Passando pelo site Mary Sue, vi que elas estavam comentando uma pesquisa comentada no site The Atlantic. O texto tem o título de “We Benefit From Seeing Strong Women on TV”. Eu decidi traduzir o texto inteiro. Infelizmente, o artigo original "Positive Female Role-Models Eliminate Negative Effects of Sexually Violent Media" não está disponível para download ou, pelo menos, eu não consegui baixar. Trocando em miúdos, foi feito um estudo focado em duas questões violência sexual e o tipo de personagem feminina envolvida na cena. O objetivo era saber quais seriam as reações dos participantes das pesquisas – 150 alunos e alunas de uma universidade do Sul dos EUA. Acho a amostragem muito pequena, mas acredito que os resultados sejam bem coerentes.
A questão interessante é que personagens fortes, como Buffy em uma cena de violência sexual, da qual, provavelmente, ela vai escapar por conta da sua competência ou algo assim, tem um efeito positivo sobre a audiência, mais sobre as mulheres, mas, também, sobre os homens. Enquanto que o mesmo não aconteceria com personagens submissas e o exemplo citado foi o das amantes de Henrique VIII em The Tudors. Agora, o curioso, e que o texto não comenta, é que seriados censura livre, centrados na família, tiveram efeito negativo sobre as mulheres da audiência... Um... De qualquer forma, seriados, novelas, animes, não determinam mudanças, mas são agentes em processos de transformação social. Há vários estudos nesse campo quando o assunto é telenovela brasileira.
De qualquer forma, acredito que personagens femininas fortes – e não acho que ser forte é somente usar uma arma ou encher alguém de pancada – sejam bons exemplos para as meninas e mulheres. É por isso que, mesmo com o fanservice, muitas meninas e mulheres se identifiquem com personagens de seriados shounen. Esse aspecto isolado já é um consolo, especialmente quando personagens femininas fortes em material ocidental são muito escassas. Há inclusive um artigo do site A Feminist Otaku (*que eu procurei e não achei*) que toca na questão: personagens de seriados japoneses são fortes, mesmo quando há fanservice (*até excessivo*) e o mesmo nem sempre acontece nos comics. Isso não justifica o fanservice ou a violência, mas vai de encontro aos resultados da pesquisa. Enfim, segue o texto:
PROBLEMA: Qual é a diferença entre uma cena típica de The Tudors, na qual cortesãs núbeis se permitem ser conquistadas e desumanizadas pelo rei Henrique VIII, e um episódio de Law and Order: SVU, onde a eficiente detetive Olivia Benson chega perigosamente perto de ser estuprada? A última representação de violência sexual é retratada como mais preocupante, sim, mas também há uma discrepância significativa, bem como na maneira como as mulheres são caracterizadas: como passivas e submissas, ao contrário de fortes e independentes. A questão da violência sexual nos meios de comunicação e seus efeitos sobre as atitudes em relação às mulheres são muito discutidas, este estudo centrou-se sobre a interação entre o conteúdo e as personagens.
METODOLOGIA: Cento e cinquenta alunos e alunas de uma universidade do sul dos Estados Unidos participaram exibição de um dos seis programas de televisão que incluíam tanto a sexualidade quanto conteúdo violento dentro das mesmas cenas. The Tudors e o seriado que imita filmes de terror Masters of Horror foram selecionados como exemplos de programas violentos sexualmente e com representações negativas de personagens femininas; SVU e Buffy, a Caça-Vampiros foram retratam a violência sexual, mas são caracterizados como apresentando "modelos" positivos do sexo feminino, e 7th Heaven e Gilmore Girls foram usados como programas que são feitos para entretenimento de toda a família. Após as exibições, os participantes foram inquiridos sobre as suas atitudes em relação às mulheres e foram avaliados quanto a sintomas de depressão e ansiedade.
RESULTADOS: Homens que assistiram seriados sexualmente violentos com personagens femininas submissas relataram atitudes mais negativas sobre as mulheres do que o grupo que assistiu seriados para a toda a família. Este efeito não ocorreu com os homens que assistiram seriados com mulheres poderosas. As mulheres realmente relataram atitudes mais negativas depois de assistirem seriados com censura livre, mas a forma como as personagens femininas foram retratadas não afetou sua forma de pensar. As mulheres que assistiram personagens femininas fracas em situações de violência sexual se tornaram duas vezes mais ansiosas do que as mulheres que assistiram SVU ou Buffy, que por sua vez realmente relataram menos ansiedade do que o grupo que assistiu seriados para toda a família. O inverso ocorreu para os homens, que sentiram menos ansiedade depois de assistir The Tudors ou Masters of Horror. Os participantes relataram níveis semelhantes de prazer para todos os tipos de shows.
CONCLUSÃO: Foi a representação de personagens femininos, e não a violência sexual, por si só, que pareceram influenciar as reações emocionais e atitudes das audiências em relação às mulheres. Personagens femininos positivos eram em alguns aspectos capazes de anular os efeitos de um conteúdo degradante.
IMPLICAÇÕES: Os pesquisadores encontraram evidências mais intensas de que as mulheres responderam positivamente às personagens femininas fortes, enquanto no caso dos homens, a quantidade dos que responderam de forma negativa a esse tipo de personagens foi muito baixo. Eles admitem, "é possível encontrar alguns homens que vejam as mulheres fortes como uma ameaça aos papéis tradicionais de gênero", e especulam que a cultura machista pode ter contribuído para este efeito. Mas, em geral, os homens responderam mais positivamente a seriados com mulheres poderosas. Os pesquisadores sugerem que isso pode ser porque "representações de mulheres despertar estereótipos negativos que alguns homens têm sobre as mulheres, enquanto representações positivas tendem a desafiar esses estereótipos." Outras pesquisas são certamente necessárias, mas este estudo aponta para, pelo menos, um fator novo e potencialmente significativo nos efeitos de sexo e violência na mídia.
O estudo completo, "Positive Female Role-Models Eliminate Negative Effects of Sexually Violent Media," será publicado no Journal of Communication.
1 pessoas comentaram:
Posso dizer por mim mesmo que me faz muito bem ver personagens femininas com força, seja de batalha ou de espírito. Tanto é que minha heroína preferida é a Lisbeth da saga Millennium. Quando eu tiver inspiração, falarei mais sobre ela. Porque isso deve ser feito de forma decente, como ela merece.
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