quinta-feira, 24 de maio de 2012

Comentando The Ruby in the Smoke (BBC, 2006)



Anteontem terminei de assistir The Ruby in the Smoke, filme da BBC baseado em um romance de Philip Pullman. Olha, eu nem sabia que esse Philip Pullman era o mesmo do filme a Bússula de Ouro (*que eu não assisti*) e só fui procurar baixar este filme por conta de pedacinhos que vi em um ou outro fã vídeo do Youtube. Nessas poucas cenas aparecia o JJ Field, o Mr. Tilney da adaptação da ITV de Northanger Abbey (*que eu prometo comentar um dia*). Eu gosto muito desse ator e queria ver o filme, mas para isso teria que aturar a Billie Piper como protagonista.

Não sei bem o que me faz desgostar dela, se o cabelo mal pintado de loiro que se impõe em qualquer personagem sem nenhum esforço de caracterização, se o rosto dela com aquele misto de cara de nojo e vulgaridade... Sei lá, é difícil definir, o fato é que nunca consegui chegar ao fim da última adaptação de Mansfield Park porque é difícil olhar para ela sem achar que a escalação da Billie Piper para o papel foi um grande erro. Eu sei, não faz sentido nenhum isso, é preconceito puro. Por conta disso, e para ver o Mr. Tilney eu baixei The Ruby in the Smoke e o filme seguinte, The Shadow in the North. Mas vamos ao resumo da história...

O filme começa em 1874, Veronica Beatrice “Sally” Lockhart é órfã de pai e mãe e está morando com a tia, uma senhora que reprova a forma como a moça foi educada. Sally tem aproximadamente 18 anos e não tem as prendas que as moças de sua posição deveria ter, no entanto, tem talento para os números, fala hindustani e atira muito bem. Como diz a tia da moça – que deseja ser tratada de forma afetiva por Sally apesar de trata-la com desprezo – qualquer governantazinha tem uma educação melhor que a dela. Sally recebe uma mensagem truncada e vai até a antiga firma do pai – Lockhart & Selby – para se informar sobre a questão. Seu pai era capitão da escuna Lavinia e morreu em um naufrágio quando iria comerciar com um agente chamado Hendrik VanEeden. O sócio do pai de Sally enfarta ao ler o bilhete e a moça acaba envolvida em uma trama mortal que envolve a posse de um rubi que pertencera a um marajá indiano. Seu pai roubou o rubi? Qual a ligação entre o naufrágio e a pedra preciosa? Quem é Hendrik VanEeden? Por que uma mulher chamada Mrs. Holland deseja matá-la?


Como escrevi, não li o livro, mas ele saiu no Brasil, assim como os outros três livros com a personagem Sally Lockhart . No livro, Sally tem 16 anos e a história se passa em 1872. Mesmo com 18, Billie Piper não parece adolescente e não adianta ela ficar repetindo que tem menos de 20 anos. Mas se esquecemos disso, ela convence como a mocinha inteligente e corajosa que tem tudo para se tornar uma boa personagem de ação. Outra mudança é terem envelhecido a personagem Jim Taylor, o office-boy da companhia do pai de Sally. Ele deveria ter 13 anos, mas é interpretado por Matt Smith, que foi ou é o atual Dr. Who. Ele interpreta bem e é uma personagem divertida.

O interesse amoroso de Sally é Frederick Garland (JJ Feild), um fotógrafo que se diz artista. Gentil, simpático e sempre pronto a ajudar a mocinha (*sem castrá-la*), ele é uma fofura. Mas não tem cabeça para contabilidade e vive endividado. Quando Sally pede abrigo na casa dele e da irmã, a atriz Rosa, interpretada por Hayley Atwell (*namoradinha do Capitão América*), a moça pode ser útil e o romance entre os dois começa a se desenvolver timidamente. JJ Feild é um dos charmes do filme que é só mediano.

Outro destaque é a vilã, a terrível Mrs. Holland, interpretada por Julie Walters. Ela quer o rubi, acha que tem direito a ele, já que foi enganada pelo marajá. Não posso dar detalhes, porque pode estragar o confronto dela com Sally. Mas todo o ódio da vilã tem suas bases na destruição da sua reputação quando jovem e nos diversos conceitos distorcidos de honra e papéis de gênero. Isso não releva o fato dela ter optado pelo crime, claro. Ela é uma gângster, controlando uma rede de criminosos, e comete vários assassinatos a sangue frio. Uma de suas vítimas é a menina Adelaide (Chloe Walker), que é explorada e ameaçada por ela, que já matou outras meninas que escravizava em sua casa. Os irmãos Garland, Sally e Jim tentam ajudar a menina, mas ela desaparece. Nos livros, pelo que sondei, encontrar Adelaide passa a ser um dos objetivos de Sally.


Vi várias críticas aos dois filmes ressaltando as inconsistências, como o pastor negro (David Harewood), que passa a ser interesse romântico de Rosa. Destacam que casamentos inter-raciais eram impossíveis. Improváveis, especialmente entre um homem negro e uma mulher branca, mas impossíveis, não. Mesmo na ficção de época, temos um exemplo assim em um dos meus casos favoritos de Sherlock Holmes, A Face amarela. Tais ligações poderiam ser desaprovadas, ilegais em alguns lugares, mas impossíveis, não. Uma das coisas que eu gostei no filme foi mostrarem a presença dos negros, chineses e outros na Inglaterra Vitoriana, mesmo que entre os extratos mais pobres e marginalizados da população.

Engraçado, foi que não vi ninguém reclamando de colocarem o Elliot Cowan – Mr. Darcy de Lost in Austen – como um mestiço de holandês com chinesa. Que traços chineses tem o Elliot Cowan?! A cena em que ele confessa seus crimes e intenções malignas e depravadas para com a mocinha era para ser dramática, quase um clímax, mas eu não me segurei e ri. Aliás, a presença dele no filme é muito confusa. Outro absurdo – mas que já vimos em outros filmes – é que depois de apanhar muito, Fred e Jim ainda conseguiam andar, correr e até lutar. Franzinos que só, as pancadas que tomaram do capanga parrudão de Mrs. H. já seria suficiente para causar dano irreparável.

O filme, claro, cumpre a Bechdel Rule com tranquilidade. Tem heroína e vilã, e várias outras personagens femininas com nome e que conversam entre si. As mulheres no filme são personagens ativas e, não, peças decorativas. E, bem, é algo que engrandece o filme para mim. Além disso, ainda se propõe a ensinar um pouco de história falando da Guerra do Ópio e de como os ingleses fizeram guerra aos chineses para obriga-los a comprar a droga que cultivavam na Índia. Toda essa situação triste é explicada à Sally por Fred. A fumaça do título é a do cachimbo de ópio...

The Ruby in the Smoke não é um primor de filme. Tem um roteiro que escorrega aqui e ali, uma protagonista que não parece ser adolescente (*Será que não poderiam ter escalado uma Felicity Jones ou uma Carey Mulligan, por exemplo?*) e muito provavelmente é uma adaptação com infidelidades demais. Mas me prendeu por mais de uma hora e meia e me fez ter vontade de ver o segundo filme. Não sei se eu irei ler os livros, mas é uma possibilidade pegar o livro 1, sim. Estou neste momento tentando baixar o segundo filme – the Shadow in the North – de novo. As cópias que circulam por aí (*os filmes, pelo que sei, não foram lançados no Brasil*), parecem ter 10 minutos amenos do que o original e uma das cenas que aprece ter sido cortada é exatamente uma muito bonita entre Fred e Sally. De qualquer forma, ambos os filmes têm legenda em português. Se você é fã de materiais tipo O Enigma da Pirâmide, não pode deixar de olhar The Ruby in the Smoke.

3 pessoas comentaram:

Fiquei curioso! Imagino que com a estréia da BBC HD esse tipo de material dê as caras com mais frequência por aqui. Ah, e Matt Smith ainda é o Doctor em Doctor Who, estão filmando a 7ª temporada da série nova agora. E ah, amanhã (dia 25) o Matt vai carregar a tocha olímpica em Cardiff :)

Só tenho uma pergunta.
Aonde você conseguiu baixar? Porque, não sei porque diabos não encontro o filme em lugar algum.

Ana, eu consegui um torrent no Isohunt ou Pirate Bay. Não lembro mais.

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