terça-feira, 13 de março de 2012

Comentando Hadashi de Bara wo Fume - Volumes 1, 2 e 3




Fazia um bom tempo que eu estava com o volume 1 e 2 de Hadashi de Bara wo Fume (裸足でバラを踏め) comprados para ler. Não era a única série, há muita coisa aqui em casa, mas decidi alternar com Saiunkoku Monogatari (彩雲国物語) e começar a leitura. Afinal, depois que soube que ela estava terminando no Japão, estou colecionando a série. 10 ou 11 volumes é um tamanho bem aceitável. Resumindo a série, chamada nos EUA de Stepping on Roses, em uma palavra: novelão. Sabe aqueles clichês sem vergonha deliciosamente empilhados, as viradas espetaculares e absurdas, o dramalhão, o humor (exagerado) japonês... Aliás, sem esse último detalhe, poderia bem ser uma novela brasileira. E a arte de Rinko Ueda tornando tudo ainda mais bonito e cafona, também, claro, porque ela bebe no shoujo dos anos 1970, mas sem a elegância das autoras da época. Se seus olhinhos brilharam, esse mangá é para você. Mas de cara eu sei que não é obra para todo mundo, não é mesmo! O problema é escrever sobre a série sem dar muitos spoilers... Vamos tentar...

Stepping on Roses (Barefoot) começa em 1892 e a ação se passa em Yokohama. Lá, a jovem Sumi Kitamura vive em condições miseráveis e cuidando das crianças abandonadas que seu irmão resgata das ruas. Eisuke, o irmão de Sumi, deve a todo mundo e, pior, faz dívidas em nome da irmã caçula. Uma das crianças fica doente e eisuke diz para a irmã levá-la ao médico e pedir que coloque na “conta”. O médico se recusa e diz para a menina que é melhor que ela deixe a criança morrer, pois, assim, é menos uma boca para alimentar... Sumi ofende o médico e todos na rua a tratam como lixo, destroçada, sem comer há três dias, ela se deixa ficar chorando no chão até que aparece um belo rapaz que lhe estende a mão, diz palavras de conforto, lhe dá seu lenço e dentro dele, algum dinheiro. A criança doente é salva, mas o dinheiro não é suficiente para as dívidas e Sumi passa a ser ameaçada pelos credores, um deles diz que vai vender as crianças como escravos e Sumi acaba chegando a conclusão que só tem uma saída: se prostituir.

Sumi vai para a zona do meretrício e os clientes aparecem, afinal, ela é uma moça jovem e bonita. Só que ela só aceita se vender pela exata quantia da dívida do irmão e isso é muito dinheiro. Quando tudo parecia ir muito mal e Sumi estava prestes a ser forçada por um sujeito aparece outro lindo rapaz – Soichiro Ashida – que lhe faz a proposta de pagar toda a dívida dela caso ela aceite se vender para ele. O que Sumi não sabia é que ela seria arrastada para um casamento de conveniência com um sujeito que a trata muito mal e estabelece que não haveria amor (nem sexo) entre eles. O que Soichiro deseja é que ela possa ser obediente e se tornar uma dama ideal que ele possa exibir enquanto tenta se impor no mundo dos negócios. Só o casamento, já lhe permite herdar a posição do avô em uma grande corporação. O que Sumi também não sabia é que o rapaz que lhe estendeu a mão na rua é o melhor amigo de seu amigo e que ele também não a esqueceu...

Eu estava andando com o primeiro volume faz tempo e hoje, depois do almoço, peguei para ler. Confesso que o começo foi difícil. Tanta coisa a ser explorada e Rinko Ueda só no clichê básico: menina pobre, cara rico e grosseiro, casamento ao estilo “eu compro essa mulher”. Já estava pensando assim “Caramba, eu comprei cinco volumes da série... E se eu não conseguir passar desse primeiro?”. Só que eu comecei a gostar, sabe? Soichiro é detestável, quando eu vi a armação dele para cima do amigo, eu o odiei ainda mais. “Como a autora vai fazer com que esse sujeito seja merecedor da Sumi?” Afinal, não espero em uma série como essa que a mocinha largue o marido... Mas, como sempre, Souchiro tem um passado sofrido, um segredo. Cabe à mocinha, ajudá-lo... Sabem como é... E o mordomo sinistro? Porque ele só aprece fiel servidor, nem preciso buscar spoilers lá da frente (*e eu tropecei nele*) para saber que ele é o gênio mal do Souchiro? O mordomo me lembra um pouco o Cro de Fina Estampa e du-vi-do que não tenha uma vida dupla. E ainda tem o irmão da Sumi, que parece o Morita de Honey & Clover (ハチミツとクローバー) sem nenhuma virtude. Ele é um vagabundo, capaz de vender a irmã. E sabe por qual motivo o cara pega crianças para criar – ou melhor, para a irmã criar – simplesmente para explorar no futuro.

Sumi é a mocinha shoujo padrão: ingênua, virgem, romântica, trabalhadora, esforçada e, claro, insistente. Não parece lá muito inteligente, mas tem um talento maligno para o Shoji, o xadrez japonês. E é pooooobre ao extremo, o irmão era tão canalha que não lhe dava carne para comer, e nem saber ler ou escrever a moça sabe. Mas ela aprende. Se a Rinko Ueda fosse menos rasteirinha, ela exploraria muito o choque cultural, afinal, a moça é arrastada não somente para uma casa rica, mas para uma casa Ocidentalizada. Comer com talheres, entrar com sapatos em casa... Só que Ueda não conseguiu discutir essas questões. Não esperava um Downton Abbey (*estou assistindo nesse momento*), mas ela poderia se esforçar mais. Só que ela diz no primeiro free-talk que depois de fazer um mangá de ninjas (Tail of the Moon/Tsuki no Shippo/月のしっぽ), ela queria fazer algo muito fofo e cheio de detalhes. Daí, roupas muito bonitas, enfeitadas, cenários espetaculares, uso de fotos antigas como referência. Nisso, ela pontua alto. Só que, lá uma vez ou outra, uns anacronismos.  Um dos vestidos de Sumi é muito moderno para a época, aprece um vestido de debutante dos anos 1960. Mas pegue os vestidos da irmã do Bingley em Orgulho & Preconceito 2005, é o mesmo tipo de deslize. E teve a calcinha... A autora perdeu a chance ou de colocar a mocinha pelada ou com uma calçola cheia de fru-frus... Ah, sim, nesta cena a mocinha troca de roupa na frente do marido sem nem se dar conta e o sujeito (claro), já estava se apaixonando por ela. Normal, clichê, mas perdeu a chance de ser erótico ou fofo... Só foi meio bobo.

E tem o Nozomu. Filho único de uma poderosa família, ele sofre por ter sua vida toda planejadinha pelo pai. E ele encontra Sumi, mas a moça – que é tudo que ele sonhava para tornar sua vida mais leve – é casada com seu melhor amigo. Eu tive pena dele. E o Souchiro queria atirar a Sumi para cima dele querendo causar um escândalo e destruir a reputação da família do rapaz, uma potencial rival nos negócios. Olha, como a Rinko Ueda tem um pezinho no steamy shoujo, ele força um pouco a questão em alguns momentos (* nada demais, acreditem*), Souchiro quer que Sumi o odeie para que ela corra para os braços de Nozomu, mas, obviamente, ele se arrepende... e o Nozomu acaba realmente fugindo, ou melhor dizendo, sequestrando a Sumi. E a coisa quase termina em tragédia, terremoto, incêndio, os dois presos, Soichiro correndo para resgatar Sumi... Eu terminei o volume dois e não pude parar. Rinko Ueda é muito boa de ganchos e ela me obrigou a seguir adiante. Nozomu perdeu Sumi, foi obrigado a entrar em um casamento de conveniência. O pior, ou melhor, vai depender de como a autora levar a coisa, é que ele vai se tornar um psicopata. Já dava para ver que ele era mentalmente desequilibrado no volume dois, na cena das rosas... Mas a coisa vai ficar pior. Só não segui para o volume quatro, porque tenho que sair para o trabalho e queria escrever o texto... Tsc...Tsc...

Enfim, Rinko Ueda não consegue ser sutil e elegante como Kaoru Mori ou Fumi Yoshinaga, tampouco é inexperiente como Kanoko Sakurakoji, ou seja, ela não vai conseguir evoluir mais do que isso. É dela. Uma autora popular, sem muito refinamento, que pegou um montão de clichês e está fazendo uma obra que, até o momento, me prendeu. O próprio nome já tem algo de cafona, de novelão: Caminhando Descalça sobre Rosas. O “descalça” foi omitido no título americano. A mocinha, Sumi, aprendeu desde cedo que rosas são belas flores, mas cheias de espinhos e as odeia... Espero que Sumi amadureça um pouco e se torne um pouco mais forte e decidida, mas não sei, acho que ela tem como função ser boa, esforçada e salvar Souchiro. Vamos esperar para ver... Para quem se interessou, há scanlations e, claro, você pode comprar a edição americana sem frete no Book Depository.


8 pessoas comentaram:

A Valéria tem o estranho poder de me fazer interessar por mangás que não pretendo ler...

Obrigada pela resenha. Estava esperando por ela (perguntei via formspring ^^) Eu confesso que fui uma dessas que os olhos brilharam e eu, particularmente, gosto muito da Rinko Ueda.

Mcookie, se duvidar termino o volume #4 hoje... É muito novelão mesmo... E há coisas a comentar do volume #3 ainda. Voltarei a ele na próxima resenha. :P

Downton Abbey (*estou assistindo nesse momento*)

Finalmente. Downton Abbey é simplesmente o shoujo mangá mais bem escrito que existe. Eu já estava pensando em vir aqui postar nos comentários que você precisava ver.
Acho que vou secar até setembro enquanto não começa a terceira temporada.

Eu li 4 volumes de Hadashi de Bara wo Fume, só não li o resto porque não achei raws pra download. :P E tive quase a mesma impressão. Na verdade achei esse mangá um lixo, mas não consegui parar de ler. Acho que a autora sabia o que estava fazendo ao criar uma obra raza e tão clichê e admiro ela por conseguir criar uma coisa tão ordinária, mas tão suculenta e deliciosa, tipo um fast food. XD

Vc sabe dizer se existe esse mangá traduzido em português em algum lugar? Eu estava procurando imagens na internet quando me deparei com os dessa obra, procurei resenha e encontrei em inglês e me interessei...
Fazendo uma busca mais aprofundada encontrei esse texto no Shoujo Café, o que fez aumentar a minha vontade de ler. Se puder me ajuda, agradeço, se não puder tudo bem, pois vou poder ler aqui e tirar minha curiosidade. Obrigada pelo texto ^^

Aniger, eu realmente não sei. Há uma forma de descobrir, porém. Se você postar a pergunta no meu Formspring, eu amplifico para meus contatos. Se houver, alguém sempre vem dar a dica. :)

Consegui encontrar em português! O grupo do [b]Redisu[/b] está traduzindo, atualmente estão no capítulo 36, mais ou menos na metade do volume 6.
Eu achava que este era um shojo mais antigo, por causa dos traços bonitos e clichês, mas de qualquer forma o mangá em empolgante! Não tem como não sentir empatia e/ou simpatia pelas personagens.

#OGOD MEU ò.ó
Eu já tinha visto esse mangá várias vezes no redisu, mas nunca me interessei, a sinopse era exatamente o que você falou que o mangá é: Clichê. Acho que já li tanto mangá em que a doida se casa com o cara que to meia perdida aqui xD
Mas a sua resenha me fez ficar doidona, e agora to baixando os volumes completos lá ¬¬
Valeu, vo ficar viciada de novo em um mangá assim xD

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