Este é o título da matéria de uma série especial de reportagens do UOL com as ONGS feministas (Think Olga e AzMina). O time feminino do Centro Olímpico de São Paulo, formado com atletas de até 14 anos, entrou em um campeonato de futebol com equipes masculinas, porque, bem, não havia um campeonato "para elas". O resultado inesperado é que as meninas venceram o campeonato e, bem, se vocês forem lá ler a reportagem, irão entender o título. Os meninos se sentiram humilhados por perder, muitos pais reforçavam a "vergonha" dos filhos, já que, para eles também era inimaginável que meninas pudessem vencer um time de garotos.
As desculpas para a vitória das meninas, algo que elas jamais irão esquecer, foram diversas, uma delas é que os meninos não estavam jogando duro como jogariam com outros garotos. Primeiro, vamos repensar a questão da violência no esporte. Isso dá cartão, expulsão, não é algo legítimo, ou é? A outra é a falácia de que qualquer homem - ou menino, porque vocês sabem que é "natural" - é sempre mais forte, mais rápido, mais atlético, enfim, do que qualquer mulher, ou menina. Essa idéia é fundamental para sedimentar desigualdades, justificar investimentos e garantir que as mulheres sempre se sintam intimidadas e temerosas de qualquer confronto, afinal, ninguém nunca viu, por exemplo, alguém usar de estratégia para derrotar gente mais forte. E isso, claro, começando com a história de "Davi vs Golias".
O terceiro argumento, o apelão final, já que elas venceram os jogos e times com muito mais verba que elas, é que "futebol não é coisa de meninas", então, as garotas ão são garotas "de verdade" - e pensem em todas associações possíveis - e foi um erro deixá-las competir ou treinar. Eu já vi uma menininha ser repreendida pela mãe, porque queria brincar com uma bola de futebol quando eu era adolescente e minha mãe, que nos ensinou que brinquedo não tem gênero e não influi em nossa orientação sexual, levou surras da minha avó por ser surpreendida, inclusive no colégio, jogando bola. Mamãe queria ser levantadora do time de vôlei do colégio. Minha avó nunca permitiu. Ela jogava escondido.
Mas por qual motivo trouxe esta matéria para cá? Não foi por causa das Olimpíadas, eu garanto, mas porque essa história real me lembrou de um dos meus animes de esporte favoritos: Princess Nine (プリンセスナイン 如月女子高野球部). A história de uma menina, Ryo Hayakawa, que é uma excelente lançadora e joga no time de operários que costuma comer no restaurante de sua mãe. Seu falecido pai foi um promissor jogador que teve sua carreira interrompida injustamente (*é uma referência a um escândalo real que envolveu baseball, corridas de cavalo, yakuza, políticos e resultados comprados*). Um dia, a diretora de uma escola de elite feminina, que fora amiga e apaixonada pelo pai de Ryo, decide oferecer uma bolsa de estudos para a garota e iniciar o time de baseball da Escola Feminina Kisaragi. O objetivo final? Chegar ao Koshien, templo do esporte, mas como uma equipe feminina poderia chegar lá se o campeonato é somente para garotos?
A partir daí, muita emoção, drama, referências à Ace Wo Nerae ( エースをねらえ! ) aos montes. O treinador do time, outro jogador prejudicado pelo escândalo que vitimou a carreira do pai de Ryo, é um alcoólatra que somente depois de algum tempo passa a confiar nas meninas. As jogadoras - e só há o mínimo delas - tem sua história complicada: a menina grandalhona e gorda que se sentia deslocada, a menina atleta que os pais proibiram de competir para se focar totalmente nos estudos, a delinquente, uma menina depressiva e com tendências suicidas... E, claro, a filha da diretora, Izumi Himuro, uma tenista promissora (Ace Wo Nerae, lembram?), capaz de derrotar sozinha uma dupla masculina, e que, por ciúmes da mãe, e para obrigar Ryo a fechar o time, aposta que conseguiria rebater todas as bolas da lançadora.
Izumi treina a noite inteira com o melhor lançador que ela conhece, Hiroki Takasugi, e que está também servindo de elemento de discórdia entre as duas meninas, quer dizer, Ryo nem está percebendo a coisa, mas vocês conhecem o clichê. Só que depois de derrotar Ryo e poder fechar o time, Izumi acaba se apaixonando por baseball e rendendo algumas das cenas mais espetaculares e emocionantes que eu já vi em um anime. No final, claro, nem Izumi, nem Ryo, deixam de ser amigas por causa do tal garoto. Os japoneses são bons em mandar a mensagem de que a amizade está acima de tudo e isso vale para homens, ou mulheres.
Enfim, eu tive que garimpar cada episódio de Princess Nine. Cada novo download, acho que ainda em uma internet bem precária, era uma vitória. Não é um anime nota dez, mas como ele me mobilizou e trabalha muito bem com todos os (pre)conceitos das mulheres em relação ao esporte. Recomendo muito a série. Aliás, se você tem uma história sobre machismo no esporte, podem enviar para o #QueroTreinarEmPaz e sua história talvez apareça no site da UOL.
3 pessoas comentaram:
Se você for nos comentários da matéria, vai ver um monte de caras de doendo com a vitória das meninas, dizendo que foi injusto por que elas tinham quase 1 metro a mais que os garotos (hein??) que deixar elas competirem foi um desrespeito as regras e etc...
A vitória delas realmente tocou na ferida. Desejo todo o sucesso do mundo a elas, que continuem a quebrar barreiras e conquistarem muitas coisas! Essa matéria realmente fez o meu dia.
Você já viu a série brasileira da Band que chegou a passar na Nickelodeon Brilhante FC? É curtinha, mas é legal e trata do mesmo assunto também, só que em relação ao futebol com referência a nossa futebolista Marta que já superou Neymar e Pelé há muito tempo e ninguém da grande mídia lembra ou quer lembrar... Outra série infanto-junevil recente sobre o assunto é Bella e os Bulldogs que é uma produção americana da própria Nickelodeon sobre uma menina quaterback de um time de futebol americano de meninos no colégio.
Que lindo, me arrepiei aqui com essa história! E Princess Nine pareceu muito interessante, já tinha ouvido falar nesse nome mas agora realmente chamou minha atenção, quero tentar assistir um dia. Muito grata por esse post! :)
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