sábado, 9 de fevereiro de 2013

As imposições de Gênero nos lugares mais insuspeitos...



Esta semana, no meu aniversário, para ser mais precisa, eu passei pela Livraria Leitura e me deparei com este lindo globo escolar.  Bonito, não é?  Mas veja que globo “cor de rosa” é um convite para as meninas – e é para elas, claro – e uma mensagem para que os garotos não toquem, não se aproximem.  Se não houvesse nenhum interesse comercial em perpetuar essa segregação entre coisas de menina – quase universalmente rosa ou lilás – teríamos belos globos com a água dourada, preta, verde, etc. Isso seria democrático e criativo.  Mas, não, agora estamos bem convencidos que há globos azuis, que podem ser dados para meninas, óbvio, já que desde muito tempo eles são assim mesmo, e os cor de rosa, para as nossas princesas.  E se um menino quiser um globo rosa, vocês já sabem...  


Aliás, essa política de gênero nos brinquedos codificada pela cor criou um campo demarcado nas lojas brinquedos, apesar de novidade nas livrarias e papelarias, o “lado” das meninas.   Porque, vejam bem, porque apesar de termos também “o lado” dos meninos, o rosa e o lilás são vetados para eles.   Já o lado dos meninos é multicolorido, com as duas citadas interdições, e respira atividade e, sim, agressividade.  Meninas podem freqüentá-lo sem se comprometerem muito, são os meninos que não podem freqüentar sem medo o canto das princesas, ou terão sua orientação sexual posta sob suspeita.  Gostar de coisas de menina, inferioriza qualquer garoto.  Já do lado das meninas, quando passamos das Barbies, Monster High, e outras semelhantes, temos os muitos bebês, a maioria estáticos, mas capazes os mais sinistros de fazer cocô e xixi. Coisa legal deve ser treinar isso desde cedo... Adestramento é tudo na vida... Também é surpreendente a quantidade de tranqueiras domésticas – em rosa e lilás, predominantemente – e com o selo das princesas da Disney e da milionária Penélope Charmosa.  


Milionárias e princesas limpam chão, cozinham e, sim, tem caixas registradoras, porque fora da área doméstica, oferecem às meninas três opções de carreira: serviços gerais, caixa de supermercado ou maquiadora/cabeleireira.  Esta última é uma profissão que pode ser fruto da escolha, agora, caixa de supermercado ou faxineira ninguém escolhe como carreira, são trabalhos dignos, mas ocupação para quem não pode escolher, para quem jogou oportunidades fora, ou para quem precisa de um emprego enquanto estuda para conseguir algo melhor.  Curiosamente, não se oferece aos meninos nenhum emprego que seja tão humilde, por assim dizer, como kit cobrador de ônibus ou servente de pedreiro, ou serviços gerais para meninos, afinal, muitos homens são faxineiros e garis, também.  Enfim, podem procurar. Domesticidade e trabalhos (vitos como) subalternos são coisa de mulher. Imagina, mandar uma mensagem dessas para um menino? Vamos dar armas, carros, aviões, kits de pequenos cientistas ou engenheiros.


Enfim, tudo isso começou com o lindinho globo cor de rosa, mas hoje eu me deparei com o retrato aí embaixo, “Lydia Elizabeth Hoare (1786–1856), Lady Acland, com seus dois filhos, Thomas (1809–1898) e Arthur (1811–1857) de Thomas Lawrence”.  Quem olhasse sem legenda imaginaria “suas duas filhas”, mas roupas e cores são convenções de gênero, construções, imposições.  


No mais, recomendo o comercial da discórdia da Gilette que virou motivo de grita geral (*veja o post da Lola*), porque, bem, trata os homens como se fossem mulheres e tenta vender um modelo de beleza depilada como algo fundamental.  Que pelos femininos são sujos, a propaganda já mostrou repetidamente, agora, o modelo antes restrito à atletas de certas modalidades, modelos e go go boys, quer se tornar hegemônico.   E por que os homens precisam se depilar?  Para poderem ter uma chance com uma das “gostosas” do vídeo.  Infame, cruel, mas não vou dizer que eu fiquei com pena dos machões revoltados.  Seria bom, mas estou exigindo demais, que isso levasse a alguma reflexão.  E só trazendo para o pessoal, homens depilados são brochantes para mim.  Mas deve ser opção depilar, ou não, e isso nada tem a ver com limpeza ou sujeira, ainda mais com natureza, deveria ter a ver com escolha.

8 pessoas comentaram:

Esse texto me lembrou das atitudes da minha mãe quando eu era pequena. Ela detestava que eu brincasse de casinha porque achava que isso poderia me deixar acomodada, com o pensamento de que eu seria uma "simples" dona de casa esperando o marido vir do trabalho (nada contra, mas ela queria que eu fosse para a universidade e coisa e tal). Ai ela sempre comprava brinquedos diferentes das outras meninas pra mim. Kits de médico, legos e jogos de montar, quebra cabeças, video games e aqueles "computadores" de matemática, bolas de futebol e vôlei e coisas do tipo.

Meu vô uma vez me deu uma casa inteira da Barbie toda cor-de-rosa e branco e ela, incomodada comigo brincando só de casinha, não só pintou os móveis (e me deixou escolher cores, com direito a um quarto feminino azul haha) como comprou um monte de coisas para deixar as barbies diferentes, como edições especiais de barbie advogada, médica, empresária e coisa e tal. Até as roupas ela mudou e acabou com a história de princesas indefesas.
Bebês eu tive também, mas eles sempre tinham alguma babá que não era eu e ficavam em casa enquanto eu fingia trabalhar em alguma coisa hauhauauhuahua

Eu acho em parte que isso foi frescura dela, mas não sei se seria uma pessoa diferente se ela tivesse me deixado brincar igual a todas as outras meninas. As minhas amigas de infância que brincavam de coisas "normais de meninas" estão todas com filhos, pararam de estudar ao terminar o ensino médio e estão "casadas" com os namorados.

Sempre imaginei que diferença de cor e comportamento eram imposições sociais, mas muitos eram contra essa minha idéia falando da preferência inata de garotas pelo rosa (por ser mais feminino).

Descobri faz pouco tempo (você deve saber disso) que até o início do século 20 (mais especificamente por volta de 1940) o rosa era atribuído para os meninos e o azul para as meninas. A idéia era de que o rosa é uma cor mais forte e decisiva e o azul é uma cor mais delicada e bonita (além da alusão à virgem maria).
Existem várias referências inclusive em 1927 a da princesa belga Astrid, que se recusava à dar a luz à uma garota pq o berço tinha sido pintado de rosa, cor de meninos.

Tem também a história de que toda criança em inglês era chamada de Girl, sendo Navy Girl and Gay Girl a distinção para masculino e feminino. E Boy usado só para chamar garçom ou outro serviçal.

Existe aqui esse video ( http://youtu.be/2f7urmRaRxY?t=2m11s) mas vc tem q saber inglês (britânico xD) e um link do smithsonian http://www.smithsonianmag.com/arts-culture/When-Did-Girls-Start-Wearing-Pink.html

Bem, interessante como criamos um tema e com o passar dos anos esse tema vira regra.

Jhon, preferência inata por cores é uma das maiores balelas da psicologia evolutiva.

E, sim, já conhecia essa história de cores. :)

Nathália, não vejo com bons olhos essa coisa de impôr brinquedos X ou Y as crianças, nem para abrir horizontes nem para fechá-los. Já vi menina apanhar, porque chutou uma bola, por exemplo. Já vi menino ser ridicularizado por brincar de boneca com amigas e irmãs.

O ideal seria deixar as crianças escolherem. Nesse aspecto, minha mãe foi muito sábia. E, claro, não havia, naquela época, ditadura das cores.

Ainda bem que eu não fui criada desse jeito... Sim, tive minhas bonecas, mas gostava mesmo era de ganhar livros, lápis de cor, canetinhas e jogos para meu SNES e depois PS1 <3

E isso fez MUITA diferença, acabei ficando meio deslocada das outras meninas lá pelo início da adolescência, já que eu não pensava muito em meninos e maquiagem na época. Mesmo assim, ainda acho que minha família fez o certo.

Como alguém que teve uma educação muito rígida, minha mãe decidiu que eu deveria escolher os meus brinquedos e como brincar. Resultado: bolas de futebol, bicicletas, bichinhos de pelúcia e um SNES foram meus companheiros de infância. Além dos joelhos ralados, claro.

A imposição vinha de fora, quando eu ganhava maquininhas de costura e barbies no aniversário, além de ser criticada por adultos (sempre eles!) por não gostar de bonecas-bebê e roupas fru-frus.

Eu fico incomodada com essas imposições de gênero, que sempre existiram mas que hoje em dia é ampliada pela mídia e abraçada pelo comércio. Meia hora no Disney Channel é suficiente para notar o tamanho da coisa.

Eu amo cor de rosa, mas esse globo terrestre dessa cor eu achei meio ridículo, uma vez que a gente sabe que a parte azul sempre foi azul pra representar os oceanos e não uma mera opção caprichosa pra ser 'coisa de menino'. Se eu fosse criança e visse isso,ia pensar que era uma representação de algum outro planeta, talvez Marte, que dizem ser vermelho.

Cada vez eu acho mais absurda essa divisão dos brinquedos, das cores, dos comportamentos... eu cresci brincando com a molecada na rua, a gente brincava muito de Comandos em Ação (as vezes eu era a Scarlet, outras a Baronesa). Minha mãe me dava os brinquedos que eu pedia, tanto fazia se era a Barbie ou o Thundertank. Meus bonecos preferidos foram os ThunderCats, que eu tenho até hoje todos surrados, provas vivas de minha infância 'moleca'. A vida era difícil, eu ficava doente fácil, então minha mãe achou por bem não dificultar ainda mais, me criou bem livre. Só tenho a agradecer!

Infelizmente é assim, Isso me lembrou um comercial de brinquedos para as meninas, muito perfeito, onde brinca com esses cliches femininos ...

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/12/comercial-derruba-mito-de-que-meninas-sao-princesas.html

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