segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Comentando Downton Abbey - A Terceira Temporada e o Especial de Natal


Como está chegando a quarta temporada – e que deve ser a última (*eu espero*) – de Downton Abbey, preciso fazer a resenha sobre o terceiro ano da série.  Comecei este texto várias vezes (*nem sei quantas*) e parei.  Realmente considero a terceira temporada inferior às duas primeiras, ainda que certos recursos novelescos ruins já estivessem se anunciando na temporada de 2012.  E não estou escrevendo isso por causa das baixas de elenco e, sim, da trama que teve momentos decepcionantes, mornos e mesmo forçados.  Mas vamos lá... 

Toda a terceira temporada transcorre no ano de 1920.  Começamos os episódios com os preparativos para o casamento de Lady Mary (Michelle Dockery) e Matthew (Dan Stevens), questão que se arrastava desde a primeira temporada.  Ficamos sabendo, também, dos problemas financeiros de Downton, graças aos péssimos investimentos feitos pelo Conde da fortuna da esposa norte americana.  A vinda de Sybil, agora grávida, e Tom Branson (Allen Leech), o ex-chofer, seu marido, chegam para o casamento e um problema se desenha, pois o rapaz não se encaixa nem Upstairs, com a família, nem Downstairs, com os criados.  E a coisa fica pior, porque nem Tom, nem o Conde se esforçam para tornar a situação mais palatável. 


Concomitantemente, ficamos sabendo que o pai de Lavinia, ex-noiva de Matthew morre e o rapaz recebe uma polpuda herança que pode salvar Downton Abbey, como seus padrões morais o impedem de aceitar o dinheiro, o casamento com Mary quase vai para o espaço, sendo salvo por Tom.  Outras novidades são a presença da mãe de Lady Cora, a milionária americana excêntrica Martha Levinson (Shirley MacLaine), que choca a mãe do Conde com suas idéias.  Enquanto isso, Downstairs, o drama de Ana e Mr. Bates continua se desenrolando, já que sua pena de morte foi comutada em prisão e ambos não podem ficar juntos até que a inocência dele seja provada; Mrs. Hughes (Phyllis Logan) desconfia que está com câncer; chega Alfred, sobrinho de O’Brien,  para ser o novo footman e ela e Thomas iniciam uma guerra que vai durar toda a temporada.  Não pretendo me estender, mas apontar o que gostei e não gostei na temporada que, a meu ver, foi bem irregular.

Em primeiro lugar, a solução deus ex-machina – a herança recebida por Matthew que salvou Downton – foi um dos pontos baixos da temporada.  Tudo se resolveu rápido demais e essa história de dinheiro caindo do céu é sempre uma saída fraca, que só se compara em tramas novelescas a velha historinha da perda de memória.  Falando nisso, o sujeito que na segunda temporada dizia ser o primo morto no Titanic foi totalmente esquecida.  Obviamente, como o elenco é muito bom, o drama do dinheiro rendeu excelentes cenas para todo mundo e, claro, o objetivo era evidenciar que aquele mundo aristocrático de antes da I Guerra estava agoizando.  A personagem de Shirley MacLaine sapateando nas tradições britânicas machistas sobre herança – que não mudaram quase nada entre os tempos de Jane Austen e hoje quando se trata de nobreza – e questionando o quão vazios eram os padrões de vida estabelecidos em Downton foram ótimos.  Ela simplesmente diz não para todos os pedidos de dinheiro, seja da neta, Mary, seja do genro, Lorde Grantham.  Aliás, ninguém, nem no elenco, nem eu, entende a incompetência dele para os negócios.  Para mim, foi outra situação um tanto forçada para alavancar situações dramáticas.


Falando em personagens que tiveram mais altos do que baixos na temporada, acredito que o destaque vá para Edith (Laura Carmichael) e Thomas (Rob James-Collier).  Edith é a filha patinho feio da família, aquela que todos esperam que fique para titia e que se rói de inveja da irmã mais velha, Mary.  Ela começa a terceira temporada conseguindo engrenar seu romance com o velho Sir Anthony Strallan (Robert Bathurst) para o desespero de seu pai.  O mais interessante foi ver que a noiva mais bonita da temporada foi Edith, ainda que seu casamento não tenha acontecido. 

Depois do fiasco da cerimônia, e Sir Anthony foi um pusilânime, imaginei que teríamos uma Edith mergulhando em depressão, mas ela consegue enxergar uma luz no fim do túnel, com a ajuda de Matthew, que vai contra o sogro, algo rotineiro nesta temporada, e acha uma ocupação.  Escrever para um jornal sobre os direitos das mulheres dá a Edith uma nova posição na série e antecipa boas possibilidades.  Agora, lhe arranjarem um novo pretendente problemático, ainda mais um com um discurso tão batido, “sou casado, sim, mas minha esposa é inválida, blá-blá-blá” é um saco, é clichê e não acrescenta em nada.  Seria interessante se Edith acabasse se envolvendo com a personagem negra que entrará na quarta temporada, mas acredito que não será assim.


Já Thomas, que na última temporada tinha descido ao ponto de sequestrar cachorro, teve um grande aprofundamento psicológico nesta última leva de episódios.  Continua ambicioso, intriguista, mas mostrou, também, que tem coração e que não é insensível em relação aos seus semelhantes... ou, pelo menos, alguns deles.  Uma das melhores cenas de temporada inteira, para mim, foi o choro sincero de Thomas quando da morte de Sybil.  Dentro de uma sequência que flertou com o dramalhão – flertou, mas não deslizou – Thomas chorando nos braços de Anna (Joanne Froggatt), a quem tanto prejudicou, foi algo bem legal de se ver.  Também foi através dele que se discutiu a questão da homofobia e da legislação de época que punia duramente os acusados de pederastia.  Basta lembrar que Oscar Wilde não estava muito longe deles... 

O fato é que o sofrimento (a humilhação, a quase demissão sumária de Downton, a paixão não correspondida, etc.) tudo serve para tornar Thomas um sujeito melhor, mais humano, por assim dizer.  E há o embate entre o moralismo de Mr. Carson (Jim Carter) e a aparente tolerância de Lorde Grantham (Hugh Bonneville) em relação a questão da homossexualidade, desde que discreta, do rapaz.  A proposta de torná-lo segundo Mordomo, como uma forma de criar condições para que ele buscasse emprego em outra casa com as devidas referências, foi uma bela demonstração de que o Lorde sabe compensar seus subordinados, ainda que não saiba de metade das vilanias que o moço já aprontou.  Só que usar o colégio interno como modelo de tolerância me pareça muito mais um endosso da violência.  Afinal, uma parte considerável das relações homoeróticas em internatos ingleses estava pautada na violência dos mais fortes sobre os fracos e, não, em questões de afetividade.


Falando em Sybil, uma das personagens mais simpáticas da série, a atriz Jessica Brown Findlay pediu para deixar Downton.  A desculpa é sempre a mesma, ela desejava maiores desafios e diversidade de papéis.  Pergunto-me se seis meses de dedicação a uma temporada de Downton Abbey sejam assim tão degradantes para um ator ou atriz.  De qualquer forma, o autor precisou criar uma morte para a personagem e morrer de parto é sempre hiperdramático, fora que a sequência inteira foi de cortar o coração, com destaque para a interpretação de Elizabeth McGovern, a mãe que não consegue acreditar que está perdendo a sua caçula querida.  

Criou-se para chegarmos ao triste fim, a oposição meio esperada entre o médico aristocrático e pedante – que acredita piamente, assim como a maioria dos profissionais aqui no Brasil, que ele é o centro das atenções em um parto – e o médico do interior, mais sensível às necessidades das suas pacientes e conhecedor de sua fisiologia.  Resultado, Dr. Clarkson (David Robb) acaba sendo calado pelo médico nobre e pelo Conde, que não acreditam que Sybil precisasse de apoio hospitalar e de uma cesariana, apesar dos sintomas de eclampsia.  A morte da moça, por causa da teimosia do médico chique e do pai, quase destrói a família.  A reconciliação, promovida pela Condessa-Viúva (Maggie Smith), depende da aquiescência do Dr. Clarkson, que precisa dizer que Sybil dificilmente seria salva se transferida para o hospital...  Outro destaque foi a cena entre Jim Carter e Maggie Smith depois dos funerais da moça, vale assistir e reassistir.


A morte de Sybil coloca Tom e a família em um dilema. O rapaz acaba ficando em Downton Abbey, há a bebezinha e tudo mais.  Não houve aprofundamento no conflito religioso – Branson é católico e quer que sua filha seja educada na mesma fé – já que Mary e Matthew ficam do seu lado.  Além disso, criou-se uma possibilidade de uso da personagem, já que Branson e Matthew acabam sendo responsáveis pelo salvamento de Downton com seu saneamento econômico e melhor administração.  O conflito com o Conde, patriarca que se sente perdendo o poder para os jovens, gera algumas boas cenas.  O desfecho da situação se dá no especial de Natal, quando o Conde percebe que seus parentes na Escócia estão falidos e recebe elogios pela boa administração de Downton e por ter percebido que os “tempos tinham mudado”.  Voltando a Branson, a trama com a maid ingrista no especial de Natal foi bem irritante, a moça era uma cretina, mas possibilitou uma das melhores cenas da temporada, a conversa entre Mrs. Hughes e o rapaz.

Eu realmente não consegui simpatizar com os novos criados.  As traminhas menores, com ciuminhos, intrigas e tudo mais, não ajudaram a empurrar a história, mesmo Daisy (Sophie McShera), que tinha crescido tanto na temporada anterior, ficou subaproveitada.  Bates, e eu adoro o Brendan Coyle, e Anna foram igualmente mal aproveitados.  Eles só funcionam juntos m Downton e toda a trama da prisão e absolvição pareceram forçadas e não serviu para desenvolver a relação entre os dois nem inseri-los na trama maior.  A história envolvendo Ethel (Amy Nuttall), a maid “saidinha” que engravidou de um oficial quando Downton Abbey tornou-se hospital de campanha, e a mãe de Matthew (Penelope Wilton) teve igualmente altos e baixos.  Em primeiro lugar, Isobel é uma chata, começou a série desse jeito e foi piorando, segundo, porque Ethel saindo correndo e gritando por capítulos seguidos acabou virando piada entre os fãs.  Quando a moça é obrigada a abrir mão de seu filhinho e Isobel dá emprego para a prostituída Ethel e expõe a hipocrisia da sociedade, a coisa ganha qualidade, mas quem mostra como s coisas devem ser feitas mesmo é a Condessa-Viúva.  O que seria de Downton Abbey sem Maggie Smith?  


Outra seqüência magnífica com Maggie Smith foi a envolvendo a nova personagem, a prima rebelde inserida na trama para ocupar o vazio que Sybil vai deixar.  A Condessa-Viúva fazendo a moça confessar seu desvio de comportamento, que estava sendo acobertado por Edith e outras personagens mais jovens, foi espetacular.  A princípio não simpatizei com Lady Rose MacClare (Lily James), mas em seu elemento, a propriedade de seus pais na Escócia, foi possível entender as razões de sua rebeldia.  Agora, é ver como a nova personagem interage em Downton, especialmente, com a inserção da nova personagem negra que deve ser seu par romântico...

Acredito que Sybil, mais do que Matthew, vá fazer falta.  Acho Dan Stevens um sem sal e acredito que vá dar com os burros n’água nos EUA.  A talentosa Michelle Dockery e sua personagem que sabe ser boa, má e deliciosamente esnobe é que puxava a relação.  Acredito que sua condição de viúva renda boas seqüências, o próprio trailer, quando ela interage com a avó, já serve de aperitivo.  Agora, acredito que já seja hora de terminar, porque Downton tem escorregado no novelão em muitos momentos e algumas personagens já não estão rendendo bem.  


A previsão é de fecharem nesta temporada mesmo. Outra baixa da temporada é O’Brien, mas a atriz, Siobhan Finneran, pode voltar para o Especial de Natal.  Enfim, domingo, dia 22 de setembro, é Downton Day.  Vamos torcer por uma quarta temporada sem os deslizes da terceira e que fecha com chave de ouro uma das melhores séries de época dos últimos tempos.  Se quiser ler as resenhas das temporadas anteriores é só clicar: e temporadas. Ah, sim!  E o box com as três temporadas está em promoção na Livraria Cultura.  É só clicar na banner.

5 pessoas comentaram:

Agora eu consegui comentar aqui! Vamos lá! Como eu disse lá no facebook, minha diversão com Downton não foi menor apesar de alguns deslizes nessa temporada.
A morte da Sybil me chocou. Eu imediatamente me lembrei de um dos episódios da primeira temporada que terminava com ela usando um vestido que na verdade eram calças acompanhado daquele sorriso lindo e aquele charme inocente que ela tinha... Coisa pra chorar mesmo.
Eu gostei muito da Maggie Smith na primeira temporada, mas ela só ficou melhor na segunda e terceira temporada. Com todos os preconceitos e tradições que ela carrega, ela consegue ainda sim ser uma das personagens mais maleáveis da série. Ela tem preconceitos, mas ela consegue enxergar o coração em momentos importantes <3
Edith cada vez mais se torna uma das minhas favoritas. Seu plot só evolui.
Fiquei meio desesperado com o lance do câncer da governanta, pois é uma personagem que eu gosto muito. Felizmente não foi nada. Ou eu entendi errado?
Thomas finalmente se mostrando alguém melhor. Na próxima temporada ele pega o loirinho com certeza!
Ai, muitas personagens... Inevitavelmente o foco vai continuar sendo na Lady Mary. Esse misto de cosias boas e ruins que fazem dela um ser tão apaixonante... Ela irá sofrer com certeza, mas a Mary é muito forte. Vai dar gosto ver ela dando a volta por cima. Sei lá por que mas nunca gostei tanto do Matthew. Não foi bom ele morrer do jeito que morreu, mas enfim, acredito que isso vai deixar o plot da Mary ainda mais interessante.

PS: Ai nem revisei o que eu escrevi porque eu to agoniado com o calor aqui no RJ!

Eu sou apaixonada pelo Matthew. Ele sempre foi a parte boa da história de Downton, pq a lady Mary chega a ser insuportável tamanha frieza e interesse q ela tem.

Você é uma chata não gosta de nada, vá escrever uma série melhor querida!

Só li críticas, nem parece que curte a série com suas nuances e reviravoltas, seria melhor escrever uma mais interessante que não a contrarie.

Digo o mesmo moço atrasado, se só quiser ler elogios procure outro lugar. Crítica não quer dizer falar mal, mas para gente de mente estreita é difícil compreender a diferença. Bom fim de semana pra você!

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