quinta-feira, 19 de abril de 2012

CEO da Dark Horse fala de Mangá: É preciso fazer com que as HQs certas cheguem ao público certo



O Chief Executive Officer (CEO) da Dark Horse, Mike Richardson, deu uma longa entrevista para o site ICV. Como sempre faço com essas entrevistas com os cabeças da Dark Horse, procuro o que eles estão falando sobre mangá, especificamente shoujo mangá. Esse sujeito foi o mesmo que sugeriu em outra entrevista que o fenômeno do shoujo mangá era algo passageiro. É bom ver que as capacidades de análise de mercado dele melhoraram. Ele agora percebe que há quadrinhos para todos os públicos e que a questão chave é fazer o quadrinho certo chegar às mãos certas. Já comentei várias vezes aqui no blog a deliberada política de exclusão das mulheres como produtoras e consumidoras de quadrinhos e é ao mesmo tempo feliz comprovar isso nas falas dos sujeitos, como lamentável ver que os velhos conceitos conseguem suplantar mesmo o interesse econômico, porque é isso que está caracterizado nas falas dele a meu ver. Mas há esperança! Veja que ele não culpa os consumires e consumidoras, mas discute as limitações do mercado, a crise econômica e outros temas interessantes. A entrevista tem três partes, mas somente na primeira ele toca na questão dos shoujo mangá. Segue o trecho:
ICV: A perda da Borders (*rede de livrarias*) foi uma das grandes mudanças no negócio de livros no ano passado. Qual o impacto percebido por você?

Mike Richardson: Eu acredito que a perda da Borders realmente prejudicou um pouco a venda de mangpás. Eles eram a rede que realmente investia em mangá. Certamente, nós sentimos o impacto, e e várias empresas sentiram também ou mesmo deixaram os negócios. Felizmente, para a Dark Horse nossas vendas de mangá sempre foram feitas no mercado direto, muito mais do que no mercado de livros. Eu suponho que não fomos impactados porque nossos títulos se saíram bem; obviamente, nós percebemos a queda com a perda da Borders, mas eles resistiram, e nós estamos até ampliando os títulos em publicação em relação ao ano passado.

ICV: A perda das lojas de shopping como a Waldenbooks eliminou um lugar onde as crianças e adolescentes (*kids*) eram expostas ao mangá. Houve um movimento dos mangás rumo ao formato digital, mas o mangá nos EUA tem caminhado devagar nesse aspecto. Qual é o lugar que você acha o melhor para que novos leitores tenham acesso aos mangás, e onde esses leitores poderão comprar mangás regularmente?

Mike Richards: Eu acho que você tocou em uma questão mais ampla. O fenômeno manga na última década de prova que existem mercados para diferentes tipos de quadrinhos por aí, mas o que falta é a distribuição. O problema sempre foi como fazer com que o seu material chegue nas mãos certas. Eu já falei há anos sobre o livro de Andrew Vachss', Another Chance to Get it Right. Eles colocaram o nosso número na tela por cerca de oito segundos no programa de Oprah e tivemos cerca de 150.000 telefonemas tentando encomendar o livro. Nós não tínhamos nada próximo desse número de livros, e depois as pessoas foram para as lojas e ficamos sabendo que elas não podiam encontrá-lo nelas porque era vendido principalmente nas lojas de quadrinhos. Então o problema não era que não havia um mercado para esse livro, mas que ela não podia ser colocado dentro do sistema de distribuição de forma a permitir que o público que queria compra-lo pudesse encontrá-lo .

O fenômeno shoujo (mangás destinados a garotas adolescentes) foi um exemplo de que se você tem os livros certos na cadeia de distribuição correta, eles vão vender. A última pessoa que você encontraria em uma loja de quadrinhos na década de 1990 e 1980 e, provavelmente, no setor de vendas diretas seria agarota adolescente. Estatísticas mostraram que lojas de quadrinhos eram povoadas por homens; acho que os números eram de 85% do sexo masculino e muito poucas adolescentes. Mas uma vez shoujo apareceu em cadeias de livrarias como a Borders, as adolescentes apareceram.

O maior problema é como nós podemos colocar os quadrinhos dentro das redes corretas de distribuição quer se trate do mercado de massa, cadeias livrarias tradicionais, as lojas independentes, ou as lojas de quadrinhos. Podemos ter o acesso, mas como vamos conseguir que nossos produtos cheguem aos leitores? É onde temos a oportunidade de usar o meio digital para fazer novos leitores, porque nosso conteúdo vai se tornar mais acessível do que nunca. As estatísticas mostram que nós vamos ter cerca de 1 bilhão de tablets circulando nas mãos dos consumidores até 2016, e se conseguirmos 1% dessas pessoas, obviamente elas representariam cerca de dez vezes mais do que o mercado existente hoje. Você pode esperar que algumas dessas pessoas iriam vir (*às lojas*) e olhar para os livros em formato físico. E a Amazon dá a essas pessoas uma chance caso não os encontrem em uma loja de quadrinhos ou livraria. Amazon está se tornando o bicho papão do mercado de livros.

1 pessoas comentaram:

A entrevista me fez pensar um pouco sobre estas questões aqui no Brasil...no sentido do quanto ainda nos falta estas visões.

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