quarta-feira, 9 de maio de 2012

Comentando The Scarlet Pimpernel (Inglaterra, 1982)



Volta e meia, quando entro em algum site sobre filmes e minisséries históricas, me deparo com alguma imagem ou post sobre The Scarlet Pimpernel. Como o original da Baronesa Emmuska Orczy, foi adaptado inúmeras vezes, e eu nunca li o livro, não sei qual a melhor adaptação. Devo ter assistido alguma delas quando criança, sei que tentei assistir uma versão, acho que a de 1999, e larguei, mas a de 1982 me pareceu tão ridiculamente simpática que decidi dar uma nova chance. Porque Scarlet Pimpernel é uma espécie de Zorro (*e eu amo o Zorro*), só que lutando do lado dos aristocratas contra o “povo”. Essa versão tem como protagonista Anthony Andrews como Sir Percy/Scarlet Pimpernel, Jane Seymour como sua amada Marguerite St. Just, e Ian McKellen como o vilão Cidadão Chauvelin.

Assistir Scarlet Pimpernel é uma mudança de perspectiva, já que a personagem é um aristocrata inglês que salva nobres franceses condenados à morte na guilhotina e tem profundo desprezo pela República, pelo povo comum, enfim, por tudo aquilo que a Revolução Francesa parece ter trazido de melhor, a idéia de que todos os homens (*as mulheres não estavam incluídas*) deveriam ser iguais diante da lei e que os nobres não tinham direito de explorar e humilhar as outras classes. OK, o Pimpernel não gosta desse papo revolucionário, não, mas como resistir a um filme tão divertido? E descobrir que Ian McKellen já fez coisas muito lixentas na vida... Eu ia ver só um pedacinho, mas fiquei rindo de madrugada com as aventuras de Scarlet Pimpernel.


O filme é todo cheio daquelas situações de aventura e disfarce nas quais nosso heróis – que pegou seu nome de uma flor – engana todo mundo: seus amigos aristocratas, os franceses republicanos, a esposa, etc. Mas não é difícil, Anthony Andrews, que eu conhecia do fraco Ivanhoé, faz um sir Percy tão pomposo, vaidoso, frívolo, que é difícil não sentir nojo dele. Aliás, ele fala como se estivesse com um ovo na boca o tempo inteiro. Fica difícil entender os motivos pelos quais Marguerite se apaixonou por ele... Se bem que ela sugere que em privado (*e a gente não viu esse privado, mas a cena foi na porta do quarto dela*), ele era diferente... De resto, fica parecendo que as más línguas estão certas e ela casou com o sujeito, porque ele era o homem mais rico da Inglaterra.

Mas vejam que em nenhum momento é sugerida a homossexualidade do sujeito, como no caso de D. Diego no livro que deu origem ao Zorro. Sir Percy Blakeney simplesmente era um dos sujeitos chamados de fops na época, isto é, extremamente arrumados, afetados,obcecados por estar na última moda, como o Príncipe de Gales que é unha e carne com Percy. O protagonista, por exemplo, adora debochar de Chauvelin, porque ele não entende nada de moda, nem sabe dar um nó elegante na gravata. Tudo faz parte do disfarce, claro, mas é tão raro que a personagem saia do disfarce, esqueça os trejeitos e a voz hiperafetada que é difícil imaginar o que, afinal, é a diferença entre o Sir Percy em público e aquele pelo qual Marguerite se apaixonou. Obviamente, esse defeito não impediria que as filhas da nobreza fossem atiradas sobre ele, ainda que para que tivessem um casamento infeliz. Da mesma forma que um homem como Sir Percy jamais se casaria com uma atriz, ela serviria para ser amante, nunca esposa. Parte do disfarce? Não, acho que somente parte da farofada que foi o filme (*e provavelmente os livros*).

Jane Seymour, aliás, é iluminada por um figurino lindíssimo, do tipo que eu queria que a Romolla Garai continuasse usando depois de casada em Jornada Pela Liberdade (*ela casa e passa a usar roupa de saco fashion, por assim dizer*). Ela já era muito bonita e ainda que o penteado de época não me encham os olhos, acredito que o figurino é um dos pontos altos do filme. De resto, ela é cortejada pelo afetado Percy de Anthony Andrews, e o soturno e cruel Cidadão Chauvelin de Ian McKellen. Muito, muito azar... E Sir Percy era esperto toda a vida, mas acredita nas fofocas que inventam sobre sua esposa – que ela foi responsável por um nobre e toda sua família ir parar na guilhotina – quando, na verdade, era uma armação do vilão, que sempre foi muito inferior a ele intelectualmente falando. Quando Marguerite é ofendida por supostamente ter levado o Conde de St. Cyr e família para a guilhotina, a indiferença de Percy é irritante. E a personagem de Jane Seymour ainda continuará sofrendo...


Curiosamente, a cena em que Percy fica sabendo do ato cruel de Marguerite é uma das poucas na qual o fraquinho do Anthony Andrews me parece ator de verdade, a decepção estampada nos seus olhos, enquanto se esforça por manter a face com aquela expressão afetada do resto do filme. Outra cena em que ele funciona mais ou menos da mesma forma, usando muito bem os olhos e alguns músculos do rosto é quando Marguerite se declara para ele na porta do quarto... ele quase entra... quase! Mas ele prefere acreditar na fofoca. É o tipo de comportamento bobo, que seria muito pouco crível em alguém tão inteligente. Em nenhum momento ele desconfia que pode ser um mal entendido e vai atrás da verdade. Mais ridículo é Marguerite não reconhecer a mão e a voz do marido... ^____^

E o grande ato do Pimpernel é salvar o filho de Maria Antonieta e Luís XVI. A forma como o filme retrata os maus tratos que o menino sofria é muito realista. Bate com tudo o que eu li. Infelizmente, a criança não foi salva. Há também a necessidade de resgatar o irmão de Marguerite, o honrado e meio cabeça de vento, Armand. É ele que faz com que o Sir Percy conhece a esposa, é ele que faz com que o protagonista seja capturado. E tudo poderia ser evitado, mas o Scarlet Pimpernel deixa o bobão do Armand entrar na armadilha, quando vai rever a amante pela última vez... Mas não vou estragar o filme, caso alguém queira baixar e assistir.

Enfim, Scarlet Pimpernel vale pela tosquice, pelas cenas de ação muito ingênuas, pela trama antiquada. É divertidíssima a cena da execução de Sir Percy, alguns diálogos dele com a personagem de Ian McKellen e o duelo entre os dois. Sir Percy é bem cruel com ele, sem matá-lo... “Agora, vá explicar seu fiasco para o Cidadão Robespierre!” ^____^ De resto, o filme é muito reacionário, e mesmo que a produção tente colocar alguns paninhos quentes, acredito que essa fosse a idéia da autora, uma mulher da nobreza que perdeu tudo por causa de uma revolução. Não é difícil entender o ódio que ela sente da Revolução Francesa, especialmente, da fase Jacobina. Scalet Pimpernel não cumpre a Bechdel Rule, pois tem muitas personagens femininas com nomes, elas conversam entre si várias vezes, mas é sempre sobre algum homem: Percy, o Pimpernel, Armand, etc. De qualquer forma, valeu pelas boas risadas.

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