Ontem, finalmente, terminei de ler Orange (オレンジ), a famosa série de Ichigo Takano, publicada pela JBC. Como comentei aqui no blog, acredito que Orange foi o melhor lançamento shoujo do ano. Limit (リミット) e Vitamin (ビタミン) são lançamentos de respeito, sem dúvida, mas são séries que não estão em evidência faz tempo. Ao Haru Ride (アオハライド) é um mega hit, mas me parece uma história lugar comum que, por algum motivo, caiu no gosto popular e bombou nas vendas. Má vontade? Talvez, mas Orange consegue ser uma típica dramédia escolar e, ao mesmo oferecer algo mais às leitoras e leitores.
Orange se inicia com uma adolescente, Naho Takamiya, recebendo uma carta do futuro. Trote? Ela não sabe dizer. O fato é que seu eu de 10 anos do futuro está lhe pedindo ajuda salvar um amigo, Kakeru Naruse, que não está mais com eles no futuro. Ela não conhece nenhum Kakeru, mas, ao chegar na escola, tudo o que está na carta começa a acontecer. O que Naho deve fazer? Acreditar na carta? Tentar mudar o futuro? Será que poderá salvar Kakeru?
Orange começa de forma intrigante e, ao mesmo tempo comum: o início do ano escolar, a chegada do aluno transferido, a protagonista tímida e insegura, a carta... A idéia da mensagem do futuro, assim como a capsula do tempo que as personagens abrem ao se reencontrarem é a mensagem do passado, não é uma idéia nova. Como sempre, trata-se de como um autor, ou autora trabalha com velhos temas. Ichigo Takano parece, sim, ter trabalhado bem.
Eu nunca consegui pegar scans decentes de Orange. Só havia lido o iniciozinho mesmo, daí, não sabia que a história efetivamente se movimentava entre o passado e o presente. O grupo de adolescentes e os adultos que ainda choram a perda do amigo que, na concepção deles, poderiam ter evitado. Kakeru morreu, logo sabemos disso e sua carta dentro da capsula do tempo é uma mensagem de desespero, um pedido de socorro, a certeza de alguém que só tem presente.
Kakeru é um adolescente comum e, ao mesmo tempo, não é. Depressivo, e não posso dar muitos spoilers, ele não tem um futuro pela frente e sabe disso. O peso então é jogado para a Naho, não a mulher casada e mãe aparentemente acomodada do futuro, mas a menina que não soube se colocar no momento certo, que não se declarou, que, simplesmente, não conversou com alguém que estava caminhando para o abismo. Os outros colegas – os garotos Suwa e Hagita, as meninas Azu (Azusa) e Takako – também se sentem responsáveis pela perda precoce de Kaoru, mas, pelo menos o primeiro volume só lhes desenha as personalidades, o foco é em Naho.
Falando nela, uma das virtudes de Orange, que talvez explique seus mais de 1 milhão e 600 mil exemplares vendidos, é que, apesar de comuns, as personagens são simpáticas, eu consegui gostar de todas elas. Naho, por exemplo, nada tem de extraordinário em relação a outras protagonistas de romance escolar, ela é rica em virtudes femininas, tímida, prendada, feita para casar, só que a dinâmica da história a obriga a dar passos que em um mangá comum ela dificilmente daria tão rápido.
As demais personagens, salvo Hagita, que eu não consegui decifrar por falta de dados, são comuns, personagens tipo. As melhores amigas de Naho, uma é a irmã mais velha, centrada, forte, a outra o tipo brincalhão, fútil e de bom coração. Não tenho como saber ainda se Takako faz o tipo ojousama, mas ela me pareceu próxima disso. Suwa, retomando meu texto sobre as personagens tipo de shoujo mangá, poderia ser o bom moço ou o protetor, ainda não dá para saber. Já Kakeru é o bom moço, só que frágil e prestes a romper. Um leitor aqui do blog comentou uma vez que a melhor representação de alguém depressivo em mangá que ele já viu foi o Kakeru de Orange. Vamos ver se isso se confirma para mim.
Neste seu primeiro volume, a série tem somente cinco, há momentos tocantes, o da cápsula do tempo foi o melhor de todos. Fui levada a refletir sobre minha vida dez, vinte anos atrás. Me arrependo de alguma coisa? Poderia ter ajudado alguém a sofrer menos? Enfim, Orange parece um drama ou dramédia escolar comum, mas tem uma densidade que ajudou a colocar a obra fora do lugar comum possibilitando, inclusive, que ela se reinventasse.
Aqui, cabe a explicação, Orange era um mangá da Betsuma, talvez a mais popular revista shoujo nos últimos anos. Estar lá, já é garantia de visibilidade. Só que a autora anunciou aposentadoria precoce e interrompeu o mangá. Ansiedade. Confusão. Meses depois, ela anuncia que não volta para a poderosa Shueisha e que Orange iria recomeçar em uma revista seinen, a Gekkan Action, da Futabasha. Os volumes foram relançados, o sucesso se revigorou, e história de aposentadoria não voltou a ser tocada, e o filme de Orange estreou com grande pompa no cinema neste fim de semana. Agora, é esperar que Ichigo Takano consiga lançar outra obra de impacto ou se ela sempre estará à sombra de Orange.
Falando da edição da JBC. Bem, gostei da encadernação. Sei das reclamações com a transparência do papel, sei que poderiam fazer melhor, basta pegar qualquer mangá publicado nos EUA, isso, claro, se não quisermos falar de Japão, mas não me incomodou. O que me afasta dos mangás de editora, a ponto de comprar e guardar sem ler, é a maldita adaptação. As gírias, as invenções que o/a revisor/a cisma de colocar para tornar a série palatável sei lá para qual gueto. O “Pssora” em Limit, só para citar exemplo recente, deu engulhos. Meu marido largou e foi atrás de scanlations. Eu estou comprando para guardar, afinal, tenho a edição americana que, bem, parece seguir a escola JBC de adaptações ruins.
Voltando para Orange, li tudinho e, salvo por uma ou outra coisinha, daria uma boa nota para a adaptação. Definitivamente, colocar “veterana” e, não, “senpai” não faz sentido. Uma notinha de rodapé já situaria o uso do honorífico. Obviamente, eles estão distantes do irritante “senhorita” que usavam em Fruits Basket (フルーツバスケット) e Fullmoon Wo Sagashite (満月をさがして) para não usar um simples “san” ou “sama”. De qualquer forma, espero que a JBC percebe, um dia, que honoríficos são de conhecimento de seus leitores, que eles têm função no texto, e que, bem, notinhas explicativas fazem parte da vida de todo leitor ou leitora de mangá.
Ainda falando da edição, há um mangá curto no final chamado Haru-iro Astronaut (春色アストロノート). É ali que o estilo que eu odeio de tradução/adaptação da JBC se impôs. Só que ninguém comprou o volume de Orange por conta do oneshot estilo shoujo mais lugar comum (*a própria autora sugere isso em suas notas*) que vem no final. É o texto de Orange que efetivamente precisa ser convincente e bem cuidado. No geral, foi isso que a JBC nos entregou.
Gostei muito do traço da autora. Ela mesma o faz mais fofinho propositalmente em Haru-iro Astronaut. Em Orange, ele é bonito, ainda que mais sóbrio, e valoriza a história. Uma das preocupações da autora, que ela comenta na freetalk, é de representar bem a sua cidade, Nagano, os seus lugares favoritos e mesmo detalhes de um uniforme - as meias vermelhas - usadas em uma escola local. Um guia com os lugares de Nagano que aparecem em Orange foi lançado no Japão este ano.
De resto, não tenho ainda como dizer se Orange é um mangá feminista, ou com algo de feminista nele. Parece que o empoderamento de Naho é um ponto importante na história, que ela se torne mais ativa, ainda que tudo isso seja para salvar o homem que ama, Kakeru. E fica a pergunta: Naho conseguirá evitar a tragédia e mudar o seu futuro e o de seus colegas? Estou aguardando ansiosamente os próximos volumes. Já vi a capa até do volume #3, mas, aqui em Brasília, só chegou o #1 até agora. Viajo para o Rio nos próximos dias, se tudo falhar, comprarei por lá.
6 pessoas comentaram:
Comecei a ler Orange por scan, na época devorei tudo o que tinha. Quando a JBC anunciou o lançamento fiquei bem feliz, mas quando vi o mangá na banca e aquelas páginas transparentes não comprei. Estou ainda pensando se compro ou não, já que a capa está bem bonita e é uma série curta. Já me basta Limit de manga transparente. E olha que Limit não tem scans completa na internet, então é comprar a edição da JBC ou alguma estrangeira, mas com o o dólar está caro... Estou aguardando para ver como vai ficar as páginas do Vitamin. Engraçado que Ao Haru Ride com seu papel jornal não tem toda essa transparência que os mangás da JBC atuais apresentam.
"O fato é que seu eu de 10 anos do futuro está lhe pedindo ajuda para impedir que um amigo, Kakeru Naruse, continue com eles no futuro."
Valéria, essa passagem do texto não me parece certa. A carta diz que Kakeru não está mais com ele e pede que ela tente impedir isso. É o contrário do que está no seu texto, não é?
Maurício, vou corrigir, obrigada.
Esse mangá é lindo e apesar das cismas da editora em "adaptar" termos, mudar expressões e etc ao invés de usar da boa e velha nota de rodapé, estou comprando a versão nacional e guardando com muito amor. Fazia tempo que um mangá shoujo publicado em solo brasileiro não ganhava a minha simpatia desse jeito. Já consigo sentir as lágrimas descendo no final.
Eu tinha comprado Orange quando viajei para São Paulo e fui na liberdade. Na época eu nem sabia que já tinham lançado (só vi as notícias de que iriam lançar) e então basicamente eu fiquei na frente da loja Hunter pensando "será que compro será que não compro ALGUÉM ME AJUDA MAS É SHOUJO!!!" HSUAHSUAHSUAHASUAH
Eu lembro que quando Orange, uns anos atrás, ainda estava em lançamento e deu aquelas tretas de mudança de revista, a autora se aposentando etc.; todo mundo ficou órfão de Orange. Eu pensei em pegar para ler porque vi que tinha fansub fazendo, mas fiquei com o pé atrás porque a autora logo depois se aposentou e eu não sabia se ela ia terminar. Terminou, e eu acabei esquecendo da existência dele até pouco tempo atrás.
Aliás, eu comprei mas não havia lido... até hoje. Ontem pra falar a verdade eu vi que tinha post novo aqui no shoujocafe sobre ele e fiquei com medo de abrir o post e ler que você não tinha gostado do mangá; mas fui ler porque já estava na estante há algumas semanas e esperar por mais seria desperdício. Eu li e fiquei com aquela sensação de quando leio temáticas como estas: parece que eu mesma estou sendo a adulta, a com a vida, e cheia de arrependimentos. Acho que quando a gente fica mais velha percebe que os arrependimentos vem com a vida e a única coisa que você pode fazer é tentar não tê-los, mas eles virão com certeza. Eu gostei da Naho porque eu gosto de personagens fofas e ela por mais tímida que seja não é a depressiva-sem amigos. Quando o grupo de amigos se reúne são minhas partes favoritas desse primeiro volume, mesmo quando eles se reúnem.
Em outros mangás que eu vi com essa temática parece que sempre tem alguém que "fez algo errado" ou para que um amigo tenha saído no grupo (tá bom que nesse caso o Kakeru morreu, mas ok) mas eu não senti isso em Orange. O maior arrependimento deles é justamente não ter feito nada; e ninguém ali parece ter feito algo extraordináriamente ruim, porque são todos bons. Não fui ler Orange nem sabendo que que tava rolando e muito menos o enredo, só vi a capa e achei bonito e resolvi comprar porque era shoujo. E apenas tenho que dizer que estou apaixonada por tudo, apesar de que depois que eu terminei de ler (tipo agora) eu estou muito triste e fico pensando em coisas que eu deixei de fazer, exatamente como os personagens do mangá.
Sobre a edição da JBC, o que mais me incomodou mesmo foi a transparência >-< Mas né, pra quem está acostumada as edições antigas da JBC em papel jornal, DÁ PRA LER tranquilo e as folhas não são finas, são só mais transparentes do que o normal. Espero que não fique muito amarelada e "suja" com o tempo x.x"" (como acontece quando o papel é muito fino)~ Sinto falta dos honoríficos, mas depois de um tempo eu até esqueço. Nesse mangá em particular não tinha nada que eu li e fiquei "que porra é essa?" apesar de que eles existem em quase todos que eu leio HUSAUSHAHUSHA
Desculpa o comentário ser tão grande, eu só queria falar sobre Orange mesmo. Só vou poder comprar o volume 2 no final de semana quando irei ao centro x.x Não acho que a Naho ou qualquer outro personagem terá algum "empoderamento" ou algo do tipo, mas também não acho que ela terá de ficar no calcanhar de algum garoto pra sempre, como acontece em alguns shoujos (bem irritante isso, por sinal). Acho que ela tem esse jeito mais de "mãe" e eu achei super fofa!! XDD
Uma das coisas mais interessantes no Orange é que o fato da Naho agir diferente, baseada nas indicações da carta, acaba afetando o seu presente. Com isso os fatos descritos na carta parecem que vão ficando cada vez mais diferentes da sua realidade, e com isso ela pode acabar sem saber o que fazer.
Ou seja, quanto mais ela age para mudar o futuro, mais ela fica sem indicação de como deve agir para mudá-lo.
E sabendo do final da história do Kakeru, a angústia dela tende a crescer.
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