Faz um tempão, acho que três semanas, que assisti ao último filme da série Jogos Vorazes no cinema, A Esperança 2. Não resenhei ainda por falta de tempo e por não conseguir me empolgar com o filme mesmo. Não sei o que aconteceu, mas o filme não conseguiu ter impacto sobre mim, não como os capítulos anteriores. Foi um filme ruim? Não. Atendeu as expectativas? Sim. Faltou alguma coisa? Com certeza. Isso motivou seu desânimo? Não, acredito que não. De qualquer forma, preciso resenhar. Espero que o texto seja breve e que Júlia não acorde. Aliás, já tinha começado a resenha antes, ela se perdeu, porque esqueci de salvar...
O último filme de Jogos Vorazes começa exatamente onde o outro terminou: os distritos de Panem se insurgindo contra a Capital; alguma resistência no Distrito 2 (*o único onde havia estratégia de dominação e compensação*); Peeta (Josh Hutcherson) resgatado, mas destroçado pelas semanas de tortura; Katniss (Jennifer Lawrence) acordando depois de quase ter sido morta por Peeta.
É assim que começa, Katniss logo depois do ataque de Peeta, e mesmo sabendo que seria um filme de ação, acreditava que a depressão da protagonista fosse ser melhor trabalhada. Em prol da ação – algo importante, verdade – acabou por se esvaziar o que considero mais importante na série as contradições e dramas da personagem, aquilo que torna Katniss realmente importante e humana. As cenas que poderiam ter ajudado a compor esse quadro, a relação com Finnick (Sam Claflin) e Johanna (Jena Malone), a tentativa da moça de oferecer-se para Gale (Liam Hemsworth) e a recusa do moço, o diálogo entre Gale e Peeta sobre quem a heroína escolheria, perderam impacto.
Mais uma vez, algumas críticas ao filme, daquelas que tentam aproximar Jogos Vorazes da saga Crepúsculo, viram nessas duas últimas cenas uma tentativa de empurrar a decisão de um (*inexistente*) triângulo amoroso. Não, amigos, as cenas são do livro. E não, de novo, com quem Katniss vai ficar nunca foi uma questão central em Hunger Games. E, bem, se o roteiro fosse mais coeso, menos fragmentado, talvez essas cenas tivessem tido o peso que tiveram nos livros. Ao escrever isso, eu admito que o filme foi irregular e que, pelo menos para mim, foi o menos interessante dos quatro.
Ao omitir ou atenuar os dramas psicológicos, a série Hunger Games perde impacto. Não conseguimos ter dimensão da tortura sofrida por Peeta e Johanna, da manipulação da mente do rapaz, da dor e confusão de Katniss, tudo foi corrido demais, superficial, muito aquém do que poderia ser feito. Triste ver tantos atores e atrizes interessantes em cenas corridas, mal aproveitados, meros figurantes de luxo. Quer ver?
Só lembro de uma cena com o excelente Caesar Flickman (Stanley Tucci), uma lástima. A perda de Philip Seymour Hoffman, que fazia Plutarch Heavensbee, enfraqueceu o filme, imagino que mudanças dramáticas tiveram que ser executadas no roteiro. Plutarch era importante e morto o ator, a personagem foi transformada em quase uma eminência parda da Presidenta Coin (Julianne Moore), coisa que ele nunca foi. Inclusive, isso tira parte da força de Coin, mas se me alongar aqui, terei que dar muitos spoilers.
Por essas e outras, preciso reafirmar – acho que disse isso na resenha da primeira parte – que a melhor personagem do filme foi o Presidente Snow e Donald Sutherland foi a estrela com seu vilão cínico. Suas cenas foram, pelo menos para mim, muito melhores que a da protagonista Katniss ou de qualquer outra personagem da trama. Todas as cenas dele são ótimas e ele brilha sozinho e desacompanhado, claro. Fora isso, esta última parte de Hunger Games foi um filme de ação que tentou maximizar o que o livro nem sempre mostra. Talvez, e isso é somente uma elucubração, se fosse tudo um filme só, se não houvessem partido o último livro em dois, perderíamos em detalhes, mas ganharíamos em coesão e emoção. Ainda assim, com mais tempo, perdeu-se muita coisa em prol da ação. Será que o saldo foi positivo? Duvido.
Agora, algo que me incomodou muito, muito mesmo, foi o quanto reduziram o sofrimento de Katniss depois da queda da Capital. A autora nos livros tortura muito física e psicologicamente a personagem, OK, concordo, mas depois de toda a luta na Capital, depois de sua hospitalização, Jennifer Lawrence acorda parecendo linda e saudável, maquiada e escovada mesmo antes de Effie (Elizabeth Banks) se encarregar dela. Foi uma falha, ela deveria parecer fisicamente abatida, muito, aliás, só salvou-se essa parte, porque tudo culminou na cena espetacular – sim, uma das melhores – da execução de Snow na grande praça. Viu como tinha que ser com ele? Ali, assim como em outros pequenos momentos, houve lampejos de quão épico poderia ter sido este último filme e do quanto ele se apequenou.
Outras três cenas que eu destaco, fora as cenas de Snow, mas aí é mérito de Sutherland, acredito, as três sequências que conseguiram se distanciar e se aproximar dos originais de forma brilhante foram: 1. A morte de Finnick, algo que nos livros me deixou muito, muito insatisfeita, teve o desenvolvimento e o impacto emocional que eu desejava. E, vejam bem, Finnick foi subaproveitado o tempo todo, então, uma morte digna era o mínimo que eu poderia esperar; 2. A sequência na qual Coin propõe uma arena com os filhos e netos das personagens proeminentes de Panem, incluindo a netinha de Snow. É ali que Katniss testa Haymitch (Woody Harrelson) para saber se ele está com Coin, se ele está envolvido em toda a trama de poder da personagem, comprometido com sua agenda, ou não está. A troca de olhares entre os atores, a expressão corporal dos dois, foi perfeita. Uma grande cena; 3. E, bem, lá no final, a cena em que Peeta e Katniss compartilham a cama, o “real or not real” foi muito bonita. Ainda que a seqüência final de A Esperança seja fiel ao livro, preferia que o filme terminasse ali. A última cena foi anticlimática, eu diria.
É isso. Gostei do filme, foi bem executado, mas somente isso, bem executado. Eu queria mais, esperava que a saga fosse fechada com chave de ouro. Não foi e as bilheterias foram mais magras que a dos filmes anteriores. O que isso quer dizer? Não dá para precisar, mas espero que repensem essa idéia de que esticar é bom para os negócios. Pior ainda é ler que a Lionsgate – produtora do filme – está pensando em novos filmes mostrando somente a arena. Ora, meninos e meninas se matando também não é o assunto de Hunger Games, é a construção de uma realidade distópica, a crítica social, e sua heroína acidental, uma "sobrevivente", que fazem a série tão interessante.
Terminando, nem preciso dizer que The Hunger Games: Mockingjay – Part 2 cumpre a Bechdel Rule. As personagens femininas, mulheres fortes cada uma a sua maneira, líderes políticas, militares, médicas/enfermeiras, guerreiras acidentais, enfim, há vários e vários exemplos, muitas personagens com nomes, história própria (*ainda que comprometida por problemas de roteiro e execução do filme*), com diálogos entre si e falando de questões amplas. Nesse sentido, este último capítulo de Jogos Vorazes continua empoderador, importante, fechando uma saga que marcou pelo protagonismo feminino em uma série de ação rentável, porque, leitoras e leitores, se não desse muito dinheiro, muito mesmo, não teria saído do primeiro filme e culpariam a protagonista.
Aguardo o próximo filme ou série de TV que me arraste para os livros. Aconteceu com Em Algum Lugar do Passado, Parade’s End, Harry Potter, Jogos Vorazes, Orgulho & Preconceito... E sempre, sempre, foi muito bom. Se quiserem ler as outras resenhas da série, livros e filmes, elas estão aqui.
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