quinta-feira, 26 de abril de 2012

Recomendação de filme Em Nome de Deus (Stealing Heaven, 1989)



A Lina Inverse montou um grupo no Facebook chamado Fãs de Jane Austen do Brasil - Janeites BR. Nesta divertidíssima comunidade, a mulherada (*homens fãs de Austen se apresentem*) fica conversando sobre a autora de Orgulho & Preconceito, mas, também, sobre outros filmes de época e coisas correlatas como os atores que fizeram nossas personagens favoritas. Pois bem, acabei lembrando desse excelente filme Stealing Heaven, chamado aqui no Brasil de Em Nome de Deus.  

Eu conheci o filme, um dos meus favoritos, na faculdade. Trata-se de uma filmagem do romance de Marion Meade, que conta a história do amor de Pedro Abelardo, um dos maiores filósofos medievais, e Héloïse d’Argenteuil. Marion Meade não precisou contar muita coisa, já que praticamente tudo estava no Historia Calamitatum do próprio Abelardo, no qual ele publicou as cartas que trocou com Heloïse. É curioso que a moça era considerada por alguns uma invenção literária de Abelardo para defender o estado de castidade para os clérigos, já que Heloïse era culta e inteligente demais, além de independente a ponto de recusar o casamento com o filósofo, porque o choro de crianças não combinava com o estudo e as mamadeiras com os livros. Ela preferia ser amante. 

Durante muito tempo, Heloïse foi vista
 como uma invenção de Abelardo.
Abelardo, mesmo sem ser sacerdote, tinha feito voto de castidade, mas acabou sucumbindo aos encantos da aluna de 17 anos. A tragédia os perseguiu, Abelardo pagou na carne por se entregar ao amor carnal e à luxúria. No entanto, mesmo separados, eles sempre estiveram juntos e juntos estão enterrado e são lembrados ao longo dos séculos como um dos pares de amantes mais importantes da história. O filme não faz feio ao original, mas é filme dos anos 1980, com muito sexo.  Hoje, o que parece dar tesão às pessoas é a violência, certamente, se filmado em nossos dias, Em Nome de Deus seria bem diferente.  Eu não poderia jamais passar esse filme para uma turma de Ensino Médio.

Enfim, eu já acreditei que Heloïse fosse um caso único no século XII. Agradeço até hoje à Prof.ª Leila, na época lecionando a disciplina Universidades Medievais, por me alertar de quanto eu estava sendo obtusa. Eu acreditava que mulheres cultas no século XII – talvez em toda a Idade Média – fossem uma exceção, hoje sei que a coisa não é bem por aí. Mesmo sem ser feminista (*ou, pelo menos, não se declarava como tal*), ela me lembrou de que quem vendeu essa imagem das mulheres foram homens, os da época e os historiadores. Indo às fontes a gente percebe a coisa de forma diferente. O conceito de “história do possível”, aprendi depois com a minha orientadora de doutorado, a Prof.ª Tânia Navarro-Swain... Mas, enfim, assistam o filme. É muito bom. Não sei ainda está disponível para baixar, mas é comprável na Livraria Cultura e nas Lojas Americanas. E visitem lá o grupo da Lina. É muito bom papear por lá.



P.S.: Há outro filme que no Brasil se chama Em Nome de Deus, no original The Magdalene Sisters. É excelente, também, eu recomendo. Resenha aqui.

1 pessoas comentaram:

Ouvi falar deles num encontro de Hst Antigae Medieval que teve na minha cidade. Achei a história muito interessante, mas acabei não indo procurar as fontes. Agora q vc me relembrou deles, vou procurar! (tava querendo msm um filme para assistir esse fds) Muito obrigada, Valéria! ^^~
Ah sim! Gostei sobre o conceito de "história do possível". Acho que dá para trabalhar com a Arqueologia. Tem alguma bibligrafia específica que fale desse conceito ou só estudos de caso? Agradeço desde já! ^.~

Related Posts with Thumbnails