Hoje finalmente concluí a leitura do volume #15 de Black Bird. Minha edição, a da VIZ, chegou com atraso e o volume da Panini até chegou antes nas bancas. Havia, também, a vontade de esticar um volume que, no geral, foi um dos melhores da série até agora. Kanoko Sakurakouji começou a preparar o clímax da história neste volume, aliás, para quem não lembra, a série fechou em dezembro passado. O volume #15 equilibra quase tudo muito bem, temos drama, romance, humor e até algumas discussões de gênero muito importantes. Não vou evitar spoilers, aviso logo, afinal, se você está lendo a resenha do volume #15, deve acompanhar o mangá.
Ainda no volume passado, Misao começara a manifestar grande poder e terminamos por descobrir que ela está grávida. Há, também, a discussão sobre o futuro da moça. Ir para a faculdade? Qual curso? Mesmo Kyo parece desejar que ela prossiga. Misao sente-se culpada por desejar algo simples: casar com o rapaz. A gravidez precipita as coisas e, ao chegarmos no último capítulo, é revelado, depois de um ataque dos remanescentes do clã Nue, qual será o destino trágico da Senka Maiden: ser exaurida pelo bebê que carrega no ventre. Eu já desconfiava de algo assim faz muito tempo, afinal, Sakurakouji termina por optar pelo óbvio, mas, ainda assim, o que conta é como o drama será conduzido daqui para frente.
O volume #15 traz algumas discussões interessantes, ainda que só superficialmente desenvolvidas, afinal, é Black Bird e eu não posso sair exigindo muito. Misao não tem uma grande evolução como personagem desde o terceiro volume, eu acredito. Ela é a heroína mediana, sem grandes aspirações na vida a não ser estar com o sujeito que ama. Não é burra, mas não se mostra particularmente empolgada com os estudos. Nesse volume, ela é questionada por Kyo sobre seu futuro profissional. Isso é até engraçado, porque, bem, como Senka Maiden, ela não tem muito “futuro”, por assim dizer. Talvez, a mensagem que a autora queira passar para as leitoras é que um namorado cuidadoso sempre se preocupa em perguntar sobre as aspirações profissionais da mulher que ama e estimulá-la neste quesito. Será que foi assim que as japonesas leram? De qualquer forma, mesmo antes de saber da gravidez de Misao, ele se mostra particularmente paciente e carinhoso com a menina neste volume.
O retorno de Renko, a moça humana mais velha e que mora com Tadanobu, um youkai amigo de Kyo, é interessante, também. É ela e, não, Mana e Kana, que retornam artificialmente neste volume, a verdadeira amiga de Misao. É com ela que a protagonista se abre e tem coragem de discutir seu futuro. Na verdade, Misao é uma criatura doméstica, seus horizontes profissionais só se estendiam até a possibilidade de ser professora de jardim de infância. Renko – estudante universitária que deseja seguir como pesquisadora em sua área – explica para Misao que meninas de idade dela muitas vezes não sabem ainda o que querem ser no futuro. Eu, que leciono para meninos e meninas do 3º Ano, concordo. Adolescentes são pressionados e escolher cada vez mais cedo e há muito terrorismo em torno da questão do vestibular e da carreira a seguir. No Japão, especialmente se você quer ir para uma universidade top, a coisa é ainda pior. Claro, que ninguém esperava de Misao algo como a Toudai, e ela mesma se pergunta se ser esposa e mãe não seria suficiente. Por outro lado, sendo a Senka Maiden, esposa de um youkai líder de clã, ela já teria muito trabalho a fazer.
O que quero dizer é que por mais importante que a discussão seja para as leitoras, a protagonista em si não tem lá muita escolha. É como quando se levanta a questão do aborto. Misao está grávida e Kyo lhe pergunta claramente se ela deseja ter a criança. Nenhum leitor de Black Bird poderia ter dúvidas por um momento sequer de qual seria a resposta da menina, mas trazer a discussão é importante. Kyo quer a criança, mas é Misao que está grávida. A autora é muito madura ao pontuar isso. Há a discussão dos métodos contraceptivos, também. Em nenhum momento se sugere qualquer cuidado da parte dos dois, no entanto, Kyo diz que sempre tomou cuidado. Isso significa o quê? Camisinha? Seria interessante ter mostrado a questão em algum momento. De qualquer forma, o tal descuido ocorreu no dia da morte de Sho, quando ambos estavam muito tristes... Aposto que o youkaizinho na barriga de Misao é Sho reencarnado. Não pego spoilers do futuro da história, mas é outra escolha óbvia.
Quando eles vão contar aos pais da menina, de novo, temos a questão levantada pela mãe da protagonista: Misao é jovem, está no colegial e é um peso muito grande para ela. Os responsáveis são parte da discussão sobre uma gravidez precoce, especialmente, quando se trata de uma menor, e foi muito bom ver essa cena em Black Bird. Aliás, é o ciumentíssimo pai da menina que define a discussão e Kyo se comporta da forma mais polida e madura possível. Foi uma bela seqüência, aliás, é um volume com várias cenas interessantes.
Misao terá que deixar a escola. Em nenhum momento é levantada a possibilidade dela continuar a freqüentá-la durante a gravidez. Não sei como é no Japão, mas aqui, no Brasil, a adolescente grávida tem o direito de continuar indo às aulas. É lei. Tem também direito a um programa especial de estudos quando tiver que entrar em licença. De qualquer forma, Misao percebe a escola como lugar de socialização – algo bem japonês, aliás – mais do que um lugar de estudos. Curiosamente, até pela natureza da história, a escola em si nunca foi um espaço bem trabalhado na trama. Daí, Mana e Kana, as amigas de colégio, serem personagens que praticamente não dão as caras e ficou meio absurda toda a importância que a autora deu a elas na conversa que tiveram com Kyo. Misao não tem amigas ou amigos humanos no mangá, observem. Talvez, sua natureza – ela atraia youkai – a isolasse, mas o fato é que a interação dela com humanos da sua idade nunca esteve em pauta em Black Bird.
De resto, o volume prima por alguns belos quadros e cenas muito bem desenhadas. O traço da autora amadurece a cada volume e se torna mais interessante, dinâmico e bonito. O humor também está presente em vários momentos, e o meu favorito foi a choradeira do seríssimo Sagami quando descobre que Misao está grávida. Ninguém chama a atenção, ou comenta, mas enquanto os outros dai tengu comemoram, sorriem, Sagami está lá no cantinho chorando aos montes. :)
1 pessoas comentaram:
eu também tinha CERTEZA desde o começo que o risco para a vida da senka seria quando ela engravidasse! Se não não faria o menor sentido toda aquela bobagem no começo de que sexo seria mortal e eles ficarem juntos diversas vezes e não acontecesse nada...
Ainda não peguei meu volume 15 pra ler, mas fico muito surpresa que a Kanoko tenha abordado tantas questões importantes e falado da gravidez adolescente com tanta maturidade (estou passada com a menção do aborto, achei demais)! Independentemente da resposta da protagonista, concordo com você que apenas levantar essas questões seja extremamente importante! Não esperava ver nada levado muito a sério em Black Bird, na verdade...
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