[Queria tempo para escrever sobre a questão, Júlia não me deixa, pode ser que este texto nem entre agora, enfim...] Vi o primeiro capítulo de Babilônia e algumas cenas esparsas. Tudo com uma qualidade quase perfeita e um dos maiores elencos negros que já vi em qualquer novela global, comparável ao de Salve Jorge. Diferença? Grife do Gilberto Braga. Há quem goste, há quem não, não sou fã em particular, mas reconheço o seu talento. Elegância, bom texto, elenco (quase) impecável são seu forte. Agora, por favor, leiam este artigo e sigam meu breve texto.
A verdade é que audiências das novelas da Globo têm sido instáveis faz muito tempo. Meus pais, por exemplo, não assistem novela alguma da emissora faz bem uns 5 anos. As duas últimas que viram foi Amor e Revolução, do SBT, e aquela da favela da Record... Esqueci o nome. Agora, papai não perde um capítulo de Rei do Gado, uma reprise de uma obra que tem quase 20 anos. Portanto, duvido muito que o impacto da fala do Malafaia e outros tenha sido responsável pela queda da audiência da atual novela das nove.
Já se discutiu várias vezes o luto quando alguma boa novela ou personagens carismáticos se despedem. Foi assim depois de Avenida Brasil, com a Globo explorando o sucesso antigo e prejudicando a nova novela, Salve Jorge. Já tinha acontecido antes com Torre de Babel e A Favorita, só para citar mais dois exemplos. A diferença, hoje, é que há Netflix, TV por assinatura até nas favelas (*Gatonet, ou não*), e a internet é muito mais disseminada, até a Globo já se acostumou com menos de 40 de IBOPE no horário das nove... só a imprensa e os religiosos, talvez, parecem continuar vivendo de polêmicas.
Já se discutiu várias vezes o luto quando alguma boa novela ou personagens carismáticos se despedem. Foi assim depois de Avenida Brasil, com a Globo explorando o sucesso antigo e prejudicando a nova novela, Salve Jorge. Já tinha acontecido antes com Torre de Babel e A Favorita, só para citar mais dois exemplos. A diferença, hoje, é que há Netflix, TV por assinatura até nas favelas (*Gatonet, ou não*), e a internet é muito mais disseminada, até a Globo já se acostumou com menos de 40 de IBOPE no horário das nove... só a imprensa e os religiosos, talvez, parecem continuar vivendo de polêmicas.
Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, a primeira, mais que a segunda que faz a mãe complacente com a filha "do mal", são presenças magníficas em Babilônia. Sabe Dame Maggie Smith em Downton Abbey ou qualquer outra produção, assim, do mesmo jeito. Eu poderia ver a novela só pela Fernanda Montenegro, elegância, força, dignidade, ativismo, sim, tudo em um pacote só e convencendo. E o que foi aquela chamada dizendo que a união das duas mulheres era, também, um ato político? Nota 10 em feminismo, não importa o que façam da novela depois. E foi, sim, um golpe de mestre mostrar o casal se beijando no primeiro capítulo, sem alarde, sem campanha. Afinal, o objetivo é que, um dia, ninguém perca seu tempo falando em "beijo gay". Casais se beijam, simples assim. Surpresa é ver tanta gente que diz não assistir novela da Globo, comentando, falando em ditadura gay, e clamando boicote... Afinal, meu povo, vocês assistem, ou não o que passa nesse canal que tanto satanizam?
Falando na vilã ninfomaníaca, Glória Pires está ótima. Talvez, vilanias mais diluídas seriam melhor digeridas pelo público médio, mas o fato é que ela parece a Maria de Fátima de Vale Tudo amadurecida. É bom ver Glória Pires em qualquer papel, mas ela é ótima como vilã. É ela que afugenta o público com sua falta de saciedade sexual? Não sei, mas vou dizer que não gostei na novela até agora: Adriana Esteves e Camila Pitanga.
Adriana Esteves é uma grande atriz e não precisou de Carminha para provar isso, pelo menos para mim. Não assisti Avenida Brasil e o que vi, não gostei. Esteves é experiente e consegue encarar qualquer tipo de papel. No entanto, a sua vilã me parecia uma stalker infantilizada com algum transtorno mental, sempre fora do tom. Perder três capítulos não ajudou a melhorar a minha percepção da personagem. Talvez, a atriz se assenhore do papel e me faça morder a língua, mas, até o momento, ela tem sido o elo fraco da corrente e ter cenas com a Glória Pires não ajuda muito, pois vira massacre. Já Camila Pitanga... ai, ai... que mocinha chata! Parece a cruza da Isabel de Lado a Lado, com a Raquel (mãe da Maria de Fátima) de Vale Tudo. É tanta dignidade, tanto engajamento, tanta honestidade e trabalho duro em um pacote só que fica difícil convencer. Um pouco mais de equilíbrio, menos ingenuidade, enfim, Pitanga está interpretando bem, coisa que a Adriana Esteves não parece estar fazendo, mas é uma mala pesada demais...
Enfim, espero que ninguém cisme de censurar a novela (*e Império teve palavrões reduzidos e cesurados, se vocês não lembram*) por causa dessa falsa polêmica. Pedir boicote de quem não costuma ver novela da Globo, ou não deveria ver, segundo seu líderes fundamentalistas, é meio que chover no molhado. O fato da "nossa" bancada evangélica no Congresso Nacional se pronunciar à respeito é mais vergonha alheia do que motivo para real preocupação ou admiração, porque, bem, ameaça à família brasileira, para mim, é a crise econômica, a violência, a miséria, o péssimo desempenho nos índices de educação, a corrupção sem limites e sem partidos, etc. Os senhores, e algumas poucas senhoras, deputados deveriam arrumar o que fazer.
Um beijo lésbico (*que não foi o primeiro*) não-fetichista, com duas atrizes idosas e sem nenhuma necessidade de se promoverem com polêmicas, não me parece causa da baixa audiência, mas o luto e a debandada que tem se tornado comum a término das últimas novelas globais. Cabe à sucessora chamar audiência e ponto final. Vai conseguir? Méritos têm, e os ajustes não deveriam passar pela censura ao casal lésbico. Mas é aquilo, a imprensa especializada precisa alimentar as polêmicas, outras novelas que começaram mal, ou patinaram na audiência, tiveram outros culpados, Juliana Paes e Lázaro Ramos que o digam.
É isso. Boa sorte para Babilônia, espero que a onda conservadora não intimide os autores e mutile a trama. Já passou o tempo das explosões de shoppings, ou não? Sim, espero que sim, ainda que o histórico de censura motivada por conservadorismo e hipocrisia sejam extensos. Tais coisas, aliás, não são apanágio dos religiosos , basta ler o show de horrores que são os comentários nos grandes portais. Até hoje, Torre de Babel é o maior exemplo de censura e preconceito, mas não é o único.
Ainda assim, é preciso sempre repetir que novela é obra aberta e é preciso sintonia entre os autores e a audiência, trocas e ajustes não necessariamente significam mutilação. Pena que a grita seja sempre maior contra aqueles que criticam misoginia, racismo, classismos - "Ah, o maldito politicamente correto!" - do que contra os homofóbicos e os que acham que temas sérios e densos só podem aparecer em seriados americanos, não em nossas novelas que, historicamente, ajudaram e muito no avanço das discussões sobre questões polêmicas e necessárias.
Ainda assim, é preciso sempre repetir que novela é obra aberta e é preciso sintonia entre os autores e a audiência, trocas e ajustes não necessariamente significam mutilação. Pena que a grita seja sempre maior contra aqueles que criticam misoginia, racismo, classismos - "Ah, o maldito politicamente correto!" - do que contra os homofóbicos e os que acham que temas sérios e densos só podem aparecer em seriados americanos, não em nossas novelas que, historicamente, ajudaram e muito no avanço das discussões sobre questões polêmicas e necessárias.
1 pessoas comentaram:
Valéria, concordo com seu texto. Não acho que a "baixa audiência" se deva ao tão comentado "boicote" dos conservadores. Desde Páginas da Vida, a audiência da novela das 9 vem caindo gradualmente - fatores como o acesso à internet ou mesmo a disseminação de outras mídias favoreceram essa queda; se bem que imagino o quanto o público se cansou daquela trama extremamente arrastada do Manoel Carlos. Eu mesmo, que acompanhava as novelas religiosamente, nunca mais acompanhei uma por inteiro depois disso. Tudo bem que as produções ganharam um certo fôlego (Fina Estampa; Avenida Brasil), mas essa queda, acredito, já era esperada.
De resto, eu gostei de alguns personagens e do texto dos autores (acho o Ricardo Linhares muito sensato. Me lembro de quando ele comentou sobre a questão do aborto em Saramandaia). Não gostei da interpretação da Adriana Esteves (mesmo quando ela fazia a Carminha, eu a via em inúmeras personagens passadas). Mas, enfim, assim como você, também desejo sorte para a produção; é um deleite ver Fernanda Montenegro e Glória Pires no horário das nove.
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