Ontem começou a circular o trailer da segunda temporada de Gin no Saji (銀の匙) ou, como é mais conhecido, Silver Spoon. A série animada é baseada no mangá da aclamada autora Hiromu Arakawa, do mega sucesso Full Metal Alchemist (Hagane no Renkinjutsushi/鋼の錬金術師). Campeã de vendas no Japão, eu já desconfiava que o anime não ficaria nos 11 episódios. Mas por que estou comentando sobre essa série? Bem, depois de anos, estou assistindo uma série shounen, neste caso, Silver Spoon.
Acho que a série tem grandes méritos, mas o tema, o dia-a-dia de um estudante em uma escola técnica rural, não é palatável para muita gente. Meu marido, por exemplo, que ficou traumatizado por conta da sua passagem pela Escola Técnica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, quer distância. O anime tem seus exageros e clichês, e atire a primeira pedra quem acredita que há qualquer produto que consiga passar incólume por isso, mas é interessante e divertido. A autora, ela mesma nascida e crescida em uma fazenda de laticínios em Hokkaido, entende do assunto. E, assim como algum personagem de sua série deve fazer, rompeu com a tradição familiar e foi ser mangá-ka.
O protagonista da série, Yugo Hachiken, é um aluno top, que veio de uma escola ginasial de ponta, para uma escola rural sem grande prestígio. Ninguém entende muito bem o motivo, ele não tem sonhos de futuro ou objetivos traçados como seus colegas de turma. Ele simplesmente quer ficar longe de casa, em um internato, e não precisar conviver com o pai. No ponto onde estou, não sabemos o motivo. Calma! Não se trata de um drama pesado; é uma dramédia. Yugo escolheu a escola, porque achou que seria mole passar e aproveitar o colegial para se preparar para a entrada em uma universidade de prestígio. Realmente, os conteúdos tradicionais do currículo – Cálculo, Japonês, entre outros – são molezinha, mas quem disse que é só isso? São as disciplinas técnicas e o duro trabalho braçal (*começando, às vezes, antes das 5 da manhã*) que mostram o quão enganado o moço está... Até os clubes são ou sobre temas rurais (*destaque para os tarados do clube que cultua vacas Holstein*) ou esportivos. Nada de sopa mesmo, tem que ralar!
E temos o romance, também, claro. Pode até virar aquela coisa shounen irritante, mas, até o momento, está “OK”. Yugo se apaixona por uma menina, Aki Mikage, que é do clube eqüestre. A moça, que é um amor, acaba sendo um atrativo para que o rapaz, que morre de medo de cavalos, entre para o clube. Já de saída, temos sugerido a temática do amadurecimento do herói, de moleque fracote para um sujeito mais equilibrado e assertivo. Acredito que a autora revisite um pouco da sua própria trajetória através de Aki, que vem de uma família que cria cavalos de trabalho, mas vê seus seguros sonhos de futuro ruírem... Mas é coisa para a segunda temporada. A primeira série foi um pouco além do volume #4 e o #10 saiu faz alguns dias no Japão. Acho que Enfim, Gin no Saji é simpático. Vou tentar ir ao fim da série e, quem sabe, engrenar a segunda temporada.
Ah, sim, uma coisa curiosa que aparece em Gin no Saji é a aparente desconexão de Yugo, um garoto da cidade, da origem do que come. Ele come ovos e carne (*se engana quem imagina japoneses como “naturalmente” vegetarianos*) sem se preocupar com sua origem. Na escola rural, ele percebe que para que ele coma, animais morrem. Ele sente náuseas, muito mais por questões de higiene, e quer parar de comer ovos (*afinal, saem da cloaca da galinha*) e carnes, porque tem pena dos bichinhos, mas parece que a escola não oferece alimentação vegetariana e a fome, depois de um dia de trabalho braçal, vence o moço. Onde vocês lembram de ter visto algo semelhante? Em Sunadokei (砂時計) Lá a heroína fica em choque quando descobre que a comida enlatada um dia foi um bichinho fofo...
Não sei se esse sentimento é comum entre os japoneses da cidade, mas o sociólogo Norbert Elias discutiu em um de seus livros (*Se não me engano, o volume 1 do Processo Civilizador*) como o processo civilizador teve como uma das suas vertentes o dissociar o animal, que sangra, que sofre, daquilo que se come. Que da tradição medieval européia de expôr sobre as mesas a caça completa, se vai passando para a apresentação da carne higienizada em pratos elaborados. Não se tratava, claro, de preocupação com o animal, mas de demonstração de refinamento, de colocar em evidência um conceito de educação que estava se constituindo em discursos e práticas. Enfim, até o momento, não há discussão sobre direitos dos animais, a única discussão introduzida foi a de produzir carne sem acréscimo de hormônios e outras coisas. A discussão é travada entre um terceiro anista, defensor da criação de animais livres de químicos, e sua irmã, uma rara personagem feminina obesa, que diz que no mundo moderno e de produção em massa isso é uma utopia. São questões mais que pertinentes, dado o perfil da série.
Não sei se esse sentimento é comum entre os japoneses da cidade, mas o sociólogo Norbert Elias discutiu em um de seus livros (*Se não me engano, o volume 1 do Processo Civilizador*) como o processo civilizador teve como uma das suas vertentes o dissociar o animal, que sangra, que sofre, daquilo que se come. Que da tradição medieval européia de expôr sobre as mesas a caça completa, se vai passando para a apresentação da carne higienizada em pratos elaborados. Não se tratava, claro, de preocupação com o animal, mas de demonstração de refinamento, de colocar em evidência um conceito de educação que estava se constituindo em discursos e práticas. Enfim, até o momento, não há discussão sobre direitos dos animais, a única discussão introduzida foi a de produzir carne sem acréscimo de hormônios e outras coisas. A discussão é travada entre um terceiro anista, defensor da criação de animais livres de químicos, e sua irmã, uma rara personagem feminina obesa, que diz que no mundo moderno e de produção em massa isso é uma utopia. São questões mais que pertinentes, dado o perfil da série.
É isso. Se puder, dê uma olhadinha em Silver Spoon. É legalzinho. Talvez, eu até pegue o mangá. A autora tem outra série com temática rural, o meio auto-biográfico Hyakushou Kizoku (百姓貴族), que é um shoujo mangá. Enquanto isso, aguardo informações sobre o novo anime de Sailor Moon (セーラームーン)...
1 pessoas comentaram:
Eu tô doidinho pra ler esse manga, mas não via scan. Queria a versão oficial, mas parece que até agora não há nada confirmado nesse sentido nos EUA (nem tenho esperanças de vê-lo por aqui).
Postar um comentário