quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Comentando Snoopy e Charlie Brown - Peanuts, O Filme (The Peanuts Movie, 2015)



Segunda-feira assisti Snoopy e Charlie Brown - Peanuts, O Filme (The Peanuts Movie, 2015) e sai com aquela sensação esquisita.  Amo Peanuts, mas sei que não assisti a um bom filme, nem a um bom especial da série.  O filme se preocupa mais em ser uma celebração apresentando uma colcha de retalhos de situações vistas nos diversos especiais animados dos anos 1960 e 1970, principalmente, do que em contar uma história coesa.  Nesse sentido, eu esperava muito mais.  Por outro lado, o filme oferece aos fãs todos aquilo que tornaram as personagens tão queridas ao longo de mais de cinco décadas e serve de introdução para novos fãs.  Enfim, o que dizer? Gostei?  Não gostei?  Difícil me posicionar.

Peanuts, O Filme faz um apanhado de uma série de situações vistas nas tirinhas e especiais da turma de Charlie Brown, aquele menino legal, mas super azarado cujos colegas adoram humilhar e seu cachorro esquisito, Snoopy.  É recontada no filme a paixão do garoto pela simpática “Garotinha Ruiva”, seus esforços para ser notado por ela e seu desespero quando efetivamente é notado pela menina.  De resto, temos o confronto entre Snoopy e o Barão Vermelho em uma novela escrita pelo cachorro e seu fiel companheiro, o passarinho Woodstock.  


Vou começar dizendo qual o meu problema com o filme.  Simplesmente, para estimular a nostalgia e apresentar as personagens e sua história para a audiência, os roteiristas – filho e neto do autor original – comprimem no filme toda situação deprimente passada pelo pobre em várias de suas histórias.  Resultado?  Uma overdose de gags que não ajuda o filme a andar.  Como eu vinha de uma maratona de Snoopy – já que Júlia está apaixonada pelo cachorro – eu me senti cansada na primeira metade do filme.  Fora isso, quem leu as tirinhas e viu os especiais, o seriado de TV etc. sabe que o pobre Charlie não era humilhada e espezinhado dessa forma e o tempo inteiro.  As doses de crueldade eram sempre homeopáticas e havia mesmo histórias nas quais ele sequer sofria bullying.  


Esse excesso de “nostalgia” também colocou Patty Pimentinha tratando Snoopy como “aquele garoto esquisito de nariz grande” e o cachorro do Charlie Brown.  Patty acreditou por muito tempo que Snoopy era um menino, mas descobriu, depois de várias tiras, que ele era um cachorro e ficou meio traumatizada.  Enfim, as duas coisas nunca ocorrem concomitantemente, mas no filme, sim.  Outra coisa, Patty, Marcie e Franklin não eram vizinhos de Charlie, eles moravam do outro lado da cidade, mas, no filme, todos moram na mesma vizinhança.

Outro ponto, o filme cobre o material dos anos 1960 e 1970.  Eu conhecia Rerun, irmão de Lucy e Linus, em um especial para TV, acho que o último produzido, e não o conhecia. A maioria das tiras que li são dos anos 1950, 1960. Fui ler sobre ele e descobri que nas últimas tiras de Charles M. Schulz, morto em 2000, o menino era muito importante, um protagonista mesmo.  Esperava que ele estivesse no filme, assim como Eudora, a última menina importante a ser criada por Schulz.  


No filme só temos as personagens antigas mesmo: Shermy, Franklin, Marcie, Patty Pimentinha, Linus, Charlie Brown, Snoopy, Lucy, Woodstock, Sally, Schroeder, Pig-Pen, Frida e Violet.  Algumas delas, Shermy, Patty (*a primeira, não a Pimentinha*), Violet e Frida não apareciam mais nas tirinhas faz tempo, mas tem participação no filme exatamente porque ele se baseia em material mais clássico.

O filme faz uma homenagem à primeira dublagem brasileira de Snoopy, feita pela Maga.  Por que eu sei disso?  Porque eles colocaram na TV a Patty Pimentinha chamando Charlie de Minduim, uma sacada genial já que no original a série se chama Peanuts (*amendoins, formato do corpo das personagens*) e a Marcie chamando Patty de “Meu”.  Ao mesmo tempo em que eu amo a dublagem da Maga (*houve tempo em que a dublagem brasileira era excelente*) e sua criatividade, é preciso dizer que houve mudanças de nome, por exemplo, Sally nessa versão se chamava Isaura, o que não é legal, e, bem, preferia que fossem mais fiéis e colocassem Marcie chamando Patty de “senhor”(Sir), como nas tirinhas.  Motivo?  Vi gente reclamando que era paulistano demais.  É, sim, a dublagem da Maga era de São Paulo.

O que ficou realmente bom?  A história de Snoopy, que é viciado em I Grande Guerra, contra o Barão vermelho, ficou muito legal.  Eles queriam introduzir as personagens clássicas, então colocaram Fifi, a cadelinha que quase se casou com Snoopy, como uma aviadora destemida que é capturada e precisa ser salva... Sim, ela é a donzela em perigo, mas é bem ativa no seu resgate.  Só que essa história dentro do filme principal poderia ser separada em um especial a parte.

A história principal, isto é, Charlie Brown e sua paixão pela Garotinha Ruiva é bem trabalhada.  É outra historia que daria um especial de meia hora. Somem o tempo do filme – 88 minutos – e vejam que eu estou certa: mais ou menos meia hora para o Barão vermelho, mais ou menos meia hora para  a Garotinha Ruiva e o resto para essas gags repetitivas. Enfim, nos especiais mais antigos para a TV, a garotinha Ruiva nunca era mostrada e Charlie sempre se frustrava, nesse filme é um pouco diferente.


Quando termina a história principal, temos ainda duas cenas bônus.  A primeira, a gag importante que tinha ficado de fora, Lucy puxando a bola quando Charlie ia chutá-la, algo que sempre aparece nas tirinhas e especiais animados, e uma cena reunindo a cachorrada, Snoopy, seus irmãos e irmãs e Fifi.  Como pontuei, todas as personagens clássicas precisam aparecer.

Há algumas piadas legais, especialmente, a com o resumo do livro, que dá destaque para Marcie, uma das minhas personagens favoritas.  Marcie parece boazinha, usa óculos e é tímida, mas no especial em que aparece Rerun, ela é a única criança que não se intimida com o bully de plantão e bate nele.  Ela ama Charlie Brown, mas ele nem nota, claro... A outra é quando as provas são trocadas e Charlie vira o melhor aluno da turma por encanto... Não vou comentar tudo, porque se o fizer, perde a graça.


De resto, o filme não cumpre a Bechdel Rule, simplesmente, porque o assunto de todo mundo é Charlie Brown, mas é um filme que não ofende e tem uma ótima galeria de personagens femininas.  Peanuts não é feminista, nunca foi, a personagem feminina mais forte, Lucy, é detestável, no entanto, a série sempre trouxe questões contemporâneas para o universo das personagens.  Eu vi o filme na versão normal, mas eu recomendo a 3D, porque as texturas ficaram lindas e acredito que valha a pena.  Eu me arrependo de não ter visto em 3D, mesmo sendo um filme muito curto.

Vale assistir Snoopy?  Se você está nostálgico, sim, vale.  Se você é fã das personagens, pode dar uma chance, também.  Se você tem uma criança, ela pode gostar.  Se você quer um filme com um roteiro coeso, ou quer ver coisas novas de uma série já terminada, não sei se vale a pena.  Eu sai com aquela impressão, gostei, adorei as texturas, ver os cabelinhos das personagens, mas poderia ter sido melhor.  Devo levar a Júlia para ver quando voltarmos para casa.

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