Anteontem terminei de assistir The Ruby in the Smoke, filme da BBC baseado em um romance de Philip Pullman. Olha, eu nem sabia que esse Philip Pullman era o mesmo do filme a Bússula de Ouro (*que eu não assisti*) e só fui procurar baixar este filme por conta de pedacinhos que vi em um ou outro fã vídeo do Youtube. Nessas poucas cenas aparecia o JJ Field, o Mr. Tilney da adaptação da ITV de Northanger Abbey (*que eu prometo comentar um dia*). Eu gosto muito desse ator e queria ver o filme, mas para isso teria que aturar a Billie Piper como protagonista.
Não sei bem o que me faz desgostar dela, se o cabelo mal pintado de loiro que se impõe em qualquer personagem sem nenhum esforço de caracterização, se o rosto dela com aquele misto de cara de nojo e vulgaridade... Sei lá, é difícil definir, o fato é que nunca consegui chegar ao fim da última adaptação de Mansfield Park porque é difícil olhar para ela sem achar que a escalação da Billie Piper para o papel foi um grande erro. Eu sei, não faz sentido nenhum isso, é preconceito puro. Por conta disso, e para ver o Mr. Tilney eu baixei The Ruby in the Smoke e o filme seguinte, The Shadow in the North. Mas vamos ao resumo da história...
O filme começa em 1874, Veronica Beatrice “Sally” Lockhart é órfã de pai e mãe e está morando com a tia, uma senhora que reprova a forma como a moça foi educada. Sally tem aproximadamente 18 anos e não tem as prendas que as moças de sua posição deveria ter, no entanto, tem talento para os números, fala hindustani e atira muito bem. Como diz a tia da moça – que deseja ser tratada de forma afetiva por Sally apesar de trata-la com desprezo – qualquer governantazinha tem uma educação melhor que a dela. Sally recebe uma mensagem truncada e vai até a antiga firma do pai – Lockhart & Selby – para se informar sobre a questão. Seu pai era capitão da escuna Lavinia e morreu em um naufrágio quando iria comerciar com um agente chamado Hendrik VanEeden. O sócio do pai de Sally enfarta ao ler o bilhete e a moça acaba envolvida em uma trama mortal que envolve a posse de um rubi que pertencera a um marajá indiano. Seu pai roubou o rubi? Qual a ligação entre o naufrágio e a pedra preciosa? Quem é Hendrik VanEeden? Por que uma mulher chamada Mrs. Holland deseja matá-la?
Como escrevi, não li o livro, mas ele saiu no Brasil, assim como os outros três livros com a personagem Sally Lockhart . No livro, Sally tem 16 anos e a história se passa em 1872. Mesmo com 18, Billie Piper não parece adolescente e não adianta ela ficar repetindo que tem menos de 20 anos. Mas se esquecemos disso, ela convence como a mocinha inteligente e corajosa que tem tudo para se tornar uma boa personagem de ação. Outra mudança é terem envelhecido a personagem Jim Taylor, o office-boy da companhia do pai de Sally. Ele deveria ter 13 anos, mas é interpretado por Matt Smith, que foi ou é o atual Dr. Who. Ele interpreta bem e é uma personagem divertida.
O interesse amoroso de Sally é Frederick Garland (JJ Feild), um fotógrafo que se diz artista. Gentil, simpático e sempre pronto a ajudar a mocinha (*sem castrá-la*), ele é uma fofura. Mas não tem cabeça para contabilidade e vive endividado. Quando Sally pede abrigo na casa dele e da irmã, a atriz Rosa, interpretada por Hayley Atwell (*namoradinha do Capitão América*), a moça pode ser útil e o romance entre os dois começa a se desenvolver timidamente. JJ Feild é um dos charmes do filme que é só mediano.
Outro destaque é a vilã, a terrível Mrs. Holland, interpretada por Julie Walters. Ela quer o rubi, acha que tem direito a ele, já que foi enganada pelo marajá. Não posso dar detalhes, porque pode estragar o confronto dela com Sally. Mas todo o ódio da vilã tem suas bases na destruição da sua reputação quando jovem e nos diversos conceitos distorcidos de honra e papéis de gênero. Isso não releva o fato dela ter optado pelo crime, claro. Ela é uma gângster, controlando uma rede de criminosos, e comete vários assassinatos a sangue frio. Uma de suas vítimas é a menina Adelaide (Chloe Walker), que é explorada e ameaçada por ela, que já matou outras meninas que escravizava em sua casa. Os irmãos Garland, Sally e Jim tentam ajudar a menina, mas ela desaparece. Nos livros, pelo que sondei, encontrar Adelaide passa a ser um dos objetivos de Sally.
Vi várias críticas aos dois filmes ressaltando as inconsistências, como o pastor negro (David Harewood), que passa a ser interesse romântico de Rosa. Destacam que casamentos inter-raciais eram impossíveis. Improváveis, especialmente entre um homem negro e uma mulher branca, mas impossíveis, não. Mesmo na ficção de época, temos um exemplo assim em um dos meus casos favoritos de Sherlock Holmes, A Face amarela. Tais ligações poderiam ser desaprovadas, ilegais em alguns lugares, mas impossíveis, não. Uma das coisas que eu gostei no filme foi mostrarem a presença dos negros, chineses e outros na Inglaterra Vitoriana, mesmo que entre os extratos mais pobres e marginalizados da população.
Engraçado, foi que não vi ninguém reclamando de colocarem o Elliot Cowan – Mr. Darcy de Lost in Austen – como um mestiço de holandês com chinesa. Que traços chineses tem o Elliot Cowan?! A cena em que ele confessa seus crimes e intenções malignas e depravadas para com a mocinha era para ser dramática, quase um clímax, mas eu não me segurei e ri. Aliás, a presença dele no filme é muito confusa. Outro absurdo – mas que já vimos em outros filmes – é que depois de apanhar muito, Fred e Jim ainda conseguiam andar, correr e até lutar. Franzinos que só, as pancadas que tomaram do capanga parrudão de Mrs. H. já seria suficiente para causar dano irreparável.
O filme, claro, cumpre a Bechdel Rule com tranquilidade. Tem heroína e vilã, e várias outras personagens femininas com nome e que conversam entre si. As mulheres no filme são personagens ativas e, não, peças decorativas. E, bem, é algo que engrandece o filme para mim. Além disso, ainda se propõe a ensinar um pouco de história falando da Guerra do Ópio e de como os ingleses fizeram guerra aos chineses para obriga-los a comprar a droga que cultivavam na Índia. Toda essa situação triste é explicada à Sally por Fred. A fumaça do título é a do cachimbo de ópio...
The Ruby in the Smoke não é um primor de filme. Tem um roteiro que escorrega aqui e ali, uma protagonista que não parece ser adolescente (*Será que não poderiam ter escalado uma Felicity Jones ou uma Carey Mulligan, por exemplo?*) e muito provavelmente é uma adaptação com infidelidades demais. Mas me prendeu por mais de uma hora e meia e me fez ter vontade de ver o segundo filme. Não sei se eu irei ler os livros, mas é uma possibilidade pegar o livro 1, sim. Estou neste momento tentando baixar o segundo filme – the Shadow in the North – de novo. As cópias que circulam por aí (*os filmes, pelo que sei, não foram lançados no Brasil*), parecem ter 10 minutos amenos do que o original e uma das cenas que aprece ter sido cortada é exatamente uma muito bonita entre Fred e Sally. De qualquer forma, ambos os filmes têm legenda em português. Se você é fã de materiais tipo O Enigma da Pirâmide, não pode deixar de olhar The Ruby in the Smoke.
3 pessoas comentaram:
Fiquei curioso! Imagino que com a estréia da BBC HD esse tipo de material dê as caras com mais frequência por aqui. Ah, e Matt Smith ainda é o Doctor em Doctor Who, estão filmando a 7ª temporada da série nova agora. E ah, amanhã (dia 25) o Matt vai carregar a tocha olímpica em Cardiff :)
Só tenho uma pergunta.
Aonde você conseguiu baixar? Porque, não sei porque diabos não encontro o filme em lugar algum.
Ana, eu consegui um torrent no Isohunt ou Pirate Bay. Não lembro mais.
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