Hoje, 28 de janeiro, um dos romances mais importantes da história da Literatura completa 200 anos de sua publicação. Orgulho & Preconceito (Pride & Prejudice), de Jane Austen, é o romance mais popular em língua inglesa, um dos mais homenageados e citados por outros autores e autoras, adaptados para as mais diversas mídias. Falar em Orgulho & Preconceito é evocar gerações de leitoras (principalmente) e leitores que acompanharam com curiosidade e emoção o romance entre Elizabeth Bennet e Mr. Darcy através de afiados diálogos; as indiscrições e armações a Sr.ª Bennet para ver todas as suas filhas bem casadas; a sabedoria conformada de Charlotte que acredita que é melhor um casamento qualquer, do que permanecer solteirona e como um estorvo para os seus; e, sim, ninguém consegue escrever sobre o afeto entre irmãs como Austen. Além disso, apesar de nunca ter se casado, como eles eram feitos, e entendia como ninguém os meandros do seu grupo social, as limitações impostas às mulheres de sua classe, o intrincado jogo dos casamentos, os sentimentos que ajudavam a forjar a rede de relacionamentos entre as pessoas.
Em Orgulho & Preconceito, a trama central é construída a partir de um mal entendido, de pré-julgamentos, de avaliações baseadas em pré-conceitos. Conforme as personagens vão se conhecendo, no caso Darcy e Elizabeth, ambos percebem o quanto julgaram mal um ao outro. Ela, por pré-conceitos, ele, por orgulho fruto de uma superioridade econômica. Ambos erram feio, ainda que acabemos simpatizando ou tendo pena de Darcy, não podemos esquecer que ele quase acabou com o relacionamento entre Bingley e Jane. E, por mais que sua carta para Elizabeth ofereça bons motivos, ele não tinha o direito de intervir, ou a competência para avaliar os sentimentos da irmã da protagonista. Já Lizzie, nossa adorável heroína, se deixa enganar pelas aparências, mas ninguém me venha dizer que ela tinha que aceitar Darcy naquele primeiro pedido, não... Ele precisava, sim, aprender a ser um pouquinho mais humilde e, claro, cavalheiro. Além disso, com tão poucas chances de conversarem e, principalmente, nenhuma possibilidade de ficarem sozinhos, como poderiam se entender mais rápido?
Eu poderia escrever sobre Orgulho & Peconceito, adaptações, influências, minha paixão por Mr. Darcy (*ainda que meu favorito seja o Mr. Rochester*), mas queria marcar – apesar da minha seqüência frustrada de posts – que é preciso lembrar dessa obra, pela importância que ela tem para a literatura e para a cultura popular feminina, também. Eu não sei bem quando ouvi falar pela primeira vez de Jane Austen. Há quem ache que faz muito tempo, mas suspeito que travei conhecimento com a obra em 2004/2005. Eu tinha visto a propaganda da versão adaptada de Orgulho & Preconceito na Coleção Elefante da Ediouro, mas, na época, o resumo não me chamou a atenção. Assisti o primeiro Bridget Jones absolutamente inocente das piadas referenciais da obra. Acho que foi Lendo Lolita em Teerã – um livro sobre livros e o prazer de lê-los – que me fez querer ler Orgulho & Preconceito. No livro, a professora coloca Mr. Darcy em julgamento. Daí, veio o filme de 2005 e eu li o livro pela primeira vez.
A graça é que um monte de gente ficou insistindo – e não lembro direito quem das minhas amigas de internet sugeriu primeiro – que eu visse a minissérie da BBC com o Colin Firth, que ele era o Mr. Darcy definitivo. Ele é, pelo menos para mim. E perdi a conta de quantas vezes já assisti e reassisti. E, não, a cena da camisa molhada não é minha favorita. Fui atrás de tudo o que podia relacionado à Orgulho & Preconceito. Queria muito poder assistir a minissérie da BBC de 1967, mas essa deve ter sumido dos arquivos da emissora, ou teriam relançado... Quem sabe este ano? Como ponderei nos dois Shoujocast (*parte 1 & 2*) sobre Orgulho & Preconceito, não tenho dúvida de quem é o melhor Darcy, mas comparando principalmente as versões de 1995 e 1980, tenho dúvidas de quem encarnou melhor Elizabeth Bennet e outras personagens. Mas a produção da minissérie de 1995 é imbatível como um todo. Acho lamentável que tanta gente fique restrita ao filme de 2005, ainda que ache muito válido usá-lo como percurso para chegar à produções melhores ou ao próprio livro.
É isso. Não acredito que Austen tivesse a capacidade de imaginar o quanto o seu livro, inicialmente chamado de Primeiras Impressões (First Impressions), ainda no final do século XVIII, o livro demorou mais de 10 anos para ganhar suas feições definitivas e ser publicado. Austen não foi a primeira novelista inglesa, mas enfrentou todas as dificuldades que uma mulher, especialmente de “boa família”, tinha para desenvolver qualquer atividade economicamente ativa e criativa. Ela foi bem sucedida, teve uma família que lhe apoiou, mas pensem em quantos Orgulho & Preconceito podem não ter sido publicados simplesmente porque, bem, mulheres não eram estimuladas a escrever e encontravam as piores dificuldades para publicar, ainda mais em seu próprio nome. Austen, mesmo, poderia ter produzido muito mais, sua condição de mulher naquela sociedade, foi um obstáculo. Enfim, Jane Austen foi admirável pelas obras que criou, mas não pela sua singularidade como mulher escritora ou pela condescendência dos críticos. Seus livros foram publicados e, mais do que isso, sobreviveram, porque eram bons e por conseguirem, ainda hoje, falar conosco, as leituras. É isso. Queria produzir mais nessa semana de comemorações, mas não sou senhora de todo o meu tempo e minhas condições de produção não eram as melhores. :)
2 pessoas comentaram:
No meu caso, conheci Austen por causa do filme "Razão e Sensibilidade", de 1996(?). Me apaixonei pelo Coronel Brandon, do Alan Rickman, e ,depois disso, passei a procurar as obras da autora.
"Orgulho e preconceito" é um dos livros que mais gosto. Fui ler por pura bisbilhotice, embalada por "Razão e sensibilidade", que havia conhecido através do filme e de uma versão resumida lida anda quando era muito nova, com uns 12 anos.
Gostaria muito de assistir à série da BBC. Você sabe um site confiável onde possa baixá-la?
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