sábado, 21 de setembro de 2013

Comentando Elysium, a estréia de Wagner Moura em Hollywood

 

Apesar de estar muito mais inclinada a assistir Cine Holliúdy, o horário e a preferência do meu marido acabaram fazendo com que fosse ver Elysium.  Quando soube que o filme estava sendo feito, e já vai um bom tempo isso, tive vontade de assisti-lo, afinal, tinha Wagner Moura no elenco e, bem, ele é um de meus atores favoritos.  Lembro que nas primeiras notícias divulgaram que ele seria o vilão e eu torci o nariz, porque era bem o clichê “competente ator estrangeiro ganha papel de malvado em filme americano”.  As notícias estavam erradas, Moura não é o vilão e teve mais destaque no filme do que eu poderia esperar.  Só que Elysium não é um grande filme, muito pelo contrário, é mediano, com alguns bons momentos, mas bem inferior como ficção científica de ação à Looper, filme do qual eu nada esperava e que me surpreendeu positivamente.  Mas, enfim, de que se trata Elysium?

Estamos em 2154, e a população humana vive abertamente em um apartheid social.  Na Terra, transformada em uma imensa favela superpovoada e miserável, os pobres e remediados sofrem com as restrições e a opressão dos ricos, que vivem na distante Elysium, uma estação espacial.  Em Elysium, todos tem saúde perfeita e acesso a uma vida que parece eterna. Max Da Costa (Matt Damon) é um órfão que deseja morar em Elysium.  O rapaz está em condicional, trabalha na empresa Armadyne, que pertence a ricos cidadãos de Elysium.  Max está tentando abandonar sua vida de crimes, mas sofre um acidente de trabalho e acaba sendo contaminado.  Demitido e com meros cinco dias de vida, ele decide procurar Spider (Wagner Moura), um chefe criminoso e espécie de coyote que envia doentes clandestinamente para serem curados em Elysium, além de praticar vários crimes.  Spider diz que enviará Max para Elysium, se ele aceitar fazer um servicinho muito perigoso: se apossar das informações contidas no cérebro de um dos magnatas de Elysium.


Na estação espacial, temos a segurança garantida pela Secretária Delacourt (Jodie Foster), uma mulher que usa de todos os meios para garantir que intrusos não consigam penetrar em Elysium.  Pressionada pelo governo da estação, ela decide assumir um poder e usa exatamente o CEO da Armadyne para dominar os sistemas da estação.  É exatamente este sujeito que tem as memórias roubadas por Max e o rapaz passa a ser caçado implacavelmente.  No meio de todas essas desgraças, Max reencontra Frey (Alice Braga), uma amiga dos tempos de orfanato e o amor de sua vida.  A moça, agora enfermeira, vive um grande drama, pois sua filha está em fase terminal de leucemia e só em Elysium ela poderá ser curada.

Elysium foi dirigido e roteirizado por Neill Blomkamp, da aclamada ficção científica sul-africana Distrito 9.  Eu não assisti este filme até hoje, mas meu marido gostou muito da película e o Blu-ray está aqui em casa... Um dia, tomo vergonha e assisto.  Enfim, Distrito 9 a parte, Elysium é um filme que não consegue impressionar.  A premissa do mundo futurista com apartheid social não é nova, e tudo dependeria de como a coisa fosse trabalhada.  Algo que incomoda muito em Elysium é a ciência de conto de fadas e a tecnologia non sense que volta e meia aparece no filme.  Por exemplo, as tais estações de cura, a salvação que muitos terráqueos buscam, é algo que parece funcionar por magia, dada a rapidez com que tudo é operado.  Faltou um pouquinho de coerência.  Já quando a secretária Delacourt manda derrubar as naves clandestinas que se dirigem para Elysium, acionando o mercenário Kruger (Sharlto Copley), o sujeito utiliza uns foguetinhos ridículos, que parecem feitos para derrubar helicópteros e, não, naves que estão fora da atmosfera da Terra.  Foi bem constrangedor.  Os carros na Terra parecem saídos do início dos anos 1980 e, bem, não há nada que justifique isso.


Agora, ficou interessante a transformação de Matt Damon em uma espécie de robocop dos pobres, um ciborgue de fundo de quintal, criado pelos homens de Spider.  A personagem de Damon é latina e seria melhor que fosse interpretada por um hispânico, mas, claro, era preciso um astro norte americano para puxar o elenco.  Aliás, é interessante a forma como a Los Angeles do futuro é construída, com uma população majoritariamente latina e falando inglês misturado com espanhol, ou mesmo só espanhol.  Este é um futuro que os racistas norte americanos temem profundamente.  Também há a crítica, ainda que não muito bem desenvolvida, aos males do capitalismo levado aos extremos, afinal, é ele que produz o apartheid social que garante que somente os ricos possam ter acesso à saúde, por exemplo.  Elysium - a estação espacial - me lembrou os exageros de Dubai...

Gostei da atuação de Jodie Foster como Delacourt.  Tinha lido que o papel foi escrito para um homem e que em algum momento perceberam que, sim, o papel poderia ser dado para uma atriz.  Eu até imaginei que Foster fosse uma das produtoras e, por isso, tivesse voz ativa no projeto, mas foi bom senso mesmo.  Isso não tornou, entretanto, Elysium um filme com uma presença feminina que impressione.  Temos três personagens femininas com destaque, Delacourt, Frey e a menina Matilda. O filme cumpre a Bechdel Rule por pouco, pois Frey conversa com a filha e o assunto é a doença da menina.  A função de Frey e da filha é empurrarem o herói para o sacrifício e eu realmente fiquei frustrada com o fim dado para Delacourt.  Foster deveria ficar em cena até o grande final do filme.


De resto, a personagem de Delacourt nem se qualifica como grande vilã, esta função cabe a um homem, Kruger.  E isso é um dos pontos baixos do filme.  As cenas de ação e luta entre a personagem de Damon e o vilão são longas demais e isso enfraquece a história que poderia, sim, ser melhor administrada.  O filme não ofende (muito) a inteligência de ninguém, não é cansativo e tem personagens simpáticas, no entanto, não é marcante e não vai se qualificar como um dos melhores do ano.  Além das seqüências de ação longas demais e pouco impressionantes, há muito melodrama, mas o diretor-roteirista não tem coragem de levar a coisa ao extremo necessário.  E dou um spoiler: seria muito mais emocionante que a menina Matilda fosse filha de Max.  É até compreensível que Frey tivesse se afastado dele por conta dos crimes, mas fica parecendo que ele foi fiel a ela, enquanto a moça buscou outro companheiro.  No entanto, em nenhum momento de comenta sobre quem é o pai da menina... 

E Wagner Moura?  Bem, eu temia que ele fosse aparecer em poucas cenas e sumir do filme.  Não é isso que acontece.  Ele é o bandido, sim, mas de bom coração.  Um sujeito que deseja um mundo mais justo.  Não é uma personagem revolucionária, mas, assim como Max, conseguimos simpatizar com ele.  Moura é sempre encantador e se virou bem no inglês.  Agora, não sei quem prestou atenção e ouviu o sujeito xingando em português em pelo menos uma cena.  O que, aliás, não destoou do filme, já que as personagens se alternavam em inglês, espanhol e até africâner...  O problema, pelo menos para mim, é que ele parecia falar muito baixo, só que o som do cinema não era dos melhores e em alguns momentos era complicado entender o que os atores – que eram em boa parte não americanos – estavam falando.  As legendas, claro, não eram confiáveis e por serem brancas eram difíceis de ler.  Triste situação do cinema no Brasil!  De qualquer forma, curiosamente, Elysium parece só estar passando dublado em duas salas de Brasília.  Isso é coisa rara hoje em dia.


É isso.  Vale a pena dar uma olhadinha em Elysium, mas não espera demais.  Não é revolucionário, não acrescenta nada de novo, ainda que seja uma boa diversão. Talvez o filme abra portas em Hollywood para Wagner Moura, mas não acho que ele vá migrar.  Seria interessante vê-lo em outros filmes gringos desde que eles aproveitassem o imenso talento do rapaz.  Elysium não o subestimou e é um bom cartão de visita e é legal ver dois brasileiros, afinal, Alice Braga tem grande destaque na história, atuando em um filme americano.  Agora, é esperar para ver o que acontece na vida de Wagner Moura.

1 pessoas comentaram:

Eu não esperava que o Wagner Moura tivesse mais partes, o seu comentário realmente me surpreendeu. Achei que ele ia ser algum tipo de vilão sombra.

Alice Braga é impressionante.

Mesmo que não seja super diferente, afinal o tema pós-apocalíptico está ficando muito saturado, ainda mais com tantas séries, livros e filmes falando do mesmo assunto... Enfim, mesmo assim, ainda estou curiosa.

Obrigada pela crítica, confesso que não é nem mais nem menos (tirando a participação do Wagenr Moura), que eu esperava rs.

bjs

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