Finalmente terminei de assistir os episódios da segunda temporada de Sherlock. Quem leu minha resenha do primeiro episódio, A Scandal in Belgravia, sabe que não estava muito otimista. Na verdade, ainda que tenha achado o segundo episódio, The Hounds of Baskerville, sensivelmente melhor, foi o último capítulo que me capturou e me fez acreditar que, sim, Sherlock ainda tem muito potencial. As interpretações dos atores e atrizes – especialmente Loo Brealey (Molly) – foram excepcionais. Eu parei diversas vezes, não por impaciência, como no primeiro e no segundo episódio, mas porque estava ansiosa, queria comentar o que estava vendo e, bem, o final... Mas, como são dois episódios nessa resenha, não vou atropelar as coisas. Vamos começar com The Hounds os Baskerville.
Revisitando a Charneca
Não sei, mas sempre que vejo alguma versão de O Cão dos Baskerville, O Morro dos Vantos Uivantes, Jane Eyre, a locação parece a mesma. Chega a ser monótono, sabe? De qualquer forma, o segundo episódio revisita um dos casos mais badalados de Holmes, a investigação sobre o Cão Demoníaco dos Baskerville. Começamos o episódio com um Sherlock muito entediado, grosseiro e, claro, precisando de drogas. Mas eis que um novo caso se apresenta, um rapaz, que teve o pai assassinado quando criança, vem contratar o detetive para que descubra se existe, ou não existe, um terrível cão nos arredores da base militar de Baskerville. Sim, na modernização o cão poderia ser fruto de uma experiência genética.
Confesso que não me senti muito satisfeita com a primeira parte do episódio. A forma como Holmes tratou o pobre rapaz que veio contratá-lo foi revoltante. O detetive nunca foi deliberadamente grosseiro, ele era um pouco insensível, sem muito traquejo social, mas, não, grosseiro. Esse Sherlock da BBC parece ter prazer em se exibir e maltratar os outros, até o pobre do Watson. Neste episódio, assim como no Escândalo na Belgravia, essa característica foi excessivamente explorada.
No entanto, quando o episódio (que não tem Moriarty, ainda bem!) começa a andar e as coisas a fazerem sentido, tudo fica bem mais interessante. Eu desconfiei da fumaça desde a primeira cena, achei que ela poderia ter algo a ver com o cão, mas não poderia imaginar que fosse a fonte de tudo. Holmes usando a credencial roubada de Mycroft para invadir a base foi muito legal. Na verdade, a interação entre Benedict Cumberbatch e Martin Freeman são o maior atrativo da série para mim. Claro, que chamar Lestrade para todos os casos me parece pobreza, afinal, nos próprios originais havia vários detetives. Só que a personagem defendida por Rupert Graves foi promovida quase a amigo do detetive e, claro, profissional competente. Como é uma adaptação, nenhum problema.
Agora, vejam só a chance que perderam: poderia ser a oportunidade de criar uma investigadora competente da Scotland Yard para preencher o vazio de papéis femininos fortes na série. Ela não precisaria estar lá sempre, mas alternando com Lestrade. Donovan não conta, ela está na série para cumprir cotas raciais e ser burra e invejosa. Definitivamente, não é uma série afirmativa quando o assunto são papéis femininos. Esse episódio não foi ofensivo como A Scandal in Belgravia, mas vejam que nem a psicanalista de Henry, o rapaz que contrata Holmes, teve destaque. Ela estava no lugar de Miss Stapleton, que no romance original se tornava interesse romântico de Henry e Watson. Curiosamente, a psicanalista é usada para nos lembrar que Watson é mulherengo, mas não passa disso... Eu esperava mais e o episódio tinha dado a entender que ela teria alguma função na trama. Rebate falso.
De resto, eu fui surpreendida com a resolução do caso. Fiquei muito zangada quando Holmes tem o xilique porque viu o "monstro" e quase desliguei. Não consegui nem achar graça na piada de Watson comparando Sherlock e Spock. Qualquer um que conheça as duas personagens sabe que Holmes é a inspiração para o Sr. Spock. Afinal, Holmes não teria uma reação como aquela... Não teria, claro, se estivesse em seu juízo perfeito! De qualquer forma, quando o "mistério" do cão é desvendado, a cena passou a ter graça. E há a menção a uma das minhas falas favoritas, quando Holmes diz que ele só tem um a amigo.
Foi bem engraçado, depois de ofender Watson, ver Holmes todo preocupado em tentar se remendar e ainda aproveitar para usar o amigo como cobaia. Foi nesse episódio que percebi como o Cumberbatch está usando as mãos, os dedos, para dar vasão às emoções de Holmes. A coisa chega ao seu ápice no episódio três, mas já é bem visível no segundo episódio. Enfim, metade inicial do episódio foi chatinha e com vários defeitos; do meio para o fim foi muito bom, ainda que o mistério do cão não tenha me convencido muito...
O Problema Final
Qualquer reclamação que eu pudesse ter dessa segunda temporada foi calada pelo episódio final que, se não foi perfeito, foi brilhante. As interpretações foram fundamentais para criar um clima de angustia que foi em um crescendo até que Holmes está no parapeito do prédio, pronto para pular. Sim, gente, Holmes morre. Morria no original, morreu no último filme com o Robert Downey Jr. e morre no seriado da BBC. É spoiler? Acho que, não, porque dizer que ele morre, não diz nada, nadinha. O episódio abre, inclusive, com Watson na analista sem conseguir, mesmo depois de 18 meses, lidar com a questão. Eu que perdi alguém muito querido, entendo bem. Se quase chorei no episódio foi menos pela morte em si e muito mais pelos sentimentos que a interpretação do Martin Freeman (*que levou o Bafta pelo papel de Watson*) e do Benedict Cumberbatch me provocaram.
O episódio começa com Sherlock tornando-se um sucesso midiático contra a sua vontade e com Moriarty (Andrew Scott) cometendo um crime dos mais ousados, algo que somente um gênio do crime poderia fazer. Ao contrário dos originais, onde Holmes é que era obcecado pelo Prof. Moriarty, no seriado da BBC é o criminoso que é fixado no detetive. A coisa vai ao ponto de querer destruí-lo, humilhá-lo e, sim, matá-lo. Moriarty – que no original e no seriado é comparado a uma aranha – vai tecendo sua teia fazendo com que o detetive seja desacreditado pela opinião pública, se torne suspeito de crimes, enfim, um inferno. E a tensão, a rede vai se apertando em torno de Holmes a ponto de angustiar. Acho que eu me senti muito mais Watson que Holmes, mas não há diferença, já que a gente sofre por quem ama mesmo. Esse envolvimento todo que eu senti, só me faz apreciar ainda mais esse episódio, afinal, eu tinha uma prova para preparar e quem disse que eu consegui parar de ver?
E todos deram um show. Andrew Scott estava irritante e demoníaco como o gênio do crime. Rupert Graves, promovido a amigo de Holmes (não que o detetive demonstre se importar), parecia desesperado para provar que Sherlock não era uma fraude e tentar evitar a desgraça do detetive. Mark Gatiss como Mycroft talvez tenha sido o melhor personagem da temporada inteira, e neste episódio um dos melhores momentos foi seu último diálogo com Watson. Perfeito. Cumberbatch estava soberbo nesse episódio e prestem atenção nos dedos dele, nas mãos, ali está a tensão do detetive, as emoções que ele tenta reprimir, mas que, no final, vem em forma de lágrimas... Sim, ele chora. Talvez Holmes original não chorasse, mas no episódio faz todo sentido e eu quase chorei com ele. E o diálogo dele com o Moriarty no telhado... Ah! Declaração de guerra! E não eram palavras do original, ainda que o seriado beba muito nelas. Foi um primor, era como um duelo.
Mas um dos pontos altos, foi a Molly, a legista. Além de Mrs. Hudson, que é uma gracinha, Molly é uma das personagens femininas recorrentes. Competente, mas tímida e submissa ao detetive, é um negócio bem complicado. Ela ama Holmes. O detetive na série não é imune às mulheres, vide Irene Adler, mas não dá bola para a moça e ainda tripudia sobre ela. Nesse terceiro episódio começamos assim. Molly sendo mandada por Holmes. Mas ela percebe que ele esconde alguma coisa, que ele é um "dead man walnking", por assim dizer.
Não sei se ele passa a ter respeito por ela, se isso já estava lá soterrado, mas o fato é que Holmes se abre com Molly. E ela será fundamental para desvendar a "morte" do personagem. Foi um diálogo muito bom, a seqüência inteira dos dois foi. Sinceramente? Não quero um romance entre os dois, ainda que não me importasse se o Cumberbatch desse um beijinho de agradecimento na Molly. Afinal, é uma releitura, e até o Spock está apaixonado pela Uhura nessa nova franquia, enfim... Mas achei legal darem "uma moral" (meu pai adora essa expressão) na Molly, mostrando que ela não é somente um capacho do Sherlock. De repente, depois das críticas sofridas pela série, eles dêem um espaço mais digno às mulheres na próxima temporada. Molly, como pontuei, vai ser fundamental para que a gente entenda como Sherlock morreu.
De resto, tivemos muitos diálogos espirituosos entre Sherlock e Watson. Com o médico elogiando os "cheek bones" do detetive (que estava gatíssimo nesse episódio), com piadinhas sobre a homossexualidade dos dois... Quando obrigados a correr de mãos dadas o Watson dizendo "Agora é que o povo vai comentar", foi ótimo. Também, não quero um caso entre os dois. Adoro as piadas, acho uma graça os fanarts, mas eu não vejo nenhum dos dois como homossexual, ainda que, pelo menos no cânon, Holmes possa ser gay ou hetero a vontade do freguês.
Que venha a Terceira Temporada!
Começou decepcionante e terminou esplêndida. Eu realmente não esperava que The Fall, o último episódio fosse ficar tão espetacular. Mas, no geral, o destaque da temporada não foi o roteiro, mas, sim, o desempenho dos atores e atrizes. No entanto, eles estão com um pepino na mão: como explicar a não-morte de Holmes. No original, não há corpo. Na série da BBC, há um corpo e a morte de Sherlock foi muito evidente, sanguinolenta. Obviamente, acho que a bicicleta que esbarra em Watson, não foi à toa... De qualquer forma, Mycroft e, provavelmente, Molly, vão ter que ser muito convincentes para que a explicação não fique frouxa. Enquanto isso, Watson e nós sofremos. Espero que a nova temporada não demore tanto... Tem que vir este ano ainda!
7 pessoas comentaram:
Otimo post :)
Vc tocou em muitos temas que eu percebi.
O exagero na grosseria do Sherlock me incomoda muito, não precisa disso para mostrar que ele é antisocial.
Quanto ao Moriaty, eu estranhei no principio a obsessão dele, afinal diferente da versão classica, esse Holmes não chegou a colocar o imperio dele em risco.
Mas no ultimo episodio fica mais claro que é algo pessoal mesmo.
Sobre o Lestrade, eu lembro de uma desenho de Holmes que se passava no futuro , onde o oficial era uma mulher.
Podiam ter usado essa ideia.
A participação do Mycrofit foi muito boa, bem como a questão da fama via web, mas achei aquela coisa da jornalista enganada meio fake.
No geral achei que o episodio um encerramente digno e melhor que os anteriores, e agora no aguardo para a explicação do retorno do Sherlock.
E um shojocast sobre ele, rs.
Parabéns, mais uma excelente resenha.
Lord Anderson, acho que a "grosseria" é proposital, para diferenciar esse Sherlock dos demais.
Pena que são poucos episodios por temporada.
Ah, The Fall... Mas vamos por partes! =D
Assim como vocês, fiquei injuriada com a maneira como Sherlock trata o pobre Henry. E sua agonia pelo cigarro não convenceu - poderiam ter mostrado o detetive cheio de adesivos de nicotina aos invés de alguém fumando dentro do apê.
Sherlock se passando por Mycroft e John dando carteirada foi engraçado mesmo. Aliás, adorei a base Baskerville! Você chegou a desconfiar quem era o culpado?
Também achei a fumaça suspeita, mas não fui tão surpreendida quanto você; depois da visita à base, lembrei do caso do Pé do Diabo. E não sei se você viu, mas o campo minado e o pântano do romance compartilham o mesmo nome. =]
Pois é, as interpretações estavam tão sensacionais que, mesmo já sabendo que Holmes morre em qualquer adaptação de Reichenbach Fall, foi praticamente impossível segurar as lágrimas. Não sei como você conseguiu. rsrs
Eu gosto muito desse Moriarty, a loucura dele é aterrorizante. Meu queixo caiu com a decisão que ele toma tornando inevitável a morte do detetive. Aliás, toda aquela seqüência no telhado foi espetacular.
Ah, você é umas das poucas a comentar o "up" que deram na Molly! Depois de vários episódios em que ela é ridicularizada, finalmente justiça foi feita. Eu também acredito que ela é a chave para a morte do Sherlock - o resgate do corpo foi rápido demais, confuso demais.
Como você tem a edição comentada dos contos, lembra que uma nota no "Problema Final" levantava a suspeita de que Mycroft tinha entregado o próprio irmão ao inimigo? Foi a primeira coisa que lembrei durante aquela conversa entre o Holmes mais velho e John.
Olha, sou fujoshi assumida, mas também quero que a relação Sherlock e John permaneça no campo platônico. E na minha cabeça, o Holmes original é gay e o Watson é bi. hahahah
Enfim, que bom que você persistiu com série. Infelizmente para nós, a 3ª temp tem previsão de vir somente em 2013.
Eu vi o desenho que o Anderson mencionou. Na verdade, foi uma das piores coisas já feitas com holmes: quando ele cai nas cataratas reichenbach, holmes é atingido por um raio e é jogado em um futuro distante. A Lestrade na verdade é uma descendente do Lestrade original.
Parece interessante falando, mas acreditem, era uma atrocidade. Holmes ganha poderes elétricos e a ideia era aquela fórmula de grupo do bem/grupo do mal tipica das séries da Filmation. Foi rejeitado e eles reciclaram como um episódio do Bravestarr, incluindo-o nas cenas – mas não passava de um figurante. Evitem essa bomba como a peste.
Po ALex, vai dizer que vc não gostou do Watson robo e do clone do Moriaty???
hhehe
Na verdade eu só vi uns 3 episodios dessa porcaria, nem lembro do Holmes ter poderes.
Sempre achei que fizeram para entrar na onda das versões futurista dos herois que era meio moda na epoca, vide Batman do Futuro, Fantasma 2040 (adorava esse) e Homem-Aranha Sem Limites.
Podiam aproveitar que o grande detetive ta pop mais uma vez e criaram uma boa serie animada.
Watson robô? No caso era um alien chamado Watchoo (watchim no Brasil, por causa do trocadilho – ele vivia espirrando). Ou será que fizeram outra atrocidade do tipo com o Holmes e eu nem sabia>\?
Olha, no desenho que eu vi, apolicia do futuro usava robos auxiliares.
depois que o Holmes é encontrado e atualizado com a epoca, ele ganha um como assistente.
esse robo apos acessar os arquivos historicos dos casos do detetive, meio que pira e passa a achar que é Watson real.
inclusive fazem uma alteração no rosto dele, para ficar igual ao Watons, com direito a chapeu e bigode.
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