quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Feliko: algumas palavras sobre a nova febre do Brasil



Um amigo pediu que eu comentasse a matéria de capa da Isto É da semana do dia 15 de janeiro. O título, Um personagem contra o preconceito, dá a pista do que se trata, afinal, assistindo, ou não, a novela, a maioria da população brasileira conhece Félix, (ex) vilão defendido valorosamente por Mateus Solano, e torce por ele.  De lá para cá, muita coisa aconteceu.  Primeiro, comecei o texto e não consegui terminar por motivos diversos.  Segundo, percebi, de repente, que quase todo mundo virou fujoshi – quem não virou, não liga mesmo para novela – e está shipando as personagens.  Terceiro, fui na página da Globo e vi o máximo de cenas do Félix com o Niko, do Félix com a Márcia, e outras que pareciam relevantes para escrever este texto que eu pude.  Quarto, o Blyme, site da minha amiga Tanko, começou uma campanha para que as pessoas enviem fanarts #Feliko, isto é Félix + Niko.  Quinto, acho que vão cometer algum atentado contra a Globo se os dois meninos não se beijarem no último capítulo da novela.  

É certo globo mexeu num vespeiro ao tocar o coração das fujoshi do Brasil.  Um... Não sabe o que é fujoshi?  Fujoshi é o nome das fãs de yaoi, mangás que, nas origens, pegavam personagens hetero famosas de outras séries e criavam romance entre elas. Uma boa fujoshi é aquela que consegue ver possibilidades de um romance gay em todo lugar.  Nesse caso específico, nem precisaram se esforçar...  Seria algo próximo do slash, que já era praticado no Ocidente antes dos mangás bombarem, vide os fãs de Spock e Kirk, os originais, OK?  Só que a internet potencializou essas paixões e todo mundo acaba shipando algum casal, hetero, homo, whatever de algum seriado. Voltando para Amor à Vida, as personagens de Mateus Solano e Thiago Fragoso viraram os namoradinhos do Brasil.  Tanta popularidade e simpatia em relação a um casal homossexual é coisa inédita nas telenovelas brasileiras.


Eu não assisto Amor à Vida.  Adoro o Solano, mas não dava para aturar a trama de Walcyr Carrasco.  Assisti uns dois capítulos completos, se muito.  No entanto, assim como já fiz como tantas outras tramas, eu leio religiosamente as notícias, e via uma cena aqui e outra ali, e já comentei trocentas vezes no Facebook, sobre como Niko, o chef homossexual interpretado por Thiago Fragoso, se tornou a mocinha da novela, e ele e Félix conseguiram capturar a simpatia mesmo de gente muito homofóbica.  Aliás, bastou ver essa foto que coloquei na abertura do post para imaginar que, talvez, eles pudessem formar um par... Não sou fujoshi, mas saquei na hora que a coisa poderia render, e um monte de gente pensou da mesma forma.  Não deu outra.  Walcyr Carrasco tem muitos defeitos, mas ele tem um faro muito bom para o que pode dar frutos observando as redes sociais... Isso faz muita diferença nos dias de hoje.

A meu ver, se Amor à Vida tem algum brilho, os maiores responsáveis são alguns atores e atrizes, Mateus Solano, claro, e a excelente Elizabeth Savalla cuja personagem arrancou o vilão do mundo das trevas, e poucos mais.  Nunca considerei o Félix o maior vilão da trama, para mim, o vilão da novela, sempre foi o César, o patriarca que encarna tudo o que de pior.  Não considero mérito do Walcyr Carrasco essa torcida toda em cima de Félix e Niko, o carisma dos atores é uma das chaves para entender a questão.  Aliás, Amor à Vida foi, no geral, uma novela ruim, e alguém listou 26 bobagens que ele fez na novela,  eu poderia acrescentar muito mais só lendo as notícias sobre a trama e vendo uma coisinha aqui e outra ali.  


Walcyr Carrasco é um autor medíocre com raros momentos interessantes.  Xica da Silva, quando ainda era Adamo Angel, foi uma novela com grandes momentos.  O Cravo e a Rosa foi, também, uma ótima novela, mas é preciso lembrar que se tratava de um remake de duas novelas de Ivani Ribeiro e como base tinha A Megera Domada.  Ali, predominou, também, a força de um elenco excelente.  Elenco inteiro, coisa que não ocorreu em Amor à Vida. Diz-se por aí que Carrasco é vingativo e odeia que mudem suas falas e em um Vídeo Show recente, Solano e Savalla negaram com ar de brincadeira meio constrangida que faziam isso. Tudo que falavam era obra do autor... Sinceramente?  Devem fazer direto e como funcionou, a coisa está passando. 

Ainda assim, o ego enorme do Carrasco fez com que afirmasse, em matéria esta semana, que o Solano só saiu do seu texto umas três vezes, se muito! Sei... Ele louva o talento do ator, na medida que ele é mero intérprete da sua genialidade.  É direito do autor acreditar, defender e falar essas coisas, a obra é dele, mas eu continuo achando uma bruta babaquice castrar os atores, pois novela, especialmente as melhores, é uma produção coletiva de autor, diretor, atores e atrizes, e do público em geral.  


Algo que precisamos reforçar neste ponto do texto é que gays cômicos tendem a ser bem aceitos pelo público, vide o Crô, a referência mais recente neste aspecto.  É isso que tem escapado a quem cita outras personagens gays que tiveram seus romances rejeitados ou que ficaram em segundo plano.  Exemplo, em Vale Tudo (1988), Cecília e Laís eram um casal, mas isso só ficou explícito no último capítulo, pois uma delas morre e a outra encontra um novo amor.  A maioria de nós, eu era adolescente na época, nem sacou que elas eram companheiras até que a novela terminou.  Outro exemplo, Sandrinho e Jefferson em A Próxima Vítima (1995) não eram um par cômico; tudo era denso, dramático, subentendido por muito tempo e ainda havia o racismo.  Não pensem vocês que não pesou, e lembro de coisas bem terríveis que foram ditas e publicadas na época.  

Torre de Babel (1998) tinha um casal de lésbicas formado por duas mulheres bonitas, bem sucedidas e, de novo, nada de humor.  Elas morreram na destruição do Shopping, mas foi uma medida moralista, porque foram junto o pai que transou com a mulher do filho, o viciado em drogas, a velha mal humorada paralítica e as lésbicas... Em Senhora do Destino(2004), o casal de lésbicas era jovem, bonito e isso mexe com fetiches masculinos, fora, claro, que uma delas era filha de um bicheiro poderosíssimo e ficou muito claro que ninguém deveria mexer com elas por causa disso. Em Ti-Ti-Ti (2010), havia o fofo do Julinho, que tinha uma bela história na novela, mas não estava no núcleo de humor, não houve beijo entre ele e o Thales... Preciso continuar?  


Sim, o humor tem um papel fundamental para a aceitação da dupla Félix-Niko.  Mas a diferença é que não é simplesmente comédia, trata-se de dramédia.  O riso tempera o drama.  Querem ver só?  O resgate do bebê de Niko, seqüência dramática, sim, mas que volta e meia se atenuava com alguma piadinha de Félix.  A parte da mamadeira, então... Carrasco reforça estereótipos em relação aos gays e usa isso a favor das personagens.  Entretanto, não sei se toda essa situação funciona em benefício da aceitação dos próprios homossexuais pela sociedade.  Agora, um dos acertos do autor, sim, eu reconheço méritos e deméritos, foi trabalhar muito bem através da relação entre Félix e César a experiência de crescer em um lar sem amor.  Isso não justifica os crimes e que ninguém acredite que César só tratava mal o filho por causa da sua homossexualidade.  César é péssimo por qualquer ângulo.  A crítica é à família patriarcal super tradicional, pois até a mãe, Pilar, permitiu os abusos de César “por amor”.  Isso significou não se posicionar contra a forma discriminatória com a qual o filho era tratado, ou impedir que ele sofresse abusos.  Quando ela reagia, era contra a filha de outra mulher, nunca contra o homem que amava de forma doentia.  O marido pintou e bordou, e foi perdoado por Pilar.

Nesse aspecto, descontado os exageros como o “tudo que fiz foi porque papai não me amou”, foi tudo bem trabalhado.  Quantas mulheres fecham os olhos para os abusos dos maridos e companheiros em relação aos filhos e filhas?  Quantas mulheres abrem mão de uma vida própria para girarem em torno dos desejos de seus companheiros e ainda assim são humilhadas?  Quantas perdoam todas as traições, porque, bem, como vou viver sem ele?  Dependência emocional é algo tão daninho quanto a dependência econômica.  Quantos filhos e filhas sofrem por não conseguirem alcançar aquilo que os pais desejam para eles?  Quantos pais projetam seus sonhos nos filhos e filhas e os fazem sofrer?  Félix, em cena recente, alertou Márcia de que ela estava fazendo isso com Valdirene.  Enfim, a novela deveria ter continuado com seu título original “Em Nome do Pai”, o título utilizado fugiu muito daquilo que de fato foi apresentado.


Eu não acreditava na redenção de Félix, afinal, ele não era um coitadinho que cometeu umas besteiras, mas um criminoso com ficha muito pesada... Só que parece que virou moda redimir vilões simpáticos.  Pior ainda, manter crimes escondidos, porque, bem, é melhor deixar tudo em família.  Vide o caso da Pilar que virá a público amanhã... Enfim, basta pedir umas desculpas, chorar umas lágrimas, fazer trabalho braçal (*algo considerado humilhante em nossa sociedade de raízes escravistas*), ser branco, rico e/ou bonitinho, e se tiver o talento do Mateus Solano, ou do Zé de Abreu, pois o mesmo está ocorrendo em Jóia Rara, a gente perdoa.    Acho que nem Ernest vai precisar da clássica morte-sacrifício no final para se safar.  E eu que acreditava que jogar criança no lixo é coisa muito séria para o telespectador médio relevar...  

Enfim, eu vi o primeiro capítulo da trama e o tom da interpretação do Mateus Solano mudou bastante de lá para cá.  Como ele bem pontuou em sua entrevista na matéria da Isto É, ele sacou que Félix, falando como fala (*e eu apontei isso meses atrás*), não podia estar no armário de jeito nenhum.  E ele mergulhou na comédia que, ao invés de enjoar o público pelos excessos, como fez com vários críticos, trouxe a simpatia para a personagem.  Félix virou uma espécie de Cérebro (*Lembram do Pinky e do Cérebro?*) que queria dominar o mundo, mas terminava se ferrando, até que foi vender Hot Dog com flor no cabelo... Outro que me pareceu muito diferente do início da trama foi Marcelo Antony.  De homossexual que não tinha trejeitos ou maneirismos, ele se tornou tão evidente quanto César e Niko nesses últimos capítulos.  


Do outro lado, temos Niko, o cara mais do bem da novela inteira, trabalhador, gentil, que é traído pelo homem que ama com sua melhor amiga, e que só queria ter uma família e ser mãe, ooops, pai de uma criança.  A brincadeira é infame, eu sei, mas Niko agrega quase todas as marcas de gênero que uma mocinha geralmente tem. E eu brincava com a amiga Erika que ele era a mocinha de verdade de Amor à Vida.  Primeiro, porque Paloma é um saco.  Não preciso ver cenas e mais cenas para confirmar.  Segundo, porque ao contrário de Paola Oliveira, que eu acho linda e só, Thiago Fragoso evoluiu muito como ator.  Peguem O Profeta (2006) que tem os dois como protagonistas e comparem a evolução de um e de outro.  A traição de Eron e Amarylys, que periga ser atualmente a criatura mais odiada da novela e me lembra das vilãs enlouquecidas das novelas mexicanas, foi tão vil, tão baixa que só trouxe ainda mais simpatia para o Niko.  Bastava colocar o vilão simpático e o mocinho na mesma cena e ver o que acontecia e Félix foi quem deu as melhores idéias para que o Niko pudesse conseguir a guarda de seu filho. Já Niko, decidiu retribuir o favor acolhendo e ajudando Félix quando este estava no fundo do poço.  A temática da redenção sempre me agradou e, bem, Niko foi o anjo que tocou o coração do Félix.

Sobre Eron e Amarylys cabe um comentário.  O autor deliberadamente tentou redimir parcialmente Eron na linha “ele estava confuso”, “ele ama Niko de verdade”, e queimar somente  Amarylys como se ela – a mulher sedutora, a serpente que entrou em um lar feliz para destruí-lo – fosse a única errada, ou a mais errada... Nesse sentido, cabe reforçar que Carrasco parece ter problemas com mulheres.  Nesta novela, por exemplo, as vilãs são Amarylys  e Aline, os homens ou foram perdoados, ou ficaram na sombra de suas maquiavélicas parceiras.  Fora isso, como bem levantou uma coluna do UOL, em Amor à Vida só morreram mulheres.  Até o Ninho se safou!!!!  E, bem, depois que ele matou a ruivinha que não quis cortar o cabelo, a Marina Ruy Barbosa, o único romance hetero que valia a pena olhar, foi para o ralo.  Sobrou o quê?  Quem se importa com Paloma e Bruno?


A graça dessa história de Niko e Félix é ver nos grandes portais, antro do pior tipo de comentarista, a torcida pelos dois.  Gente que se derrete por eles, apesar de serem dois homens que se amam.  Isso é notável!  Assim como alguns conseguem fazer com certos mangás yaoi, olhando para o papel e vendo uma bela menina e, não, um uke, alguns homofóbicos devem abstrair do fato de serem dois homens.  A matéria da Isto É levanta bem esse ponto, é essa capacidade de cativar mesmo quem torce o nariz para qualquer pauta LGBT que periga colocar uma novela fraquíssima na história.  Não pelo primeiro beijo gay – ainda que o Jornal O Dia afirme que Carrasco recebeu carta branca – mas por ter tornado os dois queridinhos do grande público.

E entramos, para fechar esse texto que já ficou longo, na história do beijo gay.  Vou ser rápida, prometo!  Eles não precisaram se beijar para ganhar o público, eles conquistaram o Brasil com um romance feito de olhares, toques sutis, suspiros e piadas.  O triângulo amoroso mais importante na reta final da novela foi entre três homens, algo inédito.  Nesse sentido, concordo com o Mateus Solano, o romance dos dois “ultrapassou a questão do beijo e tocou em questões até mais profundas”.  Todos concordamos aqui?  OK!  No entanto, o beijo é a expressão mais básica de afeto entre personagens apaixonadas em novelas.  


Se estivéssemos falando de uma mídia na qual o beijo não exerce papel tão importante e banal ao mesmo tempo, tal questão não teria relevância.  Só que não é assim, não quando as personagens são heterossexuais.  Antes do sexo, vem o beijo.  Então, por que não permitir que Niko e Félix se beijem como qualquer outro casal?  Simplesmente, por não serem “qualquer casal”.  Sejamos realistas, a maioria da população brasileira é muito, muito hipócrita e cheia de recalques.  A Globo tem medo de decepcionar esse público que resiste ao beijo gay, muito mais do que satisfazer quem quer ver as personagens se beijando ou quem deseja que a história de Niko e Félix seja coerente.  Mas vale a pena manter o suspense e garantir a audiência e o zum-zum-zum nas redes sociais.  E eles conseguiram, muita gente vai ver o último capítulo imaginando que o beijo virá.  Eu assisti o último capítulo de América (2005), novela que nem acompanhava, na expectativa do beijo, e prometi nunca mais me deixar enrolar.

É absurdo que se crie tamanha confusão por causa de um beijo, ainda mais em uma novela das nove.  Mas é assim que as coisas estão.  Agora, acho muito moralista essas montagens que repetem “Violência pode, traição pode, beijo gay não pode”.  Para quê comparar um ato de amor com outros que nada tem a ver com carinho, companheirismo, prazer?  O beijo tem que aparecer, porque é normal que namorados amantes se beijem, não porque a novela tenha exibido um monte de coisas sórdidas. Fora que tudo o que é interessante para o bom andamento da história deveria poder, ou então, caímos no mesmo buraco moralista.  Enfim, em 2013, não deveríamos mais estar discutindo essas coisas nesse país.  Beijo é expressão básica de afeto e somente isso, não é tabu para um casal ficcional hetero e não deveria ser para um casal gay.   Infelizmente, não sei se vai rolar, mas, ainda assim, estereotipados e cheios de problemas, Niko e Félix já entraram para a história.  



Mesmo com críticas e ressalvas, eu gosto deles e acho que muita gente, inclusive homossexuais, que percebem o quão estereotipados eles são, gostam, também.  E, bem, se a dramédia do Félix fizer alguém refletir sobre a questão da aceitação da homossexualidade de um filho ou filha; ou se através de Niko alguma pessoa passar a compreender que gays podem educar e cuidar de uma criança como qualquer hetero, fico satisfeita; ou que homossexuais só querem ter a sua cidadania reconhecida e seu direito de amar respeitado, está valendo.  Novela serve para educar, também, mas não no sentido tradicional, claro.

P.S.1: Só para terminar, Amor à Vida foi uma das novelas mais brancas dos últimos tempos.  Carrasco não escreveu papéis para atores e atrizes negros e ninguém interveio para que a coisa não fosse tão evidente.  Só que, agora, no fim da novela um monte de atrizes/figurantes negras apareceu.  Sabe onde?  Na cadeia!  Triste, não?  E as coisas não vão melhorar muito com a trama de Manoel Carlos, mas, pelo menos, ele acredita que negros e negras podem ser empregados domésticos, figurantes de luxo e subalternos em geral, em Amor à Vida, São Paulo é branquinha, sem negros, nordestinos ou orientais para compor o elenco de apoio, pelo menos.


P.S.2: Outra coisa, me pediram resenha de O Cravo e a Rosa, que eu falasse do feminismo na trama, mas não farei texto para isso.  Gosto da novela, o elenco era excelente, mas na trama – e isso aconteceu no primeiro capítulo de Caras e Bocas, que eu terminei vendo – machismo e feminismo são duas faces da mesma moeda.  Ele não conseguiu em nenhum momento refletir criticamente sobre a questão.  Carrasco pensa desse jeito: Machista é homem grosso que quer mandar em mulher, feminista é mulher autoritária que quer mandar em homem.    Mas nada que o amor e o sexo não curem.  Vide Catarina, domada, ainda que não submissa, ou suas amigas feministas que ilustram bem todos os estereótipos a respeito das mulheres.  Amizade entre mulheres não existe, especialmente, quando entra um homem na história.  Daí, elas traem, sabotam-se umas as outras e, por fim, se arrastam atrás do sujeito.  Idéia do Carrasco, sem dúvida!

11 pessoas comentaram:

Interessante seu texto, mas sobre esse trecho:

"Agora, acho muito moralista essas montagens que repetem “Violência pode, traição pode, beijo gay não pode”. Para quê comparar um ato de amor com outros que nada tem a ver com carinho, companheirismo, prazer? "

Na verdade, as pessoas comparam justamente por ser um ato de amor. O que as pessoas questionam é: por que atos violentos são permitidos e um ato de amor como esse não? Esse é o ponto.

As pessoas não deveriam comparar coisas que não são da mesma natureza. Beijo deveria poder e ponto, sem comparações com mortes, tiros, facadas, traições. Não é questão de pode isso, tem que pode aquilo, é questão de coerência mesmo.

Gostei bastante do seu texto. Se minha tese não tivesse ainda sido depositada, eu teria te citado. Eu falo nela exatamente sobre o fato de que alguns vilões são redimidos, e as mulheres se tornam as "piores" vilãs. Isso não aconteceu só em "Amor à Vida". Aconteceu naquela "Duas Caras" também. Impressionante que num país em que o aborto é ilegal porque as pessoas curtem que mulheres que abortam morram como punição, um homem que cometeu uma tentativa de infanticídio tenha sido perdoado de maneira tão intensa. Carrasco tem problema com mulheres, sem dúvidas. Mas claro, é legal que um casal gay seja aceito. Tomara que se beijem, mas não acho que role. O próprio Carrasco disse que a população brasileira não quer ver beijo gay, são dados de pesquisa. E eu vejo pela galera noveleira próxima. O pessoal acha mais "bonito" um romance "casto". Parece que legitima o amor. =/

Aconteceu uma cena nessa semana em que a Pilar contava pro Niko que o Felix não estava com o anjinho e que na verdade ele tinha pago uma passagem para Barcelona para o rapaz, assim encerrando de vez a relação deles. Então o Niko fez um convite pro felix prum jantar na casa dele, e houve uma aproximação, uma troca de olhares e um clima incrível entre eles. Eu quase gritei no meio da sala HAHAHAHAHAA! Meu pai tava tenso e nem olhava pros lados. Aí eu comecei a falar que a cena pedia um beijo e que nos EUA o primeiro beijo gay na televisão (me corrijam se eu estiver errado) foi em Dawson's Creek! Meu pai, com um olhar que misturava compreensão e MUITA tensão, preferiu me ignorar e continuar olhando para a televisão rs

Felix e Niko, apesar dos estereótipos, não me irritam em nenhum sentido. Primeiro porque é legal sim ver dois caras juntos que dão pinta. Casais assim também existem! O senso de humor de ambos é ótimo. Essa de um ter uma carga muito pesada e o outro ser tão leve é lindo de morrer! Ver esses dois opostos se entendendo mexe com a emoção de qualquer um <3

Enfim, #Feliko se tornou o casal principal da novela e isso é impressionante. Como que este casal, agora o mais importante, pode terminar sem um beijo?! Infelizmente eu espero pelo pior, mas porra! Como eu quero ser surpreendido!

PS: Espero que role alguma webcomic de alguma mente criativa com os dois ^^

Nossa, Valéria, obrigada por esse post. Vou dizer que fiquei muito feliz, porque no mesmo momento em que eu estava escrevendo uma reclamação gigante pros meus amigos do porquê de achar esse #Feliko todo uma grande bobagem, você postou esse texto, que resumiu bem os meus pontos, e ainda me fez abrir um pouco a mente com isso.

Eu comecei a acompanhar a novela quando saiu, porque sempre simpatizei com o Matheus Solano, e o Félix era um estereótipo de personagem que eu curtia - vulgo trope do Sissy Vilain - e achei arriscado fazer na TV. Mas o Niko nunca me desceu; Exatamente porque ele é uma garotinha. Se já achava o Félix um homossexual zoado, porque o roteiro e as linhas do Walcyr Carrasco SÃO zoadas, a situação piorava com o Niko. Piorando, Félix vira bonzinho e coloca um pé no núcleo de comédia, e finalmente esse casal surge como uma coisa meio de improviso, meio de "peguei quem sobrou no núcleo gay". Eu entendo que a idéia geral e a compreensão da dinâmica que o pessoal teve sejam legais, mas o fato de engolirem tão facilmente um roteiro tão caricato me deu arrepios.

Mas, ei, talvez eu só esteja velha. Também lembro do episódio final de América, e torci pelo beijo (na minha época de pré-adolescente pseudo-fujoshi) mas a forma de retratar o casal era bem diferente do que é hoje, e se eu estava encarando isso mal antes do post, agora até vejo melhor. É uma medida que de fato atrai muito as pessoas no contemporâneo, faz simpatizar mais com os personagens, e o "homossexual (relativamente) caricato" parece se tornar menos um tabu conforme nos distanciamos de épocas mais moralistas... acho que tem várias coisas em jogo aí. Pensando dessa forma, talvez não seja tão ruim se o primeiro beijo gay em novela da Globo sair com esses dois. Pode não ser uma história maravilhosa, e os personagens podem não ser os melhores, mas tem um bom feedback do público e amor, então tá valendo. :')

Adorei o texto.
Essa novela é do Felix e eu só vejo as pessoas dizendo assim "Quando começar o Felix me avisa!!!!". Não é "quando começar a novela" ou "começar amor à vida"... No começo eu não assistia porque eu não gostei de ter um gay como vilão. Achei que isso ia aumentar o preconceito, mas aí ele foi se redimindo e se tornando uma pessoa melhor... O Niko no começo tb era um porre. Muito cheio de trejeitos que me deixavam irritada. Mas o Tiago conseguiu pegar o jeito certo da metade para o final e o Mateus Solano sempre foi um ótimo (ótimo ainda é pouco para ele) ator. Eu fiquei apaixonada pelo Mateus na época que ele fez aquela novela do Manuel Carlos em que ele fazia gêmeos e lembro que lá eu ficava morrendo na expectativa do beijo dele e da Aline Moraes que era o par dele na novela (os dois eram lindos demais juntos e eu adoraria vê-los como casal novamente). Infelizmente agora vamos ficar sem beijo simplesmente pq a Globo não quer mexer no vespeiro. Imagina a reação das pessoas (fico imaginando o Feliciano fazendo um auê por causa disso. Teve um beijaço em Pernambuco esses dias e ele já voltou a falar outra vez em se candidatar a Presidência. Imagina o quanto um beijo gay na novela das 9 o alimentaria?)...
Enfim, eu vou acompanhar o final porque adoro realmente os atores e acho que eles fizeram um grande trabalho, mas sem qualquer expectativa.

Desta novela, só havia assistido o primeiro capítulo inteiro e nunca mais, até ter parado para ver uma cena "Feliko", na penúltima semana. Fiquei tão cativada pelos dois que estou assistindo aos últimos capítulos só por causa do casal. Eles são, realmente, cativantes. Do mais, concordo com praticamente tudo o que você apontou e, sinceramente, acho mais fácil um burro voar do que rolar o beijo dos dois no final, o que é uma pena.

Eu geralmente adoro suas opniões só que, desta vez especificamente, sinto que você tentou nao cair nos clichês da parcialidade, e terminou com um texto um pouco sem foco e carente de uma opnião mais concreta. É importante ver os dois lados da moeda(os vários aspectos da trama, neste caso), é verdade, mas alguns pontos no texto nao necessitavam tanta menção. Eu gostei sim que o casal fosse mais esteriotipado quanto ao comportamento, um tanto afeminado. É interessante que as pessoas passem a achar esse tipo de comportamento natural, desde que esses são os gays que mais sofrem preconceito. Os "machinhos" podem ficar confortavelmente em meio a multidão. Não são o único tipo de homossexuais que existe, mas são os que mais demandam aceitação, a meu ver, como parte dessa comunidade.

Donadio, homens gays estereotipados é coisa mais que comum na telenovela brasileira. Normalmente, eles são amados, mas são solitários, o amigo de alguém que é importante na trama. Colocar a bichinha não é novidade, ter um par formado por dois gays com este perfil ou próximo de é que é. Por isso, enfatizei e reafirmo: Félix e Niko fizeram história, mas o fator comédia amaciou o público e muito. Acredito que havia gente que olhava para o Niko e via uma moça, daí, fica mais fácil engolir.

eu entendo a sua perspectiva, e não discordo. Como sempre, adoro seus argumentos Valéria :p Abraçoss !

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