domingo, 1 de março de 2015

Star Trek: Phase II, comentando o episódio The Child


Ainda sob o efeito da morte de Leonard Nimoy, acabei tropeçando em um material derivado de Jornada nas Estrelas que eu absolutamente não conhecia (*o que pode colocar por terra a minha crença de que eu sou trekker, enfim...*), a série feita pelos fãs chamada de Star Trek: Phase II, anteriormente, Star Trek: New Voyages, começou sua caminhada em 2004 com a aprovação dos detentores da marca, desde que não fosse algo que se revertesse em lucro para os envolvidos.  Segundo, consegui me informar, Phase II está filmando roteiros que tinham sido preparados para a nova série de Jornada que estrearia em 1977 e acabou virando o primeiro filme para o cinema, além de outros que não haviam sido previamente filmados para a série original.  

O resultado poderia ser trash, muito trash, mas eu amei.  A nave é reproduzida com fidelidade de detalhes e incrementada com algumas coisas que não eram possíveis na época, os efeitos especiais são muito bons e, bem, em nenhum momento pensei duas vezes, aquilo é Jornada nas Estrelas.  Olhando o verbete da Wikipedia, descobri que o elenco é um tanto rotativo, sai um episódio por ano, e já tivemos dois Kirks, três Spocks, dois McCoys, etc.  O episódio que eu assisti – the Child – é um dos mais famosos dos projetados para a continuação da série original e foi base para um episódio considerado fraco da Nova Geração.  Em The Child, Kirk é interpretado por James Cawley, o idealizador do projeto; Spock é Brandon Stacy, e como é difícil achar fotos desse moço no papel, o Spock anterior ou o primeiro, não sei, são mais fáceis de encontrar; e McCoy é interpretado por John M. Kelley.  


Em the Child, Uhura não aparece, daí,  não dá para avaliá-la, mas não achei nada demais nos atores que interpretam Sulu e Chekov.  Scotty estava OK.  De novidade, há o sobrinho de Kirk, Peter Kirk, que é oficial de segurança e aparece com um uniforme esquisito, mas bem anos 1970, que eu nunca vi na série clássica. Deveria fazer parte do novo projeto, mas é feio que só.  Além dele, há o Tenente Xon, um Vulcano puro, que tinha sido criado para a série de 1977, pois Leonard Nimoy não iria voltar ao papel de Spock.  Nimoy volta, Xon nem dá as caras no filme, e vocês encontram sem problema fotos do ator que o interpretaria caracterizado.  Xon no episódio The Child é aquele Vulcano irritante, não porque deseje ser, mas porque é da sua natureza... :)  Ele se oferece para fazer um elo mental com a criança do título argumentando que como não é mestiço, como Spock, não sentiria os efeitos da mente da criaturinha... Nem preciso dizer que ele acabou se ferrando... 

Para quem não conhece o básico, a história é a seguinte, lá vai: um ser de luz engravida uma alferes deltana.  A gravidez dura poucas horas e a criança aparentemente envelhece um ano por dia.  O bebê sofre de um caso raro de  leucemia e McCoy acredita que ela morrerá em breve. O que não acontece. Quando a menina, Irska, está com aparentes 10 anos a Enterprise se vê diante de uma estrutura cilíndrica, sem leituras de formas de vida.  O cilindro, no entanto, lança várias ameaças à Enterprise e a chave para a resolução de cada uma delas parece estar na criança.  No final, mãe e filha precisam fazer uma escolha muito difícil pelo bem da Enterprise.

Escolhi The Child, porque queria ver como trabalhariam o topos da mulher que é engravidada/violentada por uma criatura superior e ninguém parece se importar muito com os efeitos que isso tem sobre ela, um mero hospedeiro.  Trata-se de uma estrutura comum, seja o incidente mitológico, romantizado ou espiritualizado, é uma violência contra as mulheres tão recorrente que vira verbete literário ou aparece em manual de roteiros.  Ninguém perguntou para a alferes Isel se ela queria, ou não, engravidar.  Este topos é particularmente cruel, porque ao ser sacralizado, vide o caso de Maria, mãe de Jesus, termina servindo de justificativa para alguns pró-vida de que o estupro não justifica o direito (*porque faz quem quer ou pode*) de interromper uma gravidez.  É, também, um dos recursos dramatúrgicos mais misóginos, ainda que possa render boas histórias.  Caso desse the Child feito pelos fãs.


Obviamente, a escolha de Isel tinha sido proposital, pois, segundo o episódio, não existem mães mais extremadas que as deltanas.  Aliás, os deltanos tem poderes empáticos (*foram a base para pensar os betazed da Nova Geração*) que se tornam mais agudos, porque ao entrarem para a Frota precisam fazer votos de celibato.  Parece que sexo drena as forças deles e delas, ou lhes tira do foco.  Isel e Irska terminam desenvolvendo um elo muito forte.  A interpretação das atrizes nos momentos de afeto e de sacrifício foi muito boa mesmo.  Aliás, independente do que os machos protagonistas discutissem a respeito do problema, foram as duas pensando e sentindo juntas que mataram a charada.  Spock também chega lá, mas nem teve tempo de contar para alguém... 

As diferenças em relação ao episódio da Nova Geração são grandes.  Em STNG, a criança é um menino, morre nos braços da mãe (Troi) e ela, a mãe, não consegue descobrir com a ajuda da criança o que está acontecendo, precisa de uma mãozinha de Data.  Eu lembro em linhas gerais do episódio, se não foi ruim, não foi igualmente relevante.  Aliás, era o ano da Dr.ª Pulaski,chatice garantida...   Nesse the Child mais próximo do roteiro original, Isel é muito mais inteligente e racional do que Troi, mesmo muito abalada pelas descobertas.  A menina é mais velha e mais ativa, além de muito inteligente.  

Fiquei surpresa, também, com a força física dos deltanos.  A deltana do primeiro filme não era assim, e os betazed com certeza não herdaram esta característica.  Outra coisa curiosa é o tal parto orgasmático... Aliás, os deltanos precisam suprimir sua sexualidade, porque são bombas de orgasmos ambulantes.  Nem preciso dizer qual dos episódios achei melhor.  Ponto para o trabalho dos fãs.


Falando da interpretação dos atores principais, tanto John M. Kelley, quanto Brandon Stacy, imitam, e muito bem, DeForest Kelley e Leonard Nimoy.  Brandon Stacy faz um Spock que me convence, aliás, ele foi dublê de Zachary Quinto nos novos filmes para o cinema... Já James Cawley não se prende na interpretação de William Shatner.  Ele compõe um Kirk muito bom, sério e digno, sem tentar repetir as canastrices de Shatner.  Fiquei curiosa em vê-lo fazendo as kirkices, isto é, rasgando a camisa e tentando seduzir todas as mulheres.  O Kirk de James Cawley não me parece seguir esta linha... Mas confirmarei isso em outro episódio.

Enfim, trata-se de uma resenha surpresa.  Eu mesma nem imaginava assistindo um episódio novo de Jornada... Mas foi bom, divertido, nostálgico.  Eu recomendo muito a série.  Aliás, o programa foi indicado ao prêmio Hugo e perdeu para Dr. Who.  Trata-se da coisa mais espetacular que eu já vi feita por fãs. Vale a pena dar uma olhadinha se você é fã da série clássica de Jornada nas Estrelas.  A página oficial do projeto é esta aqui.  O episódio está aí embaixo para vocês assistirem.  

1 pessoas comentaram:

Se você gosta de fã series eu recomendo que vc de uma olhada na serie Star Trek Continues tem 3 ep feitos até o momento sendo o ultimo uma continuação do ep Mirror, mirror.
http://www.startrekcontinues.com/episodes.html

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