Quarta-feira passada assisti Guerra Mundial Z em um dos poucos cinemas aqui em Brasília exibindo o filme com som original e sem ser 3D. Bem, eu não me arrependi. Primeiro, porque a nova tecnologia era absolutamente desnecessária; segundo, porque, apesar de não ter nenhuma simpatia por histórias de zumbi, o filme foi bem satisfatório. Agora, foi impressão minha, ou mais alguém achou que o Bad Pitt estava interpretando uma personagem que, na verdade, é exatamente como imaginamos que o sujeito é na vida real?
Em um futuro próximo no qual a natureza está cada vez mais degradada e sinais de que alguma coisa não vai bem são ignorados, Gerry Lane (Brad Pitt), ex-investigador da ONU, vive feliz com sua esposa Karin (Mireille Enos) e suas duas filhas. O que parecia ser um dia normal, no entanto, se torna um inferno quando a cidade é atacada por uma horda de zumbis. Depois de passarem por muitos apertos, a família e o menino Tommy (Fabrizio Zacharee Guidoas) são resgatados por ordem do Segundo-secretário da ONU, Thierry Umutoni (Fana Mokoena), e levados para o meio do mar. A esquadra é o que sobrou do governo dos EUA, militares, cientistas e burocratas tentam identificar as causas da tragédia, que é encarada como uma infecção, e como contê-la.
Lane acaba sendo (*gentilmente*) obrigado a se integrar a uma equipe de militares de elite e o jovem cientista Dr. Andrew Fassbach (Elyes Gabel) e rumar para Camp Humphreys, na Coréia do Sul, o primeiro lugar a relatar a contaminação. Mas as coisas não vão bem e Lane acaba tendo que se deslocar em busca de pistas sobre a “doença” para Jerusalém e, depois, para um laboratório da OMS na Escócia. Conforme o tempo vai passando a infecção parece mais incontrolável e o destino da humanidade pode ser a extinção absoluta. Lane precisa se equilibrar entre o dever de tentar ajudar toda a humanidade e seu “egoísmo” de pai e marido que deseja a todo custo rever e proteger sua família.
O interessante das ficções científicas em um futuro próximo é que eu consigo me envolver com maior facilidade na trama. Guerra Mundial Z começa intimista, com uma cena de família feliz no interior de uma casa, para se desdobrar em uma desesperada seqüência de salve-se quem puder muito bem construída. Toda a tensão de não saber o que está acontecendo até que os monstros, os zumbis aparecessem, foi muito bem arranjada. E, assim, o filme se equilibra em seu primeiro ato, construindo de forma vigorosa a personalidade do herói e oscilando entre o intimista – ele é um homem de família – e mundo que enlouquece ao seu redor o empurra para a ação. Há cenas fracas, claro, como a recusa do herói em cooperar e se integrar à missão. Tola mesmo, porque nenhuma autoridade salvaria um sujeito e sua família a troco de nada. Infelizmente, em nenhum momento fica claro qual a natureza real do trabalho que Lane desempenhava para a ONU. Que tipo de investigações ele fazia?
Um dos destaques do filme são os efeitos especiais e o mais interessante de todos é a avalanche dos zumbis. Sinceramente, nada que justificasse o 3D, mas foi algo bem imaginativo. O grande destaque é a tomada de Jerusalém, para mim, seqüência ápice do filme, porque começa a dar pistas ao herói de como ele pode responder à ameaça zumbi. Ali, naquele momento, é possível ver que o solta farpinhas conscientes contra os religiosos; primeiro, eles negaram as mudanças climáticas e os sinais que a natureza dava de que alguma coisa ia mal; depois, em Jerusalém, eles acabaram sendo responsáveis, ainda que de forma inocente, pela invasão dos zumbis.
Em nenhum momento os contaminados são apresentados como mortos-vivos. Meu marido discorda de mim, mas o fato é que a idéia do vírus, da doença atravessa toda a história. Para mim, são humanos doentes e não há nada de sobrenatural envolvido. Obviamente, ninguém se preocupa em explicar direitinho qual a natureza da doença, a razão dos “super poderes” das criaturas, ainda que estabeleça bem, para poder oferecer uma saída, suas limitações. Era um filme que pedia a morte do herói, seu sacrifício, mas prevaleceu a necessidade de restaurar a ordem e a felicidade familiar. Considero isso uma falta de coragem que tirou alguns pontinhos do filme.
Outra coisa que diminui o filme aos meus olhos, ainda que se justifique dentro da construção da história, é a escolha da família margarina como ponto de segurança. A esposa, que não sabemos se é “do lar” ou algo mais, as filhinhas, e o menino hispânico que é incorporado. Aliás, quando Lane parte para a missão, colocam em sua boca aquela fala machista típica: ele recomenda que o garoto agregado proteja as mulheres da família, porque ele seria “o homem da casa”. A situação da família é precária, mas a posição de autoridade real deveria ser da esposa, afinal, ela é a adulta do núcleo familiar, mas é mulher... O filme cumpre a Bechdel Rule, mas a forma como as mulheres são apresentadas é pouco satisfatória.
Ainda assim, é uma mulher, uma militar israelense, Segen (Daniella Kertesz), que aparece como a personagem de força do filme. Escalada para proteger Lane em Jerusalém, ela o acompanha até o final do filme. Se não fosse ela, os militares também seriam um fiasco total. Nunca vi SEALs tão incompetentes quanto os de Guerra Mundial Z, fora, claro, que o grupo que vai com Lane e o cientista é ridiculamente pequeno. O cientista, que não fala coisa com coisa, é destroçado em poucos minutos...
No fim das contas, a mensagem de Guerra Mundial Z é de esperança. Nada muito empolgante, mas o apocalipse não parece ser definitivo. Como meu marido está lendo o livro, sei que tudo é muito diferente na obra de Max Brooks, acredito que o próprio Lane nem exista no livro... Guerra Mundial Z, o livro, é muito eficiente em construir a tensão e o mistério, o autor viaja muito mais pelo mundo em suas páginas, mostrando formas diferentes utilizadas para combater a epidemia, o ritmo plural da infecção, e, até o terço final da história, a personagem de Lane não deu as caras. Possivelmente, nem existe. O filme, na verdade, pega as idéias gerais do livro, sendo livremente baseado no mesmo, por assim dizer.
Enfim, Guerra Mundial Z é um filme interessante. Bem dirigido, com bons efeitos (*e dispensa o 3D*), elenco afinado, tensão na medida certa. Talvez, tenham se demorado demais no primeiro terço do filme, ou ele deveria ser um pouquinho mais longo, mas, ainda assim, nada que prejudique a compreensão. Poderia ter um final mais drástico, mas isso não é lá muito comum hoje. Mesmo para quem não gosta de zumbis ou tem particular admiração por Brad Pitt, como eu.
3 pessoas comentaram:
Pelo que eu lembre, Valéria, todo o último terço do filme foi refilmado a mando de Brad Pitt. Ele era produtor do filme e não ficou satisfeito com o fim, que era um tanto mais sombrio e desesperançoso. Parece que as exibições-beta também não empolgaram.
Enfim, ótima resenha. A Mireille Einos está ótima em The Killing, série que foi salva do cancelamento. Reomendo
Eu gostei bastante do filme. Mas achei que acaba do nada. Ele deixa a sensação de que faltou alguma coisa.
O Brad Pitt está muito bom no papel, mas principalmente porque não precisamos tentar enquadrá-lo no personagem. Como você disse, é assim que nós imaginamos que ele seja na vida real: família em primeiro lugar, fazendo o que tem que ser feito.
Gostei muito de terem deixado a personagem da Segen até o final, e que ela continuou forte, mesmo com uns probleminhas técnicos.
A ideia da horda de zumbi em ondas/montanhas foi bem inovadora. E o 3D é totalmente dispensável. Infelizmente, não consegui salas em 2D. Hoje em dia está difícil. O olho dos cinemas cresce no preço do bilhete.
Eu fiquei surpresa positivamente com o filme, especialmente porque eu também não curto muito zumbis :). Foi uma ótima review.
Eu li alguns boatos sobre o final original e apesar de ser mais sombrio, achei que ia ficar muita história para pouco filme. Aparentemente, o avião cairia na Rússia e o Brad Pitt seria convocado pra fazer parte do exército russo contra os zumbis. Enquanto isso, sua esposa seria mandada pra fora do navio e iria para uma free zone nos EUA, mas para ficar lá com as crianças ela pagaria favores sexuais para um soldado. O fim do filme seria o Pitt recuperando o telefone, falando com a esposa e depois de uma batalha, pegando um navio para voltar para os EUA e lutar por lá também.
O livro é realmente muito mais interessante, principalmente por não depender de uma pessoa só para salvar o mundo e ter um final mais realista.
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