quarta-feira, 11 de julho de 2012

Comentando os dois primeiros episódios de Uta Koi。



Não tenho muito o que falar dos dois primeiros capítulos de Chōyaku Hyakunin Isshu: Uta Koi(超訳百人一首 うた恋い。), baseado no mangá de Kei Sugita, salvo que a série é simpática. Não me causou a forte impressão de Natsuyuki Rendezvous (夏雪ランデブー). No entanto, a estrutura da série pode pesar a seu favor, já que não teremos um conjunto fixo de personagens, nem criaremos grandes expectativas em relação ao desfecho de uma história mais longa. Cada capítulo apresenta uma ou duas histórias curtas. Como o nome sugere, são histórias de amor, baseadas em poemas.

Uta Koi é uma série narrada por Fujiwara no Teika, que no século XIII (*acho que em 1235*), foi comissionado pelo imperador para compilar uma série de poemas. A antologia se chama Hyakunin Isshu e tem 100 poemas. Esses poemas encontram-se nas cartas de Karuta, aquele jogo tradicional japonês enfocado na série Chihayafuru (ちはやふる). Fujiwara no Teika diz que prefere poemas de amor e, por conta disso, 43% dos poemas são desse gênero. Todos os poemas se passam na Era Heian (794-1185), o período da história do Japão no qual a vida na corte se desenvolveu ao máximo, com as artes, a literatura e o jogo amoroso assumindo grande importância no dia-a-dia da nobreza.


No primeiro capítulo, temos a história de amor de dois irmãos muito diferentes. Um, o caçula, é um conquistador, que tem um caso mais sério com uma moça nobre chamada Fujiwara no Takaiko. O outro, o mais velho, é um homem dedicado ao trabalho e apaixonado pela esposa, que o apóia em tudo. Fujiwara no Takaiko acabará se tornando imperatriz e é a mãe do jovem imperador do segundo capítulo, Sadaakira Shinnō, ou imperador Yōzei. Segundo o narrador, Yōzei só deixou por escrito um poema, exatamente um poema de amor. Não sei se uma história irá se trançar com a outra, mas esses dois primeiros episódios poderiam ser vistos em separado sem problema algum.

Eu gosto da Era Heian, das roupas, enfim, clima. O anime simplifica muita coisa, torna, por exemplo, a aparência das personagens mais palatável. Tente imaginar as moças com sua pesada maquiagem e suas sobrancelhas depiladas? Nada disso está no anime. Os rapazes também tem uma aparência moderna, mas as roupas são de época. A política dos clãs não é o foco da história, mas ela aparece de leve. Todas as famílias são poligâmicas, por exemplo. Mas só focam em uma das esposas do imperador Yōzei. Aliás, difícil tornarem esse imperador Yōzei um sujeito palatável. Que personagenzinha detestável! Tentam construir um draminha do tipo só meu professor e mamãe me amam, mas não cola. Ele maltrata todo mundo, especialmente a moça com quem veio a se casar... E, bem, terminou sendo derrubado do trono não foi por pouca coisa, não! Eu gostei mais do primeiro episódio, com o contraste entre os irmãos e alguns dados culturais bem colocados.

Não sei se alguém se espantou, mas a questão da liberdade sexual – inclusive das mulheres – estava bem explícita. Fujiwara no Takaiko será imperatriz. Ela sabe disso, é um arranjo entre clãs, mas ela não é casta, ainda que a reclusão fique caracterizada. Ela toma um amante e não parece haver grande problema com isso. O mesmo vale no segundo capítulo, quando o imperador Yōzei sugere que a esposa tome um amante, porque jamais tocará nela. Eu tenho uns dois livros sobre o Período Heian e em um deles está escrito que um cortesão poderia ficar mal falado não por seus amantes, isso era o de menos, mas por não saber combinar seus múltiplos quimonos. As moças da nobreza poderiam viver reclusas – lembrem do espanto de Takaiko ao ver a natureza sem as artificialidades dos jardins murados – mas muita coisa acontecia nas alcovas e recantos dos palácios.

Voltando à questão da roupa, quando Takaiko foge nas costas do amante, ele pede que ela tire a roupa e ela fica indignada, pois jamais faria amor com ele ao ar livre. O rapaz, na verdade, queria que ela ficasse mais leve, pois ele a estava levando nas costas. Uma nota aparece dizendo que somente a roupa da moça pesava uns dez quilos... Achei que Takaiko iria se matar usando os cogumelos, mas, na verdade, o amante desiste da fuga e a moça segue seu caminho. Mais tarde, os dois se reencontram, ela como imperatriz viúva e ele como general que irá ser tutor do jovem imperador. Enfim, o primeiro capítulo foi simpático.

Enfim, a animação de Uta Koi é simples. Como acho que o objetivo é imitar um livro de ilustrações, não vou chama-la de pobre. Gostei das imagens da abertura e do encerramento, mas as músicas não combinam em nada com o clima da série. Deveriam ter optado por algo mais tradicional. De resto, continuarei assistindo, ou tentarei, porque se não me empolgou de cara, pelo menos me atrai pela arte e por ser uma série de época sem ser algo engessado como no caso do Genji Monogatari de Osamu Dezaki. Uta Koi parece ser uma série com o objetivo de divulgar a cultura tradicional mostrando que ela pode ser atraente para os jovens japoneses. E veja que, de novo, tem karuta no meio. Daqui a pouco estréia a segunda temporada de Chihayafuru.

1 pessoas comentaram:

Realmente tem gente reclamando do desenho da animação, mas não entendem que é proposital (eu mesma não imaginei que fosse pra se assemelhar com um livro de ilustrações). Quando Mononoke saiu ninguém entendia, mas achei uma verdadeira obra de arte.
Uta Koi é bom, apesar da história não ser lá essas coisas, mas dá pra passar o tempo. :)

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