domingo, 23 de setembro de 2012

Comentando o Último Episódio de Parade's End: "There will be no more parades!"



Terminei de assistir Parade’s End na sexta-feira mesmo. O episódio e as legendas em inglês saíram com grande rapidez. Não revi o episódio de forma integral antes de fazer este texto, só revi algumas cenas. Considerando aquilo que eu já sabia, isto é, que ficaram muito tempo no livro 1 (*Some do not...*) e que, por isso, correriam no final e deixariam o livro 4 de fora, o fechamento da série não ofereceu grandes surpresas. O resultado foi bom, mas um pouco abaixo daquilo que eu esperava. Para que eu estivesse muito feliz, Parade’s End precisaria de, pelo menos, mais um episódio. O último capítulo teve excelentes momentos, verdade, mas deixou a desejar nas cenas envolvendo os coadjuvantes, especialmente, o irmão de Christopher, Mark.

O último capítulo começa com Christopher Tietjens (Benedict Cumberbatch) e outros dois oficiais, o ex-amante de Sylvia, Potty Perowne (Tom Mison), e o mala sem alça do Capitão McKechnie (Patrick Kennedy), são enviados para o front e para uma provável morte. Em casa, Valentine (Adelaide Clemens) finalmente declara para a mãe que ama Tietjens, “Every word Christopher Tietjens and I have ever said to each other, was a declaration of love.” (“Toda palavra que Christopher Tietjens e eu trocamos até agora, foi uma declaração de amor”), e com uma das frases mais bonitas expõe o seu desejo de aceitar uma vida social marcada pela humilhação por ele: "I would gladly ruin myself just to give him one hour of happiness.” (“Eu ficaria feliz em arruinar a minha vida apenas para dar-lhe uma hora de felicidade.”). A Sr.ª Wannop (Miranda Richardson) se opõe e que Tietjens jamais a arrastaria para uma situação como essa, isto é, ser amante ou concubina de um homem casado. Valentine não está disposta a recuar, afinal, a vida é sua e já está mais que na hora de tomar a situação em suas mãos... já que Christopher não iria se mover “para desgraçá-la” mesmo.


Mas Christopher tem que voltar da guerra para que Val possa ter qualquer esperança em relação a ele satisfeita. Submetido a um comandante mentalmente desequilibrado, Tietjens acaba tendo que assumir o comando do batalhão e desempenha bem as funções, mostrando um amadurecimento e humanidade que acabam se equilibrando com as virtudes que ele já possuía, a inteligência e o senso prático. As seqüências de guerra, as trincheiras, são o ponto alto desse capítulo que expõe o quanto a conflito – qualquer conflito – é um desperdício de vidas humanas que se presta a enriquecer algumas pessoas que nunca vão se colocar em situação de risco. A I Guerra, em especial, foi particularmente traumática, pelas suas proporções e por representar uma transição forçada e capenga para um modelo de guerra moderno que ainda não estava definido. Tietjens sobrevive, volta para casa massacrado, ferido, mas como herói.

Enquanto isso, Sylvia (Rebecca Hall) maquina. E foi complicado entender o arranjo que ela fez para que o General Campion fosse transferido para o comando dos exércitos. Preocupação com o marido? Mal ou bem, Campion tem apreço por Tietjens e não quer vê-lo em perigo... Enfim, um dos problemas do episódio é que algumas coisas ficaram muito, muito mal amarradas. Só a leitura do livro – e eu estou caminhando – poderá esclarecer o que realmente era a intenção da personagem. Sylvia é praticamente a mesma, no original e na adaptação. Sylvia também abandona sua castidade forçada e volta a flertar com o seu primeiro amante, o agora General Drake. Este homem foi um dos responsáveis por manchar a folha de serviço de Tietjens, colocando-o sob suspeita de espionagem. Aqui, se não me engano, foi mostrado um método contraceptivo muito usado antes da pílula e muito ineficaz. Prestem atenção em Sylvia no banheiro com uma bombinha.


A mãe de Sylvia e Michael reaparecem. A Sr.ª Satterthwaite (Janet McTeer), mais uma vez, fica do lado do genro e agradece por saber que ele é um homem decente e talvez o único que não iria pedir o divórcio de sua filha. É mostrada, também, a forma cruel com que Sylvia trata o filho, que pela aparência é de Christopher, apesar dos pesares. Aliás, no livro o protagonista termina por dizer que tem certeza disso, e a rejeição de Sylvia em relação à criança é derivada dessa certeza, já que a relação com o marido é de amor e ódio. A única coisa que eu não posso perdoar no protagonista é ele ter largado o menino com Sylvia, baseando-se na crença, não tão “universal” naquele momento, que a mãe é sempre a melhor pessoa para educar uma criança. Não sei como a coisa vai ser tratada no livro, mas o estrago que aquela mulher vai causar na cabeça do menino é algo certo. De resto, e isso não foi ato de Sylvia no livro, até aonde sei, a criatura manda colocar a árvore de Groby abaixo para ferir o marido, quando sabe que ele está de volta a Londres. 

 Foi uma cena muito tocante, triste, quando Christopher volta ao antigo lar e vê a árvore que tanto amava derrubada. Uma das grandes cenas do episódio e da série. É também o momento em que ele finalmente coloca um basta em sua relação com a esposa. Grande desempenho de Rebecca Hall e Benedict Cumberbatch. Como já escrevi antes, odeio Sylvia, mas ela é uma personagem fantástica e Rebecca Hall foi esplendida.


Tietjens, aliás, depois de uma temporada no hospital (*a parte da guerra explica*), passa a morar sozinho em uma casa vazia. O episódio não explica, também, o tamanho do ódio de Edith (Anne-Marie Duff), agora Lady MacMaster, por Christopher, mas é algo muito consolidado no livro e só sugerido na série. Ela chega a desejar a morte dele, destacando que tantos homens bons morreram e ele sobreviveu. Edith é pior que Sylvia, a meu ver, mas o livro é muito mais eloquente em ilustrar o quanto... Já MacMaster (Stephen Graham) acaba abandonando o melhor amigo, a quem deve praticamente tudo, inclusive muito dinheiro, em um momento no qual ele precisa de todo o apoio. O que não se explica, claro, é o motivo do ódio de Edith por Sylvia. A única cena delas duas juntas na minissérie não é suficiente para deixar isso claro, nem é mostrado como Edith e Val terminaram rompendo. Mas o fato é que é Edith quem avisa para Val que Tietjens está de volta, sozinho, doente e que precisa dela... Val decide ir atrás dele, finalmente.

Agora, de todas as cenas incômodas desse último capítulo, a que mais me incomodou foi a com Mark (Rupert Everett). Mark sempre apoiou a relação do irmão com Val, ele odiava Sylvia, o que mesmo na série fica muito, muito bem marcado. Por que ele reagiu tão mal à presença de Chris com Val em sua casa? Ele estava doente? Rupert Everett merecia uma cena final muito mais digna, ainda que não fosse do original. Aliás, aquela cena curtíssima não é Fox Madox Fox sem intervenção, porque o homem é tudo, menos econômico em sua narrativa. Da forma como foi apresentado, ficou muito confuso, sem sentido algum. E eu não cheguei nessa parte do livro, estou longe até, já que mal comecei o livro dois, mas duvido que a cena não seja diferente, ou que algo não esteja faltando. Em um episódio de muitos pontos altos, a cena entre os irmãos foi o ponto mais baixo de todos, aliás, da série inteira.


Os pontos fortes do episódio foram a guerra, cenas que me pareceram muito realistas, ainda que eu não tenha compreendido bem como Tietjens conseguiu neutralizar o coronel pancada. Benedict Cumberbatch se superou na intepretação de Chritopher Tietjens em todos os momentos. Suas expressões faciais e expressão corporal, a necessidade de interpretar uma personagem que por motivos diversos – inclusive pressões de gênero, afinal, homem não chora – luta o tempo todo para manter o controle de si. A solidão de Tietjens, seu abandono, em parte por sua própria responsabilidade, ficaram muito bem marcados em várias pequenas cenas. A olhada pela janela, com o aceno tímido de MacMaster, é uma dessas pequenas pérolas. E, claro, houve o final feliz. Eu já sabia que ele e Val ficavam juntos, por conta de spoilers dos livros. Antes de tê-los, acreditava que tudo terminaria muito mal, com Tietjens internado em um hospício, morto, ou ainda sendo abusado por Sylvia. Mas foi legal ver que isso não aconteceu, ainda que em nenhum momento esse homem tenha chamado Valentine pelo nome... Que angústia isso! Vamos ver no livro... Aliás, algumas passagens de Fox Madox Fox são tão bonitas, é uma prosa ás vezes difícil, mas ele se expressa os sentimentos das personagens de forma tão refinada que é uma delícia ler. Verdade!

 Enfim, foi interessante ver como Val – e eu não sei se no livro vai estar assim ou é diferente – descobre o livro sobre os prazeres da vida de casada com as alunas. Melhor ainda foi ver as professoras, todas solteironas, discutindo a questão e concordando que é a ignorância das mulheres ou dos homens sobre sexo que leva muitos relacionamentos (*naquele contexto o casamento*) à ruína. Elas devolvem o livro para as meninas e não há punição.  Uma das professores, a atriz que fez a Mary Bennet em Orgulho & Preconceito 1995, diz para Val que elas podem não ter mais a oportunidade, mas que a moça ainda tem tempo... Tenho medo que os discursos pró-abstinência – inclusive de beijo – de hoje em dia venham a colocar muitos jovens em situação semelhante a vivida naqueles anos de saída do ranço vitoriano. De qualquer forma, Val, que tem quase ZERO informação sobre como é o sexo para além da descrição acadêmica, devora o livro e sonha com Tietjens. A cena de sexo entre Chrissie e Val é bonita e sensual e será repetida já na seqüência final em que se combina a festa dos ex-combatentes amigos do protagonista, com os dois dançando, e a dispensa das tropas (“There will be no more parades!”). Poderiam ter evitado colocar a cena de Sylvia com o General Campion no meio, mas não estragou, só dificulta na hora de tentar editar e montar um vídeo...


Eu queria, claro, um beijo dos dois, alguma intimidade (*não falo de sexo, pois sexo teve*), mas algo que fosse além dos olhares e da expressão corporal. Queria o Benny falando o nome da Val com aquela voz sexy e grave que ele tem. Só que ambas as personagens eram muito contidas, especialmente Tietjens. Se Val não fosse atrás dele, não aconteceria nada, porque ele não a “desgraçaria” diante da boa sociedade e ele jamais pediria o divórcio de Sylvia por amor ao filho. Há ainda a cena de confronto entre Sylvia, Val e Tietjens. Foi uma cena forte e fraca ao mesmo tempo. Forte, porque o trio de atores é excepcional, e fraca, porque na correria, o estratagema de Sylvia não foi lá muito elaborado. Vamos ver o que acontece no livro. De qualquer forma, Val se dispõe a cuidar de Tietjens, da forma como ele precisa. Nesse sentido, Val não tem nada de libertária, ela é a mulher que existe para servir, primeiro a família (mãe e irmão), depois Edith, e, por fim, e por sua vontade e prazer, a Christopher. Não há nada de feminista nisso, ainda que a personagem levante na sua prática social bandeiras que são feministas. Mas eu torci por eles, muito mesmo, e Val é admirável pela sua constância, pela capacidade de amar, esperar e aproveitar o momento certo para ficar ao lado do homem que ama. Ele precisa dela e jamais irá abandoná-la e, dentro da lógica da série, eles serão muito felizes juntos.

Agora, antes do fim, queria discutir dois pontos que vi em resenhas por aí, só que não tenho os links. A primeira coisa é que se não houvesse Sylvia, Tietjens e Val teriam encaminhado rapidamente a sua relação a partir do primeiro encontro, no campo de golfe. Olha, duvido muito. Tietjens estava fragilizado e, por isso, deixou Val entrar no seu coração. Tinha sido humilhado por Sylvia, torturado por ela. Se não houvesse a mulher, ele seria um sujeito bem mais seguro, preconceituoso e orgulhoso. Talvez, até olhasse para Valentine, mas o relacionamento dos dois não seria certo, não. O outro ponto é que alguém culpou a sociedade da época, que oferecia poucas possibilidades de realização às mulheres pelo comportamento de Sylvia. Bem, eu conheço pelo menos duas Sylvias – ou mais se não pensar somente em mulheres – e socialites que vivem de herança e levam uma vida fútil e, ás vezes, destrutiva, estão aí aos montes. O programa Mulheres Ricas é o que? Fora que a posição da Igreja Católica em relação ao divórcio não mudou, persiste a mesma. Sylvia é uma personagem muito contemporânea, assim como Edith e MacMaster, os datados são Tietjens e (talvez) Valentine. Eles, sim, seriam mais difíceis de achar. Ele, especialmente.


De resto, esse não deve ser o último texto sobre Parade's End. Ainda estou longe de terminar o livro e estou gostando e devo persistir. É chato não poder continuar por mais duas semanas a acompanhar essa série. Também espero que conforme ela seja assistida, já que as legendas em português estão saindo rápido e deve passar na TV por assinatura brasileira, na BBC ou na HBO, pessoas passem por aqui e opinem sobre as minhas resenhas... Se bem que acho difícil. O Shoujo Café é bem visitado, mas pouca gente comenta mesmo. Ainda que votem nos textos, o que eu agradeço. É uma pena não ter mais “parades” para comentar. Me resta Downton Abbey, que já começou, hoje sai o episódio 2, e tomar vergonha para ver The Borgias, além de outros materiais com o Benedict Cumberbatch que estão aqui faz tempo. Essa semana devo ver o tristíssimo Third Star e provavelmente me debulhar em lágrimas... É isso...

P.S.: Além de Lucy Briers (Mary Bennet) também está na série Sylvestra Le Touzel, a Fanny Price de Mansfield Park, 1983. :)  Eu só fui notar quando passaram os créditos finais.

7 pessoas comentaram:

PQP! Achei alguém que sabe valorizar um bom ator! Enfim, Benedict foi esplêndido com sua atuação, como sempre!

E parabéns pela resenha, tô louca pra ver o episódio 5 também! O.O

Já disse para mim podia ter mais uns dois, três episódios... ainda mais porque não estou lendo os livros e gostaria de entender umas coisas que ficaram muito soltas.
Concordo que as cenas da guerra foram bem interessantes. Aliás o Benny deu uma declaração que virou um bafafá na Inglaterra ele comparou as cenas de guerra de Parade's End com as de Downton Abbey e disse que em 'Downton Abbey' a guerra ficou medíocre... pronto foi um Auê de gente dizendo que ele falou mal de 'Downton Abbey' (série queridíssima dos ingleses)... Mas dá para entender, em Parade's End é como se a guerra estivesse ali do lado, as mortes, o front, as batalhas, os problemas gerados por elas. Além de cenas com fotografias e efeitos muito legais. Enfim. Muito tumulto à toa. Nesse episódio final eu achei tudo muito corrido e no final ficou uma sensação de podia ter rendido mais. Ainda pontos altos odeio a Sylvia, mas adoro odiá-la. Ela cortar a árvore foi o ápice da vontade de machucar o Christopher, e conseguiu. Eu nem comento mais sobre a atuação do Benedict Cumberbatch porque sou suspeita (fã assumida) e é fantástico como ele passa o turbilhões de emoções que a personagem está sentindo, mas de maneira tão sutil por causa de como a personagem é reservada. Então todas as cenas envolvendo a árvore da família o Christopher e a Sylvia eu gostei muito.
A Val pode não ser feminista nas atitudes. Mas é corajosa, e se mostra independente do que a mãe, a sociedade ou qualquer outro acha para fazer o que ela acha correto ficar do lado de quem ela ama. E se você ama você cuida, não vejo com maus olhos ela cuidar do Chrissie. Acho que ele irá cuidar dela também.... se ele cuida da horrorosa da Sylvia.
E foi uma cartase quando ela deu um berro com a Sylvia falando exatamente o que o Christopher não tinha coragem ( ou tinha escrúpulos de mais) para falar. Eu entendi a cena como a último e um desesperado esquema da Sylvia prender o Christopher a ela.
Sobre o irmão dele, na verdade, eu nunca entendi as intenções do irmão dele. Na série primeiro pareceu que ele quis prejudicar o irmão aos olhos do pai e que depois ele entende e fica do lado do Chrissie. Mas depois não explica direito como ele deixou tudo ou como ele estava nesse final. Só dá a entender que o Chrissie era muito mais apegado a tudo que a propriedade representava e o irmão não, e que no final quando ele se desfaz do tronco da árvore ele estava largando aquele de tipo de vida ( e todos os padrões até morais) e começando uma vida nova (com uma amante).
Falando em amante, morri de rir das cenas do livro na escola com as meninas e novamente acho a Val corajosa de assumir e defender suas opiniões. Ela não só lê, mas reporta a escola para dizer que acha que as meninas devem ficar com o livro que explica a elas o que é sexo. Muito interessante, e me diverti pensando nas coisas que a Val não sabia e descobriu. As fantasias dela sobre o Christopher foram lindas ( e tudo que o fandom louco pelo Benedict Cumberbatch queria) fiquei até emocionada nas cenas finais que juntavam a festa com eles juntos. Achei muito lindo. Então ao mesmo tempo que gostei de várias coisas, outras ficaram corridas. Minha crítica não é que não gostei, é só que queria mais. Fiquei orfã também.

Alessandra, sou muito fã do Benny. Muito mesmo.

- É aquilo, até agora, ninguém explicou no livro a cena do trem. Eu acho inexplicável que um cara como o Chrissie tenha feito o que fez com a Sylvia... Mas sei lá, o sujeito era virgem e inexperiente... Muito mesmo...

- Aliás, falando nesse comentário de Downton, parece que o Benny vive comentando coisas e sendo distorcido pela mídia. Vide o caso de Elementary. Mas Downton é sobre Downton e, não, sobre a guerra ou qualquer coisa fora da grande casa. Mas como comentei com você no Twitter, aquela do sujeito desmemoriado foi um recurso novelesco introduzido e, aparentemente, esquecido. Se aconteceu isso mesmo, foi uma bruta falha de roteiro.

- Assim, é certeza que a Sylvia não derrubou a árvore no livro, mas eu não cheguei lá. Da mesma forma que no seriado deram uma melhorada na Sylvia... Ela não mostra carinho pelo Chrissie ferido, não tem aquela ceninha sentada na cama. Ela só pergunta para ele como se feriu, quando o homem está quase voltando para o campo de batalha. Para ela, ele estava fingindo... Até jogar o prato de salada em cima dele gratuitamente, ela joga... Mas Rebecca Hall estava maravilhosa. Você já viu algo com ela? Não lembro dela em outros seriados, filmes, mas ela é brilhante. Conseguiu tornar uma personagem detestável memorável, por assim dizer. A crueldade (*pulling the strings of the shower-bath*), o prazer em torturar o marido... Entrou na minha listinha de top 10 vilãs junto com Nazaré. ;-)

- Eu não comentei que ela não é feminista como uma forma de crítica. Era mais uma constatação. Val não rompe com os valores sociais – ficar com um homem casado e que vai continuar assim – por achar que o casamento não tem validade, ela faz isso por amor ao Christopher. Ela é corajosa, mas está submetida ao que minha orientadora chama de “dispositivo amoroso”, as mulheres amam e servem, se sacrificam. O que não quer dizer que ela não seja corajosa, crítica, decidida, mas ela, como tod@s nós, tem seus assujeitamentos. E como eu disse, eu queria os dois juntos, muito mesmo. No livro, até aonde eu sei, ela termina grávida do Chrissie... Que diferença mais dois capítulos fariam, não é? 

- Bem, bem, o Mark no livro é uma personagem interessante e o que queimou foi o último capítulo da série. Spoiler do livro que sei é que Mark termina doente e morrendo no livro. Só que o Mark é assim no livro, um Christopher só que sem ligar para o que pensam dele. Ele é o mais velho, ele é o herdeiro, ele não se casou, nem vai casar, porque ama a amante, mas como ela é católica, ele não casa com ela... No livro, ele termina casando, sim, mas somente no finzinho. Ele é 15 anos mais velho que o Christopher. Na cena em que eles colocam as coisas em ordem no episódio três, no livro é uma longa conversa e eles estão conversando e andando. Mark não tinha muita ligação com Chrissie, ele era ligado ao irmão logo abaixo dele, e que morreu na guerra. Ele pensa que para ele os quatro irmãos mais novos (*duas irmãs e dois irmãos*) eram como filhotes que ele olhava á distância. Só que só lhe sobrou Chrissie e ele precisa unir a família. A conversa dos dois e o fato do Mark se posicionar do lado da Val integralmente (*depois de ter certeza de que ela não é sua irmã*) é um dos pontos altos do primeiro livro. Daí, aquele final, a grosseria com o Chrissie, foi um negócio péssimo, sabe? Muito mesmo... E como o Fox Madox Fox é tudo, menos econômico, duvido que a cena tenha sido tão rápida. E, de novo, dois episódios a mais fariam diferença.

- Sim, a cena da escola foi muito boa. E a cena de amor dos dois, também... Agora, que homem problemático! Nam para chama-la pelo nome????

Só alguns pontos~
- Sobre Downton realmente aquela personagem nunca voltou nem se conversou mais sobre... aliás, Downton Abbey eu acho é cheio de recursos novelescos. Por enquanto ainda não me incomodam ao ponto de desgostar da série.

- Sobre a Rebecca Hall não me lembro de ter visto nada com ela! D: Mas parece que ela já até foi nomeada ao Globo de Ouro...

- Sobre a questão da Val e o casamento o que me parece é que ela não liga para a questão do casamento como algo que valide a sua relação. Para ela o casamento não é uma obrigação, e ela não vai se sentir inferior ou que a relação dela com o Christopher é inferior por não casar. Pode até não ser um manifesto contra o casamento, mas acho como questão de o casamento não ser uma validação para a relação.
Aliás, muitas coisas eu fico em dúvida em relação a ideias feministas. Com certeza tenho que ler mais. Nunca li sobre o “dispositivo amoroso” ao mesmo tempo que é difícil para mim ver 'servir e amar' como fraqueza, a não ser que seja imposto. Porque se for por escolha acho até uma forte decisão. Como disse nesse ponto talvez me falte ler ou refletir mais. Pois, não quero vitimizar uma pessoa que escolhe estar do lado de outra.
Mas também, pode ser que isso foi minha impressão da série... no livro a disposição da Val seje outra.

- Sobre o irmão o Mark, a série deixa muito a desejar então. Porque ele ficou um personagem muito perdido para mim... não entendi porque ele não pode casar com a amante católica... a Sylvia tb não era de família católica?

_ E sim... mais dois episódios seriam muito bem vindos.

- Pois é, a gente gosta de Downton, mas o desmemoriado foi um deslize grotesco...

- Não lembrava da Rebecca Hall, também, mas já achei um filem com ela o James McAvoy e o Benedict Cumberbatch: Starter for 10. Devo assistir em breve.

- Bem, eu acho que Val liga para o casamento, na verdade, ela está em uma situação de grande pressão, ainda que a série não dê muito espaço para isso, porque no livro muita coisa é pensamento, o que vai na cabeça das personagens. Quem mais vocaliza as coisas é a Sylvia. Ela fala, a maioria das personagens, pensa. O problema é que a Val sabe que o Christopher JAMAIS vai se divorciar e ela coloca na balança. Se ela não ceder, ela vai perder o amor de sua vida, já que é assim que ela vê a coisa.

- Quanto ao “dispositivo amoroso” é categoria criada por minha orientadora de doutorado. Texto aqui. Não é ruim amar, sacrificar-se, servir. O problema é que mulheres são construídas socialmente para acreditar que isso é seu dever. Veja bem, dever das mulheres. Elas abrem mão de seus desejos e sonhos “por amor”. Se há um doente, idoso, ou criança sofrendo espera-se que as mulheres assumam o peso e se sacrifiquem. Trata-se de uma forma de trabalho social, pois raramente as mulheres recebem grande compensação – emocional, profissional, financeira, afetiva – por todos os sacrifícios que fazem.

- Val no livro vive para servir, na série isso não fica tão marcado. Ela serve à causa sufragista. Antes de ser professora eram três horas por dia de trabalho voluntário, sete horas datilografando para a mãe e prestando-lhes outros serviços, fora os trabalhos domésticos. Quando o pai morreu e a família ficou em dificuldades, Val largou os estudos e foi trabalhar de criada para que o irmão pudesse continuar estudando. Esse irmão mostra gratidão? Mesmo na série isso fica marcado... Chrissie poderia sacrificar alguns de seus valores, se separar da Sylvia e casar com a Val, dar-lhe algo que diminuísse a discriminação que ela sofrerá. Mas ele não cede, ela se sacrifica. Entende o ponto? Espera-se que as mulheres sirvam e se sacrifiquem, “por amor”.

- Mark é protestante, assim como Christopher. Tradicionais que são, detestam o catolicismo. Sylvia é podre de rica, mas católica. Mark se refere a ela como “catholic whore” e “papist”. Lembre do conflito em relação à educação religiosa da criança... A amante de Mark é católica, ele a ama, mantém um relacionamento há anos MAS não casa por causa disso, ela é católica.

Acabei a série, finalmente.
Devo dizer que a Sylvia me irritou muito nesse episódio ao cortar a árvore.
MAS, ainda acho que ela amava o Christopher. Ok, é um amor (bem) doentio, mesmo porque também rola ódio no meio, e nada saudável.

O fato dela puxar suas cordinhas para posicionar o General no campo de batalha, para mim, foi preocupação com o marido.
E no final, depois de sua infrutífera jogada, reconhece a derrota e se afasta, quando poderia muito bem dificultar a vida dos amantes.

Enfim, acho a personagem muito complexa, difícil de entender suas atitudes e motivações. Ela me parece uma pessoa auto-destrutiva, pois tudo o que ela fazia para machucar o Christopher tinha um quê de auto-punição, ao meu ver. Ela esperava uma reação do marido, qualquer uma que seja.

No mais, fiquei muito feliz pelo Chrissie e a Val terminarem juntos! A cena foi tão linda! Os dois mereciam mesmo!

Related Posts with Thumbnails