O Festival de Angoulême é o maior evento de quadrinhos do mundo e está na quadragésima terceira edição. Pois bem, todos os anos é dado um Grande Prêmio e trinta nomes foram indicados, dentre eles k Miller, Chris Ware, Alan Moore, Milo Manara, Stan Lee, Emmanuel Guibert, Quino, Jirô Taniguchi, Joann Sfar… OK, somente gente importante, mas nenhuma mulher. Assim, nenhuma em trinta nomes notáveis.
Acusados de sexismo (machismo), ameaçados de boicote e exposta a discriminação, como um dos organizadores responde? Assim, olha só: , um dos organizadores do evento, se defende? Assim, olha: "[...] o prêmio consagra autores de carreira, com maturidade em suas obras. E há muito poucas mulheres na história dos quadrinhos [...]". (*muita vergonha alheia, leitoras e leitores, muita mesmo!*) Essa é parte da fala de Franck Bondoux reproduzida pelo Le Monde. Como quadrinho, na França, é coisa séria, a coisa não ia ficar barata. Não que o Festival já tenha dado ou indicado muitas mulheres ao Grand Prix, mas tamanht invisibilização e cara de pau é algo que não se espera ver em 2016.
A resposta, claro, não tardou e, segundo o Comic Book Resource, dez indicados retiraram seus nomes em protesto, foram eles.: Daniel Clowes, Chris Ware, Charles Burns, Riad Sattouf, Joann Sfar, Milo Manara, Pierre Christin, Etienne Davodeau, Christophe Blain e Brian Michael Bendis. Eles se juntaram ao protesto do Coletivo BD Egalité. Aqui, neste link, o protesto de algumas desenhistas, algumas usando o gatinho mascote do Festival.
Bem, o festival irá de 28 até 31 de janeiro, vamos ver o que rola até lá. Parece, se entendi bem, que a única mulher já premiada com o Grand Prix foi Majane Satrapi, de Persepolis (*um amigo que entende muito do Festival e de quadrinhos franceses acrescentou que outras duas mulheres ganharam o grand prix, o que joga por terra o argumento de que elas, as quadrinistas de sólida carreira, não existem. Outra já ganhou um prêmio especial. Quatro mulheres em 43 anos. Vamos comemorar?*) Enfim, a quiprocó ainda vai rolar por um bom tempo. A discussão segue forte no grupo Mulheres em Quadrinhos no Facebook.
Sexismo no meio dos quadrinhos, no entanto, não é novidade na França, tanto que várias quadrinistas se juntaram e criaram em 2007 o Prêmio Artémisia que celebra as autoras que mais se destacaram e foram publicadas na França. Se os grandes festivais e premiações ignoram as mulheres e as invisibilizam apesar de seu talento, se os homens continuam repetindo as velhas narrativas sobre a irrelevância das mulheres na Nona Arte, elas criam seus próprios espaços de celebração. E, assim, seguem lutando e trabalhando.
3 pessoas comentaram:
Valéria, Florence Cestac e Claire Bretécher já ganharam o Grande Prêmio. Cestac foi eleita, Bretécher ganhou um dos prêmios especiais de aniversário (o que não é vergonha nenhuma, Morris, Hugo Pratt e Uderzo também ganharam assim - e depois dela!).
Ontem mesmo eu tava criticando uma censura de cenas homoafetivas que aconteceu com o desenho Steven Universo na CN do Reino Unido e agora me aparece isso!? Vergonhoso ù.ú"
O Manara se retirou em protesto? Nem sei o que pensar disso...
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