terça-feira, 31 de julho de 2012

Voltando às Olimpíadas: “O pior do Brasil é o brasileiro!”



Queria voltar para falar das Olimpíadas para comentar coisas boas, quer dizer, até posso, acabei de ver a esgrima e o jovem Guilherme Toldo mostrou que pode, sim, crescer no esporte. Aliás, como são emocionantes esses combates de esgrima? Mas a questão é que ontem uma de nossas judocas, Rafaela Silva, foi desclassificada por um golpe irregular, outras duas atletas (*que eu saiba*), foram desclassificadas pelo mesmo motivo, uma cubana (*e isso favoreceu nossa Sarah Menezes*) e uma romena. É chato, mas acontece. O golpe não é mais válido desde 2009. Enfim, imagino a frustração da atleta, a primeira de um projeto social da Favela da Rocinha a se qualificar para uma Olimpíada, mas é preciso superar.

No entanto, internautas brasileiros, daqueles que devem acompanhar todos os esportes mesmo sem ser em época de Olimpíada, ficaram inconformados. E o que fizeram? Agrediram a atleta pelo Twitter. Coisas como "lugar de macaca é na jaula" e que "vc não é melhor do que ninguém porque você é NEGRA" foram escritas. Sim, exatamente isso. Gente que se escuda por trás do anonimato ou da segurança da internet usa a rede para agredir. Só que a atleta reagiu, xingou e foi manchete em portais. Ela era a errada. Olha, xingar de volta não ajuda muito, mas ela foi humana, os racistas são criminosos. Para o Globo, ela reagiu “com palavrões a provocação no Twitter”. Racismo é crime, é mais que provocação.


Como uma amiga comentou, as vítimas preferenciais desses covardes são mulheres, especialmente negras. Aquelas que não entram nas listinhas de “musas das Olimpíadas”. Por exemplo, hoje a “musa” do judô brasileiro foi desclassificada. Ela é branca e não foi xingada ostensivamente. E não pensem que estou dizendo que a culpa é da moça branca, a culpa é de uma cultura machista, classista e racista que está tão entranhada que ela aparece em todo lugar e a todo momento. Fora isso, aqui em nosso país só valorizamos as vitórias, não damos o devido valor às melhoras, ao esforço. Se não é ouro, não é nada. Reforço positivo e seu valor psicológico é algo que muita gente desconhece. É mais fácil espezinhar, talvez isso sirva de alívio para o complexo de inferioridade daquele que está agredindo. E, claro, se não traz medalha, as verbas são cortadas. Vide o que fizeram com a Ginástica.


E eu não quero passar a mão na cabeça de ninguém. Acredito que se você vai a uma Olimpíada, quer fazer o melhor, não para obrigatoriamente ganhar. Aliás, eu ouvi de uma pessoa querida uma grande bobagem uma vez "Se não foi para ganhar, foi para quê?". Não é assim que funciona. De qualquer forma, já escrevi aqui outras vezes que considero que há uma falha muito grande no trabalho psicológico com os atletas. Junta-se a pressão, de muitas vezes ter o peso todo nas costas, com esse complexo de inferioridade cultural, reforçado “cientificamente” (*exemplo*). O resultado é a incapacidade de virar um jogo, a distração ou o nervosismo. O caso dos irmãos Hypólito (*e eu não sou fã de Daniele*), da seleção feminina de vôlei, para mim são os mais gritantes. E escrever isso não é desvalorizar a importância do Diego Hypólito, mas enfatizar que faltou, sim, trabalhar o psicológico desse rapaz que é, sim, muito bom. E, agora, já era. E sobram, no caso dele, também, as agressões machistas. Afinal, de que ele é xingado? Gay. No repertório limitado dos haters, ser gay, ser negro, ser pobre, morador de favela, ser “feio”, ser gordo, são motivo de vergonha.


Enfim, é muito triste. Muito, muito mesmo. Eu queria escrever aqui que tenho esperança no futuro, mas o que eu vejo é que a melhoria geral das condições econômicas no Brasil não caminha junto com o exercício de cidadania. A internet é terra de ninguém, onde os racismos, a misoginia, o individualismo exacerbado, a homofobia, os fanatismos religiosos, crescem. A educação – em casa, na escola, através dos meios de comunicação – é a saída. Mas não vejo esforço nem micro (*família*), nem macro (*Estado*). As Olimpíadas passam então a ser palco de exercício da intolerância. Só que é possível rastrear e punir. Espero muito que a Polícia Federal esteja atenta ao que está acontecendo.

2 pessoas comentaram:

Eu realmente não sábia disso, ando meio alienada esses dias, mas gostei bastante da materia, e realmente, o Brasil é um lindo país, cheio de pessoas mediocres e racistas, não são todas, claro, mas é a grande maioria, por que quem não faz nada não é muito diferente de quem faz(preconceito), se voce conhece alguém assim, no minimo converse com esse ser e faça ele se olhar uma vez ao dia no espelho pelo menos, aposto que em algum momento ele vai ver o quanto o ser humano pode ser podre por dentro. Num país como esse, que se tem de tudo, eu ainda tenho a capacidade de me impressionar com essas ignorancias humanas, vergonhoso. 'O pior do Brasil, é realmente o brasileiro'.

Pior é ler os comentários n'O Globo e ver gente falando que ela tem que "ficar caladinha" ou que "merece a exclusão do esporte, está gastando dinheiro do meu imposto". Vergonhoso.

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