Hoje, terminei de ler o segundo volume de Orange (オレンジ), série de Ichigo Takano publicada pela JBC. Confirmei minha sensação, trata-se de um mangá que se destaca da média e espero que mantenha sua qualidade em todos os seus cinco volumes. A série, aclamada no Japão, foi para o cinema e o filme está se saindo muito bem nos bilheterias. Orange estreou em primeiro lugar na semana passada e está em terceiro lugar nesta semana, atrás de Star Wars e Youkai Watch.
Para quem não conhece a série, nem leu o volume #1 (*resenha*), Orange começa com a protagonista, Naho Takamiya recebendo uma carta de seu eu de dez anos no futuro pedindo que ela impeça uma tragédia, um de seus amigos do tempo do colégio não está mais com eles. Só que ela sequer conhecia o amigo citado na carta, um rapaz chamado Kakeru Naruse. No entanto, ao chegar na escola naquele dia, há um aluno novo na classe... Tudo o que é relatado na carta se confirma e, a cada mudança provocada por Naho, outras acontecem. Será que Naho conseguirá ajudar Kakeru? Será que ela conseguirá evitar os arrependimentos de seu eu do futuro? Será...
Este segundo volume investiu no desenvolvimento das personagens, Naho ama Kakeru e precisa se posicionar em relação a ele. O rapaz a ama, também, nós leitoras sabemos disso, mas carrega muitas dores e uma grande culpa. É exatamente este sentimento que o arrasta para a depressão e, se a carta se confirmar, o suicídio. Suwa, o outro amigo e terceira ponta do triângulo, tem seus sentimentos por Naho expostos e, ainda assim, ajuda Kakeru, age para que ele consiga ficar com Naho. No final do volume, uma revelação, o gancho que me faria ler o próximo volume de imediato se ele estivesse ao meu alcance: Naho lhe conta da carta e ele diz que também recebeu uma. Será que isso é o que explica o seu altruísmo em relação ao romance de Naho com Kakeru? Aguardemos o próximo volume.
De resto, há um belo capítulo discutindo a possibilidade das viagens no tempo. A discussão é muito boa e foi desencadeada por um professor, aquele que é responsável pela turma. Hagita, o colega de óculos que é um misto de nerd e palhaço, contesta a tese do professor, já que, para ele, se você volta no tempo e muda seu passado, cria-se um paradoxo e não há mais o futuro do qual você partiu. O professor, então, expõe que teorias mais modernas falam em múltiplas realidades e linhas de tempo. Se você volta e a modifica, cria-se uma nova temporalidade paralela aquela da qual você partiu. Elimina-se o paradoxo. Viu? Orange se qualifica como mangá de ficção científica, também.
Enquanto ocorre a discussão, Naho toma notas loucamente, afinal, ela tem uma carta do futuro e começa a imaginar se ela conseguirá, ou, não, livrar seu eu do futuro de suas dores. Falando do futuro, como no volume #1 temos alguns momentos com as personagens adultas em sua visita à avó de Kakeru. Fotos dele criança, a discussão sobre sua morte – acidente? suicídio? – e muitas lágrimas. A dor dos amigos é imensa. Poderiam ter evitado a tragédia se estivessem mais atentos a Kakeru? É aceitável que esses sentimentos de culpa os atormentem, mas, para dizer a verdade, todos eram muito jovens e inexperientes. Lidar com um depressivo, compreendê-lo, não é fácil. Eu sei disso, eu sou casada com um.
Curioso é como o cultural se impõe e é muito bem retratado na série. Quando Naho e Kakeru conversam, já quase como um casal, e o rapaz expõe parte da sua dor para a menina, eles não se tocam. Fosse aqui no Brasil, certamente, a pessoa que estivesse na escuta do depressivo iria acolher e abraçar. Não falo de nada sexual, mas de como o calor humano pode aliviar, fazer diferença, mas em uma cultura como a japonesa, isso seria inaceitável. Precisaria ser uma personagem muito fora dos padrões para tomar a iniciativa e, bem, Naho não é esse tipo de personagem.
Curioso é como o cultural se impõe e é muito bem retratado na série. Quando Naho e Kakeru conversam, já quase como um casal, e o rapaz expõe parte da sua dor para a menina, eles não se tocam. Fosse aqui no Brasil, certamente, a pessoa que estivesse na escuta do depressivo iria acolher e abraçar. Não falo de nada sexual, mas de como o calor humano pode aliviar, fazer diferença, mas em uma cultura como a japonesa, isso seria inaceitável. Precisaria ser uma personagem muito fora dos padrões para tomar a iniciativa e, bem, Naho não é esse tipo de personagem.
Outra sequência importante do volume foi a reação da senpai (*sim, veterana é ridículo, porque ninguém se trata assim em nosso país*) que namorou Kakeru e suas amigas contra Naho é bem compreensível e não representa nenhum risco de levar a história para a vala comum dos mangás escolares que sustentam parte de sua ação nas rivalidades entre meninas. Aliás, essa parte de bullying ajudou a mostrar um pouco da personalidade dos outros membros do grupo de amigos, de como são unidos e se defendem entre si. Se Naho – que é o membro mais frágil do grupo, talvez – se mostra vulnerável, Hagita e Suwa, os meninos, e Azu e Taka, as meninas, se posicionam para ajudar a amiga e, também, Kakeru. Será que todos receberão cartas? De qualquer forma, essa parte do volume foi muito boa. Quem tem amigos, tem tesouros para a vida inteira. Sim, clichê, mas acredito piamente nisso.
De resto, a arte manteve-se fluída e muito bonita durante todo o tempo. Destaque para os closes em Naho, a presilha dada por Kakeru, a menina usando yukata e seu cabelo arrumado. O desenho das paisagens de Nagano, o cuidado da autora com os cenários é algo bonito de se ver, também. E ainda temos de bônus no volume mais um capítulo de Haru-iro Astronaut (春色アストロノート) que é tão, mas tão bobinho que dói e, ao mesmo tempo, só serve para ilustrar a competência da autora, afinal, ela entrega um Orange espetacular e mostra, ao mesmo tempo, que é capaz de fazer uma história medíocre só para desestressar. Palmas para Ichigo Takano.
P.S.: Tentarei reler Vitamin (ビタミン) amanhã e resenhar o mais rápido que puder, assim como os dois volumes de Ōoku (大奥) que trouxe comigo, isso, claro, se não encontrar o volume #3 de Orange aqui no Rio. Se achar, ele pula na frente.
6 pessoas comentaram:
Amei sua resenha, Valéria. É tudo o que eu penso sobre Orange também.
Eu estou no Japão e assisti ao filme no cinema,e, nossa, como chorei, muita gente na sessão chorou, na verdade. Achei que a adaptação ficou muito boa e fiel. No entanto... fiquei um pouco decepcionada com a Takano Ichigo que comentou no Twitter que não assistiria ao filme. Os fãs a questionaram e, como parece que ela se sentiu pressionada, deletou a conta no Twitter. Ela está no direito dela,acredito eu, mas bateu aquela ponta de decepção, depois de ver o grande trabalho que ela fez com o mangá e que fizeram com o filme. Mas, enfim, a vida segue... Espero ver mais resenhas suas sobre os próximos volumes!
Nossa, estou ansioso demais pelo próximo volume de Orange. Confesso que não conhecia a obra antes do lançamento da JBC, já tinha visto nos rankings Oricon mas nunca tinha lido. Trata-se de uma obra fantástica até o momento, muito bem embasada e com o desenvolvimento dos personagens muito bem retratado. Eu sinto que o final será triste, está caminhando pra isso... para os esforços da Naho sendo em vão, apesar dela conseguir se redimir com o "ela" do futuro. A dor do Kakeru é muito grande e compreensível até certo ponto, vamos ver como a Ichigo Takano vai desenvolver esses 3 últimos capítulos, apesar de eu gostar de finais que não sejam felizes, eu estou torcendo para que dê tudo certo para a Naho e o Kakeru em Orange. *-*-
PS.: Quando você cita os leitores, você só diz "leitoras"... seria interessante colocar como "leitores", sou homem... gosto de muitos gêneros, mas também amo Shoujo e Josei. Devem ter outros como eu que curtem o seu blog. >-<
Bem, Reinaldo, você deve ter visto que, normalmente, eu escrevo leitoras e leitores. Sei bem que meu blog recebe visitas de homens que curtem shoujo e josei, eles comentam tanto quanto elas. Agora, não se ofenda, esse sentimento de apagamento - quando não de exclusão - nós mulheres sentimos todos os dias quando se nos impõe o universal masculino. Outra coisa, há algo de ruim em se sentir leitora uma vez ou outra? Acho que não há, não é? Feliz Natal e obrigada por comentar!
Cassi, obrigada por comentar. Eu até acho que uma autora ou autor tenha o direito de não querer assistir uma adaptação, mas essa reação de sair do Twitter... Acho que Ichigo Takano tem problemas, sabe?
Manga complicado esse. Normalmente, para mangas curtos ou já concluídos no Japão, compro o primeiro volume e se gostar, vou comprando e guardando, e espero para ler todos de uma vez. Só que no caso de Orange, não consegui esperar e acabei lendo o segundo logo que saiu e agora fico nessa ansiedade aguardando o próximo. Ponto para a autora, que sabe manter o interesse alto.
Sobre o filme, eu queria muito ver, mas fico preocupado. Ele trata do manga todo? Vou ver o final da história antes de terminar o manga? Se for, acho que prefiro esperar.
Sobre o comentário do Reinaldo, acho o blog da Valéria um dos mais inclusivos e não vejo problema nenhum em ela escrever como achar melhor. Tradicionalmente, shoujo é mais lido por garotas, ainda que existam leitores homens. Então, ela usar "leitoras" me parece que faz mais sentido, pois tem a ver com a demografia original dos mangas no Japão, com o público alvo original das obras e das revistas onde são publicadas.
Mas nem por isso me sento excluído, e ela é sempre muito atenciosa nos comentários. Nunca vi necessidade de "marcar território" e garantir um tratamento diferenciado.
Até porque, a língua portuguesa em geral é bem "masculina" e é saudável garantir alguns espaços privilegiados para as mulheres.
Não me ofendi, isso seria besteira... mas entendi o seu ponto de vista hahahaa. Feliz Natal pra você e pra sua família! ^-^
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