sábado, 21 de janeiro de 2012

Ainda sobre o meu luto... Desculpem...



Faz quinze dias hoje que meu tio faleceu. Eu sei, eu sei, não deveria voltar a falar disso aqui, mas preciso. Quem quiser, pode parar de ler, OK? Sabe, eu não poderia imaginar que iria doer tanto e por tanto tempo. Todos os dias tenho ido lá na minha avó (*não desci hoje, amanhã almoçarei com ela*) e ela me mostra as coisinhas que meu tio guardava. Pensei que somente minha mãe e eu éramos "bagulheiras", mas ele ganhava de nós com folga. Já vi tantas, tantas fotos que nem sei... São tantos álbuns, a cada visita, minha avó vem com montes deles... Em outras situações seria bom lembrar, agora, tudo me deixa mais triste, exaurida até. Fora as cadernetas nas quais ele anotava “data importantes”: nascimentos, formaturas, falecimentos, etc. Anotou até a data quando meu irmão fez sua primeira barba. Acreditam nisso? Coisas que nem nós, nem nossos pais lembravam ou achavam importante. Fico um pouco aborrecida com a pressa – é a forma como minha avó está lidando com o luto – com que ela deseja “arrumar” as coisas do meu tio: dar, jogar fora, arquivar, queimar... Enfim, eu me sinto mal com tudo isso, ainda que compreenda a urgência da minha avó, pois ninguém está sofrendo mais do que ela. Só não compreendo o comportamento de alguns parentes... Mas isso, não vou comentar, não.

Sexta-feira, ela encontrou um monte de cartas que meu tio trocou com uma moça por vários anos, acho que entre 1977 e 1982, tenho que checar. Nunca soube de uma namorada dele, ele nunca falou disso com os sobrinhos, mas, agora, sei que ele foi apaixonado por uma moça de Fortaleza, muito bem educada, que escrevia belas cartas e era poetisa. Só que, ao que parece, ele não era correspondido... Minha avó queria queimar tudo, chamou as cartas de “lixo” e disse que não serviam para ninguém e que meu tio estava morto. Não sei se queria proteger a memória do meu tio ou por achar que elas não eram mais importantes. Só que imaginar aquilo tudo indo para o fogo me cortou o coração. É importante, muito importante. É um pedaço da vida do meu tio que eu não conhecia e, como historiadora, vejo esse tipo de documento como fontes mesmo. Através desse tipo de material, nós, historiadores e historiadoras, conseguimos reconstituir e discutir tantas coisas! Enfim, elas agora estão comigo.

Eu queria ter podido visitar meu tio no sábado dia 7, só que cedi a vez – olha que coisa mais ridícula de se escrever – para as minhas primas e elas terminaram não indo. Só que na sexta, quando o vi com vida pela última vez, ele já não estava mais em seu estado de consciência. Ele ia e voltava, na maioria do tempo achava que estava em outro lugar. Meu irmão acredita que em um navio, um dos tantos nos quais serviu. Guardo como a última vez a quinta-feira, quando ele passou quase toda a visita dormindo, mas acordou enquanto só eu estava no quarto com ele. Quando me viu, pediu um beijo e depois pediu que o beijasse de novo e, por fim, se desculpou por estar com sono e dormiu... Até o fim, até o último momento, mesmo com muitas dores, ele foi gentil comigo. Eu realmente queria ter tido mais tempo, queria que ele pudesse ficar mais tempo conosco...

11 pessoas comentaram:

Lamento, Val. Eu sei como essas coisas são barra. :\

Lo lamento mucho. Descanse en paz.

Acredito que textos como esse que compartilham seu estado de estado de espírito não incomodam ninguém que acompanha o site, e se aliviam ao menos um pouco sua aflição nos contenta muito!
Meus votos para que tudo se harmonize tão logo for possível.
Força!

Os fragmentos da memória de quem se vai...arrumar as coisas, ver o que era da pessoa, o que fazia parte do seu cotidiano...A dor maior que eu acho, nessas horas é que a presença da pessoa é tão real, tão constante ao lidarmos com esses objetos, que a gente acaba vivendo um sonho de um segundo, achando que ela vai voltar, entrar pela porta e pegar suas coisas...

...pra no segundo seguinte a gente acordar, e ver que não, a pessoa não vai voltar. As coisas ficaram lá, ela foi embora.

Valéria, foi precioso você ter salvo as cartas. Elas tinham valor para o seu tio, ele não ia querer vê-las queimando, ele se importava com elas e você se importou também.

Mas eu peço, não se force demais a lidar com tanta dor. Sei que sua avó precisa de ajuda. Mas você também vai precisar de tempo para ao menos apaziguar um pouco a dor de sua própria ferida. Você é gente, também sofre.

Por favor, se cuide. Se precisar de algo, repito, é só me chamar: os amigos estão aí para isso (posso não ser grande coisa, mas, no que der para ajudar, ajudo).

Valéria, nessas horas eu gostaria que existisse alguma palavra que, dita ou escrita, pudesse apaziguar um coração que enfrenta uma situação como essa.
Nós mesmos nos dizemos "são coisas da vida", ou "o tempo cura tudo".
Não sei se o "tempo cura", mas sinto que, após o baque inicial, lentamente ele faz o seu trabalho, nos fazendo lembrar dos bons momentos, abrindo espaço para sorrisos nostálgicos ao invés de lágrimas dolorosas.
Assim, dê tempo ao tempo..
E sinta-se à vontade para desabafar por aqui, até porque quem segue o Shoujo Café o faz porque gosta do seu trabalho e - principalmente - porque gosta de você!
Sinta-se à vontade para usar nossos ombros virtuais.
Força, garota!

Nossa Valéria, meu coração ficou apertado ao ler suas palavras. Ainda que não tenha tido a sorte de ter um parente tão querido assim, ou alguém que pudesse identificar com o seu tio, imagino que seja difícil superar mesmo. Nesta hora, só o Espírito Santo é o consolador suficiente para acalentar nosso coração, e eu desejo que Ele faça isso com você, porque palavras humanas realmente não são suficiente, só mesmo Deus em sua grandeza pode te ajudar, peço a Ele que o faça e te dê forças para superar e prosseguir!

Este post...não tem como não se emocionar...acho que todos que leram se identificam com ele ou parte dele. E tantas coisas passam em nossa cabeça. Imagino como deve estar se sentindo...
Eu desejo toda a força do mundo.
Beijos, Valéria

Isso me lembra quando achei um álbum como todos os meus primeiros passos até o primeiro ano de idade. Tudo descrito com muito amor pela minha mãe. Só fui achar este álbum anos após sua morte. Emocionou obviamente. Bom Val, continuo desejando tudo de bom pra você. Descanse e pratique felicidade durante esses dias viu? Beijão!

Lamento muito, Valéria... Sinto muito.

Também guardaria essas lembranças, cartas, agendas de anotações, é tudo importante.

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