segunda-feira, 13 de junho de 2016

Comentando Escrava Mãe (Record, 2016)


Alguém me perguntou no Ask o que eu estava achando de Escrava Mãe.  Primeira coisa, não estou assistindo.  Não conseguiria encaixar outra novela na minha vida, então, optei por não ver.  Só que quando coloco a TV na record para assistir Os Dez Mandamentos, ainda está no terço final do capítulo, então, acabo vendo alguma coisa. Sei que a audiência vai bem.  Só que decisão é decisão, não dá para assistir tudo que eu quero nessa vida, mas alguns comentários eu posso fazer.

Gostei um tanto da mocinha, porque Juliana (Gabriela Moreyra), a futura mãe de Isaura, não é nenhuma coitada, embolachou o feitor estuprador e pagou com o tronco, depois, ainda lanhada, ouviu da rival - outra escrava, aliás, porque senão era tronco de novo - que é bom que ela aprendesse que escravo tem que apanhar.  Daí, Juliana não se faz de rogada e enfia a mão na outra com gosto.  Isaura nunca faria isso, na verdade, a maioria das mocinhas nunca faria algo do gênero, só que o papel de coitada padrão não é de Juliana, mas de sua sinhá manca, Teresa (Roberta Gualda).   De resto, não descobri ainda como a vilã, Maria Isabel (Thaís Fersoza), engravidou, mas posso dizer que ela é uma versão sem humor da Branca de Liberdade Liberdade.

Figurino totalmente equivocado.
No geral, olhando a novela, e vi várias cenas, vejo uma novela consistente nos fundamentos básicos do gênero e com boas atuações.  A abertura ficou muito bonita e a direção é competente, assim como a fotografia.  A novela acertou, também, ao colocar em evidência que nosso caráter mestiço não se construiu sobre bases consensuais, mas em cima da violência contra as mulheres.  Consenso entre gente tão desigual, senhores e escravas, não era regra, mas exceção e a própria Juliana nasce de um estupro e o perigo da violência sexual a segue como uma sombra e, se forem fiéis ao que já virou cânone a respeito da mãe de Isaura, a tentativa de resistir a conduzirá para a morte.  Não sei como a novela lidará com isso, mas o destino de Juliana não é a felicidade.

Agora, três coisas me incomodam muito, fora o fato de considerar uma prequel de Escrava Isaura algo absurdo e desnecessário. Primeiro, a data de início da trama: 1808. Ora, Escrava Isaura - o livro e as novelas - se passava nos primeiros anos do reinado de Pedro II, isso está no texto do romance original, daí suponho que depois de sua maioridade, o que coloca a trama entre 1840-45, talvez mais. Como a mãe de Isaura poderia já ser jovem em 1808? Será que não pararam para contar? Por qual motivo essa fascinação por 1808?  Poderiam ter jogado a história para o governo de Pedro I, por exemplo.

Cintura marcada em 1808?
Segundo incômodo, todos os coronéis são chamados de coronéis... Sim, e qual o problema?  Ora, ora, em 1808 existiam grandes proprietários de terra, mas nenhum deles era chamado assim. Motivo?    A professora de história explica, o termo "coronel" aplicado aos grandes senhores só se tornou possível depois da criação da Guarda Nacional e, bem, ela só nasceu durante a Regência, em 1831.  Dói ouvir os caras se referindo às personagens de Antônio Petrin e Luiz Guilherme como Coronéis.

Outro último incômodo é o figurino absolutamente inadequado. Ninguém, e isso vale para os homens igualmente, se veste como em 1808, quer dizer, eu ainda não vi, nem como gente atrasada na moda da época, como o que acontece em Liberdade Liberdade, mas, sim, como se estivessem em meados do século XIX. Essa semana passada uma mulher apareceu com um chapéu que eu apostaria ser dos anos 1860-70.  Dá até nervoso.  Sabe o que fica parecendo? Reciclagem de figurino de outras tramas de época da emissora, talvez, da própria Escrava Isaura, mais Essas Mulheres.  E, sim, sei que é uma trama terceirizada, mas acho que pegaram o figurino de outras novelas da Record mesmo.  Para quem acha que é implicância, três links com imagens da chamada Moda Império (França) ou Regência (Inglaterra), só comparem com a marcação da cintura das fotos da Thaís Fersoza que parecem muito mais dos anos 1840 par frente, quando a crinolina ainda estava se desenvolvendo: 1 - 2 - 3.

Aqui o figurino das mulheres parece adequado para 1808.
Resumo da coisa, Escrava Mãe é uma boa novela, pois atende bem aos fundamentos do folhetim, mas faltou pesquisa histórica e um tiquinho de matemática, talvez, tenha sobrado preguiça, também.  Agora, é esperar para ver no que vai dar, porque, bem, até o momento, a Record não está tendo o que reclamar.  Agora, preciso escrever um texto sobre Dez Mandamentos, especialmente para falar de Miriam, espero ter tempo esta semana.

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