quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Jornal Português descobre os "Herbívoros"



Eu sigo no Twitter o jornal português Expresso. Hoje, uma das colunas do jornal trouxe uma matéria intitulada "Os japoneses começam a não gostar de mulheres". Não concordo com a maioria do que o cara escreveu, não vejo o fenômeno dos hikikomori (*que o autor chama de "putos mimados"*) e dos herbívoros (soshoku danshi) a mesma coisa, isto é, um comportamento fruto da aversão pelas mulheres. Acredito que existe muito mais uma inabilidade social, mesmo, algo que só um redirecionamento dos papéis tradicionais e um esforço em educar para a integração (*entre homens e mulheres*) poderia ajudar a sanar. Mas, enfim, estou postando o texto para ilustrar o quanto são diferentes as duas línguas portuguesas, a nossa, chamada muito sabiamente na internet de "Português Brasileiro", e a falada e escrita em Portugal. E não pensem que é deboche. Estou até agora tentando entender o que o gajo quis dizer com a frase "Isto só vai lá à chapada" ou o que quer dizer a totós e chicha. Observem, também, o quão absurdo é a tal reforma ortográfica e que ela atende somente à interesses econômicos (*das editoras*). Deixem os portugueses com os seus activa, tacto e facto, e nos deixem acentuar assembléia, idéia e continuar escrevendo microondas. Segue o texto (*o negritado é coisa do próprio ator*):
Já existia a brigada de sujeitos amaricados que não gosta de mulheres com curvas (curva é coisa do povo, gajo sofisticado gosta de mulher esquelética, Biafra style). Agora também há uma brigada de sujeitos-não-gays que não gosta de mulheres. Ponto. Como seria de esperar, esta aplicação do pós-modernismo à testosterona veio do Japão. Por terras do velho império, uma nova geração de homens assume que não gosta muito de mulheres de carne e osso. Para a imprensa local, esta subespécie é composta por "putos mimados" (hikikomori) e por "homens herbívoros com desprezo pelo sexo carnal" (soshoku danshi). Mas há outro tipo de sexo?

Esta rapaziada é escrava da tecnologia e da internet. Não saem de casa, ficam o dia todo no meio dos gadgets e no mundo virtual e, por isso, adquirem repulsa por tudo aquilo que tem presença física, por tudo aquilo que activa o tacto. Desprezam os pais, não querem trabalhar, não querem namoradas, porque, ora essa, uma namorada implica contacto físico. Isto até parece piada, porque esta horda de seres assexuados é a personificação quase caricatural do pós-modernismo: estão tão afastados da realidade física e humana, que acabam por assumir um comportamento pós-humano e uma identidade híbrida, coisas que abolem factos simples da vida como a tesão. Isto está para lá do metrossexual. Isto está para lá do amaricado. Isto só vai lá à chapada.

Repare-se que estes sujeitos não são gays, totós ou indiferentes ao prazer. Não querem é prazer carnal. Devido à sua escravidão virtual, não apreciam a carne, o toque, a chicha, o amasso, o beijo e o resto. Resultado? Estes hermafroditas recorrem a call girls virtuais que vêm com a Nintendo ou assim. Bom, só espero que o Super Mário não assista a este onanismo de herbívoro.
Falando em herbívoros, acabei encontrando uma outra matéria na CNN falando de uma mudança no uso do termo soshoku danshi. A maravilha da língua japonesa é que kanjis diferentes podem ser lidos da mesma forma e, por conta disso, é possível escrever assim 装飾男子 ou assim 草食男子. O primeiro significa homens que andam na moda, no sentido de serem "decorativos" mesmo, e o segundo tem o significado destacado na imprensa japonesa em 2009, isto é, homens herbívoros. ^____^ Ou seja, de comum os dois devem ter a rejeição das mulheres, os herbívoros, proque não tem dinheiro suficiente para bancar os relacionamentos (*lembrem dos papéis de gênero tradicionais que obrigam os homens a arcar com despesas*), e o segundo, porque preferem gastar com moda e cosméticos. Ainda bem que tanto herbívoros, quanto decorativos, e mesmo hikikomori, são minorias.

5 pessoas comentaram:

Achei este artigo de muito mau gosto.

Sou portuguesa e odeio esse jornal porque acham-se muito intelectuais. Só alguns é que fazem jornalismo que falhe a pena, o que é triste. Infelizmente, Portugal tem uma mente muito fechada nesse tipo de assunto. Não sabe respeitar é de diferente nem aceitar o que é "novo". Nesse artigo dá para ver muito bem isso. Enfim, achei muito triste isso.

Mas respondendo às suas pergutas, "Isto só vai há chapada" é o mesmo que dizer "Isto só vai com tapa na cara". Tótó é do tipo nerd e chicha é um termo mais popular de dizer carne.

Espero ter ajudado.

Obrigada, Drid. Muito mesmo.

Não pense que eu acredito que esse artigo - que é claramente um texto de opinião - representa o que os portugueses e portuguesas pensam. O conservadorismo do autor, seu machismo, e, claro, o horror que ele parece ter à pós-modernidade, transparecem claramente.

Coloquei porque achei engraçado. E continuo achando mesmo. E para ressaltar as diferenças entre nossa língua falada de um lado e outro do Atlântico.

Sou absolutamente contra o acordo ortográfico, pois a forma como a língua é usada em cada um dos países falantes do português é expressão de sua identidade e das suas realidades sociais e culturais. Padronizar é ridículo e, claro, só atende á interesses econômicos, principalmente, das editoras do Brasil.

A mentalidade começa a ficar mais aberto, evidentemente, mas contínua a ser um povo bastante fechado. Eu própria como gosto de anime, cultura asiática e assim, já fui muitas vezes criticada por isso, por ser diferente, tanto na adolescência como agora. É de notar a diferença que existe, por exemplo, em Portugal com Espanha e isso me deixa muito triste.

É, quanto ao acordo também acho ridículo. Posso até compreender as razões que levaram a tal decisão mas não aceito o que estão fazendo. Podemos falar a mesma língua mas cada país tem a sua cultura, suas tradições e suas vivências. Como língua viva que é o Português é mais que natural que existissem diferenças e por isso mesmo, eu não aceito o que estão fazendo.

Se eu não me engano, "puto" pode significar criança, Valéria. E tamém não concordo com a reforma.

Olá, Valéria. Não consegui achar o artigo engraçado devido a tantos absurdos proferidos pelo articulista. Completamente machista e homofóbico, e parece ter um ranço com a modernidade [imagina a pós]. Mas bem, falando sobre o acordo ortográfico, que também não gosto [adoro o jeito de escrever dos portugueses. Todos aqueles pês e cês e a acentuação diferente, como género, prémio, etc. são muito legais], li há um tempo esse artigo que achei bem interessante no Jornal de Angola: http://jornaldeangola.sapo.ao/17/39/rectificar_antes_de_ratificar_e_reflectir_antes_de_agir

Acho que toca nessa discussão. Abraços!

Related Posts with Thumbnails