Bem, bem, apesar da minha resposta um pouco (*ou um muito*) mal humorada (*e a culpa não é de quem perguntou, pois a pessoa foi educadíssima e precisava de ajuda mesmo*), eu acho que deveria trazer essa resposta para cá (*Para as outras da série, clique aqui: 1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 6 - 7– 8 - 9*). Ao que parece, mesmo depois de vários anos de publicação de mangá, da popularização dos animes (*graças, especialmente, a internet*), dos sites (*mais ou menos*) especializados, algumas idéias continuam recorrentes como essa de que “tem romance, é shoujo”. Não é bem assim. Segue, a resposta que dei lá no meu Formspring.
Mangas/animes como Clannad, Suzumiya Haruhi no Yuuutsu, K-On e Lucky Star são considerados shounen, certo? Que argumentos ou características dessas séries eu posso usar para justificar que elas não são shoujo, embora tenham romance em seu enredo? Obrigada
Eu realmente não sei por qual depois de tento tempo, tantos mangás tantos animes, tanta informação (de qualidade ou nem tanto) circulando, ainda há quem acredite que romance é igual a shoujo, porque, bem, só menina gosta de romance. Enfim, o primeiro critério, o mais seguro é “se sai em revista shoujo, é shoujo”. Morre aí. Não sei em revista shoujo? É outra coisa e quem quiser que corte os pulsos e deixe sangrar. Meninos e homens também curtem romance e muito. Romance normalmente faz – ou deveria fazer – parte da vida de todo mundo. No Japão, por exemplo, há mangás com todas as temáticas possíveis para todos os públicos possíveis. Algumas características que normalmente vão dizer que não é shoujo: em qual revista saiu, qual a origem (tipo de game/light novel/whatever), quem é o protagonista (se for um garoto comum, não é shoujo), se é harém (e são um monte de garotas em volta de um cara... normalmente babaca), e se só tem garotas muito-muito-muito bonitinhas.Alguns dos exemplos que você citou vieram de light novel, como Suzumiya Haruhi (第一巻: 涼宮ハルヒの憂鬱). O mangá, quando saiu, não foi colocado em revista shoujo. Aliás, quando é caso de adaptação de light novel, veja em qual selo saiu (se seinen, se shounen, se shoujo, etc.) e isso sinalizará mais ou menos quem é o público. Se o anime saiu primeiro, antes do mangá, não rotule de nada. É anime. Exemplo, Cowboy Bebop (カウボーイビバップ) tem somente um mangá, que é shoujo, no entanto, o anime veio primeiro e, definitivamente, não é focado no público feminino, embora conte que vá conquistar esse público, também. Outro bom exemplo é Code Geass (コードギアス) que começou como anime e produziu mangás shounen, shoujo e seinen, fora, claro, as light novels.Clannad (ラブひな), outro que você citou, veio de light novel ou visual novel e antes de ter mangá e/ou anime foi transformado em ero game. Aliás, é muito comum alguns ero games (*não falo de date simulators, mas de pornografia, mesmo*) virarem animes desprovidos de qualquer conteúdo sexual mais explícito. Alguma dúvida do público? As meninas super-cute-moe podem ser vistas em material shoujo, e até vieram de lá, mas são muito mais abundantes hoje em materiais para homens, especialmente otakus hardcore. Outra coisa importante a se observar é que sendo gênero harém, se o recorte fosse shoujo teríamos uma garota e um monte de lindos bishounens. Exemplos: Saiunkoku Monogatari (彩雲国物語), Ouran Host Club (桜蘭高校ホスト部), Fushigi Yuugi (ふしぎ遊戯), Kiniro Corda - La Corda D'Oro (金色のコルダ). Quando é para garotos temos um cara – geralmente um idiota – cercado de meninas lindas. Todas elas são muito afim dele, mas o cara...Já K-ON!! ( けいおん!) e Lucky☆Star (らき☆すた) fazem parte de uma nova variante de materiais para o público otaku masculino onde temos um monte de garotas bonitinhas, fazendo coisas bonitinhas e nenhum garoto (*ou nenhum que tenha relevância na história*). Quem de K-ON!! tem namorado? Quem terá algum namorado? O “namorado” é o otaku que assiste a série, imagina (e recebe) sugestões yuri, e se imagina namorado de todas aquelas meninas. Se, por acaso, um outro homem for introduzido nessa equação, otakus vão destruir figures, queimar mangás e praça pública e ameaçar o/a mangá-ka de morte.Desculpe, sei que o tom foi mal humorado, mas essa história de romance=shoujo já deu. Não faz sentido algum. Não depois de mais de dez anos de publicação contínua de mangás nesse país e de tanto material que o pessoal pesca na net. Acho que quem continua dizendo, por exemplo, que Love Hina (ラブひな) é shoujo ou é teimoso, ou é muito desinformado, ou é burro mesmo... Quer dizer, burro, não, porque o bicho é muito melhor que esses caras...
3 pessoas comentaram:
Oie Valéria!
Acho quem acompanha o Shoujo Cafe não teria esse tipo de dúvida.
Essa confusão (ou associação) é só uma manifestação do senso comum, que por definição, é rasteiro, superficial e preconceituoso. Então, não me surpreende.
Para tirar essa idéia da cabeça, a pessoa precisa pesquisar sobre o tema, entrar em contato e se aprofundar no assunto. Mas isso leva tempo, exige disposição, vontade, paciência e às vezes, até dinheiro.
Mas destilar preconceitos é mais rápido, fácil e ganha pontos no Ibope.
É só ver o quanto de bobagem e maldade falam por aí de ateus, feministas e homossexuais, sendo que em geral, as pessoas que tanto falam não conhecem nenhuma dessas pessoas a fundo.
Eu já senti certos olhares estranhos enquanto leio meus mangas no ônibus ou metrô. E fica ainda mais evidente se for um shoujo todo cor-de-rosa com menininhas de olhos enormes na capa (Rockin' Heaven, por exemplo).
Inu-Yasha e Ranma 1/2 estão aí para provar que romance pode ser, sim, um dos temas de shounen. Não acredito que essa confusão seja fruto de preconceito, mas de desconhecimento, mesmo. Eu mesma tenho lá minhas dúvidas e não me considero uma pessoa preconceituosa. Mas acredito na liberdade de assuntos: tudo pode ser escrito para todos. Afinal, por que não, né?!
Postar um comentário