Não era a minha intenção assistir ao desenho animado paquistanês Burka Avenger, que não entendi até agora se é a primeira super-heroína do país, assim, no feminino, ou a primeira animação de super-herói como um todo. Tinha montado na minha cabeça que poderia ser uma apologia ao véu e coisas do gênero. Atitude obviamente preconceituosa de minha parte, claro! Ainda bem que o The Mary Sue postou o primeiro capítulo legendado em inglês. Acredito mesmo que outros serão legendados e disponibilizados no Youtube.
O primeiro episódio de Burka Avenger começa com um flashback contando a história da protagonista, Jiya. Ainda criança, sua casa pegou fogo e ela ficou órfã. Seu pai adotivo a ensinou uma arte marcial na qual todos os sentidos são desenvolvidos e lápis, canetas e livros são usados como armas. ^_^ Jiya se torna professora e leciona na escola feminina de sua cidade. Os vilões do primeiro episódio querem fechar a escola e impedir que as meninas estudem, entretanto, seus planos malignos (*HaHa*) são frustrados pela misteriosa Burka Avenger.
Burka Avenger é um desenho em computação gráfica bem elementar, com personagens estereotipadas – vilões mais que malignos, criancinhas boazinhas, a figura paterna que serve de mentor, etc. – e mensagens passadas de forma bem didática. No final, para vocês terem uma idéia, a heroína aparece para aquele momento “o que aprendemos neste episódio”, como acontecia em He-Man. Fora isso, a trilha sonora é moderninha e já está à venda, pois aparece propaganda do CD e até de joguinho de computador de Burka Avenger, o que mostra o projeto de marketing por trás da série.
A inspiração para este episódio e, talvez, a série, foi o caso da menina Malala, que sofreu um atentado por parte do talibã por defender o direito das meninas à educação. E aí está um dos problemas do episódio. Os vilões não são motivados por uma leitura radical do islã, religião não entra em questão. Um dos malvados, Vadero Pajero, é um homem rico que arrecadou doações para construir a escola, mas movido por ambição e machismo deseja embolsar o dinheiro. Seu parceiro, Baba Bandookh, – veste preto, usa barba e parece ter poderes mágicos – acha que lugar de mulher é dentro de casa lavando, limpando e cozinhando. Ele e seus capangas ameaçam quebrar as pernas das meninas que tentarem entrar na escola. Uma co-protagonistas, a menina Ashu, faz um pungente apelo, associando a educação das mães a um progresso dos filhos e do país, mas nada comove o vilão.
A heroína usa roupas típicas paquistanesas, aquele versão da roupa indiana feminina que é uma variação mais descontraída do sari, e não usa véu. Mas Jiya, a professora, pouco aparece, na maioria do tempo quem está na tela é a Burka Avenger. De burka, ela parece muito mais uma ninja usando capa. Aliás, ela explora a roupa ao máximo, chegando a planar ou voar. Há referências ao filme Matrix em uma das cenas e outras virão. Se a qualidade da animação fosse um pouco melhor, acredito que as cenas de luta seriam até interessantes. Uma das críticas que a série vem recebendo é ao uso da burka como peça de empoderamento feminino, para a maioria das pessoas, gente como eu, é um veículo de opressão. Bem, a coisa não foi nem de longe desenvolvida nessa linha no primeiro episódio e, como pontuei, a heroína estava mais para uma ninja mesmo. A burka é o uniforme da super-heroína que, ao deixar somente seus olhos à mostra, protege sua identidade e só isso.
Meu texto deu a entender que Burka Avenger é ruim? Não, de forma alguma! É primário, extremamente infantil, mas bem intencionado e com um engajamento que eu não esperava ver. Acredito que no Paquistão o desenho seja considerado revolucionário e incomodo para alguns, fora que, na maioria dos países, a idéia de uma heroína de ação ainda é sub-aproveitada ou motivo de piada. O primeiro episódio de Burka Avenger é abertamente feminista em sua mensagem e isso não deixa de ser interessante. Tanto a professora-heroína, quanto a menininha que citei, dão voz às demandas das mulheres paquistanesas, enquanto os vilões, retrógrados e machistas são ridicularizados. Enfim, vamos aguardar o próximo episódio. Para quem interessar, ele está aí embaixo.
2 pessoas comentaram:
Obrigada por comentar, estava curiosa pra saber o que vc ia falar dele. Tinha lido que o criador se inspirou um pouco em sua própria infância, quando pegava as burcas das mulheres da família pra brincar de Batman, rsrs.
É uma pena não falarem de religião, mas não estou surpresa!
Um desenho feminista é um grande avanço, e crianças são possíveis adultos desprendidos dos conceitos ultrapassados.
Gostei, que façam muitos episódios...
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