Apesar de haver escrito que não daria a mínima para a premiação, afinal, Sufragette foi esnobado e houve, mais uma vez, a ausência de negros e negras entre os indicados, além de nenhuma mulher na direção etc. acabei parando para assistir. Peguei um streaming da TNT, ele funcionou bem boa parte do tempo, perdi o início e o monólogo machista do Chris Rock (*comento depois*), mas vi praticamente tudo. Fazia tempo que eu não assistia o Oscar integralmente e, mais legal ainda, comentava no Twitter. A última vez? Acho que foi na época do Discurso do Rei. Acho...
Eu não tinha um favorito, assisti somente A Garota Dinamarquesa mesmo, mas estava acompanhando as premiações, sabia das chances de Spotlight, por exemplo, ainda que não esperasse a vitória na categoria melhor filme, e participei do bolão gratuito da Lola. Meu marido viu O Regresso e tinha reforçado minhas suspeitas de que seria um bom filme, mas chato, e confesso que não tenho vontade de assistir. Estou meio saturada de histórias de homens, desculpem a franqueza. Agora, aquela coisa toda em torno do Leonardo Di Caprio era engraçada de se ver, afinal, gente igualmente competente também ficou na fila do Oscar por décadas, Paul Newman, por exemplo, ou saiu com um Oscar honorário mea culpa da academia, tipo Chaplin. Vou comentar alguns momentos interessantes e pouco mais que isso.
Jenny Beavan, vencedora do Oscar de melhor figurino.
Não vi Mad Max: Estrada da Fúria, mas gostei do filme ter concentrado quase todos os prêmios técnicos. É um filme feminista – não encontrei ninguém que negasse – e com muitas mulheres na produção. Fiquei torcendo pelo diretor, George Miller, mas não deu, venceu O Regresso. Mas é aquilo Oscars técnicos não são prêmios principais e outros filmes de ficção científica já conseguiram fazer o mesmo, só que o frisson em torno de O Regresso era forte demais, sufocante demais. Indicado até para figurino? E, pensando depois, foi realmente interessante ver Mad Max ganhar nessa categoria e sua figurinista ir ao palco vestida de couro e sem salto. A cara de desdém frustração do diretor de O Regresso e outros homens, que pode ser vista no vídeo. Para mim, foi uma atitude feia, deselegante, talvez coisa de mal perdedor, mas, para alguns, foi coisa de machista mesmo.
Gostei de ver Ex-Machina: Instinto Artificial, outro filme com Alicia Vikander, receber Oscar de Melhores Efeitos Visuais, quebrou a sequência de Mad Max, verdade, mas tinha uma mulher no grupo premiado. Segundo o site Mulher no Cinema, é caso raro, normalmente mulheres não se fazem bem representadas nessa categoria entre os indicados. Parabéns para Sara Bennett e preciso ver esse filme que apareceu entre os grandes meio que como um estranho no ninho.
O Menino e o Mundo.
Divertidamente ganhou. Todo mundo sabia que iria ganhar mesmo. Agora, acho o fim as manchetes aqui serem algo como "O menino e o mundo perdeu o Oscar de Animação” (*exemplo*). Não, gente, só de estar lá no meio dos grandes, como Pixar/Disney, Ghibli, já era uma vitória. Esse pessoal tem que parar de pensar determinadas coisas pelo prisma negativo. Não perdeu, foi um anão entre gigantes, conseguiu atrair atenção para um filme cheio de méritos e para os artistas envolvidos. Quem esperava a indicação? Fico doente com esse tipo de coisa, sabe?
Outro momento importante e emocionante da premiação – apesar de algumas omissões – foi o In Memoriam. Tanta gente boa, competente, cheia de boas coisas ainda a fazer por aqui se foi. Alan Rickman, que esses comentaristas cretinos (*tive que aturar o Ewald Filho*) parecem só lembrar de ter visto em Harry Potter... Enfim, eles ainda me massacraram ao terminar com Leonard Nimoy. Precisavam terminar com o Sr. Spock? PRECISAVAM? Não, mas fizeram isso...
Lady Gaga foi maravilhosa em sua apresentação.
Somado a esse momento, que sempre é muito emocionante, o ponto ápice da cerimônia, para mim, foi a apresentação de Lady Gaga. Não sou fã dela, mas admiro a sua voz e sempre a acho muito mais bonita quando não está fazendo alguma performance. Ela estava elegante, a música, “Til it happens to You”, do documentário The Hunting Ground, que trata sobre esturpros nas universidades norte americanas, composta por ela e Diane Warren, ambas vítimas de abuso sexual, foi interpretada de forma poderosa e terminou com várias mulheres que sofreram abusos sexuais juntas no palco. Favorita? Sim, especialmente, quando comparadas com as chatíssimas músicas apresentadas. No entanto, e esse foi o ponto mais baixo da noite, o prêmio foi para "Writing's on the wall", de 007 contra Spectre. Foi bem na hora que o meu streaming falhou. Fiquei sem acreditar.
A boa piada em cima disso foi que Lady Gaga, que passou a mão em Leo Di Caprio no Globo de Ouro, teria pego para si a maldição de não ganhar estatueta, porque, bem, só assim para compreender essa derrota. Aliás, foi fofo ver a Kate Winslet emocionada com a vitória de Di Caprio, realmente feliz por ele; já o ator, bem, ele teve que se conter para não gritar e pular no palco. Dava para ver. Pena que não soltou as frangas, porque seria lindo. ^_^
Sharmeen Obaid-Chinoy em seu discurso emocionante.
Outro momento bonito foi a premiação do curta de documentário A Girl in the River: The Price of Forgiveness, único filme dirigido por mulher premiado este ano. O filme conta a história de uma jovem paquistanesa que sobreviveu a tentativa de assassinato perpetrada pela própria família, um crime de honra. Deram-lhe um tiro na cabeça, colocaram em um saco e jogaram no Rio, mas ela sobreviveu. A produtora e diretora Sharmeen Obaid-Chinoy fez um dos mais belos discursos da noite (*agradeço à Tradução do site Mulheres no cinema*): “É isso que acontece quando mulheres determinadas se reúnem. De Saba, a mulher do meu filme, que sobreviveu a um crime de honra e dividiu sua história, à Sheila Nevins e Lisa Heller, da HBO; à Tina Brown [produtora], que me apoiou desde o primeiro dia; aos homens que lutam pelas mulheres, como Geof Bartz, que editou o filme, Asad Faruqi [diretor de fotografia]; ao meu amigo Ziad, que levou o filme ao governo; a todos os homens corajosos, como meu pai e meu marido, que encorajam as mulheres a estudar e trabalhar, que querem uma sociedade mais justa para as mulheres. Nesta semana, depois de ver esse filme, o premiê do Paquistão [Nawaz Sharif] disse que vai mudar as leis quanto aos crimes de honra. Esse é o poder do cinema.”
De resto, lamentei que Cinco Graças (The Mustang) não tenha vencido por filme estrangeiro. Não vou desfazer de O Filho de Saul, filme húngaro vencedor, nem falar que o tema Holocausto está esgotado ou em lobby. Todas as críticas que li foram unânimes nos elogios ao filme, assim como vi Spotlight sendo louvado como um grande filme, um filme de elenco, no qual ninguém brilhava mais que o companheiro ou companheira. Aliás, acho que está na hora dos prêmios Oscar serem repensados. Acho injusto crianças e adolescentes competindo com adultos, um prêmio para revelação poderia ser inserido, assim como acho urgente uma premiação para melhor elenco, algo que existe no SAG, o prêmio do sindicato dos artistas. E quem venceu? Spotlight. Fora prêmios técnicos, enfim...
Kate Winslet fez campanha para Di Caprio e reagiu de forma emocionate a sua vitória.
De resto, achei irritantes e hipócritas as brincadeiras em relação ao racismo da academia. Rock acertou ao falar que o racismo sempre existiu e que o importante é estar falando disso, mas não vi constrangimento em ninguém com as piadinhas dele e de outros. O boicote – e foi lindo Spike Lee não ir receber seu prêmio (consolação) honorário – era a postura mais adequada. Agora, se Rock foi muito preciso em alguns de seus comentários sobre racismo, foi um fiasco ao propor prêmios para negros, ou que homens e mulheres não tivessem categorias separadas.
Querido, se foi piada não deu certo. Primeiro, porque existe uma desigualdade imensa nas oportunidades para homens e mulheres no cinema, assim como há para atrizes e atores negros, isso sem falar em outras etnias. “People of color”, que até hoje não sei se é um termo racista, ou não, mas sei que coloca todo mundo no mesmo saco e elimina qualquer caráter racial da “cor” branca, como se ela fosse neutra, no geral estão sub-representadas em Hollywood.
Cris Rock decepcionou em sua fala de abertura.
Rock também debochou da campanha #ASKHERMORE, lançada ano passado com o intuito de evidenciar a forma desigual como são tratados homens e mulheres nas entrevistas e premiações. Eles perguntados sobre seus papéis e trabalhos, elas sobre roupas e sapatos, principalmente. Olha, é claro que atrizes são vitrines para grifes e que os homens se vestem praticamente iguais, mas esse comportamento não existe por conta da indústria da moda, mas porque mulheres são vistas como artigos decorativos, mesmo quando seu talento é o que deveria estar em evidência. Vejam só, perceber o racismo não faz o sujeito deixar de ser um babaca racista, o tempo inteiro ou em alguns momentos.
De resto, minha solidariedade com quem assistiu a Glória Pires. Quando o streaming deu pau e eu tive que olhar a Globo, deu nervoso ver a cara de tédio da atriz, que é ótima como atriz, que fique claro, sua falta de interesse, enquanto seus companheiros de apresentação tentavam se desdobrar. Gente, trabalhar domingo ou na folga é ruim, mas será que ela foi obrigada? Se eu fosse a Globo, chamava o Jô Soares para o ano que vem. Ele pode ser narcisista, mas lembro que quando o SBT roubou o Oscar da Globo, ele fez um trabalho excelente. Saudades do José Wilker, muita mesmo. E fiquem com a apresentação de Lady Gaga. Linda mesmo!
Você tinha dito que não achou ninguém discordando sobre Mad Max ser um filme feminista. A Anita Sarkeesian, do Feminist Frequency, discorda. Aqui os tuites dela sobre o assunto: https://storify.com/wire2k/anita-sarkeesian-on-mad-max-fury-road
Eu particularmente não concordo com ela, mas achei bom ter um contraponto na discussão! Pelo que vi por aí, realmente ninguém além dela falou sob esse ponto de vista.
Não tive paciência para ver o Oscar, minha esperança era ver a Lady Gaga conscientizando todos sobre o caso da Kesha. Não a ver com o post em questão, mas você acompanhou a notícia d alunas q questionaram o machismo do colégio em proibir shorts, pois os meninos ficariam olhando d forma inapropriada para as memas; sendo q nem foi levado em conta o calor q temos enfrentado. Vi poucos blogs d viez feminista comentarem o caso. Se houver tempo, acharia interessante um post sobre. Obrigada.=)
2 pessoas comentaram:
Oi, Valéria! =)
Você tinha dito que não achou ninguém discordando sobre Mad Max ser um filme feminista. A Anita Sarkeesian, do Feminist Frequency, discorda. Aqui os tuites dela sobre o assunto: https://storify.com/wire2k/anita-sarkeesian-on-mad-max-fury-road
Eu particularmente não concordo com ela, mas achei bom ter um contraponto na discussão! Pelo que vi por aí, realmente ninguém além dela falou sob esse ponto de vista.
Não tive paciência para ver o Oscar, minha esperança era ver a Lady Gaga conscientizando todos sobre o caso da Kesha. Não a ver com o post em questão, mas você acompanhou a notícia d alunas q questionaram o machismo do colégio em proibir shorts, pois os meninos ficariam olhando d forma inapropriada para as memas; sendo q nem foi levado em conta o calor q temos enfrentado. Vi poucos blogs d viez feminista comentarem o caso. Se houver tempo, acharia interessante um post sobre. Obrigada.=)
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