sexta-feira, 25 de abril de 2014

Vida de pioneira feminista lançada em quadrinhos no Brasil


Fiquei sabendo hoje que a editora Record lançou no Brasil uma biografia em quadrinhos da (proto)feminista Olympe de Gouges.  Para quem não a conhece, trata-se de uma jornalista e autora de peças de teatro francesa que militou na Revolução e, com o passar do tempo, sentiu-se decepcionada com os rumos da mesma, especialmente em relação aos direitos das mulheres.  Assim como Abgail Adams, que pleiteou direitos iguais para as mulheres e acesso ao voto durante a Revolução Americana, Gouges o fez na França.  Só que a futura primeira-dama norte americana usou cartas privadas ao marido, enquanto Gouges publicou, em 1791, um manifesto “Declaração dos direitos da mulher e da cidadã” como reação a nova constituição que negava direitos iguais às mulheres.  Lembro de ter lido parte do texto anos atrás e um dos argumentos da autora era particularmente agudo, se as mulheres podem ser condenadas a todas as penas, prisão ou morte, da mesma forma que os homens, deveriam poder gozar dos direitos que seus compatriotas tinham.  


O (bom) governo revolucionário, especialmente quando caiu nas mãos dos jacobinos, começou a cercear a participação política feminina, algo muito presente no início da Revolução.  Além disso, houve a perseguição sistemática dos inimigos da Revolução e, conseqüência direta de um governo autoritário, do partido.  No auge do chamado Terror, era muito fácil ir parar na guilhotina, Gouges, que se tornará crítica aguda dos rumos da revolução, iria ser condenada mais cedo, ou mais tarde.  Denunciada, guiou os sujeitos que foram prendê-la até seus escritos.  Presa e acusada, acabou assumindo sua própria defesa e, algo muito comum, terminou condenada e executada em 3 de novembro de 1793.  O governo Jacobino uns bons meses depois... não que isso tenha melhorado a condição das mulheres, claro! 


Enfim, o quadrinho publicado aqui no Brasil é francês, uma bande-desinée, portanto, é de autoria de José-Louis Bocquet e Catel Muller e foi publicada em 2012 (*a nota da Record diz que a BD foi premiada em Angoulême em 2008, mas nos sites franceses a data de lançamento é 2012, não sei se procede*). A edição da Record tem 488 páginas e um preço que eu até agora não consegui compreender, R$88.  Não fosse isso, eu compraria sem piscar.  De qualquer forma, é mais um material importante, porque mostra aquilo que muitos livros de História e professores da disciplina omitem ou não tem conhecimento, a participação ativa das mulheres nas grandes revoluções, sua ação política e produção intelectual.  Espero poder comprar este volume em breve.  


Ah, sim!  Para uma visão mais acadêmica da ação de Olympe de Gouges recomendo o livro de Joan W. Scott, uma das maiores teóricas e historiadoras feministas, A cidadã paradoxal: as feministas francesas e os direitos do homem. Acredito que esteja esgotado, mas deve ter para baixar por aí.

3 pessoas comentaram:

Texto ótimo :)) Já tinha ouvido falar dela numa aula de sociologia do ensino médio XD
Só tenho uma pequena correção a fazer: Não existia partidos no séc XVIII,nessa época só existiam proto-partidos ou facções. Partidos mesmo, só começaram a existir em meados de 1800 - por causa do aumento do sufrágio,e outras razões.

Obrigada, Melani. Estou ciente que partidos como conhecemos hoje não existiam durante a Revolução Francesa ou mesmo antes. Utilizo o termo "partido" seguindo duas das definições do Dicionário Houaiss:

"organização social espontânea que se fundamenta numa concepção política ou em interesses políticos comuns e que se propõe alcançar o poder
5 associação de pessoas em torno dos mesmos ideais, interesses, objetivos etc.; liga"

Acredito que ambas se prestem bem ao objetivo de meu texto e as utilizo correntemente com meus alunos e alunas em sala de aula.

Valéria, a dupla de autores ganhou um prêmio em Angoulême em 2008 por outra obra, Kiki de Montparnasse (que já saiu por aí).

Essa HQ em particular foi premiada na França, mas não em Angoulême.

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