A curta vida de Joana D’Arc já foi visitada e revisitada por várias mídias. Este ano comemora-se os seus 600 anos de nascimento e não é surpresa que tenhamos a caminho algum filme (*que eu desconheço*), seriado de TV e quadrinhos. Ao Amigo Pedro Hunter me enviou durante a semana um link para uma entrevista com Valérie Mangin e Jeanne Puchol, autoras do graphic novel "Moi, Jeanne d’Arc" (“Eu, Joana D’Arc”). A obra está sendo publicada pela editora francesa Dupuis na coleção Sorcières (Feiticeiras), que também e supervisionada por uma mulher, Marie Moinard.
Em uma longa entrevista, as autoras falam da sua fascinação pela personagem e como a acusação de “Feiticeira” – uma das que levaram Joana para a fogueira – lhes deu a idéia de revisitar a história da Donzela e fazer uma ponte com a prevalência dos ritos pagãos antigos dentro da Europa. Também é muito interessante toda discussão que as autoras fazem sobre o direito de escolha das mulheres (*não casar, o que vestir, ser um soldado, etc.*) e que lhes é confiscada em muitos países. Em um dado momento, elas lembram que não estamos tão longe da Idade Média. Eu até acho que durante a Idade Média algumas coisas poderiam ser surpreendentemente melhores para as mulheres em certas áreas...
Eu particularmente não gosto da idéia de ver Joana D’Arc retratada como feiticeira, acho mais justo que se reforce o quanto essas acusações eram políticas e que havia uma histeria contra as mulheres aflorando com muita força no século XV. Vide o excelente livro A História do Medo de Jean Delumeau. Eu não consigo perceber essa permanência de cultos pagãos da forma como os fascinados pelo assunto vêem, aliás, acho que é outra questão politicamente instrumentalizada para legitimar os neopaganismos atuais. Eu posso ser feminista sem dar crédito a essas coisas. Muita gente morreu – mulheres, especialmente – por acusações infundadas de bruxaria calcadas muito mais no preconceito. Enfim, também acho complicado colocar Joana atraída sexualmente pelo monstruoso Gilles de Rais. Acredito que de tudo isso, foi o que mais me incomodou... De qualquer forma, eu leria esse material com muita curiosidade. E precisava trazê-lo para cá.
Agradeço ao Hunter pelo link. Quem quiser ler a entrevista em francês, ela está aqui. As autoras são muito cultas e mostram um engajamento feminista admirável. Achei particularmente legal a analogia com a frase de Simone de Beauvoir “Não se nasce mulher, torna-se mulher” com “Não se nasce feiticeira, torna-se feiticeira”. Este ano, haverá um evento na Universidade Federal da Paraíba em torno de Joana D’Arc chamada “Sábias, Guerreiras e Místicas – Homenagem aos 600 anos de Joana D’Arc”. Eu estarei lá falando de Clara de Assis. Aliás, 2012 é 800º aniversário da conversão de Clara, quando ela larga tudo para seguir Francisco e seu estilo de vida radical.
3 pessoas comentaram:
Eu gostei muito de colocarem a Joana Dark como feiticeira, pois, sendo ela uma personagem histórica tida como boa, isso ajuda a diminuir um pouco (beeeeeeeeem pouco) o preconceito que nós pagão sentimos hoje ( ja fui chamada de bruxa em tom pejorativo tantas vezes ).
Mesmo que eu não acredite q ela era realmente feiticeira, bom, para mim ela era esquisofrenica, mas, mesmo assim uma general incrível com brilhantes estratégias, fora o carisma q ela tinha entre seus soldados ^^ ela realmente merece ser homenageada
Sem dúvida em relação ao preconceito. Mas não sei se ajuda, não...
Deve ser dito que, quando estava ao lado de Joana d'Arc, Gilles de Rais era considerado um homem belo, rico e bem sucedido, além de, de acordo com os autos do seu processo, ainda não ter começado a sequência de crimes bárbaros que lhe deu fama.
Não é improvável portanto que ele fosse bastante atraente para as mulheres ao seu redor, embora pessoalmente eu duvido que Joana d'Arc, em seu fervor religioso, se sentisse atraída por ele ou qualquer outro homem.
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