quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Misoginia na TV e na Imprensa Brasileira: o caso Carminha e outros “causos”



Não vou me prolongar muito, mas precisava recomendar um texto e comentar uma “matéria”, se é que merece o nome. A novela Avenida Brasil e sua vilã, Carminha, estão na boca do povo. O talento de Adriana Esteves tem parte no sucesso da personagem, mas, também, a inércia da audiência, incapaz de tirar a TV da Globo. Sim, eu acho Avenida Brasil insuportável – salva-se a Suelen, mas não veria por causa dela – e normalmente aproveito o horário para tirar um cochilo e estar acordada para ver Gabriela.

Bem, desde a semana passada, e eu vi as cenas, ou parte delas, a vilã está sendo desmascarada e acaba sendo fisicamente agredida pelo marido e sua família. Quinze dias antes, ela já tinha sido surrada pelo comparsa, Max. Muito bem, não é de hoje que a Globo sabe que mulheres apanhando em novela ajudam a levantar o IBOPE. Em obras mais recentes, normalmente era “briga de mulher”, com a mocinha surrando a vilã. Mas há casos em que o marido, ou seja lá qual o homem ofendido, se dá ao direito de surrar a "maldita".  É a mesma lógica que sanciona o Cel. Jesuíno a matar a esposa, não se enganem!  É o direito do macho - normalmente ele - de punir a mulher que lhe pertence, ou deveria lhe pertencer, e lhe deve não só o respeito, mas a obediência.  São velhas idéias que animam essas atitudes vistas como justiceiras ou vendidas como tal. Novelas (no Brasil) - e outras mídias - tem caráter pedagógico mais forte do que aquilo que aprendemos na escola. Podem acreditar!


Veja bem, os casos de violência contra mulheres não são poucos neste país. Quando uma obra de ficção de alcance tão grande promove a catarse mostrando uma mulher sendo espancada, está reiterando que tal comportamento é justo e aceitável. É bem diferente da forma como a surra de Malvina – e em 1975 ela apanhou muito mais – no último capítulo de Gabriela, que expõe o autoritarismo das relações familiares, a hipocrisia da sociedade e serve como propulsor da libertação da personagem feminina. Curiosamente, a surra que Nacib dava em Tonico e Gabriela, algo que está no original, foi retirada. Foi uma boa escolha, eu diria, dentre tantas liberdades que o autor já tomou. Enfim, o caso de Carminha se enquadra na Lei Maria da Penha. Nada dá direito a um homem, ou familiar qualquer, de agredir uma mulher. Há outras formas – justas e legais – de punir a vilã. Mas o texto que queria recomendar é o do Leonardo Sakamoto. Ele discute a questão com muita propriedade.

Quanto à mídia, que continua usando termos absurdos como “crime passional” para diminuir o peso do crime cometido por um homem contra sua companheira o ex-companheira (*1 EXEMPLO*), ela não parece refletir sobre essas questões. Quando acontecem os crimes, é como se eles fossem ações motivadas por impulso, ato isolado e individual, sem ligação com uma cultura patriarcal que sanciona e incentiva a violência contra as mulheres. Aliás, para “festejar” a surra de Carminha, o Yahoo listou “As maiores surras da história da TV brasileira”. Todas as surras escolhidas tinham como vítima uma mulher, normalmente, a vilã, e isso justificaria o ato. Todos os autores das tais telenovelas eram homens, salvo algum engano, afinal, tirando Glória Perez, são poucas as mulheres que escrevem novelas e nenhuma delas para o horário nobre desde muito tempo.


Olha, eu lembro quando me aborreci e interpelei minha mãe por conta da novela Mulheres de Areia. Minha mãe estava torcendo para que o marido espancasse a mulher, mãe de Raquel, porque ela acobertava os maus atos da filha. Segundo minha mãe, na época, seria justo e aceitável que o marido, um bom homem, espancasse a megera. Não foi uma conversa fácil, mas minha indignação, se não fez com que ela mudasse de idéia, pelo menos serviu para inibir manifestações futuras semelhantes. Vivemos um momento de backlash, coisa que não estava clara quando do caso que acabei de citar, em que os direitos das mulheres e a nossa cidadania tão frágil e conquistada a tão duras penas por gerações de mulheres – feministas, ou não – estão sob ataque. Quando rimos, vibramos, achamos correto que uma personagem ficcional seja colocada em uma situação de tamanha humilhação e sofra violência, estamos abrindo caminho para que nós mesmas e outras mulheres possam ser agredidas. É preciso abrir o olho, porque há dinheiro envolvido, e não é pouco quando se trata de novela das nove.

6 pessoas comentaram:

Embora eu goste de Avenida Brasil, concordo contigo Val. Quando eu vi a Carminha apanhando em nome da "justiça" pela honra do Tufão, eu fechei a cara na mesma hora. Agressão física raramente será uma forma de justiça. Eu só digo raramente ao invés de nunca porque eu não coloco a mão no fogo por mim em qualquer situação. Procuro sempre não ser leviano, afinal, há vinganças em filmes e séries que envolveram violência e eu adorei. Mas então porque será que não curti com a carminha? Porque nitidamente aquela cena foi feita para encher o povo brasileiro de "orgulho" do "herói" (entenda corno) interpretado pelo Murilo Benício. Repito, gosto da novela. E muito até! Mas essa cena só fez eu me encher é de vergonha.

Sem problema, Pedro. Eu sei que há casos e casos. E, sim, às vezes, a gente gosta, sente uma pequena culpa, mas gosta de uma cena ou situação condenável. Faz parte das contradições humanas.

Você sabe que eu quero que o Berto tenha uma morte horrível, não sabe? ;-)

Não há nada que possamos fazer? Reclamações, protestos virtuais? Pelo menos com relação a imprensa (ridícula) que aprovou tal coisa?

Quão patético é que uma barbaridade dessas só teve repercusão positiva nas grandes mídias? Aff...

Naty, é possível fazer protesto virtual, mandar reclamações para a Globo e até para a Secretaria de Políticas para as Mulheres. No entanto, enquanto houver audiência...

E essa é a mesma emissora que tem a cara de pau de dizer que suas novelas fazem serviço social, que veicula propagandas contra a violência doméstica. No capítulo de ontem, Carminha estava sendo feita refém pelo ex-amante, sob a mira de uma arma, algo que me fez lembrar amargamente dos casos da Eloá e tantos outros que se vê nos jornais por aí. Pior é ver as pessoas - mulheres inclusive - aplaudindo essas cenas.

Também não curtir essas cenas. Desde da semana passada tinha lido que iria acontecer essas coisas e eu, minha irmã e minha mãe ficamos comentando sobre como era errado o que ia acontecer com Carminha.
Tufão arrasta ela pra fora da casa, Monalisa vai atras dela na igreja pra bater ela e depois a mãe de tufão. Ela vai apanhar pro elenco todo agora?

Achei horrível. Tufão devia ter ido pra delegacia e prestado queixa. Pronto ela taria na cadeia e fim da novela.

Acho um mal exemplo danado e ainda fica todo mundo torcendo pra a personagem apanhar mesmo. E um monte de menina. Como se um dia elas também não pudessem trair o marido.

Gosto muito da novela e gosto muito de Carminha, pra falar a verdade. Acho ela corajosa, vencedora. Ela faz as coisas erradas dela e é meio mal caráter mas ela se esforçou pelas coisas que queria.

E o que acho estranho também é Nina ter lutado a novela toda por essa vingança e no final quem fez tudo foi Max.

Eu ainda torço pra Carminha se dar bem no final da trama. Fugir pra europa. Não quero que ela se der mal!=/

ps: amos suellen tambem! ahshuahsa arrasa muuito

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