quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres - 14º Dia



Estamos na reta final da Campanha 16 Dias pelo Fim da Violência contra as Mulheres, queria muito que não fosse tão fácil encontrar notícias (*sim, essa minha fala é repetitiva*), mas a coisa se joga em cima de você. Hoje, falo de uma moça, Ester Elisa da Silva Cesário, estagiária de 19 anos no Colégio Internacional Anhembi Morumbi que teria sido interpelada pela diretora - que já tinha dito para que ela usasse camisas longas e cobrisse seus quadris - que alisasse seus cabelos, pois ela deveria ter vergonha de representar a escola assim. "Como você pode representar nosso colégio com esse cabelo crespo?", teria perguntado. A moça, ao contrário do que muitos fariam, foi até a delegacia. E eis que o caso foi parar na Folha de São Paulo e na Globo! Como esse tipo de propaganda é péssima, agora, claro, a escola está explicando que não é racista, não pode ser, afinal, aceita todo mundo (*que pode pagar*), que teria acontecido um "ruído de informação", a escola lamenta "profundamente que as instruções sobre vestuário passadas à estagiária de marketing --as quais foram elaboradas com base em critérios puramente utilitários-- tenham sido interpretadas de forma equivocada.". Desde quando alisar cabelo é utilitário? Pior é abrir certas matérias e ver as pessoas acusando a moça de mentirosa, golpista, dizendo que a escola estava certa, afinal, era um conselho tão gentil... E, claro, que ela seria uma nova Geissy. Hello!!!! Geissy foi vítima de uma grande violência e, por mais que eu critique as suas escolhas, ela virou a covardia que fizeram com ela a seu favor. Auto-estima a moça tem e isso falta para muita gente.

Voltando ao ponto, mulheres negras e que não tem cabelo liso são constrangidas o tempo inteiro a verem esta característica como um problema. Existe, desde um bom tempo, a ditadura da chapinha, é preferível ter um cabelo liso e queimado, de preferência louro de farmácia, claro, do que uma belo cabelo afro. Eu falo por mim, eu fui submetida a toda uma série de tratamentos na infância "porque tinha cabelo ruim". Depois, meu cabelo foi ficando "melhor", mas, ainda hoje, há quem me pergunte por qual motivo não aliso meu cabelo. Quando vejo uma mulher com cabelo afro exibindo-o com muito orgulho e elegância, meu assujeitamento vem sobre mim. Eu não seria capaz de fazer aquilo. Agora, o racismo está em todo o lugar, na TV, nos reclames publicitários, e, neste caso, no trabalho. Imagino que este colégio não tenha muitas alunas negras, mas como elas se sentem vendo que todas as mulheres de cabelos crespos alisam as madeixas? Elas vão se sentir feias e acreditar que precisam resolver um problema: seu cabelo ruim. Foram os primeiros efeitos da pressão sobre suas filhas que fizeram o astro Chris Rock fazer o documentário Good Hair. Afinal, as meninas chegaram da escola falando que tinham cabelo ruim e, logo, eram meninas feias (trailer aqui).

Estou focando nas mulheres e neste caso, mas os homens negros também sobrem pressão, claro. Só que as mulheres são colocadas em condição de objetos e precisam ser bonitas. Só que um dos casos extremos de rejeição a sua cor e características étnicas relacionadas é Michael Jackson. Sim, gente, quem quiser acreditar que ele tinha vitiligo, acredite, mas a meu ver o problema ali começou com auto-estima – alimentada por várias fontes – e possibilitou o desenvolvimento de uma grave doença psiquiátrica. E tudo culminou com um homem lindo mutilado e destruído, porque rejeitava a sua cor.

Enfim, a Uneafro Brasil está organizando o protesto "Solte o cabelo! Prendam os racistas ! - Meu cabelo é crespo! Meu cabelo é livre! Abaixo o racismo!". Se você está em São Paulo e puder apoiar esse protesto que é contra o racismo, mas, também, contra toda a violência cotidiana, simbólica e material, a qual as mulheres negras são submetidas, participe! Racismo não é pessoal, não é ruído de comunicação, racismo é crime inafiançável e está tão enraizado em nosso país que é possível acreditar que quem tem problema é quem tem cabelo crespo!
P.S.: Só acrescentando, leiam, por favor, esse artigo de repórter da Record que justifica o racismo do Colégio Anhembi-Morumbi. É normal, o mundo É ASSIM (*sempre foi, nunca mudou, nunca será diferente... Ué! Cadê a escravidão que estava aqui? E o Império?*)! E ainda confunde código de vestuário e conduta com discriminação de características étnicas. Nem o Exército Brasileiro, que é muito estrito em relação à normas de vestuário e apresentação pessoal (comprimento de cabelo, unhas, adereços, etc.), faz esse tipo de discriminação. Tranças afro estão previstas entre o que é admissível como penteado para oficiais e praças, por exemplo. Mas, para o André Forastieri, a vitima é culpada. NOJO!

5 pessoas comentaram:

Este documentário Good Hair é genial, eu apenas o assisti porque gosto muito do Chris Rock e foi ainda melhor do que eu imaginava.

O documentário não mostra apenas a questão básica do preconceito "cabelo crespo é feio", mas também como as mulheres negras e até alguns homens negros, sofrem E GASTAM ( COMO GASTAM! Fiquei impressionada. ) para manter um ideal estético que está longe de sua realidade genética e tudo pelo que passam para alcançar este objetivo.

Embora trate da realidade americana, não duvido que no Brasil seja MUITO diferente. Nos EUA as pessoas negras e mulatas são praticamente as únicas usuárias de certos produtos para alisar o cabelo, como os relaxantes e os megahairs... mas a indústria é basicamente toda dominada por brancos e asiáticos (principalmente coreanos).

Acho que todas as mulheres deveriam assistir a este documentário, que mostra o que existe por baixo de um cabelão liso.

Não podia, obviamente, faltar um macho/caucasiano/heterossexual/eixo Rio-São Paulo pra dizer que tudo não passa de frescura de minorias (que neste caso deve ser minoria só no mundo dele, não no Brasil de verdade).

Eu fiquei abismada com a notícia. Eu acho correto exigir zelo com a aprência de seus funcionários, adotando roupas mais sérias e pertinenteas ao ambiente de trabalho por exemplo. Pedir que a sua funcionária branca negra ou asiática não venha trabalhar descabelada, sem escovar os dentes e com mini-saia é uma coisa, mas pedir pra mulher ALISAR O CABELO???
É absurdo em milhares de sentidos. Em primeiro lugar, quem disse que cabelo liso é bonito e que o crespo é feio? Cada grupo étnico nasce com as suas características, e não há nada mais belo do que a diversidade. E outra, mudar as características naturais da pessoa para se enquadrar em um padrão estético que a empresa acha "mais correto" é uma violência sem tamanho! É racismo, pura e simplesmente!
Se uma mulher negra deseja cabelos lisos, tudo bem, hoje em dia existem milhares de recursos para isso. Mas veja, se for o DESEJO DELA! Ninguém pode impor um padrão estético à uma pessoa!
Eu, por exemplo, tenho o cabelo liso. (Naturalmente liso, portanto as vezes armado, as vezes bagunçado, mas normalmente liso, e não aquelas aberrações de formol com chapinha que ficam esticadas na cabeça parecendo perucas). E quando eu era pequena, passava uma novela com a Taís Araujo e eu me lembro de passar horas e horas com um fesso de enrrolar na mão tentando cachear os meus cabelos. Era um trabalho frustrante, porque o efeito durava poucas horas, mas eu me divertia muito durante o processo, porque era algo que eu desejava fazer.
Eu não sei quando começou essa onda dos 3 "L" : longo, liso e loiro, mas eu acho isso uma desgraça total. As mulheres hoje de costas parecem todas iguais com as suas chapinhas e mechas loiras, e duvido que a maioria delas acredite que aquilo é genuinamente bonito. Acho que elas adotam por osmose por acreditar que esse padrão é o correto.
Eu só sei de uma coisa... fiquei com vontade de ver esse documentário que você citou, e de passar boas horas com meu velho ferro de enrolar cacheando os meus cabelos XD
(E parabéns pela campanha! Estou acompanhando todos os dias!)
xoxo
Gabi N.

Não sei porque, me lembrei daquele desodorante Dove Clear Ton, para clarear as axilas.
Como é que se faz para "clarear" as axilas de pessoas de pele negra?
Aliás, ficaria interessante não? Tipo um vitiligo nas axilas apenas.
Padrão estético é um saco mesmo.

Se o caso da Ester é ou não de racismo, há que se investigar e punir.
Mas os comentários a respeito realmente andam terríveis, uma falta de bom senso sem tamanho.
Quando ao Forastieri, nada a comentar. O cara é historicamente um idiota. Não sei como ele ainda tem crédito para escrever em qualquer lugar que seja.

Ah, acabei baixando e vendo ontem mesmo o Good Hair. É fasntástico. E assustador. E mostra o que um padrão estético imposto artificialmente pode fazer não só com a auto-estima mas com o bolso da comunidade negra, já que os verdadeiros donos do negócio (aqueles que ganham dinheirão mesmo, com o trabalho alheio) são brancos ou asiáticos.

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