Acabei não resistindo e dei uma olhada no filme de 1943. Eu já tinha assistido alguns anos atrás e detestado. Esta versão só não consegue rivalizar em ruindade com a de 1934, mas isso nem vem ao caso. O filme de 1943 é uma daquelas injustiças fruto da super-valorização de certos "gênios", assim mesmo, no masculino. Rochester é Orson Welles e um dos roteiristas é Aldous Huxley. Só por isso, até coisas ridículas como a fumacinha fake que marca praticamente todas as cenas em Thornfield vira "recurso brilhante" para marcar a atmosfera gótica que permeia o romance. Welles e Huxley podem ter sido geniais, mas não em Jane Eyre. Mas vamos lá...
Essa versão abre com o livro sendo virado e a narração de Jane (Joan Fontaine). O recurso do livro era comum em filmes da década de 1930 e 1940. Não enriquece, nem atrapalha, é marca de um período de Hollywood, um recurso quase universal. Temos a casa da Sr.ª Reed o quarto vermelho, o primo de Jane, John, que era quatro anos mais velho que ela e grandalhão, muito mais forte que ela (*daí a sua covardia*), foi transformado em um menininho gordinho e comilão, fisicamente risível. Até aí, como ele fica pouco tempo em cena, nenhum problema. Em Lowood, a miséria da vida das meninas é bem caracterizada com um porém, Miss Scatcherd, a professora que perseguia Helen, é transformada em boazinha (*não há Miss Temple*), e o Reverendo Brocklehurst é que torna a vida de Helen miserável. Helen Burns, aliás, é interpretada por Elizabeth Taylor em seu, se não me engano, primeiro papel no cinema.
Lindíssima, Helen Burns é colocada com cabelos em lindos cachos - veja só a foto da atriz na época - em Lowood, onde as meninas deveriam usar seus cabelos presos e arrumados de forma "modesta". Daí, soa ridículo a história de que "os cabelos dela ondulam naturalmente", já que aquele cabelo não é, nem nunca foi, obra da natureza. ^____^ Os cabelos de Taylor eram tão naturais quanto o da menina Maysa do SBT. E, claro, são cortados. Jane defende Helen e as duas são castigadas. O desdobramento é o agravamento da saúde de Helen e sua morte. E, não sei por qual motivo, inserem um médico bonitão que dá muitos sábios conselhos para a menina Jane. Ou seja, o roteiro aniquilou a personagem feminina formação da protagonista – Miss Temple – e colocou a autoridade e sabedoria masculina no lugar. Essa versão de 1943 é a mais machista de todas as adaptações, mas a coisa não terminou.
Jane cresce e se transforma na belíssima Joana Fontaine. Não sei de quem foi a idéia de pegar uma das atrizes mais lindas da época para fazer Jane que era pintada no livro como sem graça, apagada, até feia. Não casa de jeito algum... Mas o pior é que Fontaine interpreta uma Jane que sempre está de olhos baixos, parecendo um animal acuado. A linha de interpretação da atriz me deixa agoniada, tamanha a vulnerabilidade que ela imprime a personagem. Fontaine só levanta a voz de verdade, que eu me lembre, uma vez, para defender Adéle das grosserias de Rochester. E, claro, quem domina a cena é Orson Welles, com seu vozeirão. Ainda assim, talvez por conta do roteiro e da direção, seu Rochester é páreo duro para o de William Hurt. Não sei qual o pior.
Blanche Ingram neste filme é uma pin-up loura com cara de má. Tudo na produção é tão datado, tão preso na sua década, que é difícil, para mim, imaginar que as personagens são as mesmas do livro e seriam pessoas do século XIX. Mas, enfim, acredito que o pior é ver Jane fugindo para a casa da tia depois do fiasco do casamento. Como assim voltar para a casa da Sr.ª Reed?! E, claro, não há herança, nem parentesco com os Rivers. E Jane retorna pobre como fugiu para os braços de Rochester.
Enfim, eu gosto muito de filmes antigos. Alguns dos meus filmes favoritos são da década de 1930 e 1940. Sou bem tolerante com adaptações problemáticas como a de Orgulho & Preconceito de 1940, que virou comédia, e O Morro dos Ventos Uivantes de 1939, que só vai até a metade do livro. O problema desse Jane Eyre é que a adaptação é muito problemática, tudo á muito datado e, ainda assim, ele consegue grandes elogios simplesmente por conta dos homens envolvidos no projeto. Tanto é assim, que o diretor da adaptação de 2011, disse ter bebido na versão de 1943... Percebem o problema? Pois é... Mas, claro, se você é fã de Jane Eyre, precisa assistir este filme, também, ainda mais sendo tão citado e elogiado (*indevidamente*). Agora, só falta resenhar as series de 1983 e 2006. Para as resenhas das outras adaptações é só clicar: 1970, 1973, 1996, 1997 e 2011.
1 pessoas comentaram:
Sinceramente, há muitas coisas neste filme que não me agradam. Uma delas, é beleza de Joan. Ela é uma atriz incrível, mas Jane não é nada bonita. Gosto da atuação de Orson...mas o que me encantou mesmo foi a atuação da menina que fez Adele (esqueci o nome dela). Ela é minha Adele preferida! Outro ponto que odeio é o fato de Jane fugir para a casa da tia dela, é inconcebível!! Gostei da resenha, suas resenhas de Jane Eyre são as melhores.
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