Rei Davi terminou na última quinta-feira e mesmo com meu dedo inflamado (*está doendo bastante*), eu preciso deixar alguns comentários sobre os últimos capítulos da série antes que a coisa esfrie na minha cabeça. Já fiz dois posts sobre a minissérie (*1-2*) e tinha prometido só voltar a comentar quando chegássemos ao final. No geral, Rei Davi foi um programa interessante e que conseguiu me prender. As cenas de batalha foram muito boas para a média da TV brasileira e deixam no chinelo qualquer coisa que tenha visto na Globo. No entanto, a série fracassou ao se afastar do original para tentar tornar uma personagem complexa, contraditória e fascinante em um homem quase sem mácula e atrelado aos códigos morais e sentimentos que estão em voga em nossos dias. Ou seja, poderia ter sido muito melhor.
Se tivesse que avaliar, a primeira parte, terminada com a morte de Saul e Jônatas, foi muito superior e mais emocionante. Foi quando a adaptação de Vivian de Oliveira teve que focar na personagem Davi que a coisa degringolou. Acredito que houve pressão "religiosa" para tornar Davi o mais palatável às sensibilidades evangélicas de nossos dias, e quem saiu perdendo foi o roteiro. Óbvio, que a história de que Davi e Bate-Seba se amavam desde sempre já prometia ser um problema, mas, pelo menos, tínhamos personagens cativantes, como o Saul de Gracindo Jr. A pobreza da narração em off (*voz de Isaac Bardavid, o profeta Samuel*), não foi uma constante na segunda fase, mas cortarem a história de Abigail foi imperdoável para mim. Depois, cortaram a própria Abigail... Viram que ela sumiu da historia?
Aliás, o argumento de que Davi precisava casar com várias mulheres, porque o rei deve ter muitos filhos foi rapidamente esvaziado. Afinal, Davi, na série, teve somente quatro filhos na série: Amnon, Absalão, Tamar e Salomão. E os outros? Só com Bate-Seba a Bíblia fala de quatro ( Siméia, Sobabe, Natã e Salomão). Não precisavam colocar a conspiração de Adonias para ficar com o trono de Davi quando ele já era velho, e é levado por Bate-Seba e Natã a escolher Salomão como herdeiro, afinal, não queria ver o fiel Joabe (João Vitti) se ferrando no último capítulo. Só que deveriam, pelo menos, colocar os filhos como figurantes.
Falando nos filhos de Davi que apareceram na série, bem, Amnon foi pintado como um sujeito bem mais desprezível do que ele parece ser no texto bíblico. O problema é que Roger Gobeth não é ator, ele é um dos abortos de Malhação (*que projetou gente muito competente*) e por melhor que as cenas fossem, ele não conseguiu render o suficiente. Um melhor ator poderia ter tornado toda a trama do estupro de Tamar pelo irmão muito mais contundente. Ainda assim, foi um dos pontos altos dessa segunda parte da minissérie. Não sei também porque transformaram o mau conselheiro – Jonadabe na série – em um sujeito ajuizado. Porque é uma das questões mais recorrentes no Velho Testamento, o sujeito ser levado ao pecado por maus conselheiros. Amnon estupra Tamar seguindo um conselho; Roboão, filho de Salomão, ouve um mau conselho e perde mais da metade de seu reino; Absalão ouve Aitofel e inicia uma revolta contra o pai. Veja que as passagens não livram de culpa o criminoso, simplesmente, mostram que é preciso ter cuidado com o mau conselheiro.
Júlia Fajardo (*filha do Joé Mayer*) me pareceu muito promissora como atriz. Sua Tamar ganhou algum destaque na série e ficou muito bonita depois que deixou de usar aquela roupa branca monótona. Alguém cismou de vesti-la de branco para lembrar que ela era pura e virgem... Só que no texto bíblico é dito que ela vestia-se com roupas coloridas como faziam as filhas dos reis... Só depois do estupro é que ela passou a usar luto. Mas, enfim, de novo as “sensibilidades” modernas... Ela e Husai (Gabriel Gracindo) formaram o casal fofinho da segunda parte da série. Claro, que não tinham como focar mais neles, mas o draminha do sacerdote que não podia casar com a moça que amava porque ela não era mais virgem teve lá seus momentos. Mesmo inocente, Tamar não se qualificava mais para ser esposa de um sacerdote. E foi uma das coisas que eu gostei de ver mudadas. Ainda bem que Husai ficou como espião... Já o Absalão, de Leo Rosa, estava mais ou menos. Ele deveria parecer mais decidido e não um bonequinho nas mãos de Aitofel, também deveria matar o irmão com as próprias mãos... Afinal, na Bíblia foi assim e Amnon merecia por ser um traste e por ser o mala do Roger Gobeth.
Nessa segunda parte Mical virou vilã de novela mexicana e foi quase que a única do elenco a não envelhecer. Deve ter feito uma magia forte ou se entupido de produtos Jequiti milagrosos! Sônia Lima foi outra que não envelheceu. Enfim, não gostei de certos desdobramentos, mas, com certeza, foi uma grande atuação da Maria Ribeiro. Falando em maquiagem, foi difícil fazer Leonardo Brício parecer ter os 50 anos que tem e a maquiagem da Record pegou muito pesado no final. Porque vejam bem, Davi e Bate-Seba estavam com uns 50 anos e Salomão tinha uns dez. Salto no tempo e Davi e Bate-Seba parecem beirar os 100 anos enquanto Salomão tem uns 20... Que foi que aconteceu? E corta para a prisão e Mical está novinha e louca (claro).
De resto, a forma como deixaram Davi bobão foi lamentável. Para mostrá-lo como “homem segundo o coração de Deus”, o tornaram fraco, omisso (*mesmo em questões militares*) e um chorão. Foi difícil de aturar e o pobre Joabe tentando preencher as funções do rei no campo de batalha... Ah, sim! E teve até plágio de Sr. Dos Anéis com Raquel – filha inventada de Joabe – disfarçada no campo de batalha e salvando o dia. Para depois, claro, aparecer domesticada do lado do marido Mefibosete... Aliás, Davi só foi valente com o pobre do filho de Jônatas nesses últimos capítulos. Confiou em todo mundo, até em Ziba, e desconfiava do pobre do rapaz aleijado!
Enfim, pelo menos três mulheres sumiram nessa segunda parte. Merabe, OK, ela foi levada pelos filisteus. Seus filhos, claro, sumiram junto para que o Davi bonzinho não mandasse matar criancinhas ou adolescentes. Sumiu Rispa, amante de Abner e concubina de Saul. Também, provavelmente, para Davi não ter que matar mais criancinhas. Mas Abigail sumiu por qual motivo? E a Feiticeira de Em-Dor parecia Mun-Ha, o ser eterno. Foi apedrejada, queimada, esfaqueada e ainda levou a melhor no final. ^___^
Enfim, Rei Davi foi um grande avanço na qualidade das minisséries da Record. Só que em as escolhas de roteiro e a tentativa de santificar Davi prejudicaram o bom andamento da série. A falta de um horário fixo, empurrando a minissérie para bem depois das 11, deve ter atrapalhado a audiência. De qualquer forma, a produção e elenco de Rei Davi fez bonito e conseguiu render muito mais na audiência do que se esperava. Deveriam ter enfiado pelo menos mais cinco capítulos. De qualquer forma, agora estou livre de qualquer produção nacional por um bom tempo.
2 pessoas comentaram:
Comparar Rei Davi com qualquer produção da Globo é meio forçado. Eu desisti de Rei Davi por tudo parecer de mentira, até os cenários do Chaves eram melhores, a caracterização dos personagens então nem se fala. As cenas de ação eram bem feitas, mas para mim ainda perdem feio para A Casa das Sete Mulheres e, mesmo, para Memorial de Maria Moura e A Muralha. Mas, é inegável, apresentou um salto na qualidade da casa, que tende a ser bem ruim.
Bem, Luciano, tendo assistido anos e anos de minisséries e novelas globais, eu discordo. As cenas de ação de A Casa das Sete Mulheres, eram de dar vergonha. As de A Muralha e Memorial não estavam na mesma proporção das de Rei Davi e da citada A Casa.
Forçado, para mim, é acreditar a Globo produz material muito superior às concorrentes. Isso não é mais verdade hoje.
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