A conversa gira em torno da carreira do diretor, da pressão de ser comparado com o mestre Hayao Miyazaki, do filme, claro, esse teria que ser o assunto principal, mas fala, também, dos problemas enfrentados pela Ghibli em uma era de animação 3D (*O The Independent, outro jornal britânico, falou disso em 2014*). Cada obra da Ghibli, que como foi comentado na matéria sobre o mercado de animes, foi o primeiro estúdio a ter um grupo de animadores contratados pela empresa, é uma obra de arte e, parece, que isso está mudando, só espero que, não, para pior. Agora, o que mais chamou a atenção e despertou furor: o produtor, Nishimura, um cara que tem 37 anos e não é nenhum senhor de 70 anos, soltou essa frase que dá nome ao post.
Mulheres, segundo ele, não serviria para dirigirem filmes de animação, porque, bem, não tem capacidade de imaginação. Ele, vejam bem, representa a voz da empresa, era para isso que ele estava lá. O cidadão acrescenta, também, que eles escolhem os melhores, não há discriminação. Quer dizer, excluímos por princípio, mas não há discriminação. Olha o que ele disse: "Depende de que tipo de filme que seria. Ao contrário de um live action, com a animação nós temos de simplificar o mundo real. As mulheres tendem a ser mais realistas e gerenciar dia-a-dia muito bem. Homens, por outro lado, tendem a ser mais idealistas – e filmes de fantasia pedem uma abordagem idealista. Eu não acho que é uma coincidência que os homens sejam os escolhidos. "
Eles empregam mulheres como animadoras, uma delas faleceu dia desses, estava no ANN (*nao achei o link da notícia*), mas, como ressaltou o Rocket News 24, até hoje a maioria dos filmes do estúdio, incluindo curtas e material para a TV, 13 de 21, foram dirigidos por Hayao Miyazaki ou Isao Takahata. Somente nove anos depois de Laputa, outro diretor, Yoshifumi Kondo, assumiu a cadeira de diretor com Whisper of the Heart e, ainda assim, o roteiro era de Miyazaki. O que eu estou tentando dizer, concordando com o RN24, é que não há grande variação entre os diretores da Ghibli e, bem, a área de animação, seja lá, seja no Ocidente, é uma área dominada por homens. A questão é, e o tal produtor que soltou essa pérola expôs a coisa, quais são os critérios de exclusão. Mulheres simplesmente parecem não servir para dirigir filmes de fantasia, mas servem, claro para escrever o material que serviu de base para esses mesmos filmes. Olhem só:
Kiki’s Delivery Service, Only Yesterday, Whisper of the Heart, Howl’s Moving Castle, Tales from Earthsea, Arrietty, When Marnie Was There, e Ocean Waves são todos baseados em romances ou mangás feitos por mulheres. Das outras adaptações do estúdio, somente O Túmulo dos Vaga-Lumes e My Neighbors the Yamadas foram escritos por homens originalmente, e, ainda assim, como bem explica o RN24, a base para os Yamada, o maná From Up on Poppy Hill foi escrito por um homem, mas ilustrado por uma mulher.
Para muita gente, essa exposição do machismo foi surpresa, dado que a maioria das protagonistas da Ghibli são meninas e mulheres jovens, fortes e, muitas vezes, independentes, mas o machismo está em todo lugar. Espantou-me mais que o produtor seja um sujeito tao jovem e, não, um veterano de fato. De resto, a fala do sujeito só deixou claro como são absurdos os critérios de exclusão das mulheres de certas áreas e, bem, os absurdos estão em todas as áreas, os critérios é que mudam. Mulheres não são racionais para uns. Mulheres não tem imaginação, para outros. A contradição maior é o perfil da empresa e ficou a pegunta, será que Miyazaki concorda? Para quem quiser ler, fiz a tradução da matéria completa. Está aí embaixo:
Kiki’s Delivery Service, Only Yesterday, Whisper of the Heart, Howl’s Moving Castle, Tales from Earthsea, Arrietty, When Marnie Was There, e Ocean Waves são todos baseados em romances ou mangás feitos por mulheres. Das outras adaptações do estúdio, somente O Túmulo dos Vaga-Lumes e My Neighbors the Yamadas foram escritos por homens originalmente, e, ainda assim, como bem explica o RN24, a base para os Yamada, o maná From Up on Poppy Hill foi escrito por um homem, mas ilustrado por uma mulher.
Para muita gente, essa exposição do machismo foi surpresa, dado que a maioria das protagonistas da Ghibli são meninas e mulheres jovens, fortes e, muitas vezes, independentes, mas o machismo está em todo lugar. Espantou-me mais que o produtor seja um sujeito tao jovem e, não, um veterano de fato. De resto, a fala do sujeito só deixou claro como são absurdos os critérios de exclusão das mulheres de certas áreas e, bem, os absurdos estão em todas as áreas, os critérios é que mudam. Mulheres não são racionais para uns. Mulheres não tem imaginação, para outros. A contradição maior é o perfil da empresa e ficou a pegunta, será que Miyazaki concorda? Para quem quiser ler, fiz a tradução da matéria completa. Está aí embaixo:
“Mulheres são realistas, homens idealistas: sobre o porquê o gênero do diretor é importante para o Studio Ghibli
Quando Hayao Miyazaki deixou lendário estúdio do Japão, Hiromasa Yonebayashi tomou as rédeas. Ele fala sobre a importância de seu antecessor, animação na era da Pixar e como homens e mulheres se aproximam da fantasia de forma diferente
Quando Hayao Miyazaki anunciou sua aposentadoria do maior estúdio de animação do Japão em 2013, seu jovem protegido Hiromasa Yonebayashi não estava preocupado. O mestre já tinha se aposentado cinco vezes antes. "Ele estava sempre dizendo, 'Oh este poderia ser o último filme.'" Yonebayashi dá de ombros. "Ele ainda está no escritório."
Você tem a sensação de que não é inteiramente um conforto. Miyazaki não é o único diretor do Studio Ghibli, a empresa de animação que ele confundou em 1985, mas ele está por trás dos três animes mais bem sucedido de todos os tempos. Princesa Mononoke foi filme de maior bilheteria do Japão até Titanic - superou quatro anos mais tarde por A Viagem de Chihiro, o primeiro filme não-ocidental para ganhar o Oscar de animação. A carreira de Miyazaki foi construída desenhando a mútua admiração entre a humanidade natureza: não admira que ele inspira níveis de devoção ao estilo David Attenborough no Japão.
Aparentemente, o seu manto foi agora passado para o homem empoleirado em um sofá hotel em Londres diante de mim, um homem um pouco estranho de 42 anos usando uma boina e com dois créditos de direção em seu nome. Mesmo o estúdio parece vagamente preocupado que Yonebayashi, apesar de ter conseguido uma indicação ao Oscar por When Marnie Was There, não consiga se igualar a Miyazaki: por isso ele é acompanhado pelo produtor Yoshiaki Nishimura, para mostrar um pouco da imagem corporativa da Ghibli.
Na verdadeira tradição estúdio, When Marnie Was There possui uma protagonista feminina jovem, Anna, que não está tentando conquistar um menino e nem sequer é particularmente agradável. Uma menina reclusa com um talento desconhecido para o desenho, ela é enviada por sua atormentado mãe solteira para viver com os tios no campo. Lá, ela descobre uma mansão abandonada que ganha vida ao revelar a bela, princess-like Marnie, guia espiritual de Anna para uma existência mais glamorosa.
Nem Marnie nem Anna são santas (embora Marnie possa ser um fantasma), mas parte do apelo do filme é como ele gera simpatia pelo antipático. "Isso foi realmente a parte mais difícil", diz Yonebayashi. "Mas você pode ver Anna cresce um pouco - no início ela não pode relacionar-se olhos nos olhos com ninguém, mas no final ela é capaz ver e falar com outra pessoa."
Como em Arrietty de 2010, inspirado em The Borrowers, When Marnie Was There é adaptado de um livro de britânicos infantil, seus personagens transplantados de Norfolk para Sapporo, mas Marnie, fundamentalmente, é mantida como uma ocidental. "Uma delas é japonesa e uma é uma menina estrangeira loira", diz ele, "mas no final eu pensei que isso acrescentou uma outra dimensão."
Feito na esteira do terremoto e tsunami japonês de 2011, o filme é cheio de referências a um ideal conservador do Japão: uma festa tradicional, uma paisagem idílica, e um segredo que liga Anna aos seus antepassados, através do qual ela aprende a aceitar a si mesma. "Muitas pessoas perderam suas vidas e tantos outros perderam entes queridos", diz Yonebayashi. "Anna perde seus parentes também."
Então Anna é o Japão? Yonebayashi inclina a cabeça e faz a mais longa e mais silenciosa de muitas pausas. "Poderia ser. Anna é uma menina solitária. No momento, muitos japoneses se sentem solitários, mesmo que eles estejam conectados pela tecnologia. Eu não tenho certeza se Anna e o próprio Japão são o mesmo, mas as pessoas no Japão devem ser capazes de compreendê-la. "
Ele descreve Anna como "um personagem andrógino, na transição entre a infância e a idade adulta, uma idade muito sensível", mas oferece uma razão intrigante para a escolha de uma outra história protagonizada por uma mulher: "Eu sou homem, e se eu tivesse uma personagem central do sexo masculino, eu provavelmente colocaria muita emoção nele, e isso levaria a dificuldades para contar a história. "
Algum dia a Ghibli vai empregar uma diretora do sexo feminino? Nishimura responde esta pergunta. "Depende de que tipo de filme que seria. Ao contrário de um live action, com a animação nós temos de simplificar o mundo real. As mulheres tendem a ser mais realistas e gerenciar dia-a-dia muito bem. Homens, por outro lado, tendem a ser mais idealistas – e filmes de fantasia pedem uma abordagem idealista. Eu não acho que é uma coincidência que os homens sejam os escolhidos. "
Pode ser uma questão discutível se as dificuldades financeiras do Studio Ghibli continuam. A empresa foi pioneira na década de 1980 na contratação de pessoal em tempo inteiro, em vez de recrutar freelancers: trata-se de um modelo de produção caro que permitiu a Ghibli treinar a próxima geração de animadores brilhantes, incluindo o próprio Yonebayashi.
Agora Ghibli está enfrentando a dura verdade da indústria: animação desenhada feita à mão é cada vez mais cara e arriscada de fazer, especialmente terceirizada para países mais baratos. Mesmo Miyazaki tacitamente admitiu isso – uma curta feitio para o museu Ghibli em Tóquio será sua primeira em CGI completa. O próximo filme do estúdio é uma colaboração com o estúdio Wild Bunch da Europa dirigido pelo cineasta holandês Michaël Dudok de Wit.
"O processo de enxugamento já começou", diz Nishimura. "Não há produção interna no momento. Quanto à sombra de Miyazaki, devemos sentir a sua presença, bem como a de Takahata-san, os dois mestres que estabeleceram Ghibli e deram não apenas ao Japão, mas coragem ao mundo inteiro. Não é apenas a técnica de animação – é a narrativa, aquilo que contamos, o que nós dizemos, e a ambição em relação a este tipo de filme. Isso é o que nós temos que levar adiante. "
Por enquanto, o Oscar de Miyazaki está sozinho na prateleira: Yonebayashi perdeu o prêmio do ano passado para a Disney-Pixar. Mas reveladora, Divertidamente foi uma história honesta sobre uma menina. Miyazaki já treinou a próxima geração, em mais de uma maneira. When Marnie Was There será lançado no Reino Unido em 10 de junho.
2 pessoas comentaram:
Olá Valéria, tudo jóia?
Estou realmente chocada com o comentário deste jovem rapaz.
Jamais imaginaria que alguém que estava em situação de repre-
sentar um dos maiores estúdios de animação de todos os tempos
pensaria ou falaria tal coisa. É algo simplesmente retrógrado.
Sou apaixonada pelo Studio Ghibli e pelas personagens femininas
fortes e independentes que ele criou.
Sucesso,
Suechan.
Para um estúdio internacional o representante do mesmo pronunciar algo tão machista e retrografado fica mal para a imagem do próprio estúdio.Mas, até agora póuca gente repudiou ou questionou a declaração ao ponto de fazer essa criatura refletir, logo a mentalidade continua...
Postar um comentário