na hora da novela.  Ainda assim, seguem alguns pontos:

1. Em meu primeiro texto, o único, aliás, tinha colocado que não gosto do Xavier.  Aquele ar revolucionário de botequim; a falta de consideração ou remorso com os seus, já que levou a família à falência e nunca sequer colocou os pés em Portugal; não teve escrúpulos em relação à Branca, o que nada tem a ver com o caráter dela, ou sua vilania; foi responsável direto pelo derrame do pai.  Sim, assisti ao capítulo anteontem, o penúltimo, e ficou meio que estabelecido que Rubião matou o pai de Xavier.  Não, este crime não foi dele.   De resto, o ator esteve muito bem, não se trata de crítica ao trabalho de Bruno Ferrari.

Final feliz ou tragédia?
2. Como disse no Twitter, não aqui no blog, a morte de André foi recurso pobre.  Não havia mais Inquisição em Portugal – e a trama da bruxa foi toda furada, já estou alertando – desde os tempos do glorioso (*sim, sou fã dele*) Marquês de Pombal.  Nem Inquisição, nem escravidão na Metrópole, tampouco proibição de casamentos inter-raciais.  Enfim, pederastia ou sodomia – como a prática homossexual e outras tantas eram chamadas – ainda era crime, ainda era algo condenado pelas leis civis e pela doutrina (*veja, a Igreja Católica não tinha como matar ninguém*) católica vigente, mas dificilmente um homem da alta nobreza passaria pelo que o André passou, ainda mais da forma como a coisa foi construída.  Fora isso, apesar de não ter visto o início do capítulo de terça, a morte de André foi menos um libelo contra a homofobia e mais um ato de vingança e desmando de Rubião.  Resumindo, ele não morreu por ser gay, morreu porque Rubião queria se ferir Joaquina..  Ou seja, pelo menos para mim, ficou muito mais marcada a falta de experiência do autor, porque nem para empurrar a fúria da heroína a morte do André, uma personagem maravilhosamente bem construída pelo Caio Blat, serviu.  Eu ficaria muito mais satisfeita se André morresse em combate, com todas as suas limitações, mas que uma morte mais heroica lhe fosse concedida.  A cena de seu enforcamento, à despeito do esforço de Xavier, não teve função narrativa, foi só momento, por assim dizer. 

O sofrimento de André poderia ter feito mais sentido.
Tolentino nunca mereceu o seu amor. 
3. Tolentino nunca me agradou.  André merecia alguém melhor.  Daí, nem me movi para fazer texto sobre cena dos dois.  Entendo perfeitamente que gente legal se meta com gente que não vale a pena, mas a novela é muito pequena e o André, muito gente, boa para relevar inclusive os crimes de Tolentino para tirá-lo da cadeia.  Ademais, ele é capacho do Rubião, mas poderiam tê-lo redimido pela morte.  Mesmo que ele mate o vilão, o que seria péssimo, já que Rubião precisa morrer pelas mãos de Joaquina, ele não se redimirá.  De resto, o ator, Ricardo Pereira, trabalhou muito bem, Tolentino apesar de seu caráter fraco é uma personagem complexa em suas angústias e covardias.

4. Rubião é mau, a gente sabe disso desde o início, no entanto, e isso escrevi lá no meu primeiro texto, Mateus Solano é ótimo ator e havia uma química muito boa entre ele e Andréia Horta.  Daí, imagino que o autor foi reforçando ainda mais as características vilanescas da personagem. O problema é que nesta batida, começam sempre a aparecer evidências de algum desequilíbrio mental.  É difícil fugir disso, aliás.  Por conta disso, a personagem fria e calculista, que conversava com um falcão (*Cadê o bichinho? Mataram e eu não vi?*), ele se tornou um sujeito que deixa rastros, que mostra desequilíbrio emocional (*Ega percebeu isso, lembram?*), o que minou a estrutura da personagem.  Mateus Solano salva qualquer coisa, mas, de novo, para mim foi a inexperiência do autor.  Terminando, parece – não vi semana passada, lembram? – que se repetiu o que o vilão da Muralha, dom Jerônimo (Tarcísio Meira), fez no final desta minissérie: surtou, sitiou a cidade e começou a agir para além de qualquer limite.  É obra de ficção, mas Rubião merecia mais que isso.

Rubião merecia mais do que lhe ofereceram nessa reta final da trama.
5. Já Joaquina, bem, ela continuou propagando aquele humanismo historicamente descarnado e excessivo, afinal, julgava tudo e todos, pela trama inteira.  A sequência dos escravos foi ao mesmo tempo absurda, sem nenhuma discussão prévia do que seria feito deles e delas, das condições da família, e confirmação de como mais do que defensora da justiça e da igualdade, Joaquina era uma personagem avoada mesmo. Quem iria trabalhar?  De onde viria o dinheiro?  O que comer?  Estranhei André não ser colocado para dar o tom do bom senso, já que ninguém ouviria Dionísia mesmo.  Por fim, acabou enredada por Rubião.  Vi gente discutindo o motivo pelo qual ela aceitou casar com ele.  Ora, depois que ele vai em seu socorro, liberta seu irmão, estende a mão para sua mãe, Virgínia, ela se sente na obrigação de casar com ele e tentar fazê-lo feliz.  O amor por Xavier – construído daquela forma convencional e temperado pela infidelidade do rapaz, no início – teria que ficar em segundo plano.  


Alguém me explica o motivo de Joaquina estar lutando de saias?
Como escrevi, não vi quatro capítulos de seu sofrimento com o marido, aliás, torcia mesmo para que não casasse com ele.  Ela fugiu e ciente de que Rubião assassinou Raposo, seu pai de criação, queria matar Virgínia, e era um monstro, para quê matar André daquela forma, pergunto de novo?  E o que me impulsionou a escrever o texto e publicá-lo agora é simplesmente a angústia de ver Joaquina dominada por Rubião.  Suspeito que ela precisará ser salva, suspeito mais ainda que darão para Xavier o direito de salvá-la e de matar o vilão.  Se assim for, será uma grande injustiça com a mocinha que, com todos os seus defeitos aos meus olhos, nunca foi fraca, ou indefesa.  Se eu esperasse o último capítulo, não faria sentido essas colocações todas.

6. Já indo para o final, Mão de Luva é maravilhoso, né?  Não canso de escrever isso.  Que trabalho de Marco Rica! E ele entrando em Vila Rica no meio do combate e gritando "Da próxima vez, Simão, eu vou montar um bando só de mulher!".  Fora isso, Maitê Proença, Lilia Cabral e Zezé Polessa estavam espetaculares.  O elenco era todo muito bom, mas Ascensão foi de longe minha favorita.  A voz feminista e racional dentro da novela.  Aliás, não a vi esta semana... 

Mão de Luva, vou fundar seu fà clube.
7. Terminando, Vila Rica como foi construída na novela, era acanhada demais, pequena demais, artificial, enfim.  A parte histórica da trama, assim como as referências aos romances de época (*Jane Austen, Irmãs Brontë, mesmo nossos escritores nacionais*), foram pobres.  Nunca engolirei uma Vila Rica, capital de Minas, com uma única igreja e um único padre.  De resto, acontecimentos que deveriam ter sido distribuídos em 4 ou 5 semanas de trama, foram precipitados e, de certa forma, corridos.  Fica o mérito da direção e do pessoal do figurino, fotografia e arte, mas o autor precisa melhorar muito ainda.  Tudo deu certo, mas mais pelo elenco e equipe técnica do que propriamente pela qualidade da história.

P.S.: Há várias possibilidades para a morte de Rubião.  Enforcado ou queimado não tem graça.  Reafirmo que só pela espada da Joaquina a coisa terá sentido.  Ela pode duelar e vencê-lo, mesmo que ele possa ter efetivamente paixão por ela, ele não entregaria o pescoço e deixaria ela vencer. De novo, menos que um duelo espetacular é apequenar a trama.

1 pessoas comentaram:

Oi Valéria,

acompanho a novela desde o início, acompanhei as últimas semanas e devo sugerir que antes de algumas opiniões deve entender realmente da novela. Na penúltima semana muitas coisas aconteceram. Não acompanhando, vc tirou conclusões precipitadas. Falo isso em relação ao caso do André. Mas vou comentar caso a caso:
1 - Xavier é um mocinho imperfeito. Traz consigo a rebelião juvenil, o idealismo. Ele mesmo sabe o mal que causou em prol de uma ideologia - poedmos ver isso por seu semblante, quando, na cadeia, a mãe o acusa de ter destruído e envergonhado a família.
2 - Também achei que a morte do André foi desnecessária. Mas no contexto deu pra entender sua condenação. Depois de flagrar o atentado a Dom JoãoVI pelo Duque de Ega, Rubião decretou estado de sítio. Sim, ele ficou mais tirano do que nunca, e pra ele, num estado de guerra, a execução sumária se justifica. Ele condenou Xavier por conspiração e André por sodomia. Este último foi parar na cadeia por delação do Tolentino, cego de ciúmes por ver André com Otto. Rubião se aproveitou da situação para executar André a fim de atrair Rosa. Pra ele, ao saber da consenação do irmão, Rosa voltaria a Vila Rica.

Amanhã continuo

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