Nos últimos dias, para pagar uma promessa, estou assistindo várias adaptações de Jane Eyre. Para se ter uma idéia, hoje já pequei até a de 1944... Bem, a única que eu não tinha assistido mesmo era esta aqui, a de 1997 com o Ciarán Hinds fazendo Mr. Rochester e Samantha Morton como Jane Eyre. A coisa curiosa é que os dois últimos capitães Wentworth das adaptações de Persuasão estão neste Jane Eyre de 1997. O feio interessante do Ciarán Hinds foi o capitão em 1995 (*minha adaptação favorita*) e lindinho do Rupert Penry-Jones fez o mesmo papel na versão de 2007 (*que foi lançada no Brasil*). Já Samantha Morton, foi a Harriet na adaptação de Emma de 1996 (*aquela com a o Mark Strong que eu adoro*). E, de quebra, Elizabeth Garvie, a Lizzie Bennet de 1980, faz Diana Rivers, e Gemma Jones, mãe da Emma Thompson, que foi a Sr.ª Dashwood na adaptação de Razão & Sensibilidade de 1995, é a Sr.ª Fairfax. Ufa!!!! Muita gente que já esteve ligada a alguma adaptação de livro de Jane Austen junta no mesmo filme. Mas deixa eu parar de falar de coisas marginais, vamos para Jane Eyre 1997.
A adaptação de 1997 foi feita para a TV; achei a produção geral nível BBC, ou seja, muito bem cuidada. Não parece ter faltado dinheiro para locações e o figurino, se não é exuberante, também, não é precário. Mas não é produção da BBC, que fique claro, o filme foi feito pela ITV. A duração do filme é de 1h47 minutos. E, bem, 10 minutinhos a mais poderiam ter feito diferença, possibilitado a inclusão de determinadas partes do livro. No entanto, por mais que as pessoas escolham a sua "versão mais fiel", nenhuma adaptação é cópia do livro e com Jane Eyre não seria diferente. No entanto, algumas omissões neste filme, fruto muito mais da má administração do tempo, precisam ser ressaltadas.
O filme não peca em omitir questões fundamentais para a construção do relacionamento entre Jane e Rochester como o filme mais recente. Grace Poole é figura presente na película e Rochester conta a origem de Adéle e seu affair com a mãe da menina para Jane. Isso é importante. A parte da cigana, cortada em praticamente todos as adaptações, nem vou comentar. Agora, os dois grandes problemas são a ausência do confronto entre Jane e sua tia e a parte na casa dos Rivers. Jane não confronta a Sr.ª Reed, Jane fala que ajudou as primas com o funeral da tia no seu retorno à Thornfield e é só. Foi a primeira grande falha. Depois, temos uma cena longa demais entre Jane e Rochester depois do casamento frustrado. Eu fiquei contando no relógio o longo diálogo e já percebi que não iria sobrar tempo suficiente para a fuga de Jane e a parte na casa dos Rivers. Eu estava certa. Essa última parte do filme foi corrida, Jane revelou seu nome logo no primeiro diálogo com St. John e Diana e, bem, não houve nem herança, nem o parentesco.
Antes que alguém reclame, já que vejo muitas reviews americanas e inglesas tacando pedra na versão de 1997, não há o parentesco nem no filme de 1943, nem no de 1970, nem no de 1996, nem no novíssimo de 2011. Se é lamentável aqui, é lamentável nessas outras versões todas. Quanto à herança, ela não existe na versão de 1943, na de 1970 e nesta, de 1997. É bem decepcionante terem deixado Jane pobre, já que um dos pontos complicados da longa discussão entre Rochester e Jane neste filme – com texto que não é do livro original – é ele acusá-la de cobiçar sua fortuna e posição. Muita cara de pau do quase marido da protagonista, que a enganou, quase arrastando-a para um casamento que não teria valor algum diante de "Deus e dos Homens". Foi um encaminhamento infeliz que comprometeu os últimos 20 minutos do filme. Jane precisava voltar rica, independente e em posição de igualdade com Rochester, mas alguém achou que não deveria ser assim.
Partes que geralmente são mais complicadas, como a da infância, até que se resolveram muito bem. Já começa o filme com Jane sendo jogada no quarto vermelho e investiram muito nas alucinações da menina. Já a parte em Lowood, a escola, também foi bem razoável, levando-se em conta o tamanho que o filme tem. A menina que fez a jovem Jane, Laura Harling, era muito boa, assim como a desafortunada Helen Burns. Todas aquelas pequenas imagens que apontavam para a precariedade da vida das meninas foram bem colocadas. A epidemia de tifo, a fome, a água gelada, a perseguição sofrida por Helen, tudo foi resolvido de forma muito mais competente do que na versão de 2011 e mesmo na série da BBC de 2006. Até Miss Temple não foi esquecida. O problema, e esse não é problema somente dessa adaptação, é que o Reverendo Brocklehurst nunca perdeu seu posto como diretor da instituição. Não sei porque a maioria das adaptações prefere isso a seguir o livro, isto é, a má administração de Brocklehurst foi descoberta, os mantenedores do colégio o demitiram e a boa Miss Temple se tornou a diretora. Neste filme, Rochester faz questão de ficar martelando que Brocklehurst incutiu um espírito religioso tacanha em Jane em dez anos de educação.
Apesar dos problemas que apontei, muitas das críticas a esta adaptação concentram-se na atuação do Ciarán Hinds, o único Rochester de bigode. Não gosto do bigodão que lembra Pancho Villa, mas gosto muito das atuações do Ciarán Hinds, vejam minhas resenhas de Ivahoé para saber o quanto (1-2). Seu Rochester é, talvez, o mais passional de todos. Falando alto, sendo autoritário, depois terno, grandes altos e baixos de humor. Além disso, ele é o único Rochester que realmente poderia ser chamado de feio, porque, como eu comentei na resenha do filme de 2011, dizer que o Michael Fassbender ou o Toby Stephens ou o Timothy Dalton são homens feios é piada. O único deslize na atuação dele, talvez fruto de uma má direção de atores é que, no final, ele parece alguém que sofreu um derrame, com a boca torta e tudo mais. Só que, como pontuei anteriormente, os 20 minutos finais do filme não são lá muito felizes. De qualquer forma, se Ciarán Hinds não é o melhor Rochester, está longe de ser um fiasco.
Samantha Morton, que só tinha 19 anos quando gravou o filme, estando praticamente com a mesma idade da personagem, é uma Jane competente. Ela parece pequena e frágil, é feinha, meio sem graça, se parecendo fisicamente com aquilo que o livro descreve, mas é a Jane mais arrogante de todas as adaptações que eu assisti. Ela mantém a cabeça erguida, às vezes, fala em um tom de desafio com Rochester, enfim, não é minha Jane favorita, mas ela deu um tom muito próprio a personagem, colocando-se entre as melhores Janes. Ah, sim, e a cena em que ela acorda Rochester foi muito boa e até cômica, porque, como o homem não acorda, ela joga água na cara dele. ^____^ Mas, de novo, a cena em que Rochester pede Jane em casamento foi um pouco modificada e o texto mutilado... Mas nisso, a coisa não é muito diferente da média das adaptações. E a cena do véu está nesta adaptação e isso é muito importante para a antecipação do fiasco que será a cerimônia de casamento.
Já falei que a parte dos Rivers é fraca. Mary nem existe e Diana, interpretada pela excelente Elizabeth Garvie, mal tem falas. Agora, eu não sei como conseguiram deixar o Rupert Penry-Jones esquisito. Pode até ser um daqueles casos curiosos de sujeito que melhorou com a idade, mas parece mesmo que foi problema de composição. Ele me lembrou o Armand de Entrevista com o Vampiro, onde conseguiram deixar o Antonio Bandeiras com cara de pão mofado. O Rupert Penry-Jones está com um cabelo esquisito e cara de maluco, daqueles que falam baixo, tem olhar fixo, e mãos frias. Ele insistindo para casar com a Jane foi um negócio muito desconfortável, na falta de palavra melhor... Outra que não ficou bem foi a Blanche Ingram de Abigail Cruttenden. E nem estou atentando para o fato de , mais uma vez, ser uma moça loira, quando a Blanche do livro é uma morena deslumbrante. 99% das Blanches das adaptações são louras mesmo... Só que a personagem era altiva, orgulhosa e cruel. Estava atrás de um marido rico? Sim, mas o fazia com toda a classe. A Blanche desse filme fica paparicando Adéle, coisa que a personagem nunca fez, e me pareceu uma caça dotes quase vulgar. Vide a última cena da personagem em Millcot, quando ela encontra Rochester e Jane juntos. Estão aí eleitas as duas piores interpretações do filme.
Bem, o filme de 1997 não é ruim. Gostei mais dele do que do filme de 2011, que teve mais tempo para desenvolver a ação e muito mais dinheiro. Mas, evidentemente, não é uma versão memorável de Jane Eyre. Ainda assim, as últimas falas de Jane no livro, ela andando com Rochester e os filhos estão lá. Amo essa passagem e ela foi cortada mesmo da adaptação de 1973, considerada por muita gente a melhor. Enfim, para uma fã, como eu, é mais que necessário assisti-lo, mas, se você não é tão aficionada, por Jane Eyre, pode deixar passar esta. De qualquer forma, é muito difícil adaptar um livro tão longo para um filme de no máximo duas horas. Escolhas precisam ser feitas, mudanças e tudo mais. Não é disso que eu reclamo. Pontuo as escolhas ruins, que demonstram uma deficiência de roteiro, de compreensão geral da história e uma direção de atores em alguns casos deficiente. É mais fácil fazer uma série de TV e não é à toa que as adaptações de 1973, 1983 e 2006 são superiores a qualquer um dos filmes. Mas deixe estar, outras resenhas virão antes do final de 2011.
5 pessoas comentaram:
Ainda não tomei coragem de ver alguma adaptação de Jane Eyre. Tipo, o livro é enorme e pra adapta-lo de uma forma que me deixe satisteito seria muito dificil.
Acho que a edição em que li Jane Eyre pela primeira vez, tinha a capa dessa versão. Não sei, o que lembro era que o Rochester era velho e feio.
Era a capa do filme de 2006, pode ter certeza. :) A resenha desse filme aparece amanhã ou domingo...
Eu recomendo que você pegue uma das três minisséries da BBC. a de 2006 foi lançada no Brasil.
Acho que não era a 2006, não. Bem, a edição era essa aqui http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/378369/jane-eyre/ , veja se dá pra reconhecer qual versão era.
Valeu pela dica, irei atrás das minissérias assim que terminar de ver uns doramas que comecei e não terminei.
Filme de 1996. Eu digitei 2006 errado. 2006 é a minissérie com o Toby Stephens. O filme de 1996 é com a Ana Paquin como Jane menina e o William Hurt como Rochester. Ele é o Rochester que eu menos gosto. Desconsiderando-se, claro, a adaptação de 1934.
Com certeza é muito difícil adaptar um livro com a densidade de Jane Eyre, em minha opinião, uma obra fascinante!! Quando o li, fiquei impressionada com a capacidade criativa e o talento de Charlotte. Também li Villette e Shirley e, sem dúvidas,Jane Eyre é o meu favorito, acho-o mesmo superior a "O morro do ventos uivantes", de Emily, e as obras de Jane Austen, inclusive,
as que mais aprecio, como "Orgulho e preconceito", "razão e sensibilidade" "e Persuasão". Quanto a esta versão fílmica, sou simplesmente apaixonada por ela! Samanta é para mim a própria Jane,um paradoxo, posto que é frágil, delicada, diáfana, mas ao mesmo tempo decidida, obstinada, resoluta conforme caracterizada na obra, parece mesmo ter incorporado a personagem... Ciaran, então? Não consigo gostar das outras interpretações como gosto da dele, pois para mim elepersonificou o Sr.Rochester, transmitindo na postura e no olhar as características tao marcantes desta personagem, o ar sardônico, orgulhoso, arrogante, e ao mesmo tempo forte e autêntico. Seu olhar transmite toda a admiração e paixão sentidas por Jane. Acho mesmo que eles se entregaram totalmente as persobagens, conseguindo transmitir todas as suas nuances e o turbilhão de sentimentos e emoções que os envolviam.Neste aspecto, estou em total acordo com Jane, quando diz ao Sr. Rochester que para ver a beleza basta um olho apaixonado, e compartilho deste sentimento, acho-os tão belos juntos, e diferente de você,não consigo achar Samanta feia, neste filme, tampouco, Ciaran...Apaixonei-me por eles! Contudo, é preciso concordar que uns vinte minutos a mais o deixariam ainda melhor, pois como ja fora mencionado, considerando a extensão da obra, seria impossível retratar todos os acontecimentos deste encantador romance em um filme, por mais longo que este fosse, mas fatos muito importantes do livro poderiam ter sido melhor explorados. Dito isto, penso que para quem gosta de romances históricos é imprescindível ler o livro, nenhum filme será capaz de transmitir a emoção que esta leiutura é capaz de proporcionar aos apreciadores do gênero. Confesso que nunca li uma descrição mais bela de um pôr do sol que a que nele se encontra, no capítulo 23, onde Jane e Rochester confessam seu amor mútuo. Aliás,não tenho palavras para descrever o que é aquele capítulo, parece mesmo que Charlotte vivia aquele sentimento com toda a alma e intensidade, é simplesmente inebriante!O Toda a narrativa é construída por meio de uma linguagem poética, sensível, delicada...Enfim,para mim, sua leitura é uma experiência única!! É claro, devo dizer mais uma vez, que esta é a opiniao de uma leitora apaixonada pela obra.Como costumo dizer, este é o de sempre e para sempre o meu romance favorito!Nota dez, com toda certeza lê-lo será uma experiência, minimamente, muito prazerosa! Vale muito a pena!
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