Terça e quarta, assisti o filme inglês From Time to Time (*página oficial*). Já estava no meu HD faz algum tempo - não muito, na verdade, já que o interesse veio depois que comecei a assistir Downton Abbey - pois sempre que entrava no Amazon.uk, ele aparecia nas páginas com os dramas históricos. A protagonista é a Maggie Smith, e isso já me atraiu, mas quando vi algumas imagens, com o Hugh Bonneville caracterizado com uniforme militar dos tempos de Jane Austen, decidi dar uma olhadinha. Lembrou um pouquinho aqueles filmes da Disney dos anos 1960 e 1970, que passavam no Clube do Mickey aos domingos quando eu era criança, ou nas Sessões da Tarde dos anos 1980. Resumindo, é um filme simpático, mas faltou emoção, ou aprofundamento de certas questões. Mas vamos ao resumo:
From Time to Time saiu no Natal de 2009, tem como protagonistas um menino de 13 anos, Toseland (Alex Etel), apelidado de Tolly, e sua avó Mrs. Oldknow (Maggie Simith). Tudo se passa entre o Natal e o Ano Novo de 1944. O menino é enviado para passar as festas com a avó no interior da Inglaterra, enquanto espera notícias do pai, piloto da RAF desaparecido na guerra. O menino não acredita que o pai morreu, embora os adultos ao seu redor não estejam tão certos. Também há a questão do afastamento do menino em relação à avó, descendente de uma antiquíssima família nobre, e que nunca aprovou o casamento do único filho com uma mulher de origens humildes. O clima depressivo é rompido quando Tolly vê um fantasma em seu quarto, uma menina identificada pela Avó como Susan, e que vivera na virada do século XIX para o XX. A partir daí, Tolly mergulha na velha história da família e circula entre o passado e o presente dentro da velha casa e suas cercanias.
Quando estava pesquisando para a resenha, descobri que From Time to Time é baseado em um livro infantil de autoria de Lucy M. Boston, The Chimneys of Green Knowe, de 1958. São seis livros ao todo na coleção sobre a casa de Green Knowe e houve outras adaptações anteriores para a TV inglesa. O original que deu origem à From Time to Time não se passava no Natal, mas na Páscoa, nem era o ponto de partida da relação entre neto e avó. Então, não sei o quanto Julian Fellowes - autor de Downton Abbey - adaptou e o quanto ele criou para a história. Só sei que a assinatura dele é sentida na história, sua grife, por assim dizer, mas está longe de ser um de seus melhores trabalhos. Ainda assim, valeu a 1 hora e meia da minha vida.
Alguns aspectos de From Time to Time são curiosos, Hugh Bonneville faz o Capitão Oldknow. É mais uma de suas atuações como patriarca honrado e que ama os filhos. Na verdade, neste filme, a filha, a jovem Susan, uma menina que é cega de nascença e vista como uma fonte de vergonha pela mãe. Pois é, sabe aquela sensação de que a história dessa família daria um filme mais legal que a do menino na II Guerra? É a mesma coisa que sinto quando assisto Possessão (*que um dia prometo resenhar aqui*). Eu assistiria sem problema uma minisséria sobre os Oldknow da Regência. Aliás, há algo de O Morro dos Ventos Uivantes na história, pois o Capitão, um abolicionista, traz um menino negro, que ele salvara da escravidão, para fazer companhia para a filha. A esposa fica enojada e acha pouco apropriado que um menino sirva de companhia para uma menina. O filho mais velho, Sefton, fica enciumado, pois o pai se rasga em elogios sobre o menino, enquanto para ele, um rapaz mimado e insensível, só tem recriminações.
Algo que não é explorado, mas fica no ar, é a desconfiança da esposa do Capitão, a frívola Maria, e do filho, de que o menino negro, Jacob, possa ser filho bastardo do chefe da família. OK, aí já sairia um pouco do infanto-juvenil, mas veja o bom material para um filme ou minissérie em dois ou três capítulos. O fato é que as cenas do Capitão com a filha e Jacob, são muito bonitas. Logo de cara, quando ele faz um escândalo quando descobre que a menina era conduzida com uma guia, como se fosse um cachorro, para não se machucar. Jacob passa a ser seus olhos, e a menina parece não saber (*ou querer saber*) que seu companheiro não tem a mesma cor de pele que ela (*um nojento comentou no Youtube que rejeitou o filme, pois não queria ver uma menina branca de mãos dadas com um negro*).
Susan é inteligente e deseja conhecer o mundo, mas sabe que sua dupla "inferioridade", a cegueira e o fato de ser uma mulher, a condenaram ao enclausuramento. Ela deseja seguir o pai. Jacob abre um novo mundo para ela e o Capitão, por convicção ou por excesso de afeto, apóia as novas aventuras da filha, como subir em árvores, por exemplo (*é a capa do livro original*), para horror da esposa e ciúme do filho mais velho. Sefton se esforça, então, em tornar a vida de Jacob o mais difícil possível, já que é época das Guerras Napoleônicas e a sua condição de militar o mantém afastado de casa. Sefton tem o apoio do mordomo, Caxton (Dominic West), que é o mais próximo de um vilão que temos nessa história. Outro que é atormentado por Sefton e o mordomo é o criado Fred Boggis (Allen Leech), porque ele ajuda Jacob e se opõe perigosamente às crueldades dos dois.
Maria Oldknnow, que não é uma personagem simpática, já que ama mais as suas jóias do que seus filhos, ou melhor, suas filhas, e é muito insensível com o marido, também tem seu drama pessoa. Ela é estrangeira, de origem holandesa e nascida na Índia, e tratada com frieza pela pequena nobreza local, que ela se esforça em agradar. A bela atriz que interpreta a personagem, Carice van Houten, é realmente holandesa. Há também o subentendido que poderia haver alguma coisa entre ela e o mordomo, que efetivamente era apaixonado pela patroa. Por suas crueldades, contra Jacob e Boggis, e a péssima influência sobre Sefton, Caxton é demitido pelo Capitão... E ele se vinga, claro!
Voltando ao filme, há um grande mistério na história que é o roubo das jóias de Maria, que desapareceram durante uma festa com a presença dos vizinhos. Durante a festa, a ala nova da casa, construída em honra da esposa do Capitão, se incendeia e no desespero de salvar os outros bens, a questão das jóias nunca se resolveu. Em 1944, tais jóias salvariam a velha casa dos Oldknow, pois a avó de Tolly está endividada e terá que vendê-la. Desde que a história do roubo vem a tona, sabemos que o menino encontrará as jóias com a ajuda de Susan e Jacob, provavelmente. O que dá graça a história é o descobrir como. Assim como, se possível, quem foi o criminoso. Para conhecer os mistérios da casa o menino conta com outra ajuda além da avó, o criado que descende de Boggis e que é interpretado por Timothy Spall. E, no final, claro, saberemos o que aconteceu com o pai do menino...
Eu não tenho dúvidas de que o livro é melhor que o filme e vou tentar encontrar a série de 1986 com quatro capítulos para comparar. Outro detalhe interessante é a presença de atores e atriz de Harry Potter (Maggie Smith, Timothy Spall) e Downton Abbey (Maggie Smith, Allen Leech, Hugh Bonneville). Talvez, tenha mais gente e eu não tenha percebido. Não tinha percebido em Downton Abbey que o Allen Leech (*ele é o chofer*) era tão bonito, talvez o cabelo ajude, e o menino que faz o Sefton, Douglas Booth, tem tudo para ficar interessante quando crescer. Ele estava em Os Pilares da Terra. As crianças (*vide a foto*), especialmente o menino que faz o Jacob, Kwayedza Kureya, é bem competente. E a menina que faz a Susan de chama Elliza Bennet. ^____^ E, sim, o filme cumpre a Bechdel Rule integralmente. Bem, se você gosta de histórias de época bem levinhas, com algum drama, algum humor, e boas interpretações, de Julian Fellowes, de Maggie Smith, dê uma chance à From Time to Time. E um detalhe, segundo o filme, fantasmas parecem ter sempre a idade com a qual morreram...
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