sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Comentando Black Bird #12



Ontem terminei de ler o volume #12 de Black Bird (*eu compro a edição americana da VIZ*) e foi um dos melhores da série até agora. Tinha escrito que o volume #11 foi de altos e baixos, já este foi de muitos altos e quase sem nenhum momento para respirar. Só para refrescar a memória, há guerra entre os tengu, tudo porque Sho, irmão mais velho de Kyo, está de volta e conseguiu trazer para o seu lado muitos integrantes do seu povo. A guerra agora é aberta e Misao e a liderança de Kyo estão em risco.

O volume é marcado por várias batalhas, algumas sangrentas, já que Sho decide invadir o palácio de Kyo, outras contra os sentimentos indesejáveis que habitam dentro de cada um de nós. A autora – Kanoko Sakurakouji – decidiu investir nos dai tengu neste volume focando em três deles: Sagami, braço direito de Kyo; Hoki, irmão menor de Sagami; e Zenki. Além disso, Sakurakouji mostra por qual motivo Kyo é o líder do clã, apresentando todos os talentos da personagem. Vou tentar evitar grandes spoilers, mas acho que não será lá muito possível. Desde já, peço desculpas.

Complicado quando um mangá shoujo tem personagens masculinas que são mais interessantes do que a protagonista, no entanto, Misao não é o maior atrativo da série. Ela até consegue conjurar Kyo, mostrando que desenvolveu poderes insuspeitos, mas não vai muito além disso. Acredito que mesmo Ayame, prima de Kyo e esposa de Sagami, consegue brilhar mais do que ela nesse volume. Fora, claro, a sinistra Kaede. Acho realmente que ela ainda vai dar muito trabalho. Mas o volume #12 é dos garotos, sem discussão nesse ponto.

O volume abre com Kyo e os dai tengu partindo para a batalha com o intuito de salvar o clã dos Kuzunoha do massacre. Hoki é obrigado a ficar para trás por estar ferido. Teoricamente, o selo mágico impediria Sho e seus homens de entrar, mas como as crianças do orfanato acabam entrando no perímetro do palácio, o selo precisa ser suspenso, ou elas poderiam ficar perdidas para sempre... Na tentativa de defender Misao, Ayame é ferida...

Eu realmente temi pela vida de Ayame, mas para mim ficou evidente que o objetivo de Sho não era matá-la. Além disso, a autora usou o incidente para esclarecer alguns pontos da relação entre Sagami e a esposa. Sagami é o mais frio e cerebral dos dai tengu, além disso, é apegado às tradições, incorporando todo o espírito samurai. Nesse volume, é mostrado que a relação dele com Ayame é pautada pela consciência de que ela vem em terceiro lugar, depois de Kyo e de Misao. Ayame entende e assume a mesma responsabilidade. Parece uma louvação dos valores tradicionais, tão caros à autora, só que Sakurakouji foi além disso.

Também no volume #12 descobrimos que Hoki, irmão de Sagami, é incapaz de distinguir entre bem e mal. Ele é capaz das piores violências sem pestanejar, já que não sente culpa, remorso. A violência dele contrasta com sua aparência delicada e sua gentileza. Só que ele passa para o lado de Sho, por se sentir inferiorizado pelo próprio irmão. Kyo o compreende bem, talvez, por já ter se sentido assim em relação à Sho. No entanto, Kyo, e Misao por tabela, continuam confiando nele e eles acabam tendo a confirmação de que fizeram a opção certa. As dúvidas de Hoki são dissipadas pela gentileza e confiança de Misao. Agora, não me perguntem como ela conseguiu "doar" uma garrafinha de sangue para Hoki...

Já Zenki tem seu passado revelado. Ele é órfão e não lembra dos pais. Termina, contra todas as expectativas, se tornando um dai tengu. Só que Zenki tem um problema: ele tem poderes fabulosos e nenhum controle sobre eles. Por isso, o rapaz é cheio de selos mágicos, para que seus poderes não possam sair do controle. Cada piercing e tatuagem são um selo mágico. Zenki é capturado por Sho e seu objetivo é libertar essas forças incontroláveis, torná-lo uma arma de guerra capaz de dizimar todos os tengu se Kyo não matá-lo...

O objetivo de Sho é mostrar que Kyo não é muito diferente dele e obrigá-lo a eliminar seus amigos. E foi aí que Sakurakouji acertou em cheio. Ela ama os valores tradicionais, daí a fixação dela em vestir seus homens com kimonos, mas ela enfatiza que é preciso equilibrar esses valores com humanidade, gentileza, perdão e, por que não dizer, inteligência. Kyo é pressionado por seu avô, por Sagami e vários outros á dar Hoki e Zenki por perdidos... Mas ele se recusa e arrisca a própria vida pelos seus amigos.

Não sei se por estar com Sherlock da BBC na minha cabeça, mas achei que Kyo agiu um pouco como o detetive. Ele leu os indícios, não se fixou nas aparências óbvias e foi capaz de, literalmente, salvar o dia. O drama do protagonista, o risco de perder a liderança, o respeito dos seus, se não eliminasse seus amigos, elevou a tensão do volume e mostrou-me de novo que Sakurakouji pode, sim, se tornar uma grande mangá-ka, resta saber se ela vai perseguir esse ideal ou optar por histórias fáceis de contar.

Voltando às analogias com Sherlock, Sho está me parecendo cada vez mais um psicopata e, no caso dele, me pareceu mesmo com o Moriarty da BBC. Sho parece não objetivar nada a não ser a destruição, sem concessões. Ele quer eliminar o irmão e se tiver que matar todos os tengu para isso, não há problema. A forma como está manipulando o sangue de Misao a ponto de enlouquecer e matar seus seguidores só mostra o quão desequilibrado ele é. E melhor assim do que a autora investir na idéia de que Sho é "vítima do sistema", ou deixar Misao balançada entre ele e Kyo.

Não peguei spoilers do próximo volume, mas com o gancho que ficou no final, acredito que o volume #13 vai ser interessante. De resto, foi um volume sem grandes cenas picantes. Houve muito mais carinhos ternos entre Kyo e Misao, a relação dos dois se aprofundando cada vez mais. Agora, é esperar pelo volume #13. Ainda bem que daqui a pouquinho sai a edição americana. Black Bird não é uma obra brilhante, já escrevi isso antes e repito, mas tem momentos brilhantes. Este volume mostrou que exaltação da amizade entre homens é algo presente nos shoujo, apesar de muita gente achar que isso é coisa (só) de shounen mangá. Black Bird me fez recordar também os motivos pelos quais os mangás me atraem tanto: os dramas são reais, os sentimentos são tangíveis e as personagens são sempre muito, muito humanas.

2 pessoas comentaram:

Parabéns viu! Gosto mto dos seu ponto de vista, e além disso me deixam inteiradas acerca dessa trama, já que eu nunca mais comprei e também a série aki no Brasil eh um pouco mais atrasada....Obrigada XD

Como a edição brasileira demora a sair, especialmente aqui pro Norte, só pude ler agora esse volume 12.

Não gostava muito dele, mas o Kyo ganhou muitos pontos comigo nesse volume. Ter o sangue frio e a determinação de salvar o Zenki foi a melhor demonstração de seu caráter que a autora podia dar.

Para mim, com a cena sobre sua relação com o Sagami, a Ayame ofuscou com louvor a Misao (não que seja difícil). Falando nela, espero que a mocinha revele ter mais tutano daqui pra frente.

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