Ontem fui ver Star Wars – O Despertar da Força junto com meu marido. Como estava traumatizada com a última trilogia, assistida integralmente no cinema e sempre com a expectativa de que algo de bom acontecesse em algum momento, o que não ocorreu, estávamos decididos a não assistir mais nada com o selo “Star Wars” e nos apegarmos aos três filmes originais, do tempo em que chamávamos de Guerra nas Estrelas e eles eram uma delícia de se ver e rever. Enfim, não saí ofendida do filme, saí, inclusive com a esperança de que a segunda parte dessa nova trilogia poderá ser melhor que este recomeço, no entanto, e tentarei fugir dos spoilers na resenha (*se tiver tempo, coloco uma segunda parte depois*), o filme é irregular, com problemas sérios de roteiro e coerência, e reeditando de forma intensa o material dos originais. Mas vamos lá...
Em uma Galáxia distante, muitos anos se passaram desde a queda do Império. A República foi restaurada, mas está ameaçada pela chamada Primeira Ordem, que tenta restaurar o Império e é liderada por um líder misterioso chamado Snoke (Andy Serkis). A Resistência continua operando e tem como um de seus generais a ex-princesa Leia Organa (Carrie Fisher). Já Luke Skywalker (Mark Hamill) desapareceu depois de um incidente que teve impacto devastador sobre todos os membros de sua família. O filme começa com o piloto da resistência, Poe Dameron (Oscar Isaac) tentando rastrear o paradeiro de Luke e escondendo um mapa que indicaria a sua localização dentro de um droid chamado BB8. Dameron é capturado pelo vilão do filme, Kylo Ren (Adam Driver) e torturado.
O herói profissional e o herói acidental. |
Resgatado por um stormtrooper desertor, FN 2187, que depois será chamado de Finn (John Boyega), Dameron volta com ele ao planeta Jakku em busca de BB8. O droid havia sido resgatado pela solitária Rey (Daisy Ridley), uma catadora de lixo, que aguarda ansiosamente o retorno de sua família. Atingidos em vôo, Dameron e Finn caem no planeta e o piloto desaparece. Finn, perseguido, acaba encontrando Rey e os dois – por motivos diferentes e sem saber precisamente quem são e com o que estão lidando – ambos decidem entregar BB8 à Resistência. Para fugir do planeta, atacado pela Primeira Ordem, precisam usar uma nave velha, quase uma sucata, que, um dia, foi conhecida como Millennium Falcon... E tudo isso com trilha de John Williams.
Começo dizendo que se J. J. Abrams acertou com o reboot de Jornada nas Estrelas (Star Trek), o mesmo não pode ser dito de Star Wars. Enquanto em Jornada nas Estrelas o reboot e a atuação segura de Zachary Quinto como o Sr. Spock possibilitaram um diálogo e, ao mesmo tempo, um afastamento criativo do material original, esse novo Star Wars é dependente demais, mantendo-se em um seguro cordão umbilical que, se cortado, poderia tornar ainda mais evidentes os problemas do novo produto. Trata-se de um filme que se sustenta pela releitura e repetição de incidentes, locações e seqüências já vistas nos três originais, com pouca inovação. A parte boa é que salvo por uma rápida menção aos “Sith” apagou-se da memória o que foi feito na segunda trilogia.
Rey se apropria de BB-8 e se proclama defensora dos direitos dos robôs... |
Tudo no filme se remete aos três filmes clássicos para o bem, ou para o mal. Por exemplo, Jakku é uma reedição de Tatooine. Como não sou especialista em Jedis, talvez faça parte do processo de formação de um/a guerreiro/a passar parte de sua juventude em um deserto infernal e trabalhando feito escravo. De qualquer forma, é uma repetição. E nem ficou claro qual o status de Rey naquele inferno, se livre, ou escrava, quem a criou e por aí vai. Nas suas memórias fragmentadas, ela era uma criança ao ser deixada em Jakku...
Enfim, sai, Luke e entre Rey, a melhor coisa que criaram nesta nova trilogia, e não somente por ser uma personagem feminina complexa e ativa, mas por estar nas mãos de uma atriz – que eu não conhecia – mas que mostrou em cada pequena cena a sua qualidade como profissional. Daisy Ridley é simpática, consegue parecer uma menina (*eu a supunha mais jovem*) e passa para a audiência todos os sentimentos que agitam a personagem. Não vou mentir que desde sua aparição já imaginava quem ela era e que a cena do herói/heroína relutante, aquele clichê repetitivo da literatura e cinema ocidentais, me enervou, mas essas obviedades podem ser relevadas.
Que saudade deles! |
Sim, esse é o meu sentimento depois do Despertar da Força, eu vi defeitos, muitos, aliás, o filme é cheio de obviedades e forçações de barra, mas é um filme simpático. Trazer de volta Leia, Han Solo e Chewbacca, trazer de volta a trilha sonora, criar a expectativa do reencontro de Luke, colocar na tela sequências que remontavam os originais serviram para me amaciar. No entanto, em nenhum momento, nenhum mesmo, tive aquele impulso de derramar lágrimas como foi com o reboot de Star Trek. Foi uma experiência bem mais fria e não foi por gostar mais de um universo do que do outro, o Despertar da Força peca muito, muito mesmo.
O primeiro pecado é nos oferecer dois vilões fracos demais. A primeira aparição de Kylo Ren, com ele parando no ar uma descarga de raios usando a Força, me fez pensar “Caramba! Como eles vão se livrar desse sujeito!”. A partir daí, só derrota. Ele deseja seguir nos passos de Vader, o venera, inclusive, mas, como diria o capitão Nascimento “Nunca será!”. E mais ainda, escolheram mal o sujeito, que nem me convenceu como ator, bem diferente de Finn e Rey.
Olhe a cara desse general e diga que eu estou errada? |
Por mais que a idéia fosse criar um vilão em formação, o ator não a passa força, nem a imponência, que o papel exige. E tirar a máscara foi um erro, com aquele rosto, com aquele olhar, é difícil se impor. Imaginei, aliás, que fosse um adolescente, ou quase adolescente, mas o cara está perto dos 30 anos e com aquela cara de personagem secundário de filme sobre colégio interno inglês. Mas, ainda assim, nem Rey, nem Finn, deveriam conseguir lutar com ele. Quer dizer, eu imagino que Rey tenha recebido um proto-treinamento Jedi, algo que foi deliberadamente obscurecido em sua mente, mas o mesmo não vale para Finn. A seqüência de duelo de Kylo Ren com ambos foi demasiado longa e só serviu para ressaltar que o vilão era um zero à esquerda. Deveriam ou não tê-lo colocado tão forte no início, ou deveriam ter tornado a sua derrota muito mais difícil.
Não vou falar do general com voz engraçada e sua pose forçada e cara de assustado, vou direto para Phasma. A capitã tinha virado polêmica já antes da estréia do filme quando uns engraçadinhos, provavelmente da mesma trupe de babacas racistas e misóginos que implicaram com Finn e Rey, cismaram que uma mulher tinha que usar armadura “de mulher”, isto é, com seios. A resposta da produção do filme e de várias outras vozes foi rápida e espetacular. Pena que no filme Phasma tenha se revelado uma decepção. Ao ser capturada por Finn, Solo e Chewbacca a oficial cede e faz tudo o que eles querem. Ora, um soldado treinado, talvez selecionado desde a mais tenra infância, que jurara fidelidade à Primeira Ordem e coisa e tal preferiria morrer. Nem ameaçada ela foi. De novo, ficou feio, foi frustrante.
Fugindo de seu chamado. |
E a nova arma criada, um monstrengo sabe-se lá quantas vezes maior que a Estrela da Morte foi destruído muito fácil. Assim como o vilão que promete muito e, no final, mostra muito pouco, a grande arma foi destruída festivamente pelos X-Wings e a ação de Solo, Chewbacca e Finn. Pior ainda, Finn – e o rapaz estava muito bem no papel – deveria ter conhecimentos mínimos sobre detalhes da arma, afinal, ele era um soldado comum, talvez desertando em sua primeira missão de campo e em nenhum momento se mostrava mais inteligente, ou sagaz que a média. Aliás, é esse caráter comum de Finn que tornava a personagem tão promissora.
De resto, até a Primeira Ordem e suas armas pareceram ridículas no final. Uma das coisas que caracterizavam o Império e seu homem forte, Vader, era o poder, o extremo poder que possuíam. Os rebeldes poderiam arranhar, mas nunca teriam condições de derrotar uma força tão poderosa. A debilidade dos Rebeldes parece a mesma, mas a Primeira Ordem é vendida como algo colossal e, efetivamente, este primeiro filme não mostrou nada, seus líderes prometiam grande capacidade (*salvo o general que de cara...*) e são um fiasco, suas armas poderosas são postas abaixo sem grande esforço por um grupo de alegres pilotos – tentando reproduzir, mais uma vez, nos filmes clássicos, diga-se de passagem – e pronto. Nos filmes originais, os heróis e a heroína só escapam, porque Vader tem um plano para Luke em ainda assim, por um triz.
Leia ainda que poderosa continua atrelada aos papéis tradicionais... nada de spoilers... |
Enfim, de clichê em clichê, de homenagem em homenagem, não há nada de novo em O despertar da Força. Queria dizer que gostei da personagem de Oscar Isaac, um ator que eu adoro ver na tela, mas seu Poe Dameron precisará mostrar que é muito mais do que o herói valente e engraçadinho genérico. Aliás, com Han Solo fazendo as piadas boas em tela, nem dá para pensar nele. Mas ele terá tempo para crescer... Se o roteiro deixar. Já Finn é muito mais legal e poderia ter crescido bastante. Seu confronto com Kylo Ren é absurdo, sua participação na queda da super-estrela da morte é exagerada, mas a personagem, assim como Rey, é simpática.
O que mais destaca O Despertar da Força é que ele é um filme que celebra a diversidade. Talvez, lá na frente, seja a única coisa que eu me lembre de fato dele. Um filme no qual a primeira pessoa – não stormtrooper – a ser mostrada empunhando uma arma é uma mulher. Um filme que teve como protagonistas de ação um jovem negro e uma mulher branca, que escolheu colocar como mentora da jovem, a personagem sábia com maior tempo em tela, uma personagem feminina, Maz Kanata. Descobrir que é interpretada ou dublada por Lupita Nyong'o foi muito legal. Fora a Leia que retorna em uma posição de poder, ainda que, vejam bem, seu papel deva ser maior nos próximos filmes. Enfim, em cada cena, seja entre os rebeldes, os vilões, as outras locações, você tinha diante dos seus olhos a diversidade étnica-racial e de gênero. Não é para comemorar? É, sim, e nesse sentido, sou grata à J. J. Abrams.
Uma boa surpresa a personagem da Lupita. |
Depois do parágrafo acima, nem preciso dizer que o filme cumpre a Bechdel Rule e esplendidamente. Talvez, na sua continuação, isso não ocorra tão intensamente, afinal, tudo aponta que pelo menos metade do filme terá um grupo restrito de personagens. É isso. O filme merece ser assistido, não sei se vale mais em 3D, porque fui a uma sessão normal legendada, no entanto, não é uma grande obra. É um filme muito mediano, e as super bilheterias o transformarão em marco do cinema, mas deixou para mim sinalizado que a trilogia como um todo é promissora. E, bem, se tivesse encontrado um BB-8 por preço decente teria comprado.
De resto, ao passar na loja de brinquedos, vi Rey em tamanho pequeno, mas não no formato tamanho maior – tipo Barbie – e de maior qualidade que só parecia ter de humano o Finn. Será que ela existe nesse formato, ou será que, mais uma vez, as personagens femininas serão sub-representadas.
4 pessoas comentaram:
Parece que vai ter versões maiores da boneca da Rey, mas numa terceira série de lançamentos. Mas não sei se isso virá pra cá.
Pela resenha parece mais que vc não gostou do que gostou... rsrsrs
Eu achei um filme bem divertido. Tem muito clichê e fã service, mas eu sai do cinema com sensação de que foi uma tarde divertida.
Claro que o filme tem muitos problemas (tudo se resolve com uma facilidade enorme) e o vilão só parece um menino birrento querendo atenção... E eu ainda acho que no próximo filme o Luke vai virar pra Rey e dizer "Eu sou o seu pai"... Não vai surpreender ninguém se isso acontecer.
Bianca, se eu não tivesse gostado do filme, o tom seria outro, acredite. :)
o 3D do filme é muito bom, vale a pena.
O que eu mais gostei neste episódio foi a maior participação das mulheres neste universo, sentia falta disso. Saí do cinema satisfeita, mas com a sensação de "já que vcs fãs de star wars só querem gostam da trilogia clássica, tomem elementos nela". Parece que eles pegaram cenas dos episódios IV e V e só regravaram com outros autores.
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