Maurício de Sousa gosta de marketing, mas ele não precisaria se mover para promover algumas das pautas que promove. Enfim, ele pode ser criticado por várias coisas, mas costuma abraçar causas importantes sem pedir nada em troca. Semana passada, e do dia 1 a 8 de agosto é a Semana Mundial de Amamentação, ele postou esta imagem da Mônica sendo amamentada pela mãe. Eu, que defendo o aleitamento, que amamento minha menina até hoje, não poderia deixar de repostar e agradecer. Leite materno é o alimento mais completo que existe, é útil para a criança para além dos 6 primeiros meses de vida e, no Brasil, as campanhas pró-aleitamento tem surtido efeito.
Segundo o site da UNICEF, “Estudos demonstram que o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida pode evitar, anualmente, mais de 1,3 milhão de mortes de crianças menores de 5 anos nos países em desenvolvimento (Lancet 2008). Os bebês até os seis meses não precisam de chás, sucos, outros leites, nem mesmo de água. Após essa idade, deverá ser dada alimentação complementar apropriada, mas a amamentação deve continuar até o segundo ano de vida da criança ou mais. Amamentar os bebês imediatamente após o nascimento pode reduzir 22% a mortalidade neonatal – aquela que acontece até o 28º dia de vida – nos países em desenvolvimento. No Brasil, do total de mortes de crianças com menos de 1 ano, 69,3% ocorrem no período neonatal e 52,6%, na primeira semana de vida. O aleitamento materno na primeira hora de vida é importante tanto para o bebê quanto para a mãe, pois, auxilia nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragia. E, além das questões de saúde, a amamentação fortalece o vínculo afetivo entre mãe e filho.”
Muitas mães não podem amamentar por algum motivo justo, mas outras são prejudicadas. Citarei exemplos: falta de apoio – de pessoas amigas ou mesmo de profissionais – para que a pega seja a melhor possível minimizando os possíveis ferimentos nos primeiros dias; introdução já no hospital de suplementos, leites artificiais (*a Nestlé e outras empresas agradecem*), mamadeira, ignorando as evidências científicas de que isso prejudicaria o aleitamento e romperia com o aleitamento exclusivo; a licença maternidade de 4 ou 6 meses que dificulta o aleitamento exclusivo e mesmo a manutenção do aleitamento pelo tempo mínimo desejável; conselhos “profissionais” equivocados (*a dentista que atendeu minha filha disse que leite materno, depois dos seis meses não serve para nada, só para dar cárie; as pediatras que atenderam minha filha TODAS recomendaram limitar o acesso ao peito para que Júlia pudesse COMER melhor.*) ou até mal intencionados; etc.
Além disso, algumas mães são constrangidas a não amamentar em público. Seio de mulher, vocês sabem, é órgão sexual e só pode e deve ser exposto como tal. Isso quando não aparece alguém – leiam o post do CQC no site da Lola ou o causo mais recente em um podcast nerd famoso – querendo rir das mulheres “normais” que amamentam em qualquer lugar, quem gosta de fazer isso é mulher feia, gorda, malcuidada... Se fosse uma gostosa, né? Aí podia. Volta e meia, também, alguém da imprensa – estou me recordando especificamente de uma coluna da Inês de Castro na Rádio BandNews – solta alguma pérola sobre como a amamentação é algo íntimo, e que as mães não devem fazer isso em público. Seria uma questão de etiqueta e limpeza se esconder. Quem já teve um bebê faminto pedindo pra mamar entende o disparate, mas quem diz isso deve imaginar que é importante disciplinar o rebento, também, enfia uma chupeta na boca, ou uma mamadeira, porque aí é moderno e higiênico, e segue a vida.
O fato é que amamentar, pelo menos para mim é um prazer. Tive mastite somente agora, com Júlia já com um ano e sete meses. Imaginei como teria sido horrível se isso ocorresse na primeira semana. Já no hospital uma enfermeira ficou me aterrorizando, testando glicemia da Júlia (*algo desnecessário, mas eu não sabia, eu estava refém do sistema naquele momento*), e ameaçando introduzir leite artificial, porque, bem, ela preferia dormir a mamar, muito provavelmente, sob efeito dos remédios que me deram. Sim, foi uma cesariana, mas me deixaram amamentar na primeira hora, algo que poderia nem ter ocorrido. Será que eu não teria introduzido suplemento? Será que teria apoio. Entendo as mães que acabam ficando pelo caminho. Não as culpo, as cobranças são muitas e a culpa que nos querem fazer sentir, também.
Quanto às mães que optam por não amamentar, as que não inventam desculpas, eu as respeito, assim como respeito o direito de escolher uma cesariana agendada sem recorrer às invencionices ou desvalorização de opções mais saudáveis. Respeito, porque o corpo é seu e sei bem como há forte pressão para nos reduzir aos nossos corpos. Nós, mulheres, não temos como destino a maternidade, nossos seios não foram feitos para amamentar somente, o sistema quer nos apropriar particionar e devorar a todas. Como feminista, não acho justo e correto impor nada a nenhuma mulher, mas tenho o direito de apontar que há opções que são, sim, mais saudáveis que outras. Isso, claro, nunca vai me fazer aderir ao coro dos que querem obrigar uma mulher a isso, ou aquilo.
É isso. Semana de Amamentação. Se informe sobre os benefícios da amamentação; apoie uma mulher que amamenta, talvez ela precise de ajuda; lute para que mais mulheres tenham o direito de amamentar prolongadamente; para que as licenças maternidade possam ser mais longas; para que berçários sejam regra e, não, a exceção em grandes empresas e órgãos públicos; para que amamentação em público seja respeitada; e, se tiver condições, doe leite materno, esta semana deve haver postos de coleta em várias cidades. Eu sou a doadora 233 aqui do DF, mas cada vez estou doando menos. Minha produção e leite é boa, mas ela está condicionada à demanda da Júlia e cada vez sobra menos, enfim...
Depois desse blá-blá-blá todo: Obrigada, Maurício! Seu apoio faz diferença.
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