Eu sigo no Twitter o jornal português Expresso. Hoje, uma das colunas do jornal trouxe uma matéria intitulada "Os japoneses começam a não gostar de mulheres". Não concordo com a maioria do que o cara escreveu, não vejo o fenômeno dos hikikomori (*que o autor chama de "putos mimados"*) e dos herbívoros (soshoku danshi) a mesma coisa, isto é, um comportamento fruto da aversão pelas mulheres. Acredito que existe muito mais uma inabilidade social, mesmo, algo que só um redirecionamento dos papéis tradicionais e um esforço em educar para a integração (*entre homens e mulheres*) poderia ajudar a sanar. Mas, enfim, estou postando o texto para ilustrar o quanto são diferentes as duas línguas portuguesas, a nossa, chamada muito sabiamente na internet de "Português Brasileiro", e a falada e escrita em Portugal. E não pensem que é deboche. Estou até agora tentando entender o que o gajo quis dizer com a frase "Isto só vai lá à chapada" ou o que quer dizer a totós e chicha. Observem, também, o quão absurdo é a tal reforma ortográfica e que ela atende somente à interesses econômicos (*das editoras*). Deixem os portugueses com os seus activa, tacto e facto, e nos deixem acentuar assembléia, idéia e continuar escrevendo microondas. Segue o texto (*o negritado é coisa do próprio ator*):
Já existia a brigada de sujeitos amaricados que não gosta de mulheres com curvas (curva é coisa do povo, gajo sofisticado gosta de mulher esquelética, Biafra style). Agora também há uma brigada de sujeitos-não-gays que não gosta de mulheres. Ponto. Como seria de esperar, esta aplicação do pós-modernismo à testosterona veio do Japão. Por terras do velho império, uma nova geração de homens assume que não gosta muito de mulheres de carne e osso. Para a imprensa local, esta subespécie é composta por "putos mimados" (hikikomori) e por "homens herbívoros com desprezo pelo sexo carnal" (soshoku danshi). Mas há outro tipo de sexo?Falando em herbívoros, acabei encontrando uma outra matéria na CNN falando de uma mudança no uso do termo soshoku danshi. A maravilha da língua japonesa é que kanjis diferentes podem ser lidos da mesma forma e, por conta disso, é possível escrever assim 装飾男子 ou assim 草食男子. O primeiro significa homens que andam na moda, no sentido de serem "decorativos" mesmo, e o segundo tem o significado destacado na imprensa japonesa em 2009, isto é, homens herbívoros. ^____^ Ou seja, de comum os dois devem ter a rejeição das mulheres, os herbívoros, proque não tem dinheiro suficiente para bancar os relacionamentos (*lembrem dos papéis de gênero tradicionais que obrigam os homens a arcar com despesas*), e o segundo, porque preferem gastar com moda e cosméticos. Ainda bem que tanto herbívoros, quanto decorativos, e mesmo hikikomori, são minorias.
Esta rapaziada é escrava da tecnologia e da internet. Não saem de casa, ficam o dia todo no meio dos gadgets e no mundo virtual e, por isso, adquirem repulsa por tudo aquilo que tem presença física, por tudo aquilo que activa o tacto. Desprezam os pais, não querem trabalhar, não querem namoradas, porque, ora essa, uma namorada implica contacto físico. Isto até parece piada, porque esta horda de seres assexuados é a personificação quase caricatural do pós-modernismo: estão tão afastados da realidade física e humana, que acabam por assumir um comportamento pós-humano e uma identidade híbrida, coisas que abolem factos simples da vida como a tesão. Isto está para lá do metrossexual. Isto está para lá do amaricado. Isto só vai lá à chapada.
Repare-se que estes sujeitos não são gays, totós ou indiferentes ao prazer. Não querem é prazer carnal. Devido à sua escravidão virtual, não apreciam a carne, o toque, a chicha, o amasso, o beijo e o resto. Resultado? Estes hermafroditas recorrem a call girls virtuais que vêm com a Nintendo ou assim. Bom, só espero que o Super Mário não assista a este onanismo de herbívoro.
5 pessoas comentaram:
Achei este artigo de muito mau gosto.
Sou portuguesa e odeio esse jornal porque acham-se muito intelectuais. Só alguns é que fazem jornalismo que falhe a pena, o que é triste. Infelizmente, Portugal tem uma mente muito fechada nesse tipo de assunto. Não sabe respeitar é de diferente nem aceitar o que é "novo". Nesse artigo dá para ver muito bem isso. Enfim, achei muito triste isso.
Mas respondendo às suas pergutas, "Isto só vai há chapada" é o mesmo que dizer "Isto só vai com tapa na cara". Tótó é do tipo nerd e chicha é um termo mais popular de dizer carne.
Espero ter ajudado.
Obrigada, Drid. Muito mesmo.
Não pense que eu acredito que esse artigo - que é claramente um texto de opinião - representa o que os portugueses e portuguesas pensam. O conservadorismo do autor, seu machismo, e, claro, o horror que ele parece ter à pós-modernidade, transparecem claramente.
Coloquei porque achei engraçado. E continuo achando mesmo. E para ressaltar as diferenças entre nossa língua falada de um lado e outro do Atlântico.
Sou absolutamente contra o acordo ortográfico, pois a forma como a língua é usada em cada um dos países falantes do português é expressão de sua identidade e das suas realidades sociais e culturais. Padronizar é ridículo e, claro, só atende á interesses econômicos, principalmente, das editoras do Brasil.
A mentalidade começa a ficar mais aberto, evidentemente, mas contínua a ser um povo bastante fechado. Eu própria como gosto de anime, cultura asiática e assim, já fui muitas vezes criticada por isso, por ser diferente, tanto na adolescência como agora. É de notar a diferença que existe, por exemplo, em Portugal com Espanha e isso me deixa muito triste.
É, quanto ao acordo também acho ridículo. Posso até compreender as razões que levaram a tal decisão mas não aceito o que estão fazendo. Podemos falar a mesma língua mas cada país tem a sua cultura, suas tradições e suas vivências. Como língua viva que é o Português é mais que natural que existissem diferenças e por isso mesmo, eu não aceito o que estão fazendo.
Se eu não me engano, "puto" pode significar criança, Valéria. E tamém não concordo com a reforma.
Olá, Valéria. Não consegui achar o artigo engraçado devido a tantos absurdos proferidos pelo articulista. Completamente machista e homofóbico, e parece ter um ranço com a modernidade [imagina a pós]. Mas bem, falando sobre o acordo ortográfico, que também não gosto [adoro o jeito de escrever dos portugueses. Todos aqueles pês e cês e a acentuação diferente, como género, prémio, etc. são muito legais], li há um tempo esse artigo que achei bem interessante no Jornal de Angola: http://jornaldeangola.sapo.ao/17/39/rectificar_antes_de_ratificar_e_reflectir_antes_de_agir
Acho que toca nessa discussão. Abraços!
Postar um comentário