O Rocket News 24 publicou uma matéria comentando a reação a uma ilustração postada no Twitter por um artista. O sujeito fez um desenho com uma escala das mulheres mais propensas a serem atacadas nos trens e metrôs e as que corriam menos risco. Da esquerda para a direita temos meninas do primário, colegiais, mulheres de aparência submissa e usando roupas modestas (*isto é, comportadas, recatadas*), mulheres com roupas chamativas, mulheres altas ou que pareçam fisicamente fortes.
No Japão, “chikan” é o termo usado tanto para o molestador, quanto para o ato em si. Há toda uma produção de mangás, animes e games hentai (*pornográficos*) centrados na prática. Os chikan também tem fóruns virtuais e trocam informações. Lembro até de uma matéria no Sankaku Complex (NSFW/+18), que falava do incidente curioso: há fóruns que reúnem pessoas que fantasiam que são chikan ou que são molestadas e combinam “encontros”. Daí, um sujeito marcou com uma mulher em tal linha de trem, no vagão X, tal hora. A mulher descreveu a roupa que usaria e o cara apalpou a mulher errada e terminou na delegacia.
O RN24 mostrou várias das reações à ilustração, uma delas foi a crítica ao artista por focar nas vítimas e, não, nos agressores. O artista reagiu dizendo que usou estatísticas que são públicas. O RN24 comentou, por exemplo, que 45% dos molestadores dizem preferir vítimas que acreditam que não irão denunciá-los e que 48% diziam escolher mulheres de aparência submissa e/ou tímida, pois elas não pareciam capazes de resistir. Outra estatística surpreendente é que 70% das mulheres jovens já foi molestada nos trens ou metrôs.
Nesse sentido, dois comentários merecem destaque. Um deles era de uma mulher que dizia que parou de ser molestada quando entrou no colegial e passou a usar maquiagem e parecer mais assertiva. E de um cara, um babaca típico, argumentando que há dezenas de mulheres que dizem ter sido molestadas e que nunca viu um homem dizendo que molestou uma mulher. Há! No manga Confidential Confessions (問題提起 作品集 Mondaiteiki Sakuhinshū), de Momochi Reiko, há uma história sobre uma menina que é molestada e denuncia o chikan. Afinal, se existe os mangás que fantasiam sobre a questão, há aqueles que denunciam e tentam empoderar as mulheres.
Apesar da controvérsia, não acho que a imagem culpe as vítimas, mas expõe dados terríveis e significativos. Um deles é o quanto esses predadores procuram vítimas fáceis, como crianças e adolescentes. Outro é que a roupa ousada não atrai o estuprador japonês, ele quer a tal inocência ou aparência de... Já viram isso em algum lugar? Pois é, lembram das idols e personagens de mangá para otaku que precisam parecer inocentes e sem vida sexual?
De qualquer forma, a matéria, também, mostra as campanhas contra os chikan. Placas que focam no agressor “chikan é crime” e na vítima “cuidado com o chikan!”. Outra, em formato mangá, estimula as pessoas que testemunham o crime a denunciar. “Com a coragem e a voz de todos, podemos derrotar o chikan!”.
2 pessoas comentaram:
Eu acho muito empoderador quando os mangás tratam do assunto, ainda mais a favor da vítima (pq nem sempre o tema é abordado adequadamente).
Ore monogatari me conquistou quando abre a história com Takeo salvando uma menina (a mocinha da história) de um molestador. Eu adorei quando o tarado diz"ah, mas tbm com essa saia curta, vc tava pedindo",e pá,o Takeo dá um murro nele XD.
Desde criança, nunca fui uma menina de aparência frágil, sempre fui corpulenta (é, gordinha) e alta pra idade, além de ter um temperamento forte. Claro que tive a minha "quota" de assédio na juventude, mas nunca passei por nada pior que frases indecentes - e,surpreendentemente, só fui assaltada uma vez na vida. Sempre achei que a minha aparência intimidasse possíveis molestadores, então acho que o resultado mostrado nessa pesquisa faz muito sentido. Afinal, quem assedia ou comete abuso sexual é por princípio um covarde, que pratica essas coisas pelo prazer de intimidar e dominar.
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