domingo, 31 de janeiro de 2016

Mattel reage e Barbie abraça a diversidade




Por conta da correria, afinal, há dias que mal sento no computador, algumas notícias novas se tornam velhas e eu nem posso comentá-las aqui direitinho.   Dito isso, não deve haver um post sobre os brinquedos da Rey, aqueles que a Disney/Lucas Filmes aconselhou as empresas a não fazerem, porque, bem, nenhum menino gosta de brincar com personagens femininas... Nenhum menino gosta e nossos produtos – filmes da Marvel, Big Hero, Star Wars – também não são para meninas.  Enfim, mas já deixo o link para a notícia de que as empresas começaram a recuar e a Hasbro anunciou novas bonecas da Viúva Negra e da Rey.  

O assunto, entretanto, não é a Hasbro, mas sua companheira e competidora Mattel.   A empresa abraçou a diversidade e anunciou que agora terá três modelos de bonecas a tall (*alta e próxima da Barbie padrão no corpo*), a curvy (*com curvas, cheinha e da altura da Barbie original*) e a petite (*mais baixa, mas magrinha de qualquer forma*), quanto aos cabelos, cores de pele e olhos, serão 27 combinações iniciais possíveis, segundo a matéria da revista Time.  Ufa!  


Começo dizendo que a Mattel é uma empresa capitalista, mira nos lucros e como perdeu a linha princesas da Disney para a Hasbro e vinha perdendo público para seu produto principal, a Barbie, viu que era hora de correr atrás.  Confesso que nunca me incomodei muito com a Barbie em si, eu cresci brincando muito mais com a Suzy e nunca usei essas bonecas para me projetar.  Elas eram personagens das histórias que meu irmão e eu inventávamos.  Agora, o seu corpo um tanto estranho com aqueles encaixes deselegantes que a velha Suzy do meu tempo de criança não tinha me deixava desanimada... O caráter irreal dele, também era um problema, mas eu nunca me imaginei como a Barbie.  De qualquer forma, as grandes críticas que li era a este corpo que, nos seus padrões de beleza distorcidos, poderia representar o maior perigo para as meninas.  Por que estou dizendo isso?  

Sempre percebi na Mattel um esforço por fazer rostos diferentes, com traços étnicos marcados e mesmo fora das coleções especiais como a linda Black Label.  O problema, pelo menos aqui no Brasil, é que muitas vezes estas Barbies negras e latinas (*outras etnias realmente não eram bem representadas*) não chegavam e, pior, quando chegavam, algumas vezes ficavam encalhadas na prateleira.  Já comprei Barbie negra em promoção por ¼ do preço da sua original.  Sabe racismo?  Pois é...



Mas aí entra um problema que já li em sites americanos, acho que de mães feministas, ou não, não lembro bem.  Se a Barbie é “tudo que você quer ser” e ela, independentemente de suas amigas, é sempre branca e loira, quem não se enquadra nesse perfil está fora.  Visto por este ângulo, e ignorando absolutamente as formas como as formas subversivas como meninas e meninos brincam, pouco adianta que a Mattel tivesse outras bonecas no entorno da Barbie, porque o ícone era sempre a mulher loura, de cabelos lisos, branca e de olhos azuis.  Quem pudesse que corresse atrás.

Estabelecido isso, a Mattel – independente dos seus interesses econômicos óbvios – deu um grande passo e se isso for deixar meninas  felizes por se verem nas suas bonecas, ou ajudar-lhes a compreender que o mundo é feito de vários formatos, cores, estilos, ficarei satisfeita.  Se a boneca ajudar meninas a se sentirem melhor com seu corpo e tudo mais que as torna especiais, para mim estará ótimo.  Afinal, em 2016 ainda estamos reclamando do sumiço da Rey e da falta de representatividade negra nos Oscars.  Fora isso, as bonecas são lindinhas.  

Obviamente, se a empresa quiser abraçar de verdade a causa, outros desafios virão, como formatos de busto, só para começar, e o fato de que você pode ser tall e curvy, petite e curvy... E minha pergunta, a velha Barbie vai continuar?  Eu espero que, sim, afinal, reconhecer que ela é amada por muita gente é, também, aceitar que a diversidade das pessoas.  Júlia ainda está longe das Barbies, e eu farei o possível para que fique assim pelo menos até os 6, 7 anos, mas espero que quando e se ela se interessar por esse tipo de boneca, ela tenha como escolher e se ver nelas, caso esse seja o seu interesse.

De resto, queria que a Mattel parasse de produzir livros e desenhos cretinos com a Barbie, isso, sim, bem complicado para mim.  Não comentei aqui, mas há um livro que foi muito apedrejado meses atrás, porque a Barbie Engenheira de Computação (*há essa boneca*) ao longo da história era incapaz de programar, de livrar seu computador de vírus, enfim, de fazer qualquer coisa sem que amigos homens pusessem a mão na massa por ela.  



Um vexame que perversamente trabalha com padrões de gênero muito tradicionais, um deles, que é repetido por muitos machistas, é a de que mulheres são exploradoras, que o trabalho de verdade – o criativo e o braçal – sempre é feito por homens, o segundo é que computadores, matemática e coisas similares não são para mulheres mesmo, olha aí a Barbie fazendo bobagem.  

Eu não gostaria que uma criança lesse livros assim.   Minha filha não os lerá e, se o fizer, terá a versão feminista corrigida como contraponto. Esse tipo de livro, lindamente decorado, é muito, muito perigoso para a construção de uma identidade de gênero e de uma sociedade mais igualitária.  De que adianta ter para vender a Barbie Engenheira de Computação então?  Melhor continuar só com as profissões ditas femininas.



Terminando e resumindo, fico feliz com esse passo da Mattel, ainda que ele tenha sido tomado muito mais por conta da perda de mercado e não tanto pelas repetidas críticas.  De resto, ontem foi a entrega do SAG – o prêmio do sindicato dos artistas dos Estados Unidos – e, bem, lá mostraram o que é diversidade.  Indicações que apontavam para a pluralidade racial da indústria e para o talento que esses rostos não-brancos vêm mostrando a despeito da cegueira dos prêmios Oscar.  E, sim, o SAG é um prêmio mais sério que os Oscars, o problema é que um tem eco na mídia internacional e passa na nossa TV aberta faz décadas e o outro, não.  Visibilidade sempre é importante.  Sempre!

P.S.: Não sabia da campanha #ToyLikeMe, mas ela vem pressionando as empresas a darem mais visibilidade às crianças com necessidades especiais.  Funcionou com a Lego, ao que aprece.

2 pessoas comentaram:

Lindo o post! Sou mãe de menina e minha filha tem todo tipo de brinquedo, avião, boneco, carrinho, o importante é se divertir.

Quando era pequena, minha Barbie favorita era a Lia, que tinha cabelos castanhos :D
Muito amor por ela :D
Com esses lançamentos, se eu ver, vou querer comprar, viro criança de novo!! rsrs

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