O controverso grupo feminista FEMEN virou quadrinho na França. Trata-se de um álbum de autoria de Michel Dufranne, especializado, segundo ele mesmo, em tratar de questões ligadas a grupos marginalizados ou “nas bordas”. El já tratou, por exemplo, do drama dos homossexuais sob as leis nazistas. Dufranne queria escrever sobre a Ucrânia e terminou esbarrando no FEMEN. Começou sua pesquisa e teve contato, já na França, com Inna Shevchenko.
Shevchenko, que pediu asilo político na França em 2013, é uma das fundadoras do FEMEN. Ela saiu da Ucrânia fugindo de suposta perseguição do governo de seu país e de tentativa de intimidação pela polícia. Curiosamente, é na França que o FEMEN tem mais militantes e grupos de ação.
O quadrinho de Dufranne é o Diário de uma militante de uma célula fictícia do FEMEN, a “Apolline Femen”. O autor diz que se tomasse uma das células reais do FEMEN teria que ser absolutamente realista, criando uma, ele daria liberdade a si mesmo e aos seus leitores e leitoras. O título do quadrinho é Journal D’Une FEMEN e começa com a protagonista e narradora sofrendo bullying dos colegas no trabalho e sua tomada de consciência de como a situação das mulheres é injusta. Depois disso, se entendi bem, somos convidados a assistir as reuniões e treinamentos do Apolline FEMEN e as ações do grupo.
A arte do álbum é de Severine Lefebvre. A entrevista de Dufranne é recheada com várias amostras do traço da artista. Esteticamente é bem interessante, eu diria. Agora, apesar de parecer ser um trabalho de primeira linha – pesquisa, narrativa, arte – trata-se do olhar masculino sobre um movimento de mulheres... Quer dizer, sim e não, afinal, segundo várias ativistas e o documentário "Ukraine is not a brothel", de Kitty Green, por trás do FEMEN está um homem, Victor Svyatski. Eu, particularmente, tenho meus dois pés atrás com o FEMEN, mas vejo uma coragem muito grande em suas militantes. Alguns de seus protestos, a maioria deles, são justíssimos, ainda que seus métodos e a ideologia por trás do grupo possa e deva ser discutida e criticada.
Agradeço ao Pedro Bouça por ter me passado o link para a entrevista do Michel Dufranne. Quando o assunto é BD, ele é a grade fonte do Shoujo Café. :)
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