Ontem, assisti ao esperado Star Trek – Além da Escuridão (Star Trek Into Darkness). Bem, começo dizendo que não posso escrever nessa resenha tudo o que eu queria, pois, se fizer isso, estrago a diversão de muita gente. Também confesso que por mais que minha condição de trekker tenha desencadeado forte emoção durante os créditos finais, o filme tem muitos furos e problemas. Prefiro o primeiro. Isso, claro, não o compromete como diversão, mas o enfraquece como Jornada nas Estrelas.
O filme começa com uma seqüência carregada de ação na qual a tripulação da Enterprise deve impedir que uma erupção vulcânica destrua toda a civilização de um determinado planeta. Spock (Zachary Quinto) arrisca sua vida para neutralizar o vulcão e o Capitão Kirk (Chris Pine) decide desobedecer a Diretriz Primeira (*não intervir no desenvolvimento de outras civilizações menos avançadas*) para salvar seu primeiro-oficial. De volta à Terra, o relatório de Spock faz com que Kirk perca seu comando e o vulcano seja transferido. A “amizade” entre os dois fica abalada, mas eles se vêem juntos na Enterprise outra vez quando, depois de uma série de atentados, eles são comissionados pelo Almirante Marcus (Peter Weller) para caçar e matar o misterioso terrorista de nome John Harrison (Benedict Cumberbatch) que se escondeu em um planeta dentro dos domínios do Império Klingon. No entanto, o que a tripulação da Enterprise termina por descobrir é que nem Harrison, nem Marcus, são o que parecem ser.
Depois de uma longa espera e de pouquíssimas informações sobre o roteiro, o filme saiu. Não foi uma decepção, mas ficou aquém do primeiro já que em muitos momentos o desenvolvimento da história foi atrapalhado pelo excesso de longas cenas de ação. Fora isso, a quantidade de inconsistências beirou o absurdo. E nem estou falando em questões científicas somente, mas nas incoerências em relação ao universo de Jornada nas Estrelas. Aliás, a seqüência de abertura inteira foi um exagero nesse aspecto.
Em primeiro lugar, se a Enterprise não quer ser vista, o melhor o lugar é o espaço. Além disso, nenhuma nave estelar da Federação era capaz de submergir. Sabe quando nada faz sentido? Pois é. Depois da abertura, fiquei com medo. E houve outras seqüências de ação problemáticas. Acredito que a mais longa, desnecessária e sem sentido delas aquela em que o vilão e Kirk tentam passar da Enterprise para a nave do Almirante Marcus. Qualquer um optaria por um pod ou uma nave auxiliar. O vôo livre entre os destroços não foi emocionante, foi absurdo. Nem comento a facilidade com a qual Scotty entrou na base ultra-ultra-ultra secreta, porque seria esculacho.
Outra coisa deveras irritante foi o destaque equivocado dado ao casal Spock e Uhura (Zoe Saldana). Ambas as personagens são simpáticas e a Uhura dos filmes é interessante e rica, só que colocar até uma DR (Discussão de Relação) entre os dois, na frente do Kirk, e durante uma missão foi DEMAIS. Ambas as personagens são profissionais capacitadas, Spock tem a disciplina vulcana, e, bem, aquilo simplesmente não aconteceria. Apesar de possibilitar a Spock explicar sua relação com os sentimentos e a sua opção por neutralizá-los, a cena inteira, Uhura fazendo beicinho, o constrangimento, terminaram depreciando o que poderia ser muito legal se fosse uma cena só dos dois. E repito: eu gosto dos dois juntos, gosto MESMO!
O mesmo absurdo vale para a comentada e criticada cena de fanservice da Dr.ª Marcus (Alice Eve), que troca de roupa sem motivo aparente, na frente (*ou nas costas*) do Capitão Kirk... Assim, não precisava e não adianta roteirista vir se desculpar, porque colocaram a cena inútil simplesmente para explorar o belo corpo da moça. Como a Dr.ª Marcus tem uma história com Kirk, se houver outro filme, ela volta, e com possibilidades de aparecer com pouca roupa outra vez. E seguindo no embalo, o filme não cumpre a Bechdel Rule.
Falando no resto da tripulação, acredito que o destaque fique com Simon Pegg, que pode desenvolver bem o seu Scotty, coisa que no primeiro filme ficou comprometida. Ele não é como o original, mas trata-se de uma sólida releitura. Algumas boas cenas dependeram dele. John Cho também continuou bem como Sulu. Trata-se de uma versão mais enfezada que o original, mas nem por isso menos interessante. Já Karl Urban não conseguiu ainda me convencer como Leonard McCoy. O foco é em Kirk e Spock e Urban me parece de todos os atores da nova tripulação aquele que menos a vontade parece para recriar a personagem original. Não consigo ver personalidade própria no seu McCoy, só uma tentativa de imitar DeForest Kelley,o inesquecível Dr. McCoy como se tivesse medo de errar. E o menino que faz o Chekov, Anton Yelchin, pouco teve a mostrar. Não evoluiu, não fez nada demais.
Zachary Quinto continua sendo o destaque na tripulação. Para mim, é impossível não gostar do seu Spock, mesmo quando por conta de um roteiro deficiente, a personagem saia um pouco da linha. E, de novo, houve diálogo dele com o Spock original de Leonard Nimoy. Poderiam ter deixado Nimoy de fora do filme, o novo Spock poderia ter feito como o original na série clássica e descoberto o passado do vilão, mas quem se importa? Eu não sabia que Leonard Nimoy estava no filme e fiquei contente em vê-lo no seu velho papel. E só para não variar, o ator mais fraco do filme faz James T. Kirk. Desculpem os fãs do moço, mas Chris Pine…
E chegamos ao vilão, motivo do grande segredo feito por J. J. Abrams. Benedict Cumberbatch só não rouba o filme para ele, porque, bem, tem o Zachary Quinto e os realizadores do filme deram muito mais espaço às cenas de ação do que deveriam. Enfim, Cumberbatch dá vida a um dos grandes vilões de Jornada nas Estrelas. Sim, o mesmo interpretado por Ricardo Montalban. A diferença em relação à série clássica é que não vemos o acordar do vilão, seu lado cavalheiresco e sedutor, quando o encontramos já se trata do super-homem – já que foi geneticamente alterado – sedento de vingança, capaz de tudo para levar adiante a sua agenda e recuperar a sua tripulação. O alvo é o Almirante Marcus, que, na minha opinião, era muito mais vilão do filme que a personagem de Cumberbatch, só que quem acaba desnecessariamente queimado é o Capitão Pike (Bruce Greenwood), queimando toda a possibilidade de retorno em um possível próximo filme.
A película opera muito bem a analogia entre Harrison e Kirk, ambos comandantes que se preocupam com suas tripulações. Kirk termina finalmente se tornando um capitão melhor, um comandante mais responsável, compreendendo e sentindo de forma mais completa o que é a filosofia da Frota Estelar. Obviamente, o ator mais competente se destacaria mais e seria ainda melhor se suas cenas fossem mais bem elaboradas. Harrison merecia o mesmo final que a personagem original teve em Semente do Espaço (Space Seed), mas acabaram criando um final anticlimático e injusto para ele. Eu não acredito em Cumberbatch voltando para a personagem em um futuro filme, então, seria mais inteligente dar-lhe um desfecho mais digno. Um final que uma personagem tão grandiosa e finamente reinterpretada mereceria.
Eu estou evitando spoilers, mas é preciso dizer que o que acaba dificultando um melhor fechamento da história do vilão é que eles tentam usara tanto o episódio da série clássica, quanto uma releitura do segundo (*e melhor*) filme de Jornada no cinema, A Ira de Khan. Algumas escolhas foram muito boas, possibilitando um crescimento tanto da personagem de Kirk – absolutamente intragável no início do filme – quanto de Spock. O problema é que criou-se um clímax antes do final e terminamos de forma morna a trama principal. Falando em Spock, não consegui perceber os acordes da música do episódio Tempo de Loucura (Amok Time) durante o confronto com Khan.
De resto, tenho críticas a fazer a certos aspectos visuais do filme, na verdade, a uma confusão da identidade visual de Jornada nas Estrelas com a de Guerra nas Estrelas. Não vejo problema em J. J. Abrams ser o responsável pelas duas franquias, desde que as duas coisas não se confundam. Mas ejam só, a navezinha que Kirk, Uhura e Spock usam para entrar no planeta Klingon lembrou muito a Millenium Falcon. Aliás, toda a seqüência de perseguição e fuga lembrou Guerra nas Estrelas. Outra coisa que pareceu chupada da outra franquia foram os uniformes cinzentos usados em terra pelos membros da Frota Estelar. Sei que há uniformes mais escuros em Jornada, especialmente os dos últimos filmes da Nova Geração e os de séries como Deepe Space Nine, no entanto, os uniformes deste filme estavam muito mais próximos dos usados no Império e em nada pareciam com qualquer coisa do universo de Jornada nas Estrelas. Outra questão técnica: o 3D é dispensável. O filme fica mais escuro e a nova tecnologia não enriquece tanto o filme quanto poderia. Assim como no caso do Grande Gatsby, não há alternativa, é 3D ou 3D.
Para concluir, continuo insistindo que por melhor que Benedict Cumberbatch seja, ele não tem o tipo física para interpretar o vilão que lhe deram. Nos EUA há quem esteja protestando e gritando racismo. Não sei se eu chegaria a tanto, mas preferiria ver um ator com um tipo étnico mais próximo da idéia da personagem original, ou do próprio Ricardo Montalban. O vilão não poderia ser branco, ainda que ver o Benny em cena e ouvir a sua linda voz me dêem muito prazer. De resto, foi linda a seqüência final, evocando a nostalgia da série clássica, Kirk falando o “audaciosamente indo” e a releitura da música do seriado. Meu coração trekker vibrou e meus olhos quase marejaram. Se o filme fosse um tiquinho melhor, com um final mais digno para o vilão, acho que chorava. Vale a pena assistir? Se você é fã de Jornada, pode ter tantas críticas ou mais que as minhas, mas sabe que vale. Se não é, pelo menos vai assistir um filme de ação acima da média e plenamente compreensível, ainda que longe de ser espetacular.
2 pessoas comentaram:
Sou fã de Jornada nas Estrelas, mas confesso que não gostei do filme. Primeiro que há muitas incoerências, e segundo, o romance odioso entre Spock e Uhura ou devo dizer "Chatura" (no primeiro filme ela estava mal educada e neste último, chatinha demais). Logicamente o filme não tem nada a ver com A Ira de Khan e talvez um pouco do episódio da série clássica cujo título eu não me recordo. Quem sabe no futuro filme. Mas acho melhor dar um tempo para o Khan e focar mais na rivalidade de Kirk e os Klingons no próximo Star Trek.
Eu não sou um fã de jornada das estrelas, afinal, não vi quase nada, mas sou fã desses novos filmes. Eu no começo tava achando a trama apenas legal, mas do meio pro final eu já estava muito vidrado no filme! E por favor gente, não posso afirmar se achei esse filme melhor que o primeiro, mas tiveram cenas bem mais emocionantes! Shippei Spock e Kirk até dizer chega! Lindos! Lindos! hahahahahahaa
O que eu achei estranho foram as personagens respirarem na maioria dos planeta que elas iam. Todos esses planetas tinham oxigênio?
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